Hocus Pocus To Me.

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 11

    Hino para o perdido.

    Álcool, Adultério, Heterossexualidade, Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Suicídio, Violência

    Olá pessoal!

    O foco do capítulo é o passado de Sasuke, portanto, poderá ser um pouco confuso, leiam com bastante atenção :3

    A música tema deste capítulo é a Hymn For The Missing - RED ( Que é maravilhosa e inclusive o título do capítulo é uma referência à ela ♥) Deixarei como sempre postada nas notas do capítulo e adoraria que vocês escutassem-na enquanto leem...

    Link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=etQ5Jzv45Qw

    Notas:

    Jan Ken Pon: Como quase todo mundo sabe, é pedra, papel, tesoura!

    Boa leitura a todos!

    Embora quisesse seguir a risca os conselhos daquele velho homem, ainda assim o seu coração obrigava-lhe a prezar pelo bem-estar daquele rapaz. Mesmo que ela não o conhecesse muito bem, desde a primeira vez que o avistara, sentia que o amava mais do que tudo no mundo... Amava-o até mesmo mais do que a si mesma.

    (...)

    No silêncio daquela gélida madrugada, de olhos fechados, deleitado pelas carícias proporcionadas por uma das pequenas mãos da jovem adormecida ao seu lado, ele permitiu-se desconectar sua mente daquele mundo por um tempo, para sonhar, porém, ele não imaginava que aquele não seria um sonho tão feliz.

    Dois anos atrás...

    Os olhos negros abriram-se intimidados pela claridade daquela álgida manhã. Com o corpo, bem agasalhado e pesado por conta das roupas encharcadas, pôs-se em pé com dificuldade. Confuso e um pouco tonto, notou-se à beira do que lhe parecia uma corredeira que, naquele instante, tinha as suas águas turbulentas.

    A visão ainda turva, após alguns minutos passou a observar aquele lugar com mais nitidez. Ao redor, os vestígios de uma tempestade se mostravam presentes naquele alagado cenário verdejante. O chão lamacento, as árvores coníferas daquela região revelavam-se úmidas e do céu, ainda cinzento, a garoa persistia cair em terra, deixando ainda mais frio aquele ambiente.

    — O que aconteceu? — inquiriu-se olhando para as mãos protegidas por luvas escuras e ensopadas, geladas. — Onde estou? — olhou à sua volta. Sobre a pele extremamente pálida do rosto, o rubor na região do nariz e bochechas denunciava a baixa temperatura à qual estava exposto. — Mais importante do que isso... — ele esticou os braços, analisando-os, tateou sobre o espesso tecido negro de seu casaco de neve e logo após, tocou o próprio rosto, como se o estranhasse. — Quem sou eu? — as perguntas murmurativas aquietaram-se e a fumaça que escapava por entre os lábios arroxeados, extinguiu-se.

    Os passos desajeitados levaram-no até as ruínas de uma ponte, sobre aquela espécie de córrego. As águas agitadas daquele fluxo colidiam-se violentamente com alguns dos destroços daquela ponte de madeira apodrecida, que parecia estar ali há muitos anos.

    Em um momento, cogitou tentar a sorte e atravessar para o outro lado daquela correnteza, embora não soubesse de fato qual rumo deveria tomar. No entanto, quase que instantaneamente desistiu, pois, estava demasiadamente cansado e decidiu seguir mata à dentro.

    Após alguns minutos caminhando pela floresta, mantendo-se nas proximidades daquela extensão aquífera, deparou-se com uma trilha que tomava uma direção diferente do curso daquelas águas e resolveu segui-la.

    Entretanto, depois de algum tempo, aquele caminho de terra dissipou-se em meio ao gramado e as árvores coníferas daquele lugar, tão semelhantes umas às outras, passaram a confundir o garoto molhado, que tentava ao preço de sua vida ignorar o frio que estava sentindo e não cair ao chão, derrotado.

    Horas a fio passou andando a passos desnorteados, buscando pela saída daquela mata densa. Na medida em que caminhava por entre a grama alta e galhos em passagens estreitas, as roupas iam sendo surradas e vez ou outra, esfolava a pele frágil do rosto.

    Sentia-se perdido em meio à imensidão daquela floresta que aos seus olhos parecia infindável...

    Sozinho...

    Sem memórias...

    Sem rumo...

    Apenas o frio tinha em sua companhia, embora o mesmo não pudesse aquecê-lo, tampouco acolhê-lo e de fato, não poderia ser considerado algum amparo.

    Os passos tornavam-se cada vez mais lentos. O pesado fardo da desesperança que carregava sobre os ombros, obrigava-o a ostentar o pesado e desiludido semblante, expressando dos olhos negros opacos, o vazio que preenchia a sua alma e mente naquele momento.

    Com o decorrer do tempo, a fome ia apertando-lhe o estômago cada vez mais forte. Sem noção dos dias que começavam e se findavam, andava quando podia, descansava quando não se aguentava mais de pé e dormia quando não mais suportava manter os olhos abertos.

    Uma vida sem destino...

    Uma vida sem planos...

    Uma vida em um presente desconhecido...

    Uma vida sem um passado...

    Uma vida em que sequer, ele imaginava algum futuro...

    Com o sofrimento crescente em sua triste rotina de pessoa desmemoriada, vagante e desnorteada, ele cogitou acabar com tudo, embora não se lembrava de ter começado nada.

    O melhor seria...

    — Prefiro morrer logo de uma vez a lutar contra essa estranha realidade que aos poucos me mata de fome e frio! — murmurou cessando os passos.

    Os olhos negros visualizaram o cenário ao redor e buscaram por algo fatídico, que pudesse tirar-lhe a vida de uma forma rápida e indolor, entretanto, daquele ambiente conseguira apenas uma estaca de madeira que, antes, era um mero galho caído ao chão.

    Suas mãos protegidas pelas luvas escuras retiraram o espesso casado de neve que envolvia o seu corpo e ergueram-se agarradas a estaca que logo foi apontada para o peito. Engoliu a seco e analisou aquela situação por alguns minutos.

    Desistente, ele percebeu que não tinha coragem o suficiente para cometer o suicídio, ao menos não antes de saber algo sobre si mesmo, portanto, a morte teria de arrebatá-lo de forma que ele não pudesse voltar atrás.

    Lembrou-se do riacho de águas turbulentas que há algum tempo já havia deixado para trás e passou a procurá-lo novamente, se bem que, não fazia ideia de qual rumo seria o certo a tomar.

    Mesmo que soubesse nadar, naquelas águas violentas ele não iria o conseguir e a morte vir-lhe-ia involuntariamente, irremediavelmente, da forma como desejava.

    Decidido, caminhou durante algumas horas e finalmente deparou-se com o que parecia ser aquela corrente d’água que avistara antes. Aproximou-se da lateral, pondo-se à beira daquele riacho e vagarosamente, os olhos foram fechados. No entanto, antes que pudesse se jogar água à dentro, ele escutou um barulho por entre as folhagens daquela mata e olhou para trás, calmamente:

    — Ora, ora... Meu caro jovem! Nem sempre morrer é o melhor caminho a se seguir... — comentou a velha senhora, surgindo por entre os arvoredos daquele local, aproximando-se do rapaz que a encarava impassivelmente.

    — Quem é você para dizer-me o que é melhor ou não para mim? — indagou sério. — Conhece-me? Sabe quem eu sou? — perguntou de forma arrogante.

    — Você tem toda a razão! Sou apenas uma velha decrépita, que habita essa floresta há alguns anos! — contou entristecida. — Mas sabe, dizem que morrer afogado é uma das formas mais dolorosas de se morrer! Ainda mais na nascente de uma cascata... — alertou apática.

    — Cascata? — inquiriu surpreso.

    — Sim! Mais adiante, se você seguir o curso dessa nascente e for até o rochedo, irá deparar-se com uma bela queda d’água! — avisou com ironia. — E cá entre nós, ser arrastado pela correnteza e morrer colidindo-se com enormes pedras pelo caminho... Creio que não será uma boa experiência! — ela supôs com pesado sarcasmo.

