Ouro Branco

  • Caah F
  • Capitulos 5
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 2 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 5

    Hesitantemente

    Álcool, Bissexualidade, Heterossexualidade, Homossexualidade, Nudez, Sexo, Suicídio, Violência

    - Estou entrando. ? Murmurou baixinho, sabendo que ninguém iria o ouvir, todavia falando para calar a sua consciência que insistia em coagi-lo a se anunciar antes de entrar.

    Abriu apenas um pouco da porta ornamentada, olhando para os dois lados e encontrando o quarto do segundo príncipe vazio. Entrou, fechando a porta atrás de si levemente, não querendo fazer barulho. Não lembrava se alguma vez havia estado ali, então analisou o quarto ricamente mobiliado, que o lembrava vagamente do seu próprio no castelo em que vivia. Andou apenas alguns passos, ouvindo um riso distante perto dali.

    Sorriu olhando as portas abertas da sacada, seguindo até elas a passos curtos, tentando não fazer barulho. Passou pela cama com dosséis, que estava meticulosamente arrumada. Uma poltrona, e uma escrivaninha. Quando estava próximo o suficiente das portas, seus olhos vislumbraram um moreno menor com a vestimenta adequada para a ocasião daquele dia. A túnica preta com seus botões dourados, com fios da mesma cor que os botões que adornavam as costuras. Dançava junto com um ser loiro, que trajava um vestido longo vermelho-vinho com delicadas flores bege por todo o tecido. Mesmo com aqueles trajes femininos, sabia que ele era um garoto. Um garoto feito artificialmente pelos magos daquele reino cheio de mistérios, ao qual ninguém ousava falar nada.

    Encostou-se à porta, sorrindo levemente enquanto o moreno dava algumas indicações de dança à boneca. Apenas perceberam sua presença quando, em um giro, Sterling virou-se para olhar as portas. Os olhos do segundo príncipe, que continham uma alegria nublaram-se ao notar a presença do mais alto, sentindo uma mistura de raiva e aquele sentimento que ainda não sabia o nome.

    - Duncan. ? Parou de dançar, fazendo com que Sweetz ficasse apenas ao seu lado, pousando sua mão na cintura da boneca e puxando-a mais próxima a si.

    - Sterling. ? Sorriu abertamente, fazendo uma pequena mesura em direção ao moreno mais baixo. Logo, aproximando-se de Sweetz. ? Concede-me uma dança? ? Fez uma reverência demasiada, deixando que suas costas se projetassem para frente e seu rosto encarasse o chão. Em seguida olhou para o loiro, piscando os olhos, e para o segundo príncipe como se pedisse uma permissão com o olhar.

    - Não. ? Respondeu aquele pedido mudo de forma fria.

    - É só uma dança, não farei nada de mais. ? Ergueu-se voltando a posição ereta.

    - Não depois do que fizestes. ? Voltou-se para Sweetz, o olhando profundamente e recomeçando os passos simples da dança.

    - Estás com ciúmes? ? O moreno mais alto ali se afastou um pouco dos dois, e conteve uma risada.

    - Ciúmes? ? Procurou em seu vocabulário. - Não sei o que é isso. ? Olhou bem fundo nos orbes negros de Sweetz, eles pareciam não ter um fim com a maioria das coisas. Era como um transe olhá-los, a única coisa que o fazia perceber que ainda pertencia a algum lugar era a voz distante e irritante de Blaise.

    - Como vou explicar para um novato como ti. ? Passou um de seus longos dedos no queixo, deixando que suas costas encontrassem uma das paredes daquela varanda. Olhou para cima, apenas encontrando aquele céu de começo da noite, já escuro e sem muitas estrelas.

    - Novato? Não entendo o que está dizendo. ? Fez uma pausa. ? Aliás, não entendo o que diz na maior parte do tempo. ? Observou os fios que caíam sobre as laterais do rosto delicado do loiro. As mulheres haviam prendido o cabelo em um pequeno coque alto, deixando apenas algumas mechas laterais soltas.

    - Ciúmes é um sentimento ruim, quando tu sentes irritação ou chateação quando o ser que tu amas é cortejado por outro. Ou quando o próprio ser amado, corteja outros.... ? pensou, retirando seu dedo do queixo e esperando a reação do moreno menor.

    - Porque eu acha que estou sentindo esse tal de ciúmes? ? Perguntou curioso, mas não deixando que seus olhos desviassem da boneca.

    - Apenas porque desfrutei um pouco dos lábios do Sweetz, tu não me permites dançar com ele. ? Sorriu.

    - Isso é por que... ? estreitou os olhos -... O Sweetz é meu. ? Concluiu simples. ? E de mais ninguém.

    - Isso é muito possessivo da tua parte, não acha?

    - Não se ele me pertence de verdade. ? Sorriu para a face sem emoção que dançava consigo.

    - Ainda falta para tu entenderes... ? murmurou baixinho para si mesmo, sabendo que o outro não ouviria.

    - Tu deverias parar de se intrometer em meus assuntos. ? Pronunciou de forma arrogante. Não gostava daquele tom, e não o usava. Apenas queria afastar o irritante primo. ? Deveria estar fazendo algo de produtivo, já que foi mandando por aqui por algum motivo.

    - Ah, quer dizer que não te contaram? ? O maior riu pensando em quanto o outro sabia de pouco do que acontecia em seu próprio castelo. ? A vossa majestade, o rei, seu pai, tem a fama de criar os seus filhos em um regime rígido. Eu sou um príncipe, ao qual, o pai descobriu que fugia para encenar peças no teatro local. Assim, meu pai decidiu que eu deveria vir para cá para viver de uma maneira que me desse juízo. ? Disse a última palavra. ? Como os reinos são amigos, e os reis também... Não precisa de muito para entender o acordo.

    Em algum momento do discurso do maior entre todos, Sterling parou e observou aquela figura que parecia mesmo, deslocado naqueles trajes claros e nobres. Sempre achou que havia algo diferente na personalidade daquele seu primo. Talvez fosse por isso, Blaise não tinha aquelas características de um príncipe.

    - Desculpe a minha arrogância, eu não sabia de nada. ? Falou formalmente, escolhendo as palavras cuidadosamente.

    - Não se desculpe. Não tens culpa de algo assim. ? Desencostou-se da parede com um sorriso animado. ? Aliás, eu te desculpo, se me deixar dançar um pouco com Sweetz. ? Sorriu abertamente.

    Olhou por alguns longos segundos o maior, procurando entender se aquela não era apenas uma brincadeira. Viu que o outro esperava por uma resposta, de forma séria. Olhou para sua boneca, que estava ao seu lado, observando de volta, aquela face sem emoção, e os olhos tão negros. Não queria ninguém o tocasse, Sweetz era seu afinal de contas. Como uma criança mimada, não entendia o motivo de ter que dividi-lo.

    Em contraposto, não queria ficar mal com o seu primo. Mesmo que este houvesse beijado sua boneca sem sua permissão. Refletiu sobre a situação do outro, e mordeu o lábio inferior. Não conseguia imaginar como deveria ser praticamente ser deportado para outro reino por seu próprio pai.

    - Tu queres dançar com ele, Sweetz? ? Sorriu pequeno.

    - Se Sterling quiser, eu irei querer também. ? Respondeu em sua voz automática.

    - Hm. ? Deixou seus lábios projetarem até quase fazerem um bico, interrompendo aquele ato que julgava deveras infantil. ? Pode sim, mas se tentar algo, a guarda não está muito longe.

    - Certo. ? Aproximou-se do loiro, e pegou uma das mãos dele entre as suas, beijando-a delicadamente. Logo estavam executando passos leves que o segundo príncipe havia ensinado para o garoto artificial.

