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Confesso que demorei um pouco pra dormir à noite. Mas eu precisava. Amanhã seria a minha prova. Eu precisava de uma nota boa, pois só assim meus pais iriam me deixar ir a um show que iria ter no final de semana. Estava ansiosa para amanhã. E para saber como seria daqui em diante, eu e Alex.
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Cap. 20
No dia seguinte, levantei cedo, tomei café, me arrumei e fui à escola. A prova seria logo na primeira aula. Nosso professor as entregou e eu pensei comigo ?vai dar tudo certo?.
Abri a prova e comecei a resolvê-la. Deus, como era fácil! Eu já estava me assustando por estar achando a prova tão fácil assim. Terminei e a entreguei para o professor, e como de costume, ele começou a corrigi-la na minha frente. A sensação que eu ia tirar um zero era imensa.
Depois de olhar toda a prova, meu professor olhou pra mim com uma cara de dúvida.
- O que aconteceu, Anne? ? perguntou ele.
- Co...co...como assim ?o que aconteceu??
- O que aconteceu com a sua nota?
- Ah, professor, você sabe que eu nunca fui muito boa em matemática, mas... a minha nota foi tão ruim assim?
- Anne, você acertou todas as questões. Eu disse TODAS, Anne. Você tirou dez!
- Hã, o quê?!
Durante o restante das aulas no colégio eu não conseguia parar de pensar na minha nota. Nem no Alex. Quando cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi mostrar a nota a minha mãe.
- Nossa, Anne!! Parabéns!!! Como foi bom o Alex ter te ensinado...
- Pois é, mãe.
- Vai lá agradecer a el...
Nem esperei a minha mãe terminar de falar. Saí de casa correndo e bati na porta dele, minha mãe veio logo atrás de mim.
- Obrigada Alex!!! ? saltei em seu pescoço logo quando ele abriu a porta, e ao ver a cara dele sem entender nada, mostrei-o minha prova, com o meu primeiro dez em matemática na vida.
Ele sorriu. Aquele sorriso lindo de canto que me arrepia, e me deu um abraço forte. Minha mãe toda orgulhosa, não escondia os dentes.
- Tá vendo dona Clarice? Sua filha demostrando as habilidades em matemática? Eu acho que isso merece uma comemoração. Você tem alguma coisa pra fazer hoje à tarde? ? perguntou Alex.
- Não. ? eu disse.
- Quer ir comemorar sua nota no cinema comigo? ? fiquei sem saber o que falar.
- Ela vai sim, Alex, pode deixar! ? disse minha mãe, me ?jogando? em cima do menino. Eu olhei pra ela e arregalei os olhos. Ela não estava nem aí pra mim.
- Então tá combinado. Pode ser às três?
- Aham. ?assenti com a cabeça.
Fui para casa me arrumar pro cinema. Minha mãe insistia em dizer que aquilo era um encontro, eu dizia que não. Meu irmão queria ir comigo, minha mãe não queria deixar.
- Você vai atrapalhar o encontro dela!!! ? dizia minha mãe.
- Pô, mãe, por favor!!! ? retrucava meu irmão. ? Eu vou com meus amigos, só na hora de voltar eu a procuro!!! Por favor, mãe!!!
De tanto o Sean falar, minha mãe acabou deixando. Desde que ele ?não fizesse nenhuma intervenção entre mim e Alex?. Que tipo de intervenção ele poderia fazer?
Alex me esperava na porta de casa, encostado no carro dele. Estava de bermuda preta e suéter azul, a coisa mais linda. Indo para o shopping, conversamos sobre várias coisas, demos muita risada. Ele era um cara muito legal.
Compramos o ingresso para o filme, mas ainda faltavam 45 minutos para começar. O que fazer então? Ficamos sentados na praça de alimentação do shopping, ao lado do cinema. Uma parte do teto era de vidro, e começou a chover. Alex olhou para cima, observando a chuva. Foi quando percebi que ele tinha uma cicatriz grande no queixo.
- O que foi essa cicatriz no queixo? ? perguntei.
- Foi um acidente, no dia do meu aniversário de 7 anos. Eu estava andando com a moto elétrica que o meu pai tinha me dado, e tive que desviar bruscamente de um menino. Aí eu bati o queixo no chão, fiz esse estrago. ? disse sorrindo e passando a mão no queixo.
- Caramba...
