- Sweetz, por favor, me conte o que aconteceu. ? Chermont pediu em uma voz suplicante.
Era de manhã, uma brisa leve entrava da janela juntamente com uma suave luz do sol, que iluminava o quarto parcialmente. Assim, o ar era renovado constantemente sem que muito sol, ou um vento subitamente gelado entrasse, piorando o estado segundo príncipe.
Na cama, Sterling estava deitado de comprido, coberto por um grosso cobertor vermelho com fios dourados. A única parte visível de seu corpo era sua face, ao qual, parecia angustiada. Ao lado da enorme cama com dossel, Sweetz repousava em uma cadeira da escrivaninha, onde havia estado lendo na véspera. Não que precisasse de descanso, simplesmente parecia uma ação humana a se fazer.
Na verdade há alguns minutos antes, ele estava sentado ao lado de seu mestre, na cama, esperando o mesmo acordar. Antes que Sterling pudesse fazer isso, Chermont havia entrado no quarto, e falado que queria conversar com Sweetz. O garoto artificial se recusara a sair do quarto para conversar, então o mais velho pedira pelo menos que se afastasse um pouco.
A escolha havia sido a cadeira da escrivaninha, logo se sentando a pedido do outro. No entanto, olhava constantemente para aquele que chamava de Sterling. Era seu mestre afinal das contas, e era seu dever conservar pelo bem-estar deste. Depois de o bruxo ir embora da mesma forma estranha e misteriosa, o segundo príncipe havia caído no chão, e Sweetz, imediatamente correu para socorrê-lo. A criada chegou, e vendo a cena saiu desesperada, a procura de ajuda.
Quando alguns criados chegaram, junto com Chermont, Sterling já estava na cama, e o loiro ao seu lado. O tutor olhou para a situação de forma atônita e logo quis saber o que havia acontecido. Depois de algumas tentativas infrutíferas de dialogar com a boneca, pediu às criadas que arrumassem o segundo príncipe para ficar mais confortável na cama.
O dia havia se passado lentamente, e enfim, a noite havia chegado. Criadas passaram por ali e Chermont vinha repetidas vezes checar como estava Sterling. O estado dele não havia mudado, permanecia em um sono profundo, do qual não acordou naquele dia. Conversou com Sweetz sobre vários assuntos, como a chegada de Duncan, cuja entrada não foi permitida no quarto do segundo príncipe. No entanto, a conversa era uma forma de se aproximar e tentar entender a situação. O garoto artificial respondeu como respondia no momento.
- Eu não tenho autorização do meu mestre para falar sobre o assunto. ? Respondeu com a face e tom desprovido de emoção.
- Vais continuar com a mesma resposta de ontem? ? Perguntou forçando sua voz a ficar calma.
- A situação ainda é a mesma, senhor Chermont. ? Deixou suas mãos passarem por alguns dos babados do vestido que usava desde o dia anterior.
- Por isso mesmo, ele ainda está desacordado. Desde ontem de manhã. Isso não é normal.
- Ele ficará bem. ? Sentenciou olhando diretamente nos olhos do que estava em pé.
- Conte-me o que aconteceu, por favor! É pelo bem de Sterling! O rei espera pelo motivo disso! ? Andou de um lado para o outro, mexendo nos cabelos que chegavam ao queixo, de modo impaciente. Irritava-se com o fato do outro ser consciente ali, se negar a dizer o que aconteceu, e temia que quando o seu pupilo acordasse, fizesse o mesmo.
- Eu não tenho...
- Por favor, pare com isso. Entenda a situação. ? Parou em frente à boneca, encarando os pequenos olhos negros. ? É para o bem de todos, e para o de Sterling também.
- Sterling irá ficar bem.
- Como? ? Indagou confuso.
- Sterling...
- Estás o chamando pelo nome... Qual motivo? ? Estranhou franzindo as sobrancelhas para o que estava à sua frente.
- Não estou autorizado a falar sobre isso. ? Desviou os olhos para onde repousava seu mestre, ainda vendo seu peito subir e descer levemente, com o ritmo de um sono profundo.
- Isso me deixa frustrado! Só quero o bem dele! Não é diferente de ti, que é fiel a ele... São simplesmente preocupações diferentes. ? Tentou explicar.
- Desculpe senhor Chermont, o senhor parece mesmo se importar com meu mestre, mas não posso trair a confiança dele. É algo impróprio para a conduta de uma boneca.
- O que vem primeiro? Sua lealdade ou a segurança dele? ? Tentou convencê-lo, esperava que pelo menos ele refletisse alguns minutos, mas não foi o que ocorreu.
- Desculpe, mas se eu soubesse que é uma verdadeira situação de perigo eu te contaria, mas Sterling ficará bem. ? Disse prontamente.
- Não podes ter tanta certeza! Tu podes não ser humano, mas ainda não tens o dom de prever o futuro! É algo inconcebível que tu não uses a razão em um momento desses.
- Desculpe senhor Chermont.
- Pare de se desculpar e me diga o que aconteceu para o jovem amo desmaiar e não voltar mais! ? Exclamou, já perdendo a compostura.
- Eu não posso.
- Vós íeis cavalgar? Ele disse isso a ti, não foi?
- Eu não tenho autorização para... ? foi interrompido.
- O que vos fizeram desistir? O que o fez desmaiar? Nem estavam vestidos para tal coisa...
Dessa vez, Sweetz não disse nada, somente desviou seus olhos da face irritada de Chermont, para a cama próxima. Queria estar sentado ao lado de seu mestre, para estar pronto quando ele acordasse e necessitasse de algo. Podia repetir a frase sobre não estar autorizado para sempre, mas sabia que não iria adiantar. O tutor parecia não querer aceitar sua resposta, e não havia como fazer entendê-lo que não podia contar algo sem autorização.
Era uma regra simples e básica. E aquele homem, que parecia tão inteligente, parecia não entender. Pensou que o motivo poderia ser a preocupação que estava atormentando-o, e fazia sua capacidade de raciocínio falhar em alguns pontos. Então, Chermont só estava realmente preocupada com o mestre. No entanto, ainda não conseguia entender o alarde dele, sabia que Sterling iria acordar a qualquer momento. Era esse o motivo de sua vigília constante.
- Sweetz, responda-me.
- Não posso falar nada sobre o assunto.
- Então espero que sua convicção possa o fazer acordar realmente. ? Disse com uma rispidez não natural a sua pessoa e logo, saiu a passos largos. Ainda aparentando irritação.
A boneca não demorou a voltar à cama. Sentou-se do lado se deu mestre, não muito perto, nem muito longe, o que considerava, em sua cabeça, o espaço certo. Olhou para Sterling, observando suas feições. A pele estava pálida, mas a angústia parecia se esvair aos poucos dando lugar a uma aura serena a face do jovem. A boca se entreabriu um pouco, e o metal em seus lábios reluziu. De seus lábios saiu um suspiro fraco, e o corpo se remexeu.
Pendeu a cabeça de leve, observando a cena. O corpo se mexeu sobre as cobertas grossas e depois parou. Depois de alguns minutos de observação, Sterling fez aquilo de novo. Deixou sua mente ali, em seu mestre, não soube quanto tempo. Ou talvez soubesse, sua cabeça era feita para esse tipo de cálculo exato, mas não pensava sobre o tempo. Aquilo era ínfimo em relação ao seu mestre. Sterling, que havia o retirado daquele outro homem de olhar frio.
O corpo se remexeu um pouco mais, virando-se de lado, e depois voltando à posição original. Sweetz se aproximou um pouco, saindo do que achava o espaço certo, e viu os olhos do mestre se abrirem, e piscarem algumas vezes. A primeira coisa que o segundo príncipe viu naquela manhã, foi uma face delicada, de cabelos loiros curtos e desfiados, que chegavam aos ombros e pequenos olhos negros, muito perto do seu rosto. Deixou um sorriso pequeno nascer em sua face.
- Bom dia, Sterling, é bom que tenha acordado. ? Afastou-se um pouco de seu mestre, sentando-se nas cobertas, que se misturavam com seu vestido.
- Bom dia, Sweetz. ? Disse ainda meio grogue, erguendo-se e deixando suas costas encontrarem a cabeceira da cama. Espreguiçou-se e esfregou os olhos com ambas as mãos. Piscou deixando seus olhos vagarem pelo quarto, e recaírem sobre a boneca. ? O que aconteceu? Eu só me lembro daquele bruxo falando para mim que... ? piscou várias vezes.