    — Droga... Quando eu já tinha me decidido! Quem essa velha está pensando que é? Maldita... — pensou bufando de raiva. — Pois eu prefiro sentir essa dor e morrer rapidamente, do que continuar morrendo aos poucos perdido nesse lugar! — expôs irritado.

    — Jovem, não seja teimoso! Nada neste mundo acontece por acaso... Eu não tinha planos de vir até aqui, porém, se cá estou é porque a vida ainda lhe quer, menino de olhos e cabelos negros como o ébano! — argumentou, observando as características do garoto.

    — Hum? — ele a olhou com um ponto de interrogação em sua mente.

    — Está perdido, sozinho e amnésico, certo? — indagou enfadada.

    — Não apenas isso... Também estou faminto, cansado, esfolado e sujo! — completou com deboche.

    — Pois então venha comigo! Dar-lhe-ei abrigo em minha moradia! — ela informou gesticulando com as mãos para que o mais novo lhe seguisse.

    — Bem... Se ela estiver tramando algo contra mim... Que se dane! Eu não tenho nada a perder mesmo! — pensou e passou a seguir a idosa que andava a passos ágeis pela floresta, o que não parecia ser coerente com a sua aparente idade avançada.

    Quase vinte minutos depois o rapaz que caminhava à alguns passos atrás da senhora, passou a observar uma cabana não muito grande, solitária em meio ao pequeno campo aberto de difícil acesso que havia naquela área daquela floresta densa, enquanto outra barraca de menor tamanho situava-se afastada, à beira da mata fechada.

    A mulher, de prováveis setenta anos de idade, andou até a tenda maior, adentrando-a e pondo-se sentada sobre as pernas, gesticulou com as mãos para que o garoto fosse até a ela.

    Um pouco hesitante, ele aproximou-se da mais velha, ajoelhando-se para também sentar-se sobre as pernas, de frente para ela.

    — Não tenha medo! Mal eu teria lhe feito se tivesse permitido-lhe cometer o suicídio! — pela primeira vez ela pronunciou suas palavras de forma simpática.

    — Hum... — admirou-se com a reação dela.

    — Olha... Eu sei que não é muito, aliás, sequer posso chamar isso daqui de “moradia” como há pouco fiz, porém, sinta-se à vontade! — ela tocou as pontas dos dedos das mãos sobre o chão à frente dos joelhos, curvando-se humildemente para ele.

    — A-Arigatou! — levemente corado ele agradeceu, retribuindo o gesto humilde da mulher.

    — Bom... Eu quase não fico aqui, pois passo a maior parte do tempo colhendo ervas medicinais pela floresta, portanto, não se incomode comigo! — pediu calmamente.

    — N-Não há problema mesmo, se eu ficar aqui? — inquiriu apreensivo.

    — De maneira nenhuma! — ela argumentou firmemente. — Talvez demorem horas, dias ou até meses... Não sei ao certo, mas sei que em muito breve eles virão lhe buscar! — avisou indiferente.

    — Eles? Eles quem? Minha família? Alguém que me conheça? — perguntou rapidamente, com um olhar extremamente curioso.

    — Aquiete-se, rapaz! — ela exigiu seca e levantou-se de forma ríspida. — Apenas espere! Tudo ao seu tempo, assim será! — ela finalizou saindo de dentro da tenda. — Por enquanto, tente se alimentar e descansar! — de pé, ao lado de fora da cabana, ela apontou para dentro da mesma, na direção de algumas embalagens de biscoitos situadas a um dos cantos.

    — M-Muito obrigado... — curvou-se novamente, sugerindo para que ela dissesse-lhe o seu nome.

    — Mikoto! Esse é o meu nome! — ela revelou inexpressiva.

    — Hum... — ele abaixou o olhar, um pouco angustiado.

    — Como você perdeu a memória e não sabe quem é... Chamar-lhe-ei de Sasuke! — ela contou, dando de costas para o rapaz que passou a olhá-la um pouco confuso.

    — Porque “Sasuke”? — ele inquiriu surpreso.

    — Como posso dizer... — ela refletiu por alguns segundos. — Penso que se tivesse tido algum filho, teria dado esse nome a ele, só isso! — respondeu com um olhar amargurado, fitando o nada.

