Silver Moon - Me Chame Cantando.

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo 1 - A voz que me chamava.

    Bissexualidade, Homossexualidade, Nudez

    Ao longo de uma estrada cercada por pedras escuras, podia-se ver um carro. Preto e com design forte, que refletia a imagem de seu dono. Qual levava dentro de si um pai e seu filho. O pai como seu carro, demostrava força e masculinidade, fosse pelo seu corpo troncudo ou pela barba que já estava voltando a crescer. Ele vasculhava discretamente pelo retrovisor, seu filho adolescente de 17 anos no banco de trás. Este olhava em silêncio pra a chuva que batia nos vidros do carro em movimento, com uma cara que não deixava transpassar o menor sentimento. Nem alegria nem tristeza, apenas silêncio.

    ? Não quer sentar no banco da frente filho? ? Perguntou na esperança de haver alguma possibilidade de cortar aquela situação. Já que o motivo pelo qual os dois estavam se mudando era pra melhorar a relação pai e filho.

    ? Não. Estou bem ? disse Lenny sem mudar os olhos de lugar. Ele não estava zangado por estar se mudando. Não havia amigos pra deixar pra traís. Nem família, desde que sua avó com quem vivia nos últimos anos morrera. E também, não estava indo pra qualquer lugar. Estava voltando para a sua cidade natal, mesmo que não se recordar-se de nada, pois quando saiu de lá não possuía mais de seis anos. Também não tinha raiva de seu pai, eles apenas não se conheciam bem, pelo fato de não terem morado juntos desde que Lenny era criança. Mas esta mudança bem no começo de suas férias de verão poderia, deveria mudar tudo.

    Levi, seu pai, voltou a olhar para a estrada, um pouco desanimado pela falta de comunicação. Mas logo tentou prolongar a conversa ao ver a cidade surgindo. Enquanto começava a parar de chover.

    ? Veja ali está ela. Bem como eu me lembrava. ? Lenny abriu a janela e pôs a cabeça para fora deixando o vento soprar sua pele parda e seus cabelos negros. Enquanto tentava ver oque seu pai falava. ? Sei que você não vai se lembrar, porque você era muito pequeno quando tiramos você daqui. Eu e a sua mã... ? O mais velho se deteve e decidiu se calar. Então foi entrando com o carro na cidadezinha que mais parecia um cartão postal de tão simples e bela.

    Era costeira, com portos para embarque e desembarque de navios. Mas não havia praias, só a cidade, os píeres onde os barcos e navios atracavam e o mar. Mesmo assim quando o carro esportivo parou na praça com seus dois passageiros e Lenny desceu, ficou encantado com a beleza do lugar. Deu logo de frente com uma fonte na qual havia uma estatua de sereia da qual saia água. O chão era todo asfaltado por pedras, e as casas clássicas, Porem bem conservadas. Não havia shoppings, mas sim lojas de todos os tipos.

    O adolescente sentiu-se bem em estar ali. A última cidade ficava á três horas dali. Isso fazia de Silver Moon um lugar isolado, mas não muito. Bem como Lenny gostava. Antiga mas não parada no tempo já que ele viu outros adolescentes e alguns turistas ali.

    ? Ei!! ? disse seu pai fechando a porta e lhe chamando a atenção por um momento ? Vou comprar algumas coisas que esqueci e então vamos pra casa tá bem? ? Pôs as chaves no bolso da jaqueta enquanto seu filho fez que sim com a cabeça. ? Porque não dá uma volta por ai, enquanto isso?!

    Então ele seguiu andando pelas belas ruas, até dar de cara com uma simpática loja de nome ?Tudo e um Pouco mais? que fazia esquina com o píer. Assim que entrou ouviu o som do sino na porta, anunciando a visita do freguês. Logo um senhor de uns sessenta anos lhe sorriu do balcão.

    ? Pois não? No que posso ajuda-lo homenzinho? ? a loja era repleta de coisas como dizia o nome. De guarda chuvas a botões, de anéis a celulares e até doces em prateleiras caindo em cascata.

