Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.
ESCUTE SEU CORAÇÃO
Chiisana Hana
Beta-reader: Nina Neviani
Capítulo IV
Tóquio.
Em frente a um motel...
(Ikki) Chegamos!
(Pandora) Ikki, esse motel não tem nem estacionamento. Você vai ter que deixar o carrão novo na porta!
(Ikki) E daí? Fiz seguro. Vamos entrar.
(Pandora, agarrando-se ao banco do carro) Eu não quero.
(Ikki, saindo do carro) Quer sim! Eu fiz o que você queria! Jantamos naquele restaurante caro, agora você vai fazer a minha vontade.
(Pandora, saindo do carro) Ai, por Hades! Isso é loucura!
No quarto...
(Pandora) Que nojo! Olha esse lençol! Um dia, num passado muito remoto, esse lençol foi branco. Ikki, deve ter barata aqui! Pior, deve ter pulga nessa cama. E os ácaros? Uma fazenda de ácaro nesse colchão. Eu não me deito aí nem morta.
(Ikki, agarrando Pandora) Tudo bem. Tem muitos jeitos de fazer sem precisar deitar.
(Pandora) Esse lugar corta qualquer tesão, Ikki. Pelo amor de Deus, vamos embora!
(Ikki) Sem nem uma rapidinha? Ah, não.
(Pandora, irritada) Sem rapidinha, sim! Não faço nada nesse chiqueiro!
(Ikki) Deixa de frescura, Pand! Você já esteve em lugares muito piores!
(Pandora) Você que esteve, seu ogro! Quer saber? Acabou. Vou voltar para a Alemanha.
(Ikki) Já?
(Pandora) Cansei. Cansei da sua grosseria, cansei dessa Esmeralda, cansei de ser a segunda, cansei de tudo isso.
(Ikki) Já falei mais de mil vezes para não tocar no nome da Esmeralda.
(Pandora) Esmeralda, Esmeralda, Esmeralda. Já sei. Você não traria a Santa Esmeralda nessa espelunca.
(Ikki) Não traria mesmo.
(Pandora) O quê? Ainda admite!
(Ikki) Eu não traria porque ela não me chantagearia por um jantar num restaurante idiota sabendo que eu odeio essas coisas. E já chega, não vou falar mais dela com você.
(Pandora, saindo) Fica aqui nesse lixo com a lembrança da sua Esmeraldinha. Eu vou embora. Usa a mão.
(Ikki) Ah, vai, vai. Saco.
Ikki ainda fica alguns minutos no motel. Depois paga e sai dirigindo sem destino certo. Passa por uma rua com várias meninas seminuas oferecendo serviços sexuais. Nessa rua, ele entra num bar. Pouco depois, o dono vem falar com ele.
(Dono do bar) Gostaria de companhia?
(Ikki) Hum... é, pode ser.
(Dono do bar) Vou chamar umas meninas para o senhor escolher a que mais lhe agrada.
(Ikki) Ótimo.
O homem traz cinco meninas. Ikki escolhe a que tem o olhar mais melancólico.
(Ikki) Qual é o seu nome de guerra?
(Pani) Pani.
(Ikki)Pani? (pensando) Mas eu fui pegar logo uma com o nome parecido com a outra lá... que dedo podre. (para a menina) Chinesa?
(Pani) Coreana.
(Ikki, para o dono do bar) Vou ficar com essa. Quantos programas ela faz por noite?
(Dono do bar) Eu não sei. Isso é com elas. Eu só deixo elas trabalharem no meu estabelecimento.
(Ikki) Conta outra. Eu sei que você explora essas coitadas. Quantos programas?
(Dono do bar)Cinco, no mínimo.
(Ikki) Ótimo. Vou passar a noite com a coreanazinha aqui. Tá aqui a grana dos cinco programas. Vamos embora. Antes: você é maior de idade, não é? Não quero problema.
(Pani) Sim, senhor.
(Ikki) Então, vamos. Entra no carro. Estou com vontade de fazer uma boa ação hoje. Vamos para um motel de luxo. Me chamo Ikki.
Pani apenas sorri.
(Ikki) Você está começando nesse emprego, não é?
(Pani) Bom, é. Tem só duas semanas. Ainda não acostumei. Mas se o senhor quiser voltar e escolher uma mais experiente, tudo bem.
