Estava frio, mas eu não me importava, era noite, minhas pernas estavam tremulas, mas eu continuava dando passos sem rumo, no meio da rua, pedrinhas machucavam meus pés, a camisola de hospital estava completamente molhada e colada ao meu corpo deixando a mostra as minhas curvas definidas, meus olhos estavam perdidos, cansada, desolada, maldita amnésia, maldito seja quem fez isso comigo. Afinal por quanto tempo fiquei desacordada? Dias? Semanas? Meses? O-ou anos?
As pessoas não deveriam se ajudar ao invés de trazer mais sofrimento e discórdia? As pessoas não deveriam ser solidarias e úteis ao invés de ambiciosas e fúteis? Não entendo. Posso não me lembrar de mim ou de outras pessoas, mas tenho noção do que é certo e errado, tenho noção das coisas do mundo, não sou ingênua...
Continuava a caminhar sem rumo, o olhar fixo no nada, e mais uma vez eu tremo e estremsso devido ao frio.
?Mas minha filha oque fazes na rua !!! - Uma senhora, de cabelos já grisalhos, e olhos negros, usava um casaco de lã vermelha, uma bota, preta, meia-calça preta, saia até os joelhos marrom escura, e uma blusa de mangas longas, azul-bebê, e um lenço vermelho com azul escuro no pescoço, carregava um guarda-chuva e uma bolsa de couro marrom, ela olhou pra mim e correu a meu socorro.
Eu a olhei, meus olhos sem vida, então tremi novamente e cai de joelhos no chão, a senhora me abraçou e entregou-me seu casaco vermelho de lã colocando o sobre meus ombros, e então me ajudou a levantar, e me ajudou a caminhar, apenas deixei-a me guiar, nós caminhamos por um bom tempo e então eu vi uma casinha de madeira, fofa e aconchegante, sorri ao imaginar aquela senhora e seu marido de mãos dadas sentados em frente a lareira e apenas apreciando a presença um do outro, ela abriu a porta, (sem me soltar) e então guiou-me para o banheiro da casa, encheu a banheira com água quente e disse-me para tomar um banho quente seria bom, ela me ajudou a tirar a roupa e me ajudou a tomar o banho.
?Nossa você esta muito magra, mas tudo bem a vovó vai cuidar de você minha pequena. - disse enquanto saia do banheiro.
Eu a segui com o olhar até ela sumir da minha vista.
?Ainda bem que ainda existem boas pessoas nesse mundo.- sussurrei para mim mesma.
Relaxei na banheira aquela sensação era maravilhosa, quanto tempo que eu não tomava um banho...
? Aqui essas roupas são de minha falecida filha, acho que ficarão boas em você disse enquanto me entregava uma toalha.
Ela me ajudou a sair da banheira e me enrolou na toalha.
?Pronto, sente-se melhor pequena? Eu vou terminar de arrumar o jantar, você deve estar faminta. - sorriu calorosamente, um amor enorme me invadi-o, aquela senhora cuidando de mim sem pedir nada em troca sem nem mesmo me conhecer.
?Obrigada, é bom saber que ainda tem pessoas que se importam...- disse baixinho , e ela olhou pra mim e sorriu.
?Querida, oque você quis dizer com ainda?- perguntou.
?É que são muito poucas as pessoas que se importam com outras, e é uma questão de tempo para tudo mudar... - disse fitando o nada.
?Entenda uma coisa mocinha, enquanto tem pessoas desejando o mal de outras, famintas por vingança, pessoas que não se importam com outras, sempre, sempre terá outras querendo ajudar, cuidar e amar. Podem ser poucas essas pessoas, mas sempre existirão, onde tiver o mal, o bem se levantara, entendeu minha criança. - disse enquanto acariciava minhas costas., então se virou e saiu.
Eu me sentia renovada, tocada no fundo do coração, sentia um calor enorme me invadindo, aquela senhora, tão amável, tão quentinha e querida...
Vesti a roupa que ela me dera uma meia calça, listrada em tons de cinza preto e rosa claro, um vestido preto de mangas longas que ia até os joelhos, um casaquinho de lã rosa claro botas pretas de cano baixo com lã dentro, e uma toca bege. Muito fofa a roupa, e quentinha. Sai do banheiro pronta, e segui o cheiro de comida, realmente eu estava faminta.
?Minha querida, a roupa lhe caiu perfeitamente, você até se parece com minha filha!! - sorriu, mas dessa vez fora um sorriso melancólico.
?Desculpe-me se eu te trago más lembranças- digo fazendo uma breve reverencia em sinal de perdão.
?Para com isso minha pequena, não tem com o que se preocupar, já faz um tempo. - disse voltando ao seu sorriso terno.