    ? Eu... Eu não sei. Não estou procurando nada em especial, só estou admirando sua loja. Ela é... Linda. ? a ultima palavra fez os olhos castanhos brilharem. Ele nunca foi um menino que falasse muito. Ainda mais com quem não conhecia. Mas Lenny também nunca foi um garoto muito normal. Aquele lugar tinha algo fantasioso e isso o deixava a vontade. ? acabei de me mudar pra cá senhor... Senhor... Rubber. ? disse ele depois de ler o nome do velho em suas roupas.

    Ao ver aquilo o senhor deu um sorriso como que entendesse o que estava acontecendo ali, ou oque iria acontecer.

    ? Então... bem vindo a Silver Moon menino Lenny. ? ele disse abrindo os braços e o sorriso.

    ? como sabe o meu nome? ? perguntou. E então e senhor apontou para a mochila que o mais jovem carregava sobre um dos ombros e que havia seu nome costurado com linha violeta. Ele a olhou e então sorriu devolva ao rubber no balcão.

    ? Acho que tenho uma coisa pra você. ? Ele saiu do balcão acenando com a mão pra ser seguido. Mexeu um pouco entre algumas caixas, até avistar no alto de uma prateleira, uma caixinha empoeirada. Subiu em uma escada com rodinhas como as que há em bibliotecas e a pegou. ? A-há. Aqui está. ? disse abrindo a caixa e tirando um saquinho com varias moedas. Lenny as olhou um pouco e viu cravada nelas a figura de uma sereia, como a da fonte que havia na praça. ? Pode ficar com elas se quiser. Meu presente de boas vindas. ? Então soou uma buzina do lado de fora. Agradeceu ao novo amigo e se foi, entrando no carro sempre no banco de trás.

    O carro seguiu por um bosque na estrada de terra alaranjada por dez minutos, até chegar finalmente a uma bela casa de frente para um enorme lago que desaguava no mar, tornando possível chegar ali também pela água.

    ? É lindo não é? ? dizia o maior tirando os mantimentos do porta-malas. O garoto seguiu o mais velho para dentro e viu que a casa já estava limpa e mobilhada. Totalmente pronta para morar. Olhou para seu pai sem entender. ? Eu... Estive preparando este lugar a uma semana. Seu quarto é o de cima, pus suas coisas lá como estavam na casa da sua avó. Espero que esteja tudo no lugar.

    ? Humn... obrigado, eu... Acho que vou lá ver. ? ele apontou para cima subindo. Estava um pouco sem graça, seu pai estava mesmo se esforçando para aquilo dar certo. Seu quarto estava ótimo. Exatamente igual a como estava na casa antiga. Até mesmo suas roupas já haviam sido guardadas. Parecia que o ultimo item que falta, era ele mesmo.

    Havia em seu quarto uma grande janela da qual se via o imenso lago. Depois do jantar seu pai estava exausto e foi dormir. Mas como era cedo Lenny não conseguiu. Saiu de casa e sentiu um pouco da grama nos pés em direção ao pequeno píer de madeira em frente a sua nova casa. Sentou-se no fim dele pondo os pés no lago. Colocou seus fones de ouvido e olhando para uma grade lua pálida começou a cantar. Quando usava seus fones ele cantava livre, como que em um mundo só seu.

    Sem saber que estava sendo assistido por alguém que o esgueirava escondido por trás de algumas rochas a uma certa distância. Por volta da terceira canção, este se distraiu e escorregou caindo dentro d?agua, trazendo Lenny de volta a realidade.

    ? Quem é que tá ai? ? ficou de pé assustado, enquanto vasculhava com os olhos. Mas ninguém respondeu. Recolheu o celular e os chinelos. E quando ficou de costas mostrando que iria embora, uma voz o interrompeu.

    ? Espera... ? O garoto virou-se para avistar um outro rapaz dentro d?agua, que foi se aproximando devagar apenas com a metade do rosto fora da água. Ele não sabia se deveria mesmo ficar, mas o outro não parecia um ladrão. Lhe parecia apenas um adolescente que fôra ali nadar.

    ? Você... Está... Nadando? ? o garoto no lago fitou-lhe um pouco nos olhos e então respondeu.

    ? Sim... Eu sempre venho aqui, não sabia que alguém estava morando. Estava indo embora quando ouvi uma voz. Que me guiou de volta. ? Ao ouvir aquilo, o que estava seco lembrou-se da vergonha que estava sentindo por alguém tê-lo escutado.

    ? Eu também já estava indo. ? virou-se de costas novamente e pôs-se a andar.

    ? Eu gostei. ? Aquilo o fez parar e olhar para trás. Sempre pensou que se o ouvissem cantando, ririam da sua cara, ainda mais se fosse um homem. No entanto aquele dentro da água, o estava incentivando com um sorriso nos lábios. E por algum motivo ele voltou à beira do píer, para ver aquele, mais de perto. ? Você... Poderia cantar de novo? ? ele voltou a sentir-se envergonhado e fechou os olhos. ? Como era mesmo? ? Pensou o nadador, e então começou a cantar aquela canção. O de cima abriu os olhos surpreso.

    Porque aquele rapaz estava cantando? E como aprendeu aquela música tendo ouvido apenas uma vez? Sua voz convidava Lenny, que acabou por cantar junto. No fim aquele garoto desconhecido sorriu e aplaudiu o menor, que não fazia isso sempre, mas sentou-se dando um sorriso tímido.

    ? Sou Lenny. ? Estendeu a mão. O que parecia ter uns 20 e poucos também estendeu, mas a puxou de volta para a água, antes de tocar a do garoto. ? Entendi você não curti aperto de mão.

    ? Eu me chamo Tristan. Mas todos me chamam de Titã. ? continuaram ali por um tempo conversando até que Lenny reparou em algo.

    ? Escuta Titã, você não está com frio? Está de noite, e você está ai dentro á quase meia hora.

    ? Não se preocupe. Eu estou sempre na temperatura ambiente. ? Ele disse e depois fez uma cara de quem falou demais. Então olhou nos olhos do outro como que se esperasse algo ruim acontecer. Então voltou a estender a mão para Lenny que fez força para ajudar o corpo maior a sair da água. Quando solto a mão de Tristan não pode conter sua surpresa.

    ? Tristan!.. Você... É um tritão. Um tritão chamado Tristan. ? Olhou sua pele clara, os lábios rosados. O azul dos olhos se espalhou pelos cabelos compridos e negros ficaram azulados, sua cor Verdadeira. Foi descendo a visão desenhando Titã em sua mente. Seguiu com os olhos os pingos que escorreriam pelo corpo e braços fortes. Vestia apenas um colar de contas e conchas. Os braços como todo o resto, com músculos perfeitos. Por fim a calda no mesmo tom de azul. Só então reparou que o belo rosto masculino continuava triste. ? Eu gostei. ? Revidou, levantando o animo de seu amigo. ? Eu posso tocar?? Falou pondo a mão devagar sobre a calda de Tristan, e então alisou para sentir a textura. Fazendo a criatura olhar para o lado e ficar vermelha. ? O... O que foi? Eu fiz algo errado?

    Então Titã passou a mão molhada sobre as coxas do outro. Que entendeu de imediato o que fizera, e recolheu a mão.

    ? Isso é muito incrível. ? Levando um pequeno susto quando a calda se mexeu.

    O ser estava tão feliz com a reação do novo residente, quanto o humano havia ficado pela canção. De repente a criatura saltou de volta para a água, espalhando o reflexo da lua n?agua em varias ondulações. Dai sumindo.

    No dia seguinte quando acordou havia voltado a chover, e ele olhava para o lago a todo o momento. Tentou inúmeras vezes se concentrar em outras coisas, até sua mente lhe passar a perna e ele voltar a olhar para o lago. A tardezinha, a chuva foi enfraquecendo até parar. E ele já estava pensando que teria sido legal ter feito um novo amigo ali, inda mais um como aquele. A noite caiu e o rapaz se questionava se tinha mesmo visto um tritão, ou se havia sido pego por uma brincadeira da lua, que o fizera sonhar com aquilo. Pensando bem agora. Fazia sentido. Ele gostava tanto desse tipo de coisa que logo mudou de ideia. Virou-se na cama tentando se obrigar a dormir, quando uma brisa entrou pela janela chamando seu nome. Decidiu olhar apenas mais uma vez. E então desta vez, lá estava ele de novo como que esperando.

    O adolescente saiu pela janela mesmo. Chegando à beira do telhado apoiou-se na calha e caiu de pé no gramado molhado. O céu já estava limpo, mas por conta da chuva a terra estava úmida e a água congelante.

    ? Oi.

    ? Oi. Você achou que fosse te fazer algum mal, por eu ser humano?

    Tristan gargalhou um pouco.

    ? Já enfrentei humanos mais assustadores do que você Lenny. ? Sorriu um pouco até perceber que havia soado mais como insulto do que como piada. Dai deu uma tossezinha, e tentando ficar mais sério completou. ? Eu estava era pensando.

    ? pensando?

    ? Isso. Naquele momento me veio algo. Então passei o dia todo pensando nisso.

    ? Nisso o quê? ? Perguntou. Apenas pra ter uma outra pergunta como resposta.

    ? Você confiaria em mim? Ou... Tem medo? ? Seu rosto parecia sério.

    ? Medo eu? Já enfrentei criaturas mais assustadoras do que você Titã. ? Embora não se lembrasse no caso dele era verdade, pois quando Lenny era criança, algo ruim entrou em sua casa, ele chorou e isso expulsou a criatura.

    ? Então entraria na água se eu te pedisse? ? Questionou ele estendendo as mãos. Uma certa insegurança invadiu o corpo de Lenny, por conta da fama que as sereias tem. Aquela de atrair os seres humanos para afoga-los. Só depois de olhar para Tristan isso passou, como se nunca tivesse acontecido. Por mais que a situação indicasse o contrario, não conseguia sentir-se em perigo. Então tirou a camiseta e entrou devagar na água gelada. Um pouco afastado de Tristan, que mergulhou. Ressurgindo em seguida de frente para ele.

    ? Segure-se em mim. ? Ele fez o mais novo agarrar-se em seu pescoço enquanto ele nadava cada vez mais longe da margem. Ao alcançarem mais ou menos a metade do lago ele parou. Estavam exatamente sobre o reflexo da lua. Titã o soltou por um segundo e Lenny quase se afogou. Se não tivesse sido rapidamente puxado pra cima.

    ? Eu... Eu não sei nadar. ? Estava tremendo, segurando-se firme no outro. Se olharam naquela cena e não puderam conter a vergonha em seus rostos, olhando para lados opostos.

    ? Então só vou te soltar no ultimo momento. ? O outro não estava entendendo nada. Além de ter odiado ouvir, ?soltar?.

    ? Eu... Tristan. O tritão. Alego sob a lua cheia como minha testemunha, que esta criatura humana é de confiança. E pago consigo a minha divida de gratidão. Uma vida pela outra.

    E ao terminar aquilo que mais parecia alguma espécie de juramento ou encantamento, o circulo da lua na água se acendeu. Foi neste momento que Tristan o soltou, deixando-o sozinho no circulo. Um brilho forte saia debaixo d?água. Milhares e milhares de bolhas dançavam ao seu redor. Quando viu que na certa afundaria. Ele prendeu a respiração.

    Foi afundando e afundando de cabeça no lago, indo cada vez mais fundo. Mantinha as mãos cobrindo o nariz e a boca tentando conter a respiração o máximo que pôde. Quando não conseguiu mais, soltou o ar esperando se afogar.

    Mas nada aconteceu.

    ? Eu tô respirando!? ? Assustou por ouvir sua própria voz dentro d?água, e voltou a pôr a mão sobre a boca. ? Como?

    Titã deu-lhe uma leve risada e apontou para baixo. O que o garoto viu não foi nada mais, nada menos do que sua própria calda cor de violeta. Não apenas isso. Notou também que estava falando e enxergando tão bem quanto fazia na superfície. Ficou parado por um bom tempo olhando para ela sem dizer nada.

    E bem quando Tristan ia dizer algo, o outro ?nadou? rapidamente na direção da superfície indo cada vez mais rápido e rápido, até saltar fora d?água subindo alto em pleno ar. Abriu os braços e deixou-se cair de volta na água.

    Agora quem havia ficado sem palavras foi o próprio Tritão. O outro nadava empolgado freneticamente com a novidade. Olhou os corais, seguiu os cardumes de peixes coloridos, admirando tudo naquela imensidão submarina, ia de um lado a outro só parando ao esbarrar em Tristan.

    ? Está se divertindo? ? Cruzou os braços enquanto ria. Sua expressão séria de antes havia desaparecido. Na verdade não passava de preocupação com o modo de como o outro reagiria ao seu presente.

    ? Eu... ? Foi interrompido por algo que flutuou em seu rosto. Somente agora percebia que seu cabelo havia ficado comprido, abaixo dos ombros. Tristan tirou de seu próprio cabelo o que os prendiam. Era um barbante negro com uma perola em cada ponta. E usou aquilo para prender os cabelos escuros.

    ? É o segundo presente que você me dá.

    ? Como o meu é mais curto na forma verdadeira. Não vai me fazer falta. ? Aquele era com certeza um bom amigo para se ter. Era o que o humano híbrido estava pensando. Sabendo que não deveria se apegar a Titã além disso. Pois ele estava apenas sendo gentil, e poderia não gostar de homens. ? No que você está pensando? ? Curvou para olhar mais de perto o rosto pardo, que se afastou um pouco para não deixar os lábios tão próximos.

    ? Não é nada não.

    ? Ah. Parecia interessante. Não fique preocupado você vai virar humano de novo.

    Não era bem nisso que ele tinha pensado, mas era uma boa desculpa para mudar de pensamentos.

    ? Escuta Lenny. Você ainda não tem um melhor amigo?

    ? Não. Eu só estou aqui há apenas dois dias. ? Disse aquilo, sabendo que mesmo depois de um mês ou dois, provavelmente não faria nenhum.

    ? Que bom. ? Riu. ? Então serei eu. Gosto da sua companhia, e agora você pode vir nadar comigo. Já tem com quem contar. ? Aquilo era bom, mas também ruim. Ele não devia dizer esse tipo de coisas. O pensamento voltou a avisar o jovem. ? Vem, seu pai tá se revirando na cama. ? Disse coçando a orelha. ? Vamos apostar corrida até a sua casa? ? Lenny disparou na sua frente. ? Ora seu... Humano.

    Ele saiu em seguida. Os dois seguiam emparelhados saltando dentro e fora d?agua como fazem os golfinhos. O jovem era rápido, mas aproximando-se do fim Titã viu que o venceria. Então no ultimo salto agarrou-se a Lenny em pleno ar, caindo os dois na água empatando a disputa.

    ? Isso não é justo Titã, você me deixou ganhar.

    ? Você não ganhou. Nós empatamos.

    ? Empatamos nada. Eu caí na água primeiro. ? bateu a calda, espalhando água para todos os lados. A cada minuto aprendia algo novo, como se fosse natural. Como se fosse não, esse tipo de coisa era mais natural para ele, do que as coisas normais.

    ? Rápido você tem que entrar em casa, seu pai acordou para beber água. E pode querer ir ao seu quarto. ? Ajudou o outro a subir no píer. Nem precisou explicar nada, Lenny voltou ao normal sozinho. Realmente era um moleque estranho. Sua roupa formou-se no mesmo instante das pernas.

    ? Como você sabe? ? Repôs a camiseta que havia ficado por ali. Titã levou os dedos à boca dando um assobio agudo. Logo em seguida, uma estrela-do-mar passou girando por debaixo da porta e veio ?correndo? até ele. Pulou em suas mãos e foi arremessada pra bem alto e longe caindo dentro d?água. ? Titã!!!

    ? O quê? Ela gosta! Humn... Não está se esquecendo de alguma coisa? ? apontou a cabeça. O garoto passou a mão e viu que havia esquecido o cabelo comprido. Tirou o prendedor e o fez voltar ao comprimento normal.

    ? Tome. ? Estendeu a mão, devolvendo o prendedor.

    ? Fique com ele, pode usa-lo quando formos nadar de novo.

    ? Ah! ? Já estava indo quando se lembrou, dai voltou. ? Aproposito. Amanhã de manhã eu vou explorar a cidade. Você quer vir junto? ? Titã pareceu feliz ao aceitar o convite balançando a cabeça. Deu um salto pra trás e sumiu na noite. Depois de prender seu presente no braço, o outro escalou a calha andou pelo telhado num silêncio digno de gato e entrou pela janela. Tudo sem perceber que o outro o observava. Só indo embora depois de ver que estava tudo bem.

    Pela manhã, um sol radiante entrou pela janela tocando seu rosto de menino e homem ao mesmo tempo. Bocejou, se espreguiçando. Vendo assim o objeto balançar em seu pulso. O que provava que não tinha sonhado. E que na noite anterior havia mesmo se transformado na criatura das lendas. Depois de pronto desceu as escadas indo à cozinha. Onde seu velho estava tomando café.

    ? Bom dia. ? puxou a cadeira servindo-se.

    ? Bom dia ? Levi respondeu. Era a primeira vez que seu filho falava, sem que ele tivesse lhe perguntado alguma coisa. E isso lhe deu uma satisfação boba. ? Está bonito, aonde vai? Não me diga que já conheceu alguma sereia. ? Seu filho deu uma pequena risada por trás do copo de suco. Seu pai tinha feito uma boa piada, mas que só ele podia entender.

    ? Mais ou menos isso. Somos só amigos.

    Já fora de casa, estava perdendo as esperanças de Titã aparecer. Aliás, como ele poderia vir? Tinha mesmo sido um convite tolo.

    Estava pensando que deveria pedir ao seu pai para deixa-lo em Silver Moon. Sabia que Levi o faria se pedisse. Porem não o conseguia. Deitou-se na grama olhando o céu ficar nublado, com as mãos por detrás da cabeça. Foi então que uma forma masculina surgiu de pé ao seu lado, lhe tapando a visão do céu.

    ? Bom dia! ? A forma falou empolgada se abaixando. Era Tristan. Usando duas pernas. Aquilo fez o menor levantar rápido, atingindo o visitante na testa com sua própria cabeça. ? Ai... Eu só disse bom dia. ? Brincou. Os cabelos azuis, agora estavam mais compridos na forma humana, jeans escuro, uma jaqueta preta sobre uma blusa branca e allstar preto com cadarços azuis.

    ? Onde conseguiu essas roupas?

    ? Tch... Eu tenho muitas dentro de um baú escondido, para quando vou me arriscar em terra. E então? Estou ou não estou parecendo um humano de verdade? ? Se gabava de brincadeira abrindo os braços.

    ? Bom... Humanos normais não têm cabelos azuis. Na verdade alguns até tem, mas... ? antes dele terminar de explicar, Titã pôs uma mexa de cabelo para trás da orelha. E então apenas com esse simples gesto, todos os fios foram ficando negros, como na primeira vez que se viram. Correu em casa e pegou em seu quarto uma sacola cheia de garrafas d?agua. Por algum motivo pegou também as moedas que ganhou do senhor, pondo algumas no bolso.

    ? O que é isso?

    ? Água. Planejo passear o dia todo. E não quero que você passe mal.

    ? Confie em mim. Isso não é preciso. ? Era uma sacola grande. ? Aqui. Vamos levar uma.

    ? Quem é o seu amigo Lenny? ? Seu pai apareceu escorando na varanda. Achou que fossem as peças de motor que ele havia encomendado na cidade aquele dia. Limpou as mãos já sujas de graxa em um paninho, e apertou a de Titã. ? Olá. Então quanto eu lhe devo. ? Tirou a carteira.

    ? O quê?

    ? Não pai. Esse é Tristan, meu amigo. Na verdade, agente já estava indo. ? Puxou Titã com força em direção ao caminho.

    ? Tchau senhor. ? Ele gritou acenando, enquanto era rapidamente arrastado. ? Eu gostei dele. ? Falou apenas para Lenny.

    ? Hã? Por quê?

