De Violetas e Amores-Perfeitos

Tempo estimado de leitura: 42 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 3

    III

    Spoiler

    Saint Seiya e Saint Seiya Omega não me pertencem, infelizmente...

    Se pertencessem, o nome seria Saint Shiryu, Shunrei seria a deusa, e eles viveriam num Santuário naturista.

    DE VIOLETAS E AMORES-PERFEITOS

    Chiisana Hana

    Revisão: Nina Neviani

    Capítulo III

    Depois do jantar, os garotos recolheram-se para descansar um pouco. Os meninos fizeram questão de que Aria e Yuna dormissem nas duas camas disponíveis, a de Ryuhou e a antiga cama do Mestre, a qual agora era a cama de hóspedes. Kouga, Haruto e Ryuhou dormiriam em colchões, sendo que o do Dragão foi colocado no quarto de seus pais. Shunrei e Ryuhou ajudaram Shiryu a deitar-se na cama e ficaram conversando.

    ? Mãe, fiquei triste por perder a armadura de Libra ? disse o garoto, aninhando-se no colo de Shunrei. ? Ele agravou a própria saúde para enviá-la a mim e eu o decepcionei.

    ? Não se preocupe com isso, meu querido ? ela o tranquilizou, acariciando-lhe os cabelos.

    ? Seu pai entendeu o que houve. Ele sabe que você não teve culpa.

    ? Eu vou trazê-la de volta, mãe.

    ? Tenho certeza de que isso acontecerá, meu querido. Você sempre nos orgulhará.

    ? A ferida negra aumentou e se espalhou pelo rosto...

    ? As coisas não devem ficar muito piores ? minimizou Shunrei. Não queria preocupar o filho, mas sabia que aquilo só podia ser mau sinal.

    ? Eu vou curá-lo. Eu sei que vou. E não vai demorar muito.

    ? Espero que sim, meu querido ? Shunrei disse e logo mudou de assunto. Não queria falar com Ryuhou sobre a saúde de Shiryu para que sua preocupação não ficasse tão evidente. ? Vocês vão mesmo partir amanhã ao entardecer?

    ? É, vamos.

    ? Já? Gostaria que ficassem um pouco mais. Seus amigos são adoráveis!

    ? Realmente temos que ir, pois ainda precisamos destruir mais ruínas. Mas prometo voltar com eles em outra ocasião, quando meu pai já estiver curado e puder nos contar como foram as batalhas lendárias dele e do meu avô. Eles vão gostar de ouvi-lo.

    Shunrei sorriu satisfeita. Uma das coisas que mais admirava no filho era a capacidade de ver o lado bom das coisas. Shiryu sempre tendeu ao pessimismo, e felizmente nesse aspecto Ryuhou era bem diferente do pai.

    Ele ficou no colo da mãe até adormecer, quando ela o acomodou ao lado de Shiryu e deitou-se ela mesma no colchão que tinha preparado para o filho. Tentou dormir, mas não conseguiu de imediato, preocupada com Shiryu. O que viria a seguir? Será que ele ainda conservaria as faculdades mentais? E Ryuhou? O que estava reservado para ele nessa batalha? Conhecia bem demais as lutas de cavaleiros para saber que nunca eram fáceis. E se perdesse os dois? Não queria pensar nisso, mas era inevitável.

    Quando amanheceu, ela se levantou, e preparou café para os garotos. Eles passariam o dia ali e partiriam ao pôr do sol, quando estaria mais fresco.

    Aria e Yuna foram as primeiras a acordar e ofereceram ajuda a Shunrei. Logo em seguida, os meninos também acordaram. Ryuhou deu banho no pai, fez a barba dele, penteou-lhe os cabelos. Depois, levou-o o para a cozinha.

    As meninas quiseram lavar a louça, mas Shunrei não deixou. Ao invés disso, sugeriu que fossem se divertir um pouco na cachoeira, o que eles fizeram. Depois de lavar os pratos e encaminhar o almoço, ela levou Shiryu até a pedra e ficou lá em cima do penhasco, acompanhando-o, enquanto observava os meninos brincaren na água. Sorriu nostálgica ao lembrar-se que ela e Shiryu costumavam fazer o mesmo em seus tempos de adolescência. No começo da doença ainda o levava para banhar-se na cachoeira, mas a saúde dele ficou frágil demais. Passou a contrair resfriados com tanta facilidade que ela abandonou esse hábito.

    "Vá divertir-se com eles", Shiryu lhe disse através do cosmo. Sentia o estado de ânimo dos meninos e o pensamento nostálgico de Shunrei. "Eu vou ficar bem."

    "Ah, Shiryu, você não deve falar", ela retrucou. "Sabe que lhe faz mal."

    Ele não prosseguiu. Deixaria a esposa irritada se continuasse, mas desde a noite sentia a apreensão dela e os dois sabiam que ele não tinha mais muito tempo. Logo a mancha negra tomaria todo o seu corpo e seria o fim. Queria que pelo menos Shunrei tivesse alguns momentos de alegria ao lado do filho, mas ela, teimosa que era, preferia ficar com ele.

    Quando o sol começou a esquentar, Shunrei levou-o de volta para casa e terminou de preparar o almoço dos meninos, que como ela imaginou, chegaram famintos. Devoraram tudo avidamente e novamente ela recusou a ajuda para lavar a louça e pediu que fossem descansar para a viagem. Na verdade, queria fazer as tarefas domésticas sozinha porque estava aflita, pois cuidar da casa sempre foi uma espécie de meditação para ela.

    Depois de descansarem, os meninos se aprontaram para partir. Foram até o penhasco, de onde ela poderia vê-los se afastando, e ali se despediram. Shunrei tinha preparado um lanche reforçado para eles levarem e despediu-se de cada um com um abraço e o desejo de que retornassem algum dia. Quando partiram, ela e Shiryu ficaram novamente sozinhos.

    Pouco depois, ela o levou para casa. Logo no jantar as coisas ficaram difíceis. Shiryu engasgou-se mesmo com a sopa. Então, Shunrei diluiu-a ainda mais para que ele pudesse bebê-la e só assim ele conseguiu. Tocou o curativo que envolvia a testa dele e estava muito quente. Desfez tudo, hidratou a pele com óleo de amêndoas e notou que ainda continuava quente ao toque. Pouco tempo depois, percebeu que todo o corpo dele estava com uma temperatura alta. Colocou o termômetro para verificar e se alarmou com a temperatura de 40ºC. Deu um antitérmico a ele e rezou para que funcionasse. Tirou a roupa que ele usava, deixando-o só de fraldas e começou a umedecer a testa com água bem fria. Foi uma noite difícil, com ele agitado demais e a febre que baixava por poucos minutos e logo voltava. Shunrei não queria levá-lo ao hospital. Nas duas vezes em que foi preciso fazê-lo, foi uma complicação explicar aquela lesão estranha. Na última vez, quiseram até que ela o deixasse nos hospital para estudá-lo. Ela esbravejou dizendo que não permitiria que ele se tornasse cobaia de ninguém e levou-o para casa. Não queria ter de enfrentar isso de novo, mas se ele piorasse teria de levá-lo.

    Antes disso, lembrou-se de Shun e resolveu ligar para ele e pedir orientações. Ryuhou contou que tinha se encontrado com o "tio" e que ele ainda morava na mesma aldeia. Pegou o telefone e discou, torcendo para que Shun estivesse em casa. Sabia que ele viajava muito pelas aldeias vizinhas, atendendo as pessoas, mas tinha que arriscar.

    ? Shun, aqui é a Shunrei ? ela disse de chofre assim que ele atendeu, mas percebendo a falta de tato, recomeçou: ? Me desculpe, Shun. Primeiro, boa noite.

    ? Ah, boa noite, Shunrei ? ele cumprimentou alegremente, mas sem deixar de demonstrar surpresa. Era raro Shunrei telefonar. ? Ryuhou esteve aqui. Como ele cresceu! Tornou-se um menino adorável.

    ? Sim, é verdade. Ele também esteve aqui em casa e contou que você cuidou dele. Muito obrigada por isso.

    ? Imagine, não há de quê. E vocês, como estão?

    ? Foi por isso que eu liguei. Shiryu não está nada bem. Os meninos estiveram aqui e Ryuhou lutou. Para ajudá-lo, Shiryu acabou queimando cosmo e a ferida se espalhou pela face. Agora ele está com uma febre que não passa. Estou com medo que piore e ele acabe tendo convulsões ou... ? Ela refreou-se. Era incapaz de completar a frase em voz alta.

    ? Sei... ? Shun disse, avaliando mentalmente o que podia ser feito para ajudar o amigo.

    ? Você é médico e também tem a ferida, sabe como é difícil explicar isso no hospital. Não quero ter de levá-lo lá.

    ? Sei, sim, Shunrei ? ele disse, tomando uma decisão. - Faça o seguinte, mantenha a ferida bem resfriada, pois é ela que provoca o aumento da temperatura do corpo. Não é uma febre real... Eu estou indo para aí.

    ? Muito obrigada, Shun, muito obrigada mesmo ? ela agradeceu, sentindo extremo alívio. ? Eu não deixaria que viesse se a coisa não estivesse realmente ruim.

    ? Não se preocupe, eu iria de qualquer forma.

    Shunrei fez conforme a orientação de Shun e realmente a temperatura começou a cair, embora Shiryu ainda continuasse inquieto. Provavelmente a ferida doía. Não demorou muito e Shun chegou. Pelo amigo, tinha feito o esforço de viajar como um cavaleiro deve fazer: na velocidade da luz. Ele cumprimentou Shunrei rapidamente e foi logo ver Shiryu. De pronto, aplicou uma ampola de morfina nele.

    ? Assim ele não vai sentir dor por mais algumas horas ? disse. ? E como eu falei, essa febre é da ferida, basta mantê-la resfriada. A minha deu uma piorada nos últimos dias também, mas não chega a me afetar tanto porque não é extensa como a dele. Se a minha já doi, não consigo nem imaginar a dor que Shiryu sente.

    Shunrei abaixou o olhar, entristecida. Não gostava de ver Shiryu sofrer de forma alguma, mas sempre acreditou na possibilidade de melhora e conservou uma postura otimista. Dessa vez, entretanto, só conseguia pensar no pior.

    Com os cuidados de Shun e Shunrei, aos poucos, a ferida foi ficando menos quente, baixando a temperatura do corpo também. Era difícil para o médico ver o amigo naquele estado tão dependente, tão frágil. Shiryu sempre fora uma referência de força, agora era quase como um bebê grande. Queria saber se ele ainda conseguia pensar normalmente, mas nem ele nem Shunrei se arriscavam a tentar comunicar-se com ele através do cosmo por medo de agravar a situação. Até que no terceiro dia, ele aparentou estar mais quieto, o que os fez supor que a dor tinha melhorado e enquanto Shunrei penteava-lhe os cabelos, ele levou a mão à barriga, no gesto que significava que estava com fome. Depois, pôs a mão sobre o peito e apontou para frente, no gesto que para eles queria dizer "eu te amo".

    Shunrei sorriu emocionada, deu-lhe um beijo na testa, e apressou-se para esquentar a sopinha rala que tinha preparado mais cedo.

    Continua...


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