- Sabe, Anne, você me lembra uma pessoa...
- Quem?
- Eu não sei direito, talvez seja loucura minha...
- Fala Alex!!
- É que... quando eu caí, nesse acidente, eu vi uma menina do meu lado. Eu estava com a cabeça no colo dela. Cheguei a pegar na sua mão. Minha mãe insiste em dizer até hoje que não tinha ninguém ali.
- Eu te lembro essa menina?
- Eu tenho a sensação que já te vi em algum lugar. E quando olho pra você, lembro dela. Mas... deixa pra lá. Devem ter sido imagens criadas na queda, ou sei lá o quê.
Sorri para reconfortá-lo. Mas eu também tinha a sensação de que já o conhecia. Mas não quis falar nada. Já estava quase na hora do filme começar, então nós fomos procurar boas poltronas.
O filme de ação era tão bom que já estava nos deixando sem fôlego. Na melhor parte, já perto do fim, quando o personagem principal lutava com o vilão... as luzes do cinema inteiro apagaram. Depois de gritos e vaias, uma pessoa veio nos dizer que tinha sido um pequeno probleminha nos cabos, que era questão de 10 minutos para consertarem. Só uma luzinha iluminava todo a sala.
- Logo na melhor parte... ? Mesmo no escuro, vi Alex fazer biquinho.
- Ah, fazer o quê? Faz parte! ? sorrimos juntos.
- Anne, olha aquele homem ali. ? ele tentava me mostrar alguém.
- Alex, tá muito escuro! Não dá pra ver ninguém além de você que tá do meu lado!
- Olha aqui!!! Ele tá comendo a pipoca do cara do lado!!!
- Não dá pra ver!!
- Aqui!!! ? ele puxou meu rosto pra perto do dele para que eu pudesse estar na mesma direção do homem, que realmente estava fazendo o que ele disse. Quando fui virar para comentar com Alex... nossos rostos estavam próximos demais.
Eu sentia a respiração dele. Sua boca aberta, esperava alguma reação da minha, que apenas conseguia engolir em seco. Então ele resolveu se aproximar. Ele... ele vai me beijar!!!
- MANAAAAA!!!! RENATO, LUÍS!!! MINHA IRMÃ TÁ AQUI!!!! ? gritou meu irmão em cima dos nossos ouvidos, assustando Alex e o fazendo recuar. Eu respirei fundo.
- O que foi Sean? ? perguntei, morrendo de raiva por dentro.
- É que nesse escuro todo eu perdi você de vista. Resolvi vir te procurar logo.
- Ótimo. ? rangi os dentes. ? senta aí e espera o filme acabar.
Eu não estava acreditando que ele nos atrapalhou. Ouvi Alex respirar fundo. Ele também tinha ficado irritado.
O filme continuou, mas nossa aproximação não. Na saída, Sean caminhava entre nós dois, puxando assunto com Alex, tentando ser legal com o novo vizinho. Lembrei da ameaça de minha mãe, que Sean só poderia ir se ?não fizesse nenhuma intervenção entre mim e Alex?. Bem, pensando com calma, ele não fez essa intervenção por querer, estava até sendo bacana com Alex. Eu não iria contar a minha mãe sobre o fato. Não queria que ele ficasse de castigo por isso.
Após estacionar o carro, Alex desceu conosco para nos despedir.
- Obrigada por hoje. Diverti-me muito! ? falei.
- Eu gostei muito também. Podemos marcar outras vezes? ? ele perguntou, fazendo a carinha mais linda do mundo.
- Aham. ? pensei: ?como negá-lo??.
Alex passou a mão no cabelo do meu irmão, brincando com ele. Depois me deu um abraço e um beijo no rosto.
- Até amanhã. ? ele disse.
- Até. ? respondi.
Em casa, assistindo TV, me peguei pensando no meu mais novo vizinho. Estaria eu, Anne Louis, gostando dele? Minha mãe me fez um interrogatório imenso. Eu já não mais sabia o que pensar.
- Só o tempo dirá o que vai acontecer, minha filha. ? disse minha mãe.
Meu Deus, minha mãe me dando conselhos amorosos? Acho melhor eu ir dormir. Afinal de contas, amanhã eu iria comprar meu ingresso pro show de sábado. Depois da nota que Alex ajudou-me a construir, ninguém poderia negar-me ingressos para o melhor show do ano.