(Ikki) Não, não. Está bem assim.
Na suíte mais cara de um motel luxuoso, Ikki faz Pani trabalhar. E ainda lhe dá dicas sobre como agir com os próximos clientes. Depois...
(Ikki) Pede aí alguma coisa pra comer. Paguei tua noite inteira mesmo. Aproveita.
(Pani) Obrigada, senhor.
(Ikki) Pára de me chamar de senhor. Eu sou mais novo que você.
(Pani) Desculpe.
(Ikki) Bom, já que eu estou cansado, estou pagando e ainda faltam dois programas pra completar a noite, Pani, você vai ter que conversar comigo. Sabe, eu não sou muito de conversar. Mas eu bebi, e quando eu bebo faço coisas que eu não costumo fazer.
(Pani) Pode falar.
(Ikki)Eu vou falando e você ouve e responde 'aham', 'sim' 'tudo bem', essas coisas... Eu tenho uma namorada, sabe? Ou tinha, sei lá. E ela é uma chata. Mas eu gosto dela. Gosto mesmo, embora ninguém acredite.
(Pani) Aham.
(Ikki) O problema é que eu ainda amo a minha primeira namorada. Bom, ela não foi bem namorada, infelizmente. Mas o caso é que eu ainda a amo.
(Pani) Sim.
(Ikki) E a minha namorada de agora não entende que eu amo essa primeira, entendeu?
(Pani) Tudo bem.
(Ikki) Não precisa seguir o que eu disse ao pé da letra! (pensando) Por isso que é prostituta, tão burrinha.
(Pani) Está certo.
(Ikki) Esquece isso, Pani. Dorme aí.
Pani adormece, enquanto Ikki passa o resto da noite andando de um lado para o outro, pensando em Esmeralda.
(Ikki, pensando) Como seria a minha vida com ela? Ela ia ficar ainda mais linda arrumada, bem tratada. Acho que ela gostaria de ter uma casa espaçosa, com um jardim bem grande. Nós teríamos muitos filhos.
Uma lágrima desce solitária pela face de Ikki. Imagina Esmeralda feliz, correndo atrás de uma porção de crianças de cabelos arrepiados enquanto ele observava a cena com o filho mais novo nos braços.
(Ikki, forçando o punho fechado contra a parede) Por que o tempo não pode voltar?
S - - - - A- - - - I - - - - N - - - - T - S - - - - E - - - - I - - - - Y - - - - A
Noutro lado da cidade, Seiya, Shina, Seika e Shaka estão no cinema.
(Seika, com os ingressos na mão) Seiya, o que é isso? "Aranhas Gigantes Assassinas"?
(Seiya, animado) É! Eu estou doido pra ver esse filme.
(Shaka, pensando) Eu não mereço isso.
(Shina) Ai, vamos logo. Não deve ser tão ruim assim.
(Seiya) Isso aí, meu amor! É a primeira vez que ela concorda comigo, não é emocionante, ser meditador?
(Shaka) Falou comigo?
(Seiya) Tem outro ser meditador aqui?
(Seika, emburrada, puxando Shaka) Deixa ele pra lá. E depois, eu não estou com vontade de prestar atenção em filme nenhum.
Os casais se acomodam dentro da sala, Shina e Seiya, Shaka e Seika respectivamente.
(Seiya, sussurrando) Sacou que eu fiquei do seu lado pra ver o que você vai fazer com a minha irmã, né?
(Shaka, incrédulo) Saquei.
O filme começa. Seika segura o braço de Shaka com força.
(Seika) Lindão, você não está gostando do filme, está?
(Shaka) Definitivamente, não.
(Seika) Ótimo! Então vamos namorar!
Seika beija Shaka com fervor. Seiya não liga. Também está beijando Shina. Depois de beijá-la, ele se volta para a Shaka.
(Seiya) Olha, vou dar uma trégua sem perturbar você porque a Shina está boazinha hoje. É só uma trégua, ser meditador. Aproveita aí, mas com respeito!
Shaka olha para Seiya com cara de pouquíssimos amigos.
(Shaka, pensando) Esse retardado pensa que eu sou como ele. Que vontade de deixá-lo mudo!
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Enquanto isso, Julian e Saori retornam à mansão Kido.
(Julian) Sinto muito, querida, mas tenho que ir.
(Saori) Tudo bem. Sei que é preciso.
(Julian) Voltarei o mais breve possível.
(Saori, beijando-o) Espero que seja logo.
(Julian) Eu também. Por que não vai à Grécia comigo?
(Saori) Agora?
(Julian) É. Você podia chegar de surpresa ao Santuário! O que acha?
(Saori) É uma boa ideia, mas eu não posso. Acabo de chegar da China. Tenho que resolver algumas coisas da Fundação. Está tudo nas minhas costas, por enquanto.
(Julian) Por enquanto?
(Saori) Convidei Shiryu para me ajudar.
(Julian) Hummm... parece bom.
(Saori) Só falta ele aceitar.
(Julian) Tomara que aceite. Porque aí você deixa nas mãos dele e se muda para a Grécia.
(Saori) Não vou jogar essa batata quente para o Shiryu, Julian! Ele acaba de se casar! Com certeza tem outras prioridades. Mas a ajuda dele será muito bem vinda.
(Julian) Aposto que sim. Bom, então já vou, minha noiva. (beijando-a) Eu a amo muito, muito, muito.
(Saori, sorrindo) Também o amo.
Julian deixa a mansão e parte para a Grécia. Saori vai para o escritório.
(Saori, consigo) Como eu queria que meu avô estivesse aqui. Só ele poderia me entender.
(Tatsumi) Falando sozinha, senhorita?
(Saori) Pensando alto no vovô. Tatsumi, você o conhecia melhor que eu. Não quer me falar sobre ele, sobre os relacionamentos dele com as mães dos meninos?
(Tatsumi) Sim, eu o conhecia muito bem. Posso falar o que a senhorita quiser, menos as histórias com as mulheres.
(Saori) Essas devem ser as melhores!
(Tatsumi, envergonhado) Não são histórias para mocinhas.
(Saori) Tatsumi! Você bem sabe que eu não sou mais tão inocente assim.
(Tatsumi, corando) Senhorita!
(Saori) Fale sobre ele. Como ele era quando mais jovem, antes de eu chegar?
(Tatsumi) Ele sempre teve aquele jeito austero, exigia respeito, mas também respeitava quem o respeitava. Não era homem de destratar os empregados ou quem quer que fosse. Gostava de regras, de horários rígidos. A mesma rigidez que ele não tinha na própria vida. Seu avô sempre foi um homem muito solitário. Lutou a vida inteira para erguer e manter o império Kido. Criou a Fundação Graad porque queria fazer algo bom para o mundo. Mas chegou à velhice ainda solitário. Aí vieram as mulheres... Ele queria um herdeiro.
(Saori) Continua, Tatsumi.
(Tatsumi) Senhorita, eu não devo.
(Saori) Deve, sim! A história de Mei (1) eu já conheço bem. Mas quantos aos outros? Quem eram as mães deles? Como elas eram?
(Tatsumi, envergonhado) Bom, algumas eram prostitutas. Outras eram mocinhas ingênuas que ele seduzia. Ele gostava de seduzi-las. E ele tinha três preferidas, todas moças de família: a mãe do Seiya, a mãe de Shun e Ikki e a mãe de Hyoga. Ele costumava ir muito à Rússia. Então, dentre as três, Natássia talvez fosse "a preferida". Certamente ela acreditava que algum dia ele a pediria em casamento. (2)
(Saori) Você a conheceu?
(Tatsumi) Sim. Fui com ele em uma das viagens, pouco antes de Natássia morrer.
(Saori) E as outras duas?
(Tatsumi) Eu conheci a mãe de Shun e Ikki apenas de vista. Era uma alemã, loira, alta, olhos muito azuis.
(Saori) Hum, por isso os olhos claros deles.
(Tatsumi) Sim. A mãe de Seiya foi empregada aqui na mansão.
(Saori) Natássia morreu num naufrágio, mas o que houve com as outras duas? Por que entregaram os filhos?
(Tatsumi) Elas também morreram.
(Saori) As três preferidas morreram? Que coincidência nefasta.
(Tatsumi) É. E ele ficou sinceramente abalado com as mortes delas.
