The Game

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    Capítulo 21

    Reflexo de uma alma corrompida.

    Hiver não estava preocupado com seu olho ferido, muito menos com El que estava toda machucada, ele apenas observava o horizonte calmo e sereno. Respirou fundo e soltou o ar devagar tentando pensar com clareza do no devia fazer depois, no que contar para El, na mentira que contaria. Mas se ela iria morrer, por que então mentir? Contar a verdade no leito de morte dela seria mais doloroso. Entretanto ele precisava falar alguma coisa, confortá-la de alguma forma, já que não era um homem completamente maldoso ? sua bondade foi sumindo pouco a pouco, assim como a ingenuidade da boneca. Ele não era mais tão bondoso como antes, uma pitada de maldade e egoísmo foi adicionada em sua personalidade.

    Enquanto ele estava mergulhado em pensamentos, a boneca gemia baixinho de dor. Suas feridas estavam ardendo. ? Hiver, no que esta pensando?

    Sendo interrompido, ele apenas olhou levemente para trás sem cruzar o olhar com a boneca. ? Em uma escolha que fiz.

    - Que escolha?

    - ...

    - Que escolha? ? ela insistiu quase levantando e indo até ele, como a resposta não veio, ela novamente perguntou. ? Hiver! Que escolha?

    Ele suspirou e respondeu ? Deixei minha alma ser corrompida, ó El não olhe para ela nesse momento. Existem conflitos que não quero que presencie. ? murmurando alguma coisa e fazendo alguns gestos, ele andou para lá e para cá. Até que parou e olhou nos olhos da boneca ? Quer jogar?

    Uma mesa feita de cristal cresceu da terra ao lado do homem, junto com mais duas cadeiras enfeitadas de dourado. Da superfície da mesa, as peças de xadrez foram tomando forma, peça por peça.

    Hiver então ajudou El a caminhar até a mesa, mesmo ela não tendo aceitado.

    - O que vamos apostar?

    - Sem apostas, não desejo mais nada que você possa me oferecer. ? ele respondeu seco.

    Eles então começaram a jogar. Diferente da primeira vez o homem pegou as peças pretas em vez das brancas. A partida teve a duração de quatro horas, entretanto para eles o tempo não parecia passar, nem para o cenário ao redor. Até mesmo o vento tinha parado de soprar, os insetos pararam de cantar.

    Novamente ela perdeu.

    - Por que eu sempre perco? ? ela estava indignada.

    - Tu não és madura o suficiente para receber a glória da vitória.

    - Hiver! ? ela gritou quando viu das suas feridas sair mais sangue que antes. ? O que está acontecendo?!

    O sacrifício estava completado, a última partida que iria decidir pela vida ou morte da garota. Se ela tivesse ganhado quem morreria seria Elyse, assim como o feitiço que o cabeça de cabra previa.

    Um enorme lótus brotou em volta da boneca a envolvendo por completo. A mesa e as cadeiras sumiram e o branco das pétalas foi tingido de vermelho. El se debatia dentro da flor enquanto tentava gritar por socorro, porém a voz não saia. A raiva e a frustração ao ver que tinha sido enganada aumentava só de ver Hiver ali, parado ao lado da lótus, que sugava sua vida, sem fazer absolutamente nada.

    El lutou por sua vida, lutou por seu orgulho, lutou por sua existência, mas fora vencida pelo cansaço. Achou menos doloroso relaxar e esperar sua vida terminar de ser roubada. Fechou os olhos e balbuciou algumas palavras e quando abriu os olhos para olhar o céu pela última vez, viu quem menos queria. Elyse estava lá, parada olhando a boneca de cabelos negros morrer. Sustentava um sorriso vitorioso nos lábios, chegou até a acenar quando El cuspiu sangue e tentou gritar.

    Ela finalmente entregou sua vida...

    - Ora, mas já? ? Elyse estava espantada por El ter morrido tão rápido.

    - Já estava ferida, não ia sobreviver por muito tempo sem minha ajuda. ? Hiver respondeu olhando sem remorso para o cadáver.

    - Estranho me...

    - Meu nome é Hiver ? ele a cortou ? Hiver Laurant é meu nome. ? não queria lembrar-se de que El o chamava assim, não queria lembrar mais nada sobre a outra boneca.

    - Laurant, me diga: Por que me escolheu?

    - Eu... Eu apenas fui corrompido. ? ele virou-se para ela e se agachou ? Preciso de uma companhia que também seja. ? completou com o tom de voz tão calma que saia como um sussurro.

    Elyse olhou sorrindo para ele, ?então era isso? pensou. Novamente ele estava apenas jogando, e novamente no futuro, quando ela não fosse mais necessária seria trocada e jogada fora como a anterior. Entretanto ela não se importava, viveu tanto tempo dentro do jardim que já era uma camada viva por fora e um corpo morto por dentro. Não fazia diferença viver ou morrer.

    O cenário em volta deles já se mostrava mergulhado na penumbra. A Lua não estava no céu, e as estrelas eram escondidas por nuvens ralas. A brisa soprava calma, produzindo um lamento. Ao longe por causa de uma pequena ilusão de ótica, parecia que a bailarina negra dançava alegremente seu réquiem. Entretanto, ela dançava era o réquiem de El.

    Rodou, rodou, rodou, rodou. Até que todas as folhas foram embora e ela também.

    - Para onde vamos?

    - Para onde o destino nos levar, não podemos simplesmente escolher um caminho. ? Hiver respondeu olhando a bailarina ir embora. ? Queria poder ter dançado com ela. ? repentinamente mudou de assunto.

    - Ah sim! Tenho uma coisa para te dar como agradecimento. ? Elyse pegou no bolso de seu vestido um objeto esférico. Aproximou-se de Hiver, pegando sua mão e colocando a esfera lá. ? Um presente.

    A esfera era o olho que o homem tinha perdido.

    - Não posso aceitar. Preciso ter algo para lembrar os erros que cometi. Obrigado.


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