Depois da morte de El, eles nunca mais tocaram em seu nome. Para Elyse era um assunto sem importância e para Hiver, era doloroso. Viajaram por metade da Estrada de Pedra, não parando para pensar em que lado virar quando o caminho se dividia em dois.
Depois de muito tempo se remoendo por dentro por causa de uma dúvida, a boneca perguntou: - Por que mesmo matou ela? Não era mais fácil só tirar algumas gotas de sangue?
- Liberdade, ela desejava ser livre do Jardim, mas o jardim vivia nela. Só há liberdade por completo quando se esta morto. ? respondeu calmamente, entretanto era notável a irritação que ele estava sentindo por causa da pergunta.
- Entendo, entendo... Huhuhuhu. ? ela sorriu e correu a frente dele e parando comentou. ? Não quero ficar livre, por isso nunca me mate.
Hiver apenas assentiu. Porém sabia que não era possível manter um acordo como aquele, não ganharia nada em troca.
- Já andamos por tanto tempo, que tal planejarmos aonde ir?
O cabeça de cabra apenas apontou para um pequeno vilarejo. O mesmo tinha a aparência pobre, a maioria das casas era feitas de tábuas de madeira e palha. Não tinha um casarão de alguma família rica, nem sinais de algum castelo. Ali moravam apenas pessoas pobres e humildes, de almas boas.
- Vamos pra esse monte de lixo? ? resmungou a boneca. ? Não quero!
- Ah querida Elyse, almas humildes são as melhores. ? ele comentou ? Sou um colecionador de almas. ? concluiu.
A boneca soltou um grito e depois ficou pasma, alguns minutos depois um sorriso de canto brotou em seus lábios. Ele iria jogar novamente, estava sempre jogando com a vida dos outros.
Os dois rumaram para o vilarejo que os aceitaram de bom grado. Por ser um lugar de tradições antigas, acreditaram que Hiver era algum deus pagão que veio até eles para trazer a fartura nas colheitas. Assim como acreditaram que Elyse era uma sacerdotisa que veio para participar das fogueiras de Beltane. Mas nenhum deles suspeitava que aceitando a ajuda do homem, entrariam no jogo de apostas deles.
- Sejam bem vindos meus senhores! ? um senhor de barba branca e corcunda recebeu os dois com os braços abertos.
Hiver apenas assentiu e por trás da máscara sorria vitorioso. ?São tão tolos? pensou.
Depois das festas e oferendas, o homem convidou todos para jogarem um jogo fácil e de vários participantes. Um a um foram perdendo, caindo no chão. Ninguém estranhou, já que antes do jogo ter começado Laurant falou que os perdedores, de tão cansados, iriam cair e dormir até o dia seguinte. Ocultou a verdade outra vez. No final do jogo os únicos ainda vivos eram os protagonistas da tragédia. Na peça restou uma pilha de mortos com sorrisos no rosto.
- Ora ora, mas que jogo sem graça. Todos perderam tão rápido. ? comentou a boneca entediada.
- Me diga Elyse, tu desejas jogar? ? como no início, a proposta fora lançada.