    Sterling se afastou dos dois, não querendo realmente presenciar aquela cena, porém forçando seus olhos a manterem-se abertos. As informações se misturavam em sua cabeça. Não conhecia nada do outro moreno, e agora, ele revelava de súbito o motivo de ele estar ali. Além do mais, aquele tal de ciúmes. Desde que havia resgato Sweetz dos braços do meio-irmão, havia sentindo coisas ao qual não podia nomear. Não sabia se o sentimento descrito pelo outro era um dos que estava passando por si.

    As palavras daquele bruxo também giravam em sua cabeça. Não havia contado para ninguém, e agora carregava o peso daquelas palavras sozinho. Não era agradável, mas era o que se podia fazer naquele momento. Quando aquela frase ecoou em sua mente, outra coisa veio à cabeça. Estava ensinando a boneca a dançar por causa da festa de Cliff. Sim, era uma ironia levar Sweetz a festa do primeiro príncipe, mas também, não iria sem a boneca.

    O que mais intrigava o moreno, com o acessório metálico nos lábios, era o motivo do noivado ser tão repentino. Principalmente a festa, que já seria naquela noite. Pensou que talvez, isso havia sido planejado há muito tempo, porém, ninguém havia se dado ao trabalho de informá-lo.

    - Já fostes ao teatro do vilarejo? ? Duncan o tirou de seus devaneios. Piscou algumas vezes até compreender que estava falando consigo, e depois, até processar a informação.

    - Teatro? ? Repetiu a palavra, observando o modo como o vestido colocado em Sweetz ficava bem. ? Não, nunca fui.

    - Pois nós iremos daqui a alguns dias. ? Sorriu ao dizer aquela frase.

    - O que? ? Exclamou.

    - Quando estava passando em direção a este castelo, fugi momentaneamente. ? Sorriu de lado ao dizer aquelas palavras, lembrando-se de sua fuga. ? E procurei pelo teatro, que por causa estavam desesperados a procura de um personagem as vésperas da estreia. ? Fez uma pausa, onde o outro moreno olhava-o atônito. ? E não é que eu consegui o papel? Parecia algo como o destino. ? Sorriu pequeno, estava feliz por ter conseguido aquele papel, que parecia tão improvável.

    - Não posso acreditar nisso! ? Andou de um lado para o outro, com a mão sobre a testa, pensando sobre o que o maior havia falado. Parou e fez um pequeno movimento circular com o indicador em as testa, olhando para os dois que dançavam. ? Já foi o suficiente, largue-o. ? Deixou sua mão cair indo em direção a boneca.

    - Calma Sterling. ? Blaise afastou-se rapidamente da boneca, ficando bem perto do parapeito de pedra branca e lisa.

    - Como vai se apresentar se não está ensaiando? - Perguntou perto de Sweetz, que o olhava de volta.

    - Estou, e além do mais, arranjarei uma maneira de ir aos ensaios coletivos. ? Passou a mão pelos fios curtos e negros, virando-se para encarar a noite. Como aquela sacada ficava de frente para o jardim podia-se, claramente, ver a entrada dos convidados no castelo. Havia um pouco mais ao longe, varias carruagens luxuosas, de onde pessoas com trajes caros e adornados de forma opulenta adentravam.

    - Não sei de que maneira.

    - Irei conseguir, e irás me ajudar. ? Apoiou os braços no parapeito.

    - Não conte com isso.

    - Logo conhecerá um teatro. ? Sorriu pequeno, pensando que o motivo de estar ali era exatamente o oposto do que estava pretendendo. Seu pai o mandara para poder ficar longe de teatros, que julgava apena suma diversão para os nobres. E ali estava ele, determinado a conseguir estar atuando daqui a alguns dias.

    - Me resigno a entendê-lo. ? Pronunciou enquanto negava com a cabeça levemente.

    - Quer descer para o salão? Boa parte dos convidados já chegou. ? Perguntou ignorando a frase do outro.

    - Na verdade, eu não queria comparecer, mas como é noivado do Cliff. ? Respondeu se aproximando do parapeito, mas não muito perto de Duncan.

    - Esse acontecimento soa estranho, certo? ? Virou-se para o príncipe, ficando de costas para o parapeito, mas apoiando seus cotovelos neste.