?Mas sabe que é engraçado, você se parece muito com minha filha, ela era loira como você mas os cabelos eram mais curtos batiam um pouco depois dos ombros, os olhos são da mesma cor mas, o seu semblante é mais sério e mais magro, minha filha era sempre sorridente, até mesmo nos piores dias....vocês são muito parecidas.....
Sorri - Ela devia ser uma garota de sorte ter uma mãe tão boa quanto você- ela deu uma risadinha e sussurrou um "brigada hihi".
Dei uma olhada na mesa, torradas,mel,chá,leite quente, salame, queijo, geleias de morango, uva e figo, alguns biscoitos, e pão.
?Sente-se, a sopa já vai ficar pronta, enquanto isso, pode comer à vontade. - nesse mesmo instante minha barriga roncou alto, acho que até mesmo a senhora ouviu, eu corei e me sentei e comecei a comer, um copo de leite quente, uma torrada, com geleia de morango, depois um biscoito e chá, pão com salame e queijo, e assim foi até estar quase satisfeita.
Ela colocou a panela com a sopa quente, e abriu a tampa, estava bem quente, era sopa de legumes.
Peguei um prato que ela me ofereceu, o enchi de sopa e provei-a, estava deliciosa.
? Huuum esta uma delicia!!
? Concordo ainda bem que tenho companhia esta noite, geralmente é tão calmo, quieto e... Chato. - ela deu uma risadinha. - É bom ter alguém com quem compartilhar, momentos gostosos como esse.
Sorri.
?E o seu marido? - perguntei, acho que fiz a escolha errada, seu sorriso desapareceu por um instante, e depois voltou a ser um sorriso terno mas dessa vez falso, ela não queria sorris.
?Ah minha querida, meu marido já é falecido a um tempo...
?Desculpe por perguntar, não queria vê-la tendo de forçar um sorriso.
? Tudo bem às vezes é melhor dar um sorriso falso ao invés de chorar na frente de alguém não é mesmo?
Assenti, e comemos em silencio, logo ela voltou a falar.
? E você mocinha oque fazia na rua a esta hora.
Uma batida do meu coração falhou.
?Bom é uma longa história. - disse fechando o punho.
?Temos muito tempo. - disse a senhora olhando para o relógio, ela estava certa não se passavam das 10 horas da noite.
Contarei a ela, ela me ajudou me alimentou deu roupas e carinho é o mínimo que ela merece certo?
?Bem,, por onde começar..... Antes de a senhora me encontrar, eu estava num hospital, abandonado, não muito longe de onde a senhora me encontrou, eu estava internada lá, eu acordei e descobri que havia perdido minhas memórias, não sei quem sou não sei de onde vim nem mesmo meu nome, nada, é isso que me lembro pra mim minha vida começou no momento em que eu encontrei a senhora, enquanto eu estava no hospital tentando caminhar, e descobrir quem sou e oque eu faço li, e por que me deixaram ali, eu achei um jornal, que dizia, sobre um acidente de carro, e que ambos o motorista embriagado e a garota que estava no carro, estavam internados em estado grave, e bom acredito que essa seja eu, mas eu ainda não intendo, por que ninguém estava lá comigo,eu acho que ninguém se importa, ninguém ao menos lembra de mim, mas fazer oque, agora meu único objetivo é encontrar aquele maldito motorista e faze-lo pagar, pelo que fez comigo, prometi a mim mesma que vingaria todas as vidas que foram destruídas, por causa de pessoas que não se importam, eu prometi que salvaria esse mundo de pessoas que enganam, que machucam, que matam, e que não se importam. Eu farei todos pagarem por fazerem as pessoas ao seu redor sofrerem. - A esse ponto eu já estava elevando a voz, e estava sentindo raiva, desgosto, e tristeza. até a vovó falar.
?Ah minha querida, você procura vingança... A vingança nunca é plena, mata a alma e envenena ( uahsuha seu madruga ^-^) . Perdoe aqueles que te fazem mal, e siga em frente, essas pessoas podem ter tirado parte de sua vida, mas você decide segui-la em frente, recomeça-la ou continuar vivendo do passado, e não cabe a nós vingar ou não a morte de pessoas queridas. Minha pequena, nunca se esqueça, que o perdão é a chave para um mundo melhor. - disse segurando minhas mãos, os sentimentos ruins se foram e em seus lugares vieram o conforto, a paz e o amor, eu precisava de mais daquele sentimento, levantei-me da cadeira e abracei aquela doce senhora, lágrimas desciam do meu rosto.
"desculpa, mas eu não posso deixar as coisas assim, perdoar isso eu jamais serei capaz de fazê-lo eu não tenho honra ou tamanha força de vontade para seguir em frente, Gomen !! "- isso era oque tinha em minha mente, e era verdade, eu não tinha forças, para faze-lo, mas por enquanto irei acreditar que eu posso, que sou capaz, apenas para ser tