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Kamijou estava sentado debaixo de uma das escadarias que davam acesso às salas de aula do terceiro ano do Ensino Médio. Era intervalo, e passos apressados de alunos em direção ás lanchonetes, monitores de corredor com os seus olhares desatenciosos apenas fazendo vistorias ostensivas, nunca sem os seus companheiros comunicadores, tudo parecia normal naquela manhã de março.
?...Positivo?
Um dia qualquer, dia em que oportunidades apareceriam, mas, obviamente, seriam elas ignoradas, pois estavam os jovens mais atenciosos ao presente, única preocupação da tenra idade. Voltando, Kamijou estava com suas nádegas beijadas ao chão gelado daquele pequeno pedaço de paraíso pessoal.
Desde que ele havia se tornado um aluno daquele colégio, parecia que era único aluno que sabia daquele lugar. Como uma clareira iluminada por raios de sol generosos em uma floresta, Kamijou sabia que era lhe um lugar perfeito. Quase sem ruídos, quase sem incômodos, um lugar em que não precisava se preocupar com olhares de análise mesquinha ou esnóbe.
Talvez não tão iluminado quanto uma clareira, mas certamente o sol não lhe agredia naquele pequeno espaço.
?...?
Notou algo que alguém ousava penetrar o sagrado território. Com passos leves produzidos pelo andar calmo, fruto também de sapatilhas confortáveis e de boa qualidade, o jovem quase inadvertido de onomatopéias de passo abriu lentamente os olhos. Em frente a ele, uma pessoa conhecida.
?Olá Kamijou?
?Perdida?? - ele perguntou.
?Não, queria ficar com você?
?Tudo bem, pode se sentar?
Arrumando e segurando a saia de seu vestido, elegantemente, a jovem manobrou o seu corpo, ficando em pé ao lado do jovem, primeiramente, e, bem devagar, curvou um pouco as costas, arrumando o seu cabelo também. Ato contínuo, flexionou os joelhos, lentamente, enconstando com delicadeza seu bumbum ao chão, abraçando depois os seus joelhos.
?...?
Novamente o silêncio. Mas não era o silêncio do nervosismo de inexperientes junto a companhia de pessoas do outro sexo. Certamente era algo diferente. Por que um sentimento tão conflitante? Quando longe um do outro, angustiavam ? se, procurando um ao outro. Então quando próximos, isso que os atingia sumia, como se tudo estivesse satifeito.
O jovem, por estar sentado em um lugar que o relaxava, conseguiu ignorar esse sentimento incompreensível. Mas sabia o quanto incomodava. E conseguiu ler tudo isso no rosto da jovem que tinha acabado de sentar próximo a ele. Um rosto perturbado por algo que nenhum dos dois poderia explicar, coisa que pessoa alguma poderia compreender.
Kamijou exasperou, expirando forçadamente. E, em um gesto de compaixão, acariciou a superfície de sua cabeça, fazendo lhe movimentos circulares, o que bagunçou um pouco seus longos e negros cabelos. Após, fê-la apoiar a cabeça dela em seus ombros largos. Kamijou não era exatamente um Don Juan, mas apenas fez o que gostaria que lhe fizessem se, eventualmente, o encontrassem cabisbaixo.
?Estou na mesma que você, então preocupa não, um dia entenderemos tudo isso?
Não houve resposta, mas Kamijou provavelmente concordou com ele. Mesmo no silêncio, os dois haviam acordado um sútil pacto: uma ?aliança? em que um auxiliaria o outro na busca por respostas do porquê de toda aquela angustia, um sofrimento que emergia cada vez mais. O tempo tinha a iniciativa, e logo se apressariam para encontrar as devidas revelações.
?Posso te pedir um favor?? - perguntou a jovem.
?...?
?
Os intervalos daquele colégio tinham a duração de trinta minutos cada. Cada período letivo ocupava a brevitude de uma hora e meia, sendo que diariamente eram três os períodos letivos. Restavam apenas três minutos para que findasse o segundo e último intervalo. E um grupo de jovens, composto por sete pessoas, apressavam-se, não queriam represália por causa do atraso.
Caminhavam rapidamente em direção a uma das escadarias que davam acesso às salas do terceiro ano. Embaixo dela, viram o que supostamente era um momento íntimo de um possível casal. Algumas pessoas do grupo reconheceu as faces dos dois que acidentalmente demonstravam audácia:
Kamijou estava sentada no colo do jovem Kamijou, apoiando sua cabeça em um dos largos ombros dele, com os olhos fechados, relaxando e procurando se acalmar da sensação acima debatida. Já ele, amolfadado pelos peitos idealmente bem proporcionados da jovem, estava também com os olhos fechados até ser acordado pelo grupo de jovens os quais agora estavam correndo pela escadaria que lhe era próximo.
Queria se levantar. Mas não queria acordá-la.
?...Acho que vou chegar atrasado na aula?. - falou para si.
Os jovens que haviam acabado de passar não eram as únicas pessoas que viram os Kamijous naquela posição. Logo, nascia boatos, e um novo apelido criado, talvez, pelo grupo que agora já estavam a salvos dentro da sala de aula.
Kamitwo. Dois Kamijous. Na aparência, unidos por um nome. De fato, apenas um. Kamitwo.
...Fofo não?