De Violetas e Amores-Perfeitos

Tempo estimado de leitura: 42 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    I

    Spoiler

    Saint Seiya e Saint Seiya Omega não me pertencem, infelizmente... Se pertencessem, o nome seria Saint Shiryu, Shunrei seria a deusa, e eles viveriam num Santuário naturista.

    DE VIOLETAS E AMORES-PERFEITOS

    Chiisana Hana

    Capítulo I

    Era o primeiro dia sem o filho, que tinha ido para a Palaestra, a nova escola de cavaleiros, onde terminaria o treinamento que havia começado com o pai. Shunrei tinha dado a autorização para que o menino viajasse apenas com um tutor da escola, afinal não teria como deixar Shiryu sozinho para levá-lo, mas ficou com o coração na mão. O menino nunca tinha saído de Rozan e justamente a primeira viagem era para tão longe e sem os pais. Ela só se tranquilizou quando Ryuhou telefonou da escola dizendo que tinha chegado bem, já tinha feito o juramento perante a estátua da deusa e que gostou do quarto onde foi colocado, junto com outro garotinho novato de nome Mirapolos. Durante a viagem, explicou ele, o tutor tinha parado na cidade de Corinto para buscar o garoto e a identificação entre os dois tinha sido imediata.

    No dia seguinte, ao pôr a mesa para o café, Shunrei ainda colocou um conjunto de pratos e talheres para o menino e flagrou-se rindo sozinha quando percebeu o equívoco.

    ?Ele está crescendo rápido?, pensou. ?Ainda ontem era um bebezinho que brincava com os cabelos do pai. Agora já está morando na escola, sem que eu esteja sempre por perto, cuidando para que esteja em segurança?.

    Como toda mãe, Shunrei tinha feito uma série de recomendações. Esperava que Ryuhou se alimentasse direito, tomasse os remédios na hora certa, e que fosse obediente e gentil como era em casa. E também que fizesse amigos, coisa que ele não tinha em Rozan. Ficou feliz ao saber do coleguinha de quarto. Seria bom para Ryuhou, uma vez que ele nunca frequentou a escola comum em Rozan. Estudou em casa, com professores particulares, porque queria ficar mais tempo com o pai. Shunrei amava que o filho fosse tão dedicado a Shiryu, mas também desejava que o menino vivesse sua própria vida. Era pequeno demais para ficar tão preocupado com Shiryu. No final das contas, Shunrei achava que a distância de casa seria boa para que Ryuhou saísse de seu mundinho e convivesse com outras pessoas.

    Enquanto ela preparava o café, Shiryu chegou à cozinha, caminhando inseguro e contando os passos. Era dessa maneira que sabia onde estava, já que não podia nem se valer do tato para sentir o chão onde pisava. Sabia quantos passos precisava dar do quarto à sala e de lá até a cozinha.

    Shunrei pôs de lado seus pensamentos e apressou-se em ajudá-lo a encontrar uma cadeira.

    ?Bom dia, meu bem?, ela o cumprimentou em pensamento e depositou um beijo na testa do marido. Embora ele não pudesse de fato sentir o beijo, ela ainda conservava o hábito.

    ?Bom dia, querida?, ele respondeu. Era um esforço que fazia para se comunicar através do cosmo, mas não queria que Shunrei sentisse tanto a falta de Ryuhou. Pelo menos nos primeiros dias, valia a pena empenhar-se para ?conversar? com ela.

    ?Espero que não esteja se sentindo muito sozinha. Eu não sou mais uma boa companhia?.

    ?Estou sentindo falta dele, claro?, ela disse. ?Até coloquei os pratos dele na mesa, acredita? Mas você é e sempre será a minha melhor companhia. Sem você, ele nem existiria.?

    Shunrei abraçou o marido. Shiryu sentia muito levemente a pressão dos braços dela, e achava que era mais uma sensação psicológica do verdadeiramente tátil, mas de qualquer forma já era um conforto suficiente.

    ?Acha que ele vai se dar bem na escola??, Shiryu perguntou. Lembrava-se da Palaestra. Visitou a escola com Saori assim que as obras foram concluídas. Era um lugar bonito, com bastante área verde. Achava que Ryuhou gostaria de lá.

    ?Eu creio que sim!?, Shunrei disse. ?Ele é um bom garoto. Logo vai fazer amigos. Já tem um coleguinha de quarto?.

    Shiryu deu um de seus raros sorrisos e disse:

    ?Não foi assim que eu sonhei. Queria que as coisas fossem diferentes para a nossa família, mas já que são assim, fico feliz por vocês dois existirem.?

    ?Eu digo o mesmo?, Shunrei respondeu comovida e começou a dar comida ao marido. A pouca sensibilidade dele o privava até do gesto de levar o alimento à boca, mas ele tinha a sorte de ter uma esposa como ela.

    Meses depois, Shunrei recebeu um telefonema de Ryuhou. O garotinho falava com voz de choro, o que deixou a mãe aflita.

    ? O que houve, meu bem?

    ? A senhora lembra que eu tive de duelar com o Mirapolos e ele ficou magoado comigo?

    ? Sim, lembro ? ela assentiu. O garoto tinha comentado do duelo. Não deu tudo de si para que Mirapolos pudesse vencer, mas o colega acabou muito chateado por isso. ? Você contou que ele acabou deixando a escola.

    ? Pois é, mãe... ? o garotinho disse e recomeçou a chorar. - Fiquei sabendo agora que ele morreu... Me sinto tão culpado...

    ? Meu bem, você não tem culpa das escolhas que o seu coleguinha fez. Eu sei que você não queria isso, que só queria ser gentil com ele. Não é culpa sua, meu bem.

    ? Mas ele acabou morrendo por minha causa. Eu não queria, mãe. Juro que não queria.

    ? Eu sei, meu bem. Isso não está em suas mãos... A gente não pode nem tomar conta dos nossos próprios destinos, imagine o dos outros...

    ? Eu quero ir pra casa... ? murmurou.

    A frase cortou o coração de Shunrei. Ryuhou era só um garotinho de oito anos e ouvi-lo dizer isso era doloroso.

    ? Você tem que ficar, querido ? Shunrei disse, com o coração apertado. Queria dizer que voltasse, que em casa ele teria seu colinho carinhoso, mas Ryuhou precisava lidar sozinho com essa situação. Ela não gostava de pensar nessas coisas, mas um dia ele teria que lidar com a perda do pai. Talvez a perda do coleguinha fosse uma preparação para isso.

    ? Mas mãe, por favor... eu não posso mais.

    Shunrei engoliu em seco.

    ?Eu não posso pensar como mãe?, pensou. ?Preciso pensar como o Mestre pensaria... como Shiryu pensaria.?

    ? Não foi sua culpa, você sabe que não foi ? começou a falar, depois de respirar fundo. - E todos aí devem saber também, não é?

    ? É... eles falam que o Mirapolos foi fraco, que não aguentou a pressão... mas eu sei que eu podia ter evitado a morte dele...

    ? Não podia, meu bem... As coisas não funcionam assim. Faça o seguinte, converse com seu professor Geki. Você não disse que gosta dele? Então, ele vai saber como orientá-lo. E depois me ligue pra contar, certo?

    ? Está bem, mãe ? o garotinho assentiu.

    No dia seguinte, foi o próprio Geki que ligou tranquilizando Shunrei.

    ? Não se preocupe, Shunrei. Ele está mais calmo agora. É um bom garoto. Bom demais, para falar a verdade, em todos os sentidos. É extremamente forte, está bem acima do nível dos outros garotos da idade dele. E também tem um bom coração, quer ajudar todo mundo, mas isso nem sempre é o melhor para o outro, como foi o caso de Mirapolos. Ele é novinho, vai aprender a dosar a força e a bondade. A perda do coleguinha foi só o começo do aprendizado dele.

    ? Eu sei, Geki. Obrigada por cuidar do meu filho.

    ? Não há de quê, Shunrei. E Shiryu, como vai?

    ? Está bem, obrigada. Daquele mesmo jeito, mas pelo menos não piorou, não é?

    ? Sim, é verdade. Bom, acho que é isso. Não se preocupe demais com Ryuhou, ele logo vai aprender a se virar.

    ? Certo. Muito obrigada, Geki.

    Shunrei desligou o telefone. Desde o dia anterior Shiryu vinha notando o estado de apreensão dela, mas vinha evitando perguntar do que se tratava. Porém, captou alguns fragmentos de pensamento enquanto ela falava ao telefone e percebeu que devia ser alguma coisa com Ryuhou. Só então resolveu perguntar o que estava acontecendo.

    ?Ele se machucou na escola??

    ?Não exatamente, meu bem. Ele só teve que lidar com a primeira perda, Shiryu. Só isso.?

    Continua...


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