Zero

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    Capítulo 5

    Estranhos acontecimentos

    Mais um dia em que acordo atrasada e saio correndo para a sala de aula. Não encontrei Zero no caminho, onde costumava encontrá-lo. Pensei duas vezes antes de ir vê-lo no quarto e decidi não ir, eu não podia matar aula outra vez.

    Cheguei na porta da sala de aula com a respiração falha, dei uma última arrumada em meus cabelos, ajeitei meu uniforme, respirei fundo e entrei devagar pela porta.

    - Atrasada outra vez senhorita Cross - Disse o professor sem tirar os olhos do quadro negro onde estava escrevendo.

    - Desculpe-me.

    - Sente-se - Foi a breve ordem que ele me deu.

    Fui até meu lugar rapidamente de cabeça baixa e me sentei.

    - Pensei que você fosse uma boa aluna.

    Olhei para o lado e vi Zero. Fiquei assustada, não era comum ver Zero na sala de aula sem que eu o empurrasse. Fiquei um bom tempo olhando-o enquanto ele escrevia o que o professor passava no quadro.

    - Vai ficar me olhando com cara de boba? - Zero perguntou ainda escrevendo no caderno.

    - Desculpa. É que... não estou acostumada a vê-lo na sala de aula antes de mim.

    - Isso que dá chegar atrasada.

    Dei um soco no ombro de Zero e disse um pouco nervosa.

    - A culpa não é minha, você que nunca veio a aula. Baka! - suspirei - Mas estou feliz que esteja aqui.

    Sorri para ele. Zero me olhou de canto de olho e deu uma piscada.

    No final da aula, enquanto andávamos pelos corredores, Zero parou de repente e colocou a mão em sua cabeça. Parecia sentir dor, me preocupei e segurei em seus braços olhando-o nos olhos.

    - Você está bem Zero?

    - Sim, eu... estou bem - ele respondeu com dificuldade.

    Zero se apoiou numa pilastra e sua respiração ficou rápida. Ele começou a andar e eu o ajudei. Andamos devagar até seu quarto. Zero se apoiou na porta.

    - Obrigado Yuuki. Eu me viro daqui pra frente.

    Zero abriu a porta e quase caiu.

    - Claro que não. Você está fraco, preciso te ajudar.

    Eu o segurei e o levei até a cama. Ele se sentou.

    - Obrigado.

    - Você precisa dormir Zero. Precisa descansar.

    Desabotoei a blusa de uniforme de Zero e a tirei dele, deixando-o com a camisa social branca. Agaxei e tirei seus sapatos. Arrumei a cama de Zero pra que ele pudesse se deitar, afofei o travesseiro, peguei uma toalha e a molhei na pia que havia em seu quarto. Comecei a passar a toalha pelo seu rosto, para deixá-lo mais tranquilo, o que pareceu funcionar. Zero pegou minha mão que estava limpando seu rosto e disse:

    - Yuuki, não quero que se preocupe comigo.

    - Por que?

    - Não quero ser um peso pra você.

    - Você não é um peso para mim Zero. Eu gosto de estar com você - Fiquei tímida ao declarar isso. - Você faz eu me sentir melhor, eu acho... eu não sei o que você fez ou faz pra que eu goste de estar com você - Dei uma risadinha idiota.

    Continuei a limpar Zero sem olhar para ele, eu estava com vergonha de minhas estúpidas declarações.

    Quando terminei de limpá-lo, joguei a toalha na pia, peguei nos ombros de Zero e o fiz deitar na cama. Dei um breve sorriso e lhe desejei um bom descanço. Quando levantei da cama para sair, Zero segurou meu braço e olhei para ele.

    - Quer alguma coisa? - Perguntei.

    Zero se levantou, me fez sentar na cama e chegou bem perto de mim. Senti meu coração bater mais forte naquele momento.

    - Obrigado pela ajuda - Disse Zero.

    - Não foi nada - Dei um sorriso tímido e coloquei o cabelo pra trás da orelha.

    - Para mim isso não foi um "nada".

    Olhei nos sérios olhos de Zero e fiquei ainda mais tímida. Zero me abraçou e eu retribui o abraço. Ficamos abraçados um longo tempo, Zero me abraçou mais forte, ele parecia segurar a vontade de chorar. Comecei a lhe fazer um cafuné para mostrar que tudo ficaria bem.

    Desde então, Zero começou a participar das aulas, sempre chegava na hora certa ou antes de mim nos locais, começou a jantar com a gente e aquilo me deixava feliz. Claro, ele não demonstrava felicidade mas parecia confiar mais em mim agora.