    ? Ele é bom. ? Isso bateu forte no menor que ainda o arrastava.

    ? É... Eu sei. ? Realmente sabia, mas sempre que olhava para ele sentia a dor de uma ferida do passado. Ficou em silêncio por alguns segundos, até perceber que segurava a mão de Titã, a largando imediatamente. Normalizando o astral, eles chegaram à cidade. Passeando um pouco por suas ruas. Entraram em uma livraria e saíram rapidamente, porque Titã rasgou sem querer um velho mapa náutico que estava na parede. Depois passaram enfrente a um grande prédio.

    ? É aqui que vou vir estudar quando as férias acabarem.

    ? Não entendo pra que vocês ficam presos aqui. Nós, aprendemos as coisas vivendo elas.

    Será que ele estava certo? Aprender na pratica. É quem sabe. Foram em seguida a uma confeitaria que Titã sempre teve vontade de entrar quando via Silver Moon do mar. Lenny comprou um sorvete enquanto o ser olhava vidro por vidro daquelas coisinhas deliciosas que nunca havia comido. Estava deslumbrado com tantas balas de tipos e cores diferentes. Terminou pondo várias delas em um saquinho amarado com uma fita vermelha.

    ? Essa é a coisa mais gostosa que já comi!

    Entrando na praça, chamaram a atenção de um grupo de garotas, que nunca os tinham visto. Elas cochichavam sentadas na fonte, interessadas na carne nova. Lenny logo se sentiu observado e não pode deixar de ouvir os comentários, mesmo que cochichados.

    ? Humn... Gostei viu.

    ? Meninas olhem aquele. É tão bonitinho. Que olhos... Que boca...

    ? É. Lindo ele é, mas eu gosto mais do outro. Mestiços me deixam toda arrepiada.

    ? Ai. Não entendo vocês duas. ? Continuavam a rir e fofocar. Foi quando uma gaivota deu um rasante e pegou o saco de doces de Titã.

    ? Ei!!! Seu rato voador. Devolva minhas coisas doces agora! ? Tristan gritava para o pássaro. De repente sentou-se no chão.

    ? O que vai fazer?

    Ele levantou-se e atirou um de seus sapatos, atingindo a ave que voava alto no céu.

    ? Você viu Lenny? Eu acertei! Você viu?

    As garotas entraram em polvorosa, divertindo-se com aquela graça de menino. Enquanto o outro assistia ele repor o sapato, com seu doce prémio açucarado de volta em mãos. Realmente ele era tudo aquilo que as garotas disseram e um pouco mais. A alegria e felicidade que ele emanava para Lenny não podiam ser posta em palavras.

    ? Vem quero te mostrar um lugar. ? Arrastou Lenny pelas mãos como havia feito com ele antes. Deixando as meninas um pouco desanimadas.

    Foi levado pelas mãos quentes de Tristan até a pequena Tudo e um Pouco mais.Sendo recepcionado pelo mesmo senhor.

    ? Titã. Á quanto tempo não o vejo. Ah Menino Lenny, você também? Sabia que mais cedo ou mais tarde você iria voltar.

    ? Boa tarde Senhor Rubber.

    ? Vocês já se conhecem? Eu devia saber. Esse velho sempre sabe de tudo.

    ? Está procurando algo em especial desta vez? Um guarda-chuva, uma câmera talvez?

    ? Você tem umas coisas bem legais aqui Zed. Mas nós queremos ver ?um pouco mais?. ? Tristan falou com os braços sobre o balcão.

    ? Por aqui então. ? Zed Rubber trancou a porta da loja, e os guiou até uma velha porta. A abriu e era um pequeno armário de vassouras. A fechou, e quando abriu de novo, era uma outra loja, cinco vezes maior do que a que eles estavam. Entraram ali, e logo se via que não era só o tamanho que era diferente. As coisas que Zed vendia ali também eram peculiares. Havia arcos, escudos e espadas. Poções, livros, pedras e roupas nada humanas. Uma vassoura passou voando obrigando ele a se esquivar e esbarrar em uma gaiola de onde algo cuspiu fogo.

