Nee-san?
Capítulo único
Vê-la daquele modo me deixava sem chão. Minha querida e amada Nee-san, incapacitada, volúvel, doente?
Eu custei a aceitar, assumo. No início eu achei que os médicos estavam exagerando, que apenas queriam nos assustar, brincar conosco. Suas primeiras crises, para mim, eram apenas por causa do tempo ruim, de alguma gripe passageira ou um pequeno exagero dela, para conseguir a nossa atenção.
Até eu vê-la sem ar, pálida e com olhos cansados. Minhas barreiras de sonhos e caminhos para fugir da realidade ruíram, e eu precisei aceitar que a vida dela não era tão fácil como a minha ou da grande maioria da população.
Ela estava doente, viveria daquele modo.
Eu era só um menino, cheio de esperanças e vivendo em um mundo bom onde Deus era justo com os inocentes. Hoje eu vejo como era bobo. Ele agia como bem queria independente dos nossos atos.
Yui era só uma menina. Doce, sorridente, feliz, merecia, mais que qualquer um, viver. Eu daria a minha vida por ela, gostaria de poder dizer isto a Ele e suplicar que desse sua providência. Mas Ele não era justo e não a deixaria viver.
Eu me esforçava para não chorar ao vê-la com olhos fundos, ou tendo uma crise. Eu fingi por muito tempo que aquilo seria passageiro, e sonhei por longos anos que achariam uma cura. Acreditei veemente que Kota-nii providenciaria mais tempo para a minha irmã, mas não deu tempo.
Eu queria poder culpar o mundo, Deus, ele (Kota-nii) e eu mesmo, mas o sorriso doce dela, dizendo que aquele era o seu destino, e que Deus preferia que ela estivesse a lado dEle, me deixaram abalados, e, naquele momento, eu não consegui pensar em nada se não que eu estava perdendo a minha irmã diante dos meus olhos?
Me tornar cantor foi uma forma de agradá-la. Vê-la fechar os olhos e escutar minha voz rente à calma melodia me deixava satisfeito, temporariamente. E querê-la comigo por toda a eternidade, ou enquanto eu vivesse, era algum pecado?, eu me perguntava, noite após noite, remoendo a dor por perder minha adorável e bondosa irmã. Ela definitivamente não merecia aquilo?
Hoje eu aceito, convivo com a falta dela. É claro que preferia tê-la ao meu lado, ou ter dado minha vida para que ela vivesse, mas não me condeno por seu fim, seu doloroso fim. Sei que nada eu pude fazer por ela, e sei que Deus não é tão bondoso quanto muitas pessoas nos fazem pensar.
A vida é cruel, fria, e Ele age como bem quer, é disto o que eu sei. Sei que não podemos mudar o nosso destino, que ele está traçado desde quando nascemos, e, mesmo que tentemos desviar do caminho, o fim é apenas um: a morte certa. A prova viva disso é a minha irmã.
Nee-san?
? Adeus.