    - Talvez seja porque tu não estás bem informado. ? Desviou da pergunta. Começou a andar em direção ao quarto. ? Vamos descer Sweetz.

    - Sim, Sterling. ? Ajeitou uma das mechas laterais que caía sobre o rosto e o acompanhou.

    - Ei, espere-me! ? O moreno maior afastou-se exclamando.

    - Aprese-se então Duncan! ? Pronunciou em tom alto para o outro poder ouvi-lo, já estava no meio de seu quarto.

    - Estou aqui, já. ? Sorriu pequeno, enquanto Sterling girava a maçaneta do quarto, e abria-a, saindo sentindo o loiro em seu encalço.

    - Sweetz, dê-me sua mão. ? Parou em frente ao loiro, saindo do quarto estendeu sua mão até que ficasse próximo ao garoto artificial. O moreno maior observou a cena de forma curiosa.

    - Assim? ? Indagou com uma pequena pontada de hesitação, que se não prestasse atenção o suficiente, passava-se despercebida. Deixou que sua mão encontrasse a do segundo príncipe, entrelaçando os seus dedos.

    - Sim. ? Quase sussurrou, enquanto olhava para seus dedos entrelaçados ao do loiro, sentindo a textura macia da palma da mão. Não soube o motivo de ter pensado em fazer aquilo, mas também, não se lembrava de tê-lo tocado daquela maneira. Apenas na vez que o mudara do quarto do irmão, para o seu.

    - Que cena fofa. ? Interrompeu Blaise, falando alegremente. Os outros dois o encararam. Sterling com os olhos um pouco assustados, como se houvesse esquecido que havia alguém ali, além de si próprio e Sweetz. Este, olhando-o com sua face indiferente.

    - Não entendo. ? O loiro disse com seu tom usual.

    - Igual ao Sterling. ? Sorriu pequeno, virando-se para os dois e tomando o caminho que daria no salão. ? Esperarei pelos senhores, lá no salão, até mais. ? Acenou sem olhá-los.

    - O que ele quis dizer, Sterling? ? Indagou.

    - Eu queria entender. Como eu disse, eu não entendo as coisas que Duncan diz. ? Negou levemente com a cabeça, fechando os olhos, porém logo os abriu, encarando os pequenos orbes negros.

    - Será que ele pensa que é como naqueles romances? ? Perguntou refletindo.

    - Hm. ? Apertou de leve a mão que estava entrelaçada a sua, começando a caminhar. ? Não tenho certeza.

    - Ele não deve saber.

    - Sobre o que? ? Arqueou uma sobrancelha, olhando-o enquanto andavam vagarosamente. Não queria mesmo ir lá para baixo, e estava prolongando o máximo o seu pequeno trajeto.

    - Nós não sentimos nada. Eu não sou humano. ? Olhou para o outro.

    - Não importa, só esteja do meu lado. Assim, estará tudo bem. ? Apertou a mão do outro com um pouco mais de força, querendo acreditar nas palavras que dizia. Coisas variadas passavam pela sua cabeça, enquanto um sorriso pequeno aparecia em sua face.

    - Estarei aqui, Sterling. Eu sou seu, no final de tudo. ? Disse com a mesma face e tom sem emoção para o moreno, que encarava aqueles profundos olhos negros. Parecia haver um brilho humano se espreitando ali, entretanto quando piscou aquilo desapareceu.

    Seu corpo se mexeu involuntariamente, não soube o que estava fazendo quando suas mãos rodearam a cintura magra, e delineada pelo vestido. Apenas sentiu seu corpo se moldar ao do outro de forma suave. Parecia que a cada vez que se aproximava mais, os sentimentos se tornavam mais complexos. Não sabia se toda aquela possessão combinava com uma pura amizade. E não sabia se deveria se apegar tanto a um ser que não sentia nada. No entanto, quando as mãos delicadas do outro serpentaram de maneira hesitante até seu pescoço, compreendeu que estava muito feliz. E aquela felicidade, não podia ser errada.

    O enorme salão de festas estava cheio de pessoas, que transitavam para todos os lados. No centro, várias pessoas dançavam uma coreografia complexa, cheia de passos e rodopios programados. Alguns convidados olhavam os demais dançando, rodeando os que dançavam. Outros passeavam entre as mesas fartas e sofás luxuosos. No extremo do salão, o rei Godric cruzava as pernas sentado em seu trono. Um loiro alto estava ao seu lado, porém em pé. Seus longos cabelos loiros estavam presos por uma fita negra em um rabo de cavalo frouxo, da mesma cor que suas vestes. Os olhos azuis se comunicavam com os negros do rei, que o olhava em uma comunicação muda.

    - Godric. Eu sei que estás me escondendo algo. Qual o motivo de não me contar? Agora que estou entregando a minha filha, seremos da mesma família. ? Pronunciou o loiro, em seu tom rouco, e de forma baixa. Desviou seus olhos para o grande salão, vendo ao longe, sua filha e Cliff, o príncipe. ? Poderemos até sermos algo a mais. ? Sugestionou quase sussurrando, com um sorriso malicioso.

    - Não há nada a se contar, meu caro, Abbot. ? Fez um gesto de dispensa com as mãos. ? E, por favor, contenha-se com essas sugestões. Sabe que não aprova esse tipo de conduta. ? Seu rosto demonstrando uma mistura de tédio, com indiferença a tudo que se passava a sua frente.

    - Aquele é seu outro filho, certo? ? Indagou ignorando o que o outro havia falado. Sabia muito bem que o rei daquele reino deveria estar escondendo algo e que não iria falar por causa de sua irredutível teimosia.

    Um moreno não muito alto adentrava o salão, com as mãos dadas ao que parecia uma jovem de cabelos loiros. Arqueou uma sobrancelha perfeitamente, julgando a cena como estranha.

    - Sim. ? Sabia que os integrantes de sua família eram distinguíveis, por causa do acessório que ostentavam nos lábios.

    - Ele já possui uma noiva? Como não me informou tal evento? ? Questionou um pouco desconcertado por não saber daquele fato.

    - Não é noiva dele. ? Olhou aqueles olhos profundamente azuis. ? É apenas uma boneca. ? Virou-se para olhar o salão, encontrando seu filho com a boneca andando pelo meio de alguns nobres, que reverenciavam o segundo príncipe de forma educada.

    - Uma boneca? ? Agora, suas duas sobrancelhas arquearam-se por um espanto legítimo. ? Pensei que esse fosse apenas um fetiche de Cliff. ? Refletiu.

    - Ele disse que a encomendou sozinho, mas duvido muito disso. Deve ter sido influenciado por Cliff, ou este, apenas deu alguma que não aprovou.

    - Mas ela é linda. ? Sorriu pequeno.

    - Se interessando por espécies femininas? Isso é atípico da sua parte. ? Rodou os orbes levemente nas órbitas.

    - Mas tem algo diferente... Não sei bem o que. ? Franziu as sobrancelhas, passando o peso do corpo para outra perna, e deixando que suas mãos se entrelaçassem em frente ao tronco.

    - Desfrute-a. ? Sorriu pequeno.

    - Sterling não deixaria. ? Maneou a cabeça.

    - Force-a. ? Abriu um pouco mais seu sorriso, enquanto via seu filho esgueirar-se pelos convidados, e saindo do salão.

    - Tens certeza? ? Encarou o rei com um sorriso malicioso.

    - Se parar de me importunar, claro. ? Ajeitou um fio que ladeava seu rosto, que estava meio preso pela coroa. ? Apresse-se, caso não o fizer, irá perdê-lo de vista. Ele provavelmente estará em uma pequena sala que tem próximo aqui, ou então, na biblioteca.

    - Então... Até Godric. ? Sorriu enquanto fazia uma reverência com mais formalidade e pompa do que a necessária, fazendo com que o moreno apenas arqueasse uma sobrancelha, olhando-o de forma fria.

    O loiro caminhou em busca de Sterling, supondo que ele não deveria ter ido tão longe. E esperançoso que não teria muito trabalho para encontrá-lo, que estaria na pequena sala que Godric havia falado. Passou por muitas pessoas, que executavam reverências, ao qual apenas maneava a cabeça e sorria pequeno. Ele era um nobre de Squartland, que havia cedido sua filha para ser noiva de Cliff.

    Claro que aquela união seria proveitosa para ambos os reinos, mas sua decisão havia se concretizado por causa de seu amante Godric. E quando sua mente processou aquele nome, não teve escolha a pensar sobre os acontecimentos mais recentes. Aquela frieza excessiva do moreno, e sua total falta de ciúmes e possessão era anormal.

    Seus olhos vislumbraram as roupas que Sterling usava juntamente com o vestido longo trajado pela boneca. O segundo príncipe entrava por uma porta, que deveria da saleta que Godric havia mencionado. Sorriu vitorioso, seus passos direcionando-o a mesma porta. Seus dedos longilíneos e pálidos encontrando com a maçaneta de um dourado polido e reluzente.

    Os olhos azuis encontraram um apequena sala, com apenas três poltronas e um longo sofá. Todos de um vermelho vinho, com linhas dourados nas bordas. Uma pequena mesinha redonda negra no centro dos sofás, e uma mais ao longe com um grande vaso branco, contendo rosas escarlates. As paredes eram brancas e lisas, como todo o resto do castelo, mas com alguns quadros de pessoas importantes daquela dinastia.

    Adentrou o lugar a passo leves, fechando atrás de si, a porta de madeira escura. Olhou por tudo aquilo, vendo que o segundo príncipe estava indicando algo em um quadro para a boneca. Estranhou o ato tão humano, e logo o moreno virou-se, notando a presença de Abbot.

    - Senhor Abbot. ? Fez ume leve reverência, olhando o garoto artificial de esguelha e vendo-o executar também.

    - Jovem príncipe. ? Maneou a cabeça. ? Estava mostrando os retratos a sua boneca? ? Sorriu tentando conter a animação que sentia percorrer seu corpo.

    - Sabe que Sweetz é uma boneca? ? Indagou de forma surpresa. ? Er, mas... Sim, estava sim. ? Atrapalhou-se por um momento com as palavras.

    - Que linda ela é. ? Sorriu aproximando-se até que ficasse a apenas alguns metros de Sweetz, que o olhou pendendo a cabeça um pouco de lado.

    - Sim... ? murmurou estreitando os olhos, vendo alguma segunda intenção nos olhos azuis de Abbot, que esquadrinhavam avidamente a boneca.

    Em um lapso de conhecimento, entendeu o que estava vendo naqueles olhos. Só não teve tempo que impedir que o ato se concretizasse. Abbot, o loiro mais alto, beijava o outro Sweetz. Sentiu como das outras vezes, aquele sentimento que não sabia o nome. Perguntou-se caso não seria aquele tal de ciúmes. Não gostava de ninguém tocando a boneca de forma tão íntima. Seu punho fechou-se e só sentiu aquele rosto de textura macia encontrando com força a nódoa de seus dedos.

    - O que fez com meu rosto? ? Abbot perguntou passando a mão pela bochecha esquerda.

    - Vem, vamos Sweetz! ? Pegou a mão da boneca, e começou a correr. Era como se tivesse feito algo de errado, mas entendia que não. Queria distanciar-se daquele rei metido, que ousara beijar sua boneca. Os convidados ficavam para trás, a medida que seus passos automaticamente voltavam ao carro. Sentia-se como tivesse estado lá mais do que o necessário naqueles poucos dias. Sempre voltando para lá, por algum motivo insano.

    Os seus olhos encontraram a mobília de seu quarto, e soltou a mão do outro, vendo que estava apertando com força demasiada. Claro, que por ser artificial, ele não sentiria, todavia seu raciocínio lógico insistia em decretar que Sweetz era um ser frágil. Suspirou andando alguns passos e tapando ambos os olhos com as mãos, sua mente trabalhando freneticamente enquanto andava lentamente pelo quarto. Não entendi a razão daquelas pessoas sempre beijando sua boneca.

    Retirou suas mãos de seus olhos, vendo que a boneca, menor que si, estava a sua frente. Olhou bem para aqueles olhos hipnotizantes, mas artificiais. Os delicados e curtos cílios, as maçãs do rosto, o nariz fino. A pele era imaculadamente clara, e aparentava ser tão macia. Os lábios não muito grossos, rosados de forma clara. Ou era de fato, bonito. Talvez fosse isso que as pessoas vissem nele.

    - Por favor, quando alguém tentar beijar-te, afaste essa pessoa. ? Disse em tom sério, apertando os olhos um pouco.

    - Sim, Sterling. ? Acatou rapidamente.

    - Tens que fazer suas próprias escolhas. ? Disse sem saber o tomar conhecimentos das palavras que proferia. Levantou uma de suas mãos, aproximando de vagar e hesitante até estará a alguns centímetros da bochecha direita do menor.

    - Mas eu sou uma boneca, nós apenas acatamos ordens. ? Respondeu de forma automática, olhando diretamente nos olhos do moreno.

    - Tu não podes fazer isso? ? Perguntou suavemente, deixando que a ponta de seus dedos deslizasse pela bochecha. A tez era realmente de uma maciez indescritível, parecia estar tocando em algum tipo de algodão nobre.

    - Não sei, Sterling. Eu nunca tentei. Não sei se alguma boneca já tentou.

    - Tente, por favor, por mim Sweetz. ? As costas de sua mão faziam movimentos circulares naquela face tão bela, e deixou que um sorriso tímido adornasse seu rosto, antes preocupado.

    - Tentarei, então. Se for o que o mestre deseja. ? Respondeu. No entanto, aquela resposta já era contrária ao que pedia. Deixou que sua mão caísse, pendendo perto do corpo, quando a porta abrir com força e de repente.

    Sterling, apenas elevou seus olhos para lá, enquanto a boneca virava-se para ver quem entrava. Não era ninguém que pudessem prever. O rei Godric estava ali, com seu sorriso de canto, enquanto olhava os dois. O segundo príncipe já não lembrava qual fora a ultima vez que seu pai havia entrado em seu quarto. No entanto, aquela visita não podia trazer boas novas.

    - O que tu fez a Abbot? ? Perguntou, como se já soubesse da resposta. A porta foi fechada com apenas um pequeno impulso da mão do rei, que começou a caminhar a passos largos visando o meio do quarto, onde se encontravam seu filho e a boneca.

    - Ele desrespeitou algo que é meu. ? Pronunciou firme, mas engolindo em seca ao ver aquela expressão tão serena no rosto do progenitor.

    - Só porque beijou essa boneca? Tu podes ter várias dessas bonecas.

    - Quero apenas Sweetz, não me interessa outras.

    - Não se apegue a isso. ? Disse se referindo ao garoto artificial, chegando próximo o suficiente para olhá-lo com desprezo. ? Não passa de algo não vivo; não humano.

    - E qual o problema? Sweetz me dá mais atenção do que qualquer ser vivo que more nesse lugar, que não esteja pronto a me paparicar. ? Seu tom era desafiador, e enquanto falava, puxou a cintura da boneca, fazendo com que os corpos se colassem.

    - Tu és um príncipe, Sterling! Deveria estar fazendo suas atividades para seu um rei! E não desperdiçando tempo ficando com uma coisa desse nível.

    - Coisa desse nível? Como tu falas com Sweetz! Tem nome! Sweetz! E não é uma coisa! ? Exclamou irritado com a atitude do pai.

    - É só uma boneca... Elas servem apenas para servi-lo.

    - São muito melhores que muitas pessoas nesse reino!

    - Como quem? ? Arqueou uma das sobrancelhas, passando a língua pelo acessório metálico nos lábios.

    - Como tu, o rei! Tu vens me dar um sermão por causa da bela face do senhor Abbot. ? Disse ironicamente. ? Mas não me visitas quando estou mal!

