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Agosto de 1985, Londres.
Hora do chá. Alguns clientes são realmente tradicionalistas, mas gosto desses, esses tem muito dinheiro. Ou pelo menos costumam ter. Mas esse ai... esse parece um tanto... pobre. Me pergunto seriamente se ele conseguirá pagar pelo trabalho que propõe.
Homem de estatura mediana e rosto comum, parece bem abatido. Eu diria que nao come direito ha uns dias. Roupas um tanto simples: calças basicas, uma blusa de pano faltando um botão com um paletó por cima. Se não fosse pelo olhar nem estaria aqui ainda, esse olhar mostra que ele é firme, ao menos. Disse que se chamava Juan, mas não quis comentar sobre o trabalho que tem pra mim até terminar o chá.
- Você parece gostar mesmo de chá, Sr. Juan.
- Ora, o chá é uma antiga tradição para nós. Já falta tanta honra hoje em dia, deixe ao menos o chá.
Voz gentil. Me pergunto se realmente devia estar perdendo meu tempo aqui. Não tem como um homem assim realmente comtratar os serviços de um cara como eu. E mesmo que queira, não acho que ele possa pagar. No fim acho que vou acabar gastando um saco a mais. Fora a possibilidade de isso ser uma emboscada pra mim. Olho para os lados tranquila e disfarçadamente procurando qualquer coisa suspeita, mas não ha nada.
A xicara bate contra o pires em cima da mesa.
- Acho que ja o fiz esperar bastante, não é?
- Contando que eu receba, não estou com pressa.
- Ah... irá receber, não se preocupe.
Algo naquele sorriso foi diferente. De repente me peguei conferindo o perímetro outa vez.
- Qual é o trabalho, Sr. Juan?
Ele lançou uma pasta sobre a mesa. Lá haviam fotos e alguns documentos.
- George Hightown. Conhecido por ser dono de três grandes armazens no porto, e de usá-los para o comercio de exportação do maquinário britânico para os países amigos. Mas na verdade...
- Possui cinco, um para trafico de armas, e outro fantasma para caso algo fuja do planejado com o quarto. Um alvo dificil, ele tem grande influencia na policia local, e nâo é o tipo de pessoa que as pessoas não notariam se sumisse. Me pergunto como você me pagaria.
- Já disse que receberá o que lhe é devido.
Essas palavras, desse jeito, de alguma forma nunca são agradaveis.
- Aqui você tem o bastante pra incriminá-lo. Por que nao leva isso às autoridades e deixa que eles resolvam? Não terá que tirar dinheiro de onde não tem para pagar tal serviço.
- Como você mesmo pontuou, ele tem muita influencia sobre a policia local. Não pode ser feito de maneiras convencionais. Preciso de você para esse trabalho.
Havia algo mais, algo não cheirava bem. O trabalho proposto, o contratante, as informações que este possuia, o alvo... Nenhum deles se encaixava.
- E como conseguiu reunir tantas informações sobre um homem tao dificil de se atingir de "formas convencionais"? Me conte sua historia, e me convença de q não é uma isca numa emboscada, e de que eu nao devo puxar o gatilho agora mesmo e ver se esse chá ainda está no seu estômago.
Agora eu estou no controle, acho. Pelo menos é o que a reação dele me passou. Mas se isso realmente foi uma emboscada deveriam ter planejado melhor. Eu, Uthred Stone não sou conhecido por um mercenário que costuma cair em emboscadas, e sem duvidas jamais morreria assim, numa mesa de chá. Se quisessem me pegar seria necessario mais que isso. Seria preciso algo que tivesse nexo. Fora que não existem pontas soltas dos meus outros trabalhos. Tudo sempre foi finalizado, limpo, e todos os clientes sempre satisfeitos.
- Estou esperando ser convencido, Sr. Juan.