(Saori) Tatsumi, e a mãe de Shiryu?
(Tatsumi) Eu não a conheci. Foi um caso rápido do Senhor Kido. Só a vi de longe uma única vez quando ela trouxe o menino recém-nascido. Shiryu não tinha nem um mês quando ela o deixou no orfanato.
(Saori) E vovô, como reagia à presença dos meninos no orfanato?
(Tatsumi)Ele sofria. Mas não queria o escândalo. Já tinha conseguido seu filho legítimo, o Mei, mesmo sem nunca ter sido casado e isso era um grande motivo de escândalo. Depois você apareceu e de repente ele ganhou uma neta grega!
(Saori) Imagino o quanto ele sofreu com tudo isso. Tatsumi, me abraça?
(Tatsumi, abraçando-a meio sem jeito) Claro, senhorita.
S - - - - A- - - - I - - - - N - - - - T - S - - - - E - - - - I - - - - Y - - - - A
Grécia.
Shiryu e Shunrei estão no iate, navegando para Mykonos, outra ilha do arquipélago das Cíclades.
(Shunrei) Elli, pode nos servir alguma coisa antes de chegarmos a Mykonos?
(Elli) Sim, senhora. Que tal uma porção de bolinhos de polvo?
(Shunrei) Está ótimo, Elli. Posso ver você preparar?
(Elli) Claro, senhora!
(Shunrei, para Shiryu, beijando-o) Já volto, Shi.
(Shiryu, rindo) Já que as moças vão se divertir com afazeres domésticos, acho que vou perturbar o comandante.
(Elli) Ele vai adorar, senhor!
Shunrei e Elli vão para a pequena e luxuosa cozinha do iate.
(Shunrei) Ele adorou essa comida grega, então tenho que aprender o máximo possível.
(Elli) Também gosta de cozinhar, senhora?
(Shunrei) Muito! Mas não me chame de senhora, Elli.
(Elli) Vou tentar.
(Shunrei) Você só trabalha com o Comandante Christos no iate?
(Elli) É. O iate é alugado nos finais de semana e se o locador quiser uma copeira, o Christos me chama. É muito difícil alugarem o iate por tanto tempo como vocês! Vinte dias! Sai muito caro!
(Shunrei) Eu nem imagino.
(Elli) Bom, quando não estou no iate cozinho para festas e à noite freqüento o curso de gastronomia na faculdade.
(Shunrei) Curso de gastronomia! Deve ser ótimo!
(Elli) É, sim. Sabe, senhora... ehr... Shunrei, estou muito interessada num colega de curso.
(Shunrei) Ai, adoro essas coisas de amor! Como ele é?
(Elli) Lindooo! É estrangeiro, começou o curso comigo. Mas ele não me dá bola. Está sempre na dele.
(Shunrei) Tenta se aproximar dele, sei lá, fala com ele. Quem sabe ele se solta um pouco se você puxar conversa?
(Elli) Vou tentar!
(Shunrei) Depois escreva contando no que deu!
(Elli) Está bem!
Enquanto isso, os rapazes conversam na cabine do iate.
(Christos) Não é uma beleza este pequeno possante, senhor?
(Shiryu) É, comandante. Realmente dá vontade de ter um.
(Christos) Quando comprar, estarei às ordens!
(Shiryu) Obrigado, Christos, mas em breve nos mudaremos da China para o Japão.
(Christos, rindo) Se pagar bem, eu vou pra lá.
(Shiryu, rindo também) Ah, claro!
(Christos) O senhor e sua esposa estão gostando das ilhas?
(Shiryu) Muito, comandante. Foi uma escolha muito bem pensada. Eu queria vir para um lugar com esse, com todas essas cores, esse mar, esse pôr-do-sol. (melancólico) Quando tudo se apagar outra vez, terei belas imagens para lembrar.
(Christos) Apagar?
(Shiryu) Eu já fui cego, Christos. E ao que parece, voltarei à escuridão.
(Christos) Que pena. O senhor é muito jovem.
(Shiryu) Eu já acostumei com a cegueira. Mas me entristece pensar que talvez eu não possa ver os rostos dos meus filhos.
(Christos) Deus sabe o que faz, senhor. Se o senhor tiver de vê-los, verá.
Continua...