    - Eu sabia que iria se recuperar, e, além disso, estava muito ocupado. ? Andou por ali, até chegar a poltrona que Sterling tanto gostava. ? Eu sou o rei afinal de contas. ? Ajeitou os fios negros atrás da orelha, sendo que estava sem a coroa, e sentou-se cruzando as pernas.

    - Muito ocupado para ver o próprio filho? - Indagou, virando-se para encarar o pai, vendo a boneca virar na mesma direção.

    - Parece que não entendes o tamanho de minha responsabilidade. Não sabe o fardo do cargo de rei. Então, não diga tais palavras, agora que já está melhor. ? Seu tom era suave como se não sentisse a aura de indignação de seu filho.

    - Por isso mesmo! És o rei! Poderias muito bem parar com o seu fardo ? disse com ironia ? quando quisesse.

    - Já és maduro o suficiente pare entender essa situação. Pare com essa tolice, Sterling. ? Seu tom passou para um de reprimenda, mas não surtiu o efeito desejado no moreno mais novo.

    - Estou cansada dessa situação! De ser sempre o desprezado!

    - Desprezado? ? Indagou como seu não soubesse o significado de tal palavra. ? Não te entendo.

    - Eu sei que não sou tão bom filho como Cliff, mas isso não significa que não sou seu filho! Não me trate com toda essa indiferença! ? Quase gritou, fechando os punhos e fechando os olhos automaticamente, não vendo o pai se levantar.

    - Seja homem. ? Franziu as sobrancelhas, fazendo com que a palma de sua mão direita encontrasse o rosto pálido de seu filho. ? É para isso que estou te criando.

    - Senhor. ? A boneca disse, olhando de seu mestre para o rei.

    - Ele é meu filho, não se intrometa. ? Seu tom era frio.

    - Tu não estás me criando. ? Esfregou a bochecha onde havia sido atingido. ? Quem está me criando são as criadas, os professores... ? a única coisa que sentiu, foi o outro lado de seu rosto ser atingido com um pouco mais de força.

    - Que insolência e arrogância! Não ouse nunca mais falar coisas como essa na minha frente! ? Sua voz ecoou furioso pelo cômodo, seus olhos nublados por uma raiva contida, enquanto direcionava-se para a porta do lugar, abrindo-a.

    Sterling encolheu os ombros minimamente quando ouviu o baque da porta, ainda esfregando o rosto com a mão. Seu rosto estava baixo, porém não encarava nenhum objeto. Os olhos estavam fechados avidamente, como se com aquele ato pudesse diminuir sua dor. Não a dor física, pois não havia sido tão forte. A dor era algo que rondava sua alma e seu coração. Uma tristeza o invadia dominando-o, sentia algo desejar transbordar de seus olhos, todavia reprimiu aquilo. As lembranças das palavras do bruxo o atingiram. Ainda não entendia o sentido delas.

    - Sterling? ? Sweetz chamou-o, segurando de forma delicada os ombros dele.

    - Sim...? ? Engoliu algo que estava em sua garganta e abriu os olhos lentamente, voltando a sua postura ereta.

    - Parece que a minha presença não é agradável ao rei. ? Afirmou com aquela convicção de sempre, e sem emoção.

    - Ele não entende muitas coisas, assim como eu. ? Divagou. ? Estou muito cansado... Acho que irei dormir cedo. ? Olhou para as janelas abertas, que permitiam um vento gelado entrar ali.

    - Velarei pelo seu sono, Sterling. ? A atenção do moreno foi direcionada ao loiro.

    Encarou os pequenos orbes negros. Sua alma soube que estava apegado a aquela existência artificial a sua frente. Estava dependente de algo que não era humano. Sweetz havia se tornado tão importante para si em poucos dias, e já não cogitava a ideia vê-lo longe. No entanto, não sabia se era realmente certo ficar tão apegado a algo que não era humano.

    - Obrigado, Sweetz. ? Sorriu pequeno e um pouco envergonhado.


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