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De repente minha visão ficou branca. Não era como se eu estivesse cega, mas era como se nada existisse. Do nada, uma luz forte incendiou os meus olhos. Agora sim, aquilo com certeza havia me cegado. A luz que vem para não deixar-me ver o meu passado. A luz que ia me fazer esquecer tudo. Que ia me levar pra uma nova vida.
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Cap. 18
Trííím. Assustei-me com o som do despertador, ao me acordar às 8h da manhã. Era um domingo lindo, até eu me lembrar de que tinha de fazer um texto de religião sobre ?minha vida? e estudar para a prova de matemática que ia ter segunda.
- Ah, finalmente acordou? Eu, seu pai e seu irmão estamos indo ao clube, quer ir? ? perguntou minha mãe, ao passar pelo corredor e me ver sentada na cama.
- Não mãe, obrigada. Tenho prova amanhã, vou estudar.
- Hum... então tá. Ah, querida, quase ia esquecendo de te dizer: temos vizinhos novos!!!
- Já chegaram? ? eu perguntei, meio desanimada.
- Aham, eu já fui lá dar as boas vindas e tudo. Vai você também, filha. O senhor e a senhora Connor tem um filho gatão. Você precisa ver!
- Aham, sei. ? falei meio sem acreditar, afinal de contas, minha mãe tinha um gosto péssimo pra homens, salvo meu pai... E além do mais, seria um verdadeiro milagre um garoto bonito na minha rua.
Levantei, tomei meu café da manhã e esperei todos saírem pra que eu começasse a fazer o texto de religião. Sinceramente, os professores de hoje em dia não tem nada melhor pra fazerem e mandam agente ficar escrevendo sobre nós mesmos. Mas, o que eu posso fazer, né? Comecei a escrever assim:
?Meu nome é Anne Louis. Moro com meu pai, Augusto, minha mãe, Clarice e meu irmão, Sean. Tenho 17 anos e curso o 3º ano do ensino médio. Me considero uma pessoa legal, às vezes até um pouco engraçada. Gosto de rock e pop rock. Leio muitos livros também. Não tenho namorado, nem quero estar com a pessoa errada; prefiro esperar a certa. Meus planos pro futuro... bem, meus planos pro futuro são os planos de qualquer um: passar no vestibular, trabalhar... e quem sabe um dia me casar e... ter filhos.?
Pelo menos pro início acho que ficou bom. Segui o texto falando de meus anseios, minhas felicidades etc, etc, etc... tudo o que a professora pediu. Quando finalmente o terminei, já era 11:30 da manhã. Meus pais e meu irmão só voltariam à tarde, então minha mãe disse pra eu pedir almoço pra mim. O fiz. E depois de almoçar, comecei a estudar para a prova de matemática.
Sinceramente, eu odeio cálculos. A vida seria melhor sem eles... Mas infelizmente era necessário. Comecei, e estava até entendendo tudo, fazendo todas as questões, quando...
Um solo de guitarra invadiu os meus ouvidos. E depois do solo, uma música inteira começou a tocar. ?Deve ser algum carro de som?, pensei. Levantei-me da janela para olhar, mas a rua estava calma, não tinha ninguém.
O som da guitarra ficou mais alto. Com certeza ligaram num amplificador. Mas que droga! É, até que a pessoa que estava tocando tocava direitinho. Mas não podia ser outra hora? Eu estava estudando!
Fui até a porta da rua para saber quem estava estragando os meus estudos. Na casa do lado direito não era, a da frente também não. Quando uma nota aguda percorreu todo o bairro, minha conclusão estava feita: aquele som veio da casa dos novos vizinhos. Oh, Deus, esta pessoa não vai parar de tocar? Eu não vou conseguir estudar!!!
Eram umas 4h e meia da tarde, se eu fosse esperar a minha mãe chegar para falar com eles só iria continuar a estudar depois das 6h! Eu tinha que fazer alguma coisa, eu não podia ficar ali esperando a pessoa cansar os dedos. Decidi. Vou bater na porta e pedir pra parar com aquele showzinho! Eles chegaram agora e já tão fazendo bagunça na rua? Me poupe!
Me aproximei da porta da casa e respirei fundo. Pensei no que iria falar para ?o senhor e a senhora Connor?. Isso sim seria minhas boas vindas. Bati na porta 3 vezes. Nada. Também, naquela altura, quem iria escutar? Bati 6 vezes. Nada. Resolvi apelar para a voz, já que todo mundo sempre disse que eu falo alto. Gritei:
- SENHOR E SENHORA CONNOOOOOOOOOOR!!!!
Só aí que a música parou. ?Finalmente?, pensei. Quando já estava abrindo a boca pra falar o meu discurso, alguém que com certeza não era nem o senhor e muito menos a senhora Connor abriu a porta. E fez com que todas as palavras fugissem da minha boca e da minha mente.