Minha doce ilusão.

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Querido.

    Sinto sua respiração próxima ao meu rosto, não irei abrir meus olhos. Esse sentimento estranho novamente toma conta de mim, nossos "encontros" escondidos todas as noites tornou-se algo especial. Sua doce mão tocando meus cabelos... Posso sentir o amor passando por seus dedos. Minha alva pele se arrepia com seu toque, oh querido. O desejo de abrir os olhos e ver sua face imaculada é tremenda, entretanto nossos encontros noturnos perderiam o significado.

    Você poderia mostrar-me sua voz? Diga qualquer coisa, meus ouvidos apenas suplicam. Sinto o calor emanando do seu corpo, um calor terno e aconchegante. Como é o calor do seu abraço? Tu poderias me envolver neles por apenas alguns minutos? Talvez eternamente? Oh querido, eu peço-lhe. Como são seus cabelos? Macios ao toque? Oh querido, deixe-me tocá-los ao abraçar-te. Como são as roupas que veste nesse momento? Serão elas feitas do mais macio linho, ou da mais bela ceda? Oh querido, deixe-me senti-las contra meu corpo em nosso abraço.

    Estou ouvindo a melodia da chuva vinda da janela aberta, os pingos batem fortemente no vidro e invadem o quarto molhando o chão. Estou com frio, oh querido me abrace e me aqueça! Sinto a brisa gelada e cortante atravessar meu corpo e arrepiar os pelos dos meus braços. A camisola fina não é suficiente para aquecer-me. Os trovões gritam lá fora, o vento sussurra e eu apenas suplico. Minhas suplicas irão ser ouvidas no futuro? Será lindo se forem no presente. Ah como desejo que logo podemos ficar juntos, unidos pelo correr do fio do destino, entrelaçados por ele, juntos.

    Perdida em meus pensamentos egoístas sou capaz de ouvir sua voz fraca, isso são gemidos de dor? Oh meu amor! Concluo minhas suspeitas do grunhido doloroso e melancólico que sai da sua boca, meu querido... Quero abrir meus olhos e ir ajudá-lo nesse momento de dor. Entretanto tenho medo, tenho medo de perder os momentos ternos que guardo na cega memória.

    O grito torna-se mais alto, ela não pode esperar nem temer. O homem apoiado no divã vermelho está com a mão no peito, como se estivesse tentando prender o sangue que fugia. Ao abrir os olhos, a jovem se assusta com a visão. O que ela vê não é um homem comum, ele tem chifres que brotam da testa, asas de plumagem negra e caninos que brotavam para fora da boca. Ele trajava um vestido negro que ia até os pés, e sua barra parecia uma densa bruma que se misturava ao ambiente. Seus cabelos negros e brilhosos estavam presos por um rabo de cavalo. Em suas mãos havia sangue.

    - O que és tu?! – a moça gritou. Sentia um misto de angústia, amor, remorso e nojo. Um lado dizia para ir ajudá-lo, já o outro mandava que ela ficasse o mais longe possível.

    - Não me olhe. – ele suplicou se encolhendo aos pés do divã. – Não deveria ter aberto os olhos... Não sou digno de seu amor. Perdão, perdão por tudo.

    Ouvindo tais palavras, ela sentiu na entonação da voz da criatura que o que ele falava era verdade. Ele a amava, assim como ela o amou... O amava, ela ainda o amava?

    A ele, ela respondeu. – Não, eu que lhe peço perdão. Amei-o tanto, querer-te-ei tanto, abraçar-te-ei eternamente! – ela se aproximou dele, envolvendo seu corpo com seus braços. Ele cheirava a cinzas e terra, sua pele era macia. No final, só era um homem diferente. – Não pode ficar aqui, papai e mamãe não podem saber sobre você.

    - Estou ferido, lutei para proteger sua pureza. Não tenho para onde escapar estando ferido assim. – ele explicou, da sua voz emanava sofrimento e orgulho.

    - Irei tratar você! Diga-me o que devo fazer!

    O demônio então sussurrou no ouvido dela a solução. No começo da proposta ela se assustou, depois assentiu com um sorriso nos lábios. Viver para sempre ao lado dele, essa afinal não era uma má proposta. Ao terminar o homem selou um beijo apaixonado nos lábios dela, queria há tanto tempo fazer isso.

    Agora ele que a envolvia entre os braços. Rasgou sua garganta com os dentes e deixou o sangue dela se misturar ao seu. Molhando o dedo na mistura, ele fez um desenho na testa da moça e logo em seguida viu-a desfalecer em seus braços. Suas feridas instantaneamente cicatrizaram. Ele então levantou e olhou para o corpo morto aos seus pés, ela morreu sorrindo. Abrindo as asas ele foi até a janela, à chuva gelada resfriava-lhe o ânimo e a euforia.

    - Querida tola, escolheu dar-me sua alma pura para viver eternamente comigo... – ele murmurou sarcástico. – Salvou minha vida com isso, devo-te esse favor.

    Batendo as asas, ele voou até o alto do céu e depois caiu entrando em uma fenda que se abriu na terra. Era hora de encontrar sua amada no mundo dos mortos. 


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