    ? Desculpe Senhor Rubber. Ela esta um pouco temperamental hoje. ? Disse a bruxinha de seis anos, lhe passando entre as pernas, correndo atrás do objeto.

    ? Ah. Essa idade... A primeira vassoura. Diga a sua mãe pra comprar um capacete!

    ? Isso é... Muito... Show! ? Lenny ficava agora tão deslumbrado quanto um tritão na loja de doces.

    ? Acho que sei exatamente, por que você está aqui. ? Disse Zed Rubber pondo o braço sobre o ombro de Tristan. O levando embora entre as altas prateleiras, deixando o humano um pouco a sós olhando tudo.

    Queria comprar algo. Um presente, para dar ao outro. Um modo de agradecer pela sua outra forma. Assim, encontrou um fecho de cabelo com a forma de uma lua dourada, com uma nuvem prateada de cada lado.

    ? Encontrou algo menino Lenny? ? Rubber voltava com Titã segurando uma caixinha. Talvez algo que encomendara ao velho. Lenny tirou de seu bolso dez das moedas de ouro que ganhou. E as entregou a Zed. Uma ninfa o havia informado que esse era o preço do objeto. Dai virou-se ao outro e estendeu o lindo presente.

    ? Pra você. Sei que não é nada comparado ao que você me deu, mas...

    O senhor Rubber sentiu-se obrigado a interrompê-lo.

    ? É um belo gesto meu amigo. Mas você não quer comprar outra coisa? As sereias e tritões só dão objetos em forma de sol ou lua, quando estão pedindo o presenteado em namoro.

    Lenny quase cavou um buraco para se enterrar ali mesmo. De todas as coisas que poderiam significar tinha que ser justamente aquilo?

    ? Quê isso Zed?! Tá constrangendo ele. Ele não sabia. ? Pôs a caixa que trazia consigo no bolso da jaqueta, e pegou seu presente entre as mãos tremulas de vergonha do outro. ? Obrigado, vou ficar com ele. ? Embrulhou-o no lenço de Rubber e guardou no outro bolso ainda com um sorriso.

    ? Bom já que é assim. Obrigado por comprar na tudo e um pouco mais. ? Saiam da loja, dentro da outra loja. ? E pelo amor dos meus duzentos anos, menino Tristan. Tome cuidado com isto. ? Apontou para o bolso da encomenda. ? Cada vez que você vem busca-la está mais danificada. Devia comprar outra.

    ? Tudo bem. É que ela é minha favorita. Mas não se preocupe só vou usa-la mais este ano Zed.

    Não dava pra saber ao certo do que estavam falando. E ainda estava um pouco nervoso, então Lenny permaneceu calado uma boa parte do caminho. Praticamente já estavam pegando a trilha do bosque quando ficou a vontade novamente.

    ? Escuta...

    ? O quê?

    ? Não tem problema em ficar fora da água por tanto tempo? Achei que você ia ficar sem ar como um peixe, ou sei lá.

    ? Não, não tem problema. Posso ficar assim o tempo que quiser. Do mesmo jeito que você pode ficar na água agora. Aliais tem muitos da minha espécie que vem morar em terra.

    ? E porque eles fariam isso?

    ? Algumas vezes por que foram exilados, outras porque encontraram um tesouro, que só vale alguma coisa na terra, como ouro. Mas a maioria das vezes é por amor.

    ? A... Amor? ? Não podia evitar de gaguejar quando ficava nervoso.

    ? É amor. Não somos tão cruéis e sem sentimentos como dizem, sabe? Zed por exemplo. Ele é um elfo.

    ? ah. Bem que eu achei as orelhas dele pontudas.

    Uma gota de chuva acertou seu nariz, e em seguida vieram muito mais.

    ? Você não queria água? Aqui está ela. ? Tristan tinha um belo sorriso enquanto corria com Lenny ficando cada vez mais ensopados. Quando deram conta haviam se perdido da trilha se perdendo em meio às árvores, com a chuva se tronando tempestade.

    ? Lenny! Temos que procurar abrigo.

    ? O quê?

    ? Sinta o cheiro do ar. A chuva não vai parar até amanhã e já está escurecendo.


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