- Tu dormiste quase um dia, Sterling. ? Informou. ? O que o bruxo te disse?
- Tudo isso? De verdade? ? Indagou.
- Sim. ? Acenou a cabeça positivamente. ? O que o bruxo te disse? ? Repetiu a pergunta.
- Não quero falar sobre isso. ? Desviou os olhos, mirando a janela aberta, por onde Cross havia entrado. As palavras que ele havia dito, ecoando em sua mente. Parecia tão irreal, que pensaria que estava louco, se a boneca não tivesse ali, confirmando a história.
- Se isso fez o senhor desmaiar, não seria algo importante, que eu devesse saber?
- Não. ? Continuou a observar a porta. ? Não quero mais falar sobre aquele ser estranho.
- Se o meu mestre deseja. ? Disse simples.
- O que aconteceu enquanto eu dormia? ? Finalmente voltou-se para Sweetz, que continuava com a expressão de sempre.
- Eu te coloquei na cama e... ? foi interrompido.
- Tu me colocaste na cama? ? Indagou incrédulo.
- Sim. ? Pendeu a cabeça de lado. ? Algum problema com isso, Sterling?
- Não... Só não sabia que era capaz de fazer isso. ? Disse a verdade. No entanto, pensando bem, deveria ter misturado a imagem que tinha de Sweetz, um ser frágil, do que ele realmente era. Sabia que bonecas tinham uma capacidade inigualável de se adaptar, principalmente em situações extremas.
- Sterling estava precisando, então, eu simplesmente o fiz. ? Explicou.
- Eu me esqueço das suas habilidades, desculpa. ? Sentia-se culpado por esquecer detalhe tal importante.
- Não precisa se desculpar, Sterling. Os mestres não fazem isso.
- Quem te disse isso? ? Franziu as sobrancelhas deixando as mãos caírem subitamente em seu colo.
- Eu simplesmente sei. São as informações básicas.
- Esqueça isso, eu me desculpo, eu erro como qualquer outro. ? Passou a mão pelos cabelos, deixando-os desgrenhados.
- Se é o que Sterling deseja.
- Então... O que aconteceu depois?
Sweetz narrou os acontecimentos desde o desfalecimento do moreno presente ali, até a conversa que há pouco tivera com o tutor. O Segundo príncipe ouviu atento o que a Boneca pronunciava, fazendo apenas alguns comentários. No meio das pessoas que não vieram ali, estava seu pai.
Não que fosse estranho ele não o visitar, porém, ás vezes tinha esperanças que o rei se importasse consigo. Seu primo não tinha sido permitido de entrar, o que era um alívio. E Chermont só estava preocupado com tudo como sempre. Ao terminar de contar os fatos, Sweetz pediu permissão para chamar as criadas, para vestir o príncipe, e trazer algo para um desjejum. Sterling deu a permissão, pedindo que se encontrasse o tutor, que transmitisse a ele, que estava acordado e melhor.
Sweetz saiu do quarto, meio relutante em deixar seu mestre sozinho, porém, era para seu bem estar que estava saindo. Andou pelos corredores, encontrando uma das criadas e informando a situação, que Sterling estava acordado e que precisava de comer e de um banho. Não demorou até uma das mulheres, preparar a grande tina com água quente, e Sterling se direcionar até o lugar propício.
Sweetz esperou pelo seu mestre no quarto, lendo os livros que ainda não havia terminado. Sterling avançou pelo quarto com feições melhores, a angústia que estava presente em seu rosto havia desaparecido. Parecia apenas pensativo, como se refletisse algo de suma importância. Convidou o loiro para ir à biblioteca, dizendo que tinha encontrado com Chermont, e havia pedido que levasse o manuscrito, que tanto desejava ler. A boneca recolheu o que estava lendo, e desceu com seu mestre até a o lugar que almejavam.
O cheiro de livros antigos encheu as narinas de ambos à medida que entravam no recinto que estava fechado, pelo visto o tutor ainda não havia chegado. Sentaram-se na grande mesa de nogueira, e Sweetz depois de solicitar permissão para ler, que foi concedida, se concentrou na leitura. Sterling observou a porta esperando pelo outro homem, que não demorou a chegar. Ele ainda tinha aquela face preocupada, e não entendeu o motivo para tal sentimento.
- Segundo príncipe. ? Aproximou-se da mesa com um livro nas mãos. ? Está aqui, mas antes, vamos conversar um pouco. ? Sentou-se ao lado do Segundo príncipe.
- Sobre o que? ? Indagou sabendo sobre o que o outro desejava conversar, mas tendo um pouco de esperança de que não fosse sobre o seu desfalecimento.
- Qual o motivo de desmaiares de tal maneira, e acordar apenas um dia depois? ? Perguntou claro e direto.
Desviou os olhos do moreno mais velho, indo parar no loiro que estava concentrado, parecendo alheio a conversa que iria ter com Chermont. As palavras sussurradas por Cross em seu ouvido vieram com tudo, fazendo-o fechar os olhos por um momento. Abriu-os logo, não querendo deixar transparecer o quanto o assunto fazia-o mal, ainda não sabia como proceder mediante o que havia escutado, nem se deveria contar o ocorrido com o bruxo.
Mesmo a existência de tais seres fosse conhecida, não era banal eles se envolverem daquela forma direta com os humanos, apenas fabricavam as bonecas. Pelo menos nunca comentaram sobre um bruxo beijando bonecas. Beijo. Lembrar-se daquele ato em particular lhe fez uma raiva sem motivo aparente brotar em seu ser. Cross não tinha direito de beijar sua boneca. Sweetz era seu, e somente seu.
- Jovem amo? ? Ouviu alguém o chamando, atraindo sua atenção.
- Desculpe, estava me lembrando de algo extremamente irritante. ? Piscou olhando para quem o chamava.
- Quer me contar o que é? ? Perguntou com a voz amena, percebendo que deveria ser algo interessante.
- Não é necessário. ? Fingiu desinteresse.
- E sobre a minha outra pergunta? Irá responder?
- Eu deveria estar muito cansado, e desmaiei. Dormi até que meu corpo se sentisse satisfeito. Simples assim. ? Sorriu, pensando que nem ele mesmo acreditava em suas palavras. A primeira desculpa que sua mente pudera inventar. Devia ter pensado sobre aquela conversa mais cedo, assim poderia ter pensado em uma desculpa melhor.
- Estás querendo me enganar? O que houve contigo? ? Percebeu a nítida mentira.
- Nada, já disse. ? Balançou a cabeça negativamente. Mirou o livro nas mãos do mais velho, com um brilho no olhar. ? Vou poder, enfim, ler?
- Quando me contares o que aconteceu de verdade.
- Já contei. ? Tentou alcançar o livro.
- Está bem. ? Suspirou pesarosamente. ? Eu conheço sua teimosia, e sei que não irás me contar. ? Não deixou Sterling pegar o objeto em suas mãos. ? Mas... Ainda tem outra pergunta.
- Pergunte, professor Chermont. ? Suspirou também, voltando suas mãos para cima de mesa e tamborilando os dedos de forma impaciente na superfície.
- Tu ias cavalgar sozinho? ? Questionou de forma lenta.
- Não. ? Era verdade, ele iria com o Sweetz no final das contas.
- Irá escapar dessa vez, pois não o fez... ? entregou o livro nas mãos do príncipe.
- Fiz o que? ? Deixou sua voz transparecer inocência.
- Sabes bem... Não preciso repetir, jovem amo. ? Negou com a cabeça.
- Professor Chermont sempre tão preocupado. ? Olhou com admiração para a capa de couro vermelho, com grandes letras pretas que diziam ?Arte da vida?*. ? Irei me concentrar em minha leitura agora.
- Está bem, tenho alguns livros para buscar no fundo da biblioteca. ? Pronunciou se levantando, e fazendo o que havia dito. Desapareceu entre o infinito de estantes.
- Esse é o do senhor Casty? ? A boneca retirou os olhos do livro que estava em mãos, olhando para o que estava com o outro sentado à mesa.
- Sim... Quer que eu leia para ti? ? Perguntou de forma impulsiva, relembrando que nunca tinha feito aquilo antes.
- Se o mestre desejar.
- Contigo é sempre assim. ? Suspirou ? Irei ler então. ? Pensou que se fez tal oferta, deveria continuar com ela, testando-a.
- Certo. ? Fechou o que estava em suas mãos, repousando-o na mesa.
- Eu acorde de uma utopia aqui. ? Começou a declamar o poema, falando pausadamente. ? Em meio a monstros e anjos/ Esquecendo-me de distingui-los/ Revelando conceitos/ Estranhando atitudes/ Ficarás até eu estar melhor?/ Apenas estejas por perto/ O vento assobia uma resposta.
- Ainda continua com seu gosto por livros, não é, Sterling? ? Uma voz alta e irônica soou. O que fez os dois presentes perto das portas, olharem para quem entrava. Um jovem mais alto que todos os presentes ali, e moreno andava a passos largos com roupas nobres e ostentando um sorriso contente.
- E tu com o desgosto por eles, Duncan. ? Respondeu na mesma voz irônica, não gostando de usar aquele tom. Usando-o, pois não lhe agradava em nada a maneira como o mais alto falava de sua preciosa fonte de cultura. Fechou o livro em suas mãos, olhando-o com seriedade.
- Não desgosto, meu caro príncipe de Squartland. ? Aproximou-se por fim da onde estavam os dois. ? Só prefiro fazer outra coisa em meu tempo livre. ? Seus olhos recaíram sobre a única figura loira presente.
- Gastando seu tempo com futilidades... ? resmungou, percebendo o olhar estranho que o outro lançava a sua boneca.
- E quem é esta? ? A voz tornou-se mais gentil e amável, enquanto aproximou-se da boneca que o olhava com a expressão de sempre.
- Não é ?esta?. ? Falou friamente. ? Esse é o Sweetz. Ele é uma boneca, e um garoto. ? Sorriu pensando que tal informação faria o outro recuar, e parar com aquele olhar estranho.
- Sim. ? A boneca levantou-se fazendo uma reverência educada. ? Eu sou o Sweetz. É um prazer conhecê-lo. ? Voltou à postura reta, com as mãos juntas na frente do vestido.
- O prazer é todo meu. Então é uma boneca? ? Pareceu mais animado ainda. ? Há raras em nosso reino. Eu havia visto algumas, mas essa é tão... Aliás... Esse ? deu ênfase -... É tão lindo. ? Olhou-o admirado.
- Não se aproxime! ? Exclamou parecendo prever as ações que se sucederam.
As imagens pareciam repetidas como as ocorridas com Cross. Duncan se aproximou o suficiente para segurar na cintura esguia do loiro, e puxar para si. Logo depois do impacto entre ambos os corpo, o moreno passou os dedos longos pela bochecha pálida, acariciando. Selou os lábios de forma casta, fechando os olhos. Quando fez menção de pedir passagem entre os lábios rosados, uma pancada atingiu-lhe em cheio a face. Bambeou com o golpe, desvencilhando-se da boneca, e retrocedendo alguns passos para trás.
- Ai! ? Gemeu de dor, pressionando com as mãos a bochecha onde havia sido atingido, fechando os olhos fortemente. Depois os abrindo, encarando Sterling na frente de Sweetz, em uma posição protetora com os braços.
- O Sweetz é meu e tu não podes sair beijando-o dessa maneira! O que tu pensas que estava fazendo? ? Gritou de forma audível.
Sabia que deveria manter a compostura. E que aqueles certamente não eram modos de um príncipe, entretanto, não se importou naquele momento. Seus olhos continham uma fúria estranha. E o recém-chegado pensou que o príncipe devia ter mudado muito desde a última vez que havia o visto. Parecia mais maduro, todavia mais bruto também.
- Não sabia que tu irias ficar tão irritado... Gosta tanto assim do Sweetz? ? Indagou fazendo uma massagem em seu rosto, logo, deixando a mão pender.
- Ele é meu. E tu não tens nenhum direito sobre ele, muito menos aqui, onde não tens nenhum poder. ? As palavras pareceram fazer efeito, pois o outro desviou os olhos para o chão.
- Era apenas um beijo... Não precisavas ser tão ciumento. ? Seus olhos se nublaram por alguns segundos, como se lembrasse de algo distante e doloroso, mas logo voltaram a ficar animados, voltando a encarar o segundo príncipe.
- O que está acontecendo aqui? ? Outra voz pôde ser ouvida, provinda de detrás das estantes. O tutor moreno apareceu, olhando inquisidor para Sterling e Duncan.
- Esse senhor que não reconhece seu próprio lugar. ? Sterling disse olhando para o mais alto de todos.
- Eu apenas beijei o Sweetz... Bonecas são raras no meu reino. Elas são comuns aqui, só queria experimentar para ver se o gosto era bom. ? Sorriu olhando para o garoto artificial, falando a verdade. ? E foi muito bom...
- Como ousa...? ? Iria começa a falar palavras de baixo nível, quando foi interrompido.
- Parem com isso! ? Exclamou o mais velho. ? Jovem amo, já não adianta fazer nada. Agora que aconteceu não se pode mudar. E tu, - olhou para o que passava a mão pela bochecha de novo ? já que sou teu encarregado, de agora em diante também terá que se comportar.
- Tu és encarregado dele?! ? Olhou alarmado para Chermont. ? Isso quer dizer que irás ser tutor dele também, professor Chermont?
- Sim. ? Respondeu simples.
- Mas ele só veio ficar um tempo.
- Será apenas nesse tempo. ? Usou um tom calmo com o intuito de amenizar a situação. No entanto Sterling teve a sensação que não seria um tempo curto.
- Adorarei ser seu pupilo... Professor Chermont, certo? ? Aproximou-se a passos leves do outro, que achou muito estranho a súbita mudança de humor de Duncan.
- Sim, esse é o meu nome. ? Respondeu estreitando os olhos.
- Hey, Blaise... Parece que já conheceu o professor Chermont, não é? ? Outra pessoa entrava no recinto. Todos se voltaram para observar Cliff entrar sorrindo. Este, olhando primeiramente para o primo, e depois para o irmão.
Sterling pensou que a biblioteca, estava movimentada demais naquele dia. Aquele lugar que era sempre tão silencioso parecia ser invadido por todas as pessoas. E nada de poder ler sem ser interrompido. Além do mais, ainda não queria conversar com o primeiro príncipe. Ainda não sabia como ele pôde fazer algo tão horrível a Sweetz. Ao qual, direcionava um olhar de soslaio, enquanto se aproximava.
- Sim, e acho que vamos nos dar bem... ? Duncan sorriu para o tutor, que ainda olhava-o estranho.
- Espero que sim. ? Voltou sua face para observar o irmão. ? Disseram-me que já estava melhor. Fico feliz que já esteja recuperado. ? Deixou um sorriso de canto, enquanto observava a boneca atrás de Sterling.
- Sim, estou muito bem, Nakeith. ? Chamou-o pelo sobrenome da mãe plebéia, sabendo o quanto o outro ficava irritado quando o usava.
- Nakeith? Isso é um apelido teu Cliff? ? Indagou Blaise.
- Não. ? Respondeu frio. ? É apenas algo que não deve ser lembrado, muito menos mencionado. ? Encarava diretamente os olhos que pareciam tanto com os seus, que haviam herdado do pai comum.
- Quer algo importante? Nunca vem aqui... Algum motivo para a tua presença na biblioteca? ? O segundo príncipe perguntou, não imaginando o motivo do outro para descer até ali. Certamente não era para ver o seu estado de saúde.
- Não venho aqui, pois tenho coisas mais importantes a fazer. ? Disse como se fosse algo óbvio, o que fez Sterling revirar os olhos discretamente. Irritado com tamanha arrogância. ? Vim apenas para comunicar-lhe. Já que certamente nosso pai não o fará. E o professor Chermont ainda nem tomou conhecimento.
- Sobre o que é tal comunicado?
- Amanhã haverá uma festa aqui no castelo.
- Não é novidade... Quando vós chegais, sempre há bailes por aqui.
- Esse é especial.
- Por quê?
- Será o meu noivado. Minha futura esposa está chegando.
- Noivado? ? Repetiu a palavra, incrédulo.
- Sim.
- Com quem?
- Filha de alguma família bem estabelecida de nosso reino. ? Sorriu. ? Por isso fiquei feliz que acordou, assim, poderá comparecer amanhã.
- A data não está muito perto?
- Apenas para tu que está sabendo hoje. Nosso pai vem arrumando isso há muitos meses. ? Explicou.
- E qual o motivo de me apenas me contar hoje?
- Foram ordens dele. Só estou as cumprindo. ? Sorriu. ? Agora, tenho algo importante para fazer.
- O que?
- Não é de seu interesse. ? Votou-se para Duncan que olhava a cena ao lado de Chermont. ? Até mais. ? Sorriu virando-se em busca da porta. Saiu dali sem esperar nenhuma resposta.