    Zero estava diferente de antes, tão diferente que até inventamos uma brincadeira para passar o tempo na grande sacada enquanto vigiávamos à noite. A brincadeira era procurar coisas no "jardim-floresta" da escola no meio da noite escura.

    - Isso não é justo - eu disse emburrada. - Você sempre consegue achar as coisas mais legais.

    - Claro, você não presta atenção nas coisas.

    - Mentira, eu presto bastante atenção sim ok?

    - Claro... me desculpe por dizer isso de você - Disse Zero num tom irônico.

    Bati no ombro de Zero.

    - Você adora me deixar com raiva não é?!

    Zero colocou a mão em sua cabeça e fez aquela cara de dor novamente. Quando eu ia perguntar o que estava acontecendo, Zero pulou da sacada e saiu correndo, tentei acompanhá-lo mas não consegui, eu o perdi de vista no meio do caminho. COntinuei a andar até chegar na fonte de água que havia no meio do "jardim-floresta" do colégio. Olhei para todos os lados novamente à procura de Zero, não o encontrei. Sentei na beirada da fonte, suspirei e comecei a mexer na água com os dedos. Fiquei sentada ali durante um bom tempo. Voltei para meu dormitório e não encontrei Zero. Dormi preocupada.

    Na manhã seguinte, acordei mais cedo e fui até o quarto de Zero. Quando ele abriu a porta, parei à sua frente, o empurrei para dentro do quarto novamente, fechei a porta e disse:

    - O que aconteceu com você ontem? Me deixou preocupada.

    - Desculpe, não foi minha intenção.

    - O que está acontecendo Zero? Você está doente?

    - Não exatamente.

    - Então o que é? Me diga. Por favor.

    Zero andou até minha direção, me puxou para perto dele, ficamos um breve tempo olhando para o outro até que Zero abriu a porta e disse:

    - Temos que ir para a aula. Já vamos chegar atrasados.

    Fiquei séria, me afastei bruscamente de Zero e saí de seu quarto indo em direção à sala de aula. Permaneci calada e séria o dia inteiro. Na hora de segurar as meninas, eu estava muito pensativa, aquelas demonstrações de confiança era todas fruto da minha imaginação? Da minha ingênua inoscencia? Conclusão: eram apenas crenças idiotas. Kaname colocou a mão em meu queixo e eu o olhei.

    - Algo lhe incomoda Yuuki?

    - Não... nada.

    - Sabe que não pode me enganar.

    - Desculpe - suspirei. - Mas Kaname não precisa saber disso... problemas que eu mesma posso resolver. Obrigada.

    Dei um sorriso torto e desanimado.

    - Espero que sim.

    Ele sorriu e se foi. Quando todos passaram, Zero mandou as garotas irem para os dormitórios e só percebi que ele mandará alguns segundos depois. Olhei para Zero e desviei rapidamente o olhar.

    A noite, enquanto vigiávamos, me sentei na varanda olhando para as árvores, Zero veio ao meu lado.

    - O que fez com a Yuuki verdadeira? - Perguntou Zero.

    - SOU a Yuuki verdadeira.

    - Não. Você não é. A Yuuki verdadeira estaria sorrindo e falando agora. Seria mais simpática, mais feliz.

    - Acho que ela não quer ser feliz agora.

    - Por que?

    - Porque ela percebeu que o seu melhor amigo, simplesmente não confia nela.

    - Quem disse isso à ela?

    - Ninguém, ela tirou suas próprias conclusões.

    - Sabe... ela está enganada - Olhei surpresa para Zero. - Acho que... o melhor amigo dela... tem... - Ele parou por um minuto, suspirou e olhou para baixo. - Acho que ele tem medo de contar isso à ela.

    - Por que ele sentiria medo?

    - Medo de perdê-la.

    Então essa era a razão de não me contar os segredos? Medo de me perder? Desci de onde estava sentada e olhei nos olhos de Zero.

    - Por que esse medo?

    - Porque... você gostando ou não, você é importante pra mim, você faz eu me sentir... vivo.

    Sua última palavra saiu quase como um suspiro. Me aproximei de Zero.

    - Sempre ficarei ao seu lado, não importa qual seja seu problema.

    Zero me olhou profundamente nos olhos, colocou a mão em meu rosto e a outra em minha cintura e disse suavemente:

    - Yuuki, em breve, tenho medo de não ser o mesmo Zero com você.

    - E por que seria diferente?

    - Porque... - ele parecia sentir dificuldade para dizer. - Porque em breve, eu me tornarei um vampiro.

    Foi minha reação.


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