    — Hum... Entendo! — ele mordeu o lábio inferior, deixando de encarar a senhora por um instante. — Está bem assim, já que não me lembro de meu nome! — aceitou simpaticamente, esboçando um leve sorriso sincero para ela.

    — Vejo-te mais tarde... Sasuke! — ela tomou o rumo da floresta e logo os passos apressados fizeram-na sumir do campo de vista do jovem, em meio à paisagem verdejante daquele lugar.

    Os dias transcorreram-se solitários, o nublado céu cinzento, várias vezes ameaçara uma tempestade, porém, apenas finos chuviscos caiam sobre a terra. A mulher que partilhava de seu humilde abrigo com o rapaz, o dia todo ausente, ela chegava quando ele já estava dormindo e deixava a tenda, antes mesmo que ele acordasse.

    Algumas vezes, ele pegava-se pensando no porque uma velha como ela, que morava em um lugar tão isolado como aquele, tinha tantos afazeres diariamente, embora, ele nunca conseguia chegar a uma conclusão.

    Entretanto, o que ele achava mais intrigante era a outra barraca que havia ali perto, próxima da mata. Parecia estar vazia, pois ninguém entrava nem saia de lá... Então de quem seria?

    No fim, ele acabava repreendendo-se por tal ousadia. Não deveria ficar questionando-se sobre o que fazia a pessoa que havia estendido-lhe a mão quando ele mais precisou.

    Calado, ele apenas passou os seus dias esperando aflitamente, embora se demonstrasse paciente, pelas pessoas desconhecidas que lhe buscariam ali, assim como a velha senhora havia dito-lhe antes.

    Quando a solidão abraça uma vida humana, muitas das vezes ela apossa-se de sua sanidade e priva-lhe de sentido em relação ao mundo que cerca a pessoa por ela afetada. De forma que alguns perdem a noção do tempo, da realidade e até mesmo, de si próprio.

    Talvez tivessem passado apenas alguns dias ou semanas, ele não sabia ao certo, mas um novo dia amanheceu de céu cinzento e deste, pequenos flocos de neve caíam em terra, aos poucos cobrindo a natureza com o seu manto branco.

    Antes mesmo que o chão congelasse por completo, por entre a mata, um homem de rosto coberto por uma máscara escura e de cabelos grisalhos, embora não aparentasse ser velho, aproximou-se da tenda em meio ao campo.

    O jovem de cabelos negros que já estava de pé, ao lado de fora da cabana, avistou o homem que após alguns passos parou de andar, pondo-se de frente para ele.

    — Sasuke? — indagou tranquilamente.

    — Sim! — respondeu friamente.

    — Vim lhe buscar... Vamos! — avisou virando-se para a direção da floresta.

    — Hãn? Seria esse homem, a pessoa que viria me buscar? Aquela mulher deve estar colhendo ervas... Tudo bem partir sem avisá-la? — pensou temeroso.

    — Não se preocupe... Aquela mulher já sabe que estou aqui! Apenas vamos... — o mais velho argumentou notando o duvidoso semblante do garoto e passou a caminhar.

    — Sim! — aceitou começando a seguir o homem.

    Quando os dois adentraram a mata fechada, dentro da tenda menor, a mulher de idade avançada, sentada sobre as pernas ao lado de um futon onde se encontrava em repouso, um velho senhor, suspirou pesadamente.

    — Triste... O outono o trouxe até a mim e o inverno o levou embora! — murmurou a mulher entristecida.

    — Não fale como se isso fosse ruim! É apenas necessário, Mikoto-san! — alertou o homem sentando-se sobre o fino colchão.

    — Eu sei... Só que, mesmo que seja estranho, eu o amo! Amei-o desde o momento em que o encontrei à beira daquela nascente! — confessou com o olhar distante.

    — Você tem todo o direito de amá-lo, Mikoto-san! Apenas não interfira de forma imprudente no caminho daquele jovem! — informou apanhando um cachimbo posto sobre o chão ao seu lado e se levantou, seguindo para fora da cabana.

    — Por quê? Eu que nunca gostei de ninguém... Como posso amar aquele pirralho? — indagou ao homem que sentado ao ar livre, acendeu o cachimbo, começando a fumá-lo.

    — Bom... Como posso dizer? — perguntou pensativo, tragando e libertando a fumaça. — Algum dia você entenderá... Portanto, deixemos tudo ao seu tempo! — expôs olhando para o nada.

    — Tudo bem! Não irei insistir, afinal, você nunca revela muitas coisas para mim! — desabafou com ironia.

    O tempo transcorreu-se lentamente, a velha senhora levava os seus dias em meio à floresta, sempre colhendo suas ervas medicinais, acompanhada pela esperança amargurada de rever aquele menino outra vez.

    Os anos haviam se passado e no mês de outubro, o outono trouxe consigo novamente, o jovem de cabelos negros que, ao lado do homem mascarado, estava mais alto do que da última vez que a idosa o avistara.

    Os dois surgiram por entre os arvoredos da mata e aproximaram-se da tenda ao centro do campo aberto. A mulher que havia acabado de chegar, antes mesmo que adentrasse sua cabana, avistou o rapaz.

    — S-Sasuke? — ela inquiriu surpresa.

    — Mikoto! Há quanto tempo, hein... — inexpressivo, ele acenou para ela.

    — Sim... Dois anos, certo? — inquiriu contente. — Você cresceu... — ela notou, aliviada.

    — N-Não que eu fosse baixo... — ele olhou para o lado, irritado. — Mas sim, cresci um pouco mais! — esclareceu um pouco simpático.

    — Embora ainda seja baixinho perto de mim! — provocou o homem mascarado ao lado.

    — Não se intrometa na conversa alheia, Kakashi-sensei! — ralhou de forma calma e fria.

    — Ora, Sasuke... Não seja malvado, mas enfim, vamos ao que interessa! — o mais velho passou a fitar a velha senhora a sua frente. — Konoha está passando por problemas! Nós viemos na frente para começarmos a levantar um acampamento aqui, pois logo várias pessoas virão refugiar-se nesta floresta... — foi interrompido.

    — Como assim? Aqui? Por quê? — exasperada, a mulher indagou.

    — Como eu posso dizer... Aqui é mais seguro para todos, uma vez que será mais difícil ou até mesmo impossível para “eles” virem até aqui! — contou o homem entediado.

    — Maldição! — irritada, ela deu de costas para os dois. — Façam como quiserem! — adentrou a tenda, enraivecida.

    — S-Será que está tudo bem? — o moreno perguntou apreensivo.

    — Sim, sim... Essa velha reclama no começo, mas sempre acaba cedendo! — expôs desinteressado. — Mas vamos, precisamos erguer uma cabana para descansarmos, pois a partir de amanhã daremos início a nossa nova missão “um acampamento em um dia”, ou pelo menos, Gai impôs algo assim... — suspirou cansado.

    — De fato, só ele para dizer uma coisa dessas... Somos shinobis e não construtores, fora que em um dia? Isso é humanamente impossível... — bufou ríspido. — Isso é culpa sua por ter perdido no “Jan Ken Pon” para aquela besta verde, aliás, quem em sã consciência perderia para ele? — perguntou incrédulo.

    — Um gato preto que passava no momento, me distraiu... — argumentou enfadado. — Eu já o venci inúmeras vezes, sempre há um dia em que a derrota nos atinge! — explicou começando a analisar o solo daquela região.

    — Sei... — olhou para o lado. — No entanto, não me arraste com você na próxima vez! — reclamou, aborrecido.

    — Gomen ne... — pediu desculpa, apanhando uma estaca jogada ao chão, começando a fincá-la ao solo.

    — Hum... — passou a ajudar o mais velho naquele processo.

    O dia rapidamente findou-se, dando início a mais uma noite álgida daquele outono. Uma terceira barraca erguida do outro lado do campo, próxima da floresta, encontrava-se silenciosa, provavelmente o jovem de cabelos negros e seu sensei já dormiam.

    Dentro da cabana menor, à beira da mata fechada, a velha senhora sentada sobre as pernas, ao lado do idoso deitado sobre o futon, fitava o nada, na direção da luminária de papel oriental posta ao chão à sua frente.

    — Mikoto-san... — proferiu o homem que encarava o teto.

    — Hum? — ela inquiriu sem olhá-lo.

    — É incrível como ele ainda não é um de nós, né? — comentou inexpressivo.

    — Sim! Os anos contaram para ele, está mais alto e aparentemente mais velho do que antes! — concordou abatida. — Então, assim como você me contou há algum tempo, ele realmente é aquela criança que nos libertará desse destino? — perguntou apreensiva.

    — Acalme-se, mulher! Embora ele demonstre não ser um de nós, ainda assim não está completo! — anunciou de forma séria. — Posso até mesmo sentir o frio do vazio que há dentro do coração desse jovem! No entanto, sei que em breve, algo irá preencher essas lacunas desmemoriadas que ele possui e dará algum sentido à sua vida! — afirmou tranquilamente, virando-se para o canto do colchão.

    — Aguardarei ansiosa por isso! — prometeu pondo-se de pé e retirando-se da tenda.

    Aquele outono ligeiramente chegou ao seu fim e com a entrada do inverno naquele lado do hemisfério, refugiados de Konoha começavam a chegar naquela parte da floresta.

    Homens, mulheres e crianças, feições inexpressivas, semblantes sérios até mesmos nos menores, povoaram aquele campo aberto em meio à mata densa daquele local.

    Logo o inverno ganhou força e começou a nevar no norte. Aos poucos o gelo cobria o chão que, outrora verdejante, tornava-se extremamente branco.

    Em uma noite fria daquele inverno, o garoto com insônia, que há pouco havia deixado o acampamento e caminhava pela floresta congelada, em mais uma das tentativas falhas de resgatar do fundo de sua mente, alguma de suas memórias, inconscientemente, perdeu a noção da direção que trilhava pela mata.

    Porém, quase vinte minutos depois, os olhos negros que fitavam o nada, tiraram-lhe de seus devaneios, ao observar uma pessoa caída ao chão coberto de neve, próxima de algumas das inúmeras árvores coníferas que havia naquela região.

    Cautelosamente, aproximou-se do corpo frágil. Alguns dos fios de cabelos bagunçados e estranhamente róseos pairavam sobre o rosto delicado da menina que usava meramente um pijama azul composto de blusa e calça, de meias e chinelos.

    Talvez fosse apenas coincidência, ou quem sabe, assim como uma vez, quando estava prestes a cometer o suicídio à beira de uma nascente de águas turbulentas, uma velha senhora havia lhe dito que nada no mundo acontecia por acaso, e ali o destino o tivesse levado para salvar a vida daquela garota.

    De volta ao presente, naquele instante, em plena madrugada, os ouvidos do rapaz adormecido nos braços da jovem que ele salvara da morte algumas vezes, escutaram uma triste melodia que uma vez guiou um menino de cabelos negros, perdido na imensidão daquela floresta em pleno inverno, para fora daquela mata fechada.

    De repente os olhos avistaram em sonho, as feições de uma pequena menina de cabelos curtos e róseos que, com seus olhos verdes intensos, o olhava através das vidraças embaçadas da enorme janela, de uma velha casa tradicional isolada em meio a aquele campo aberto, com sua expressão vazia.

    Porém, em um breve momento, ela esboçou um leve sorriso aliviado, que aqueceu o coração daquele garoto, com o mesmo calor que agora ele sentia na presença daquela que, naquele instante, ao seu lado dormia.

    Um pouco assustado, ele acordou e passou a olhar para o rosto sereno de Sakura, que dormia profundamente.

    — Incrível... Somente agora percebi que ela parece-me tão familiar! Sinto como se já tivesse a conhecido há anos! — pensou levando uma de suas mãos até a face alva da menina, colocando alguns dos fios róseos caídos sobre o rosto, por detrás de uma das orelhas.

    Quem sabe, antes mesmo que ele tivesse-lhe salvado a vida inúmeras vezes como o fizera, há muito tempo, naquele sonho ou talvez, possível memória de seu passado, naquela mesma floresta, em pleno inverno, através daquela melodia, um hino, ela tivesse salvado a vida do menino perdido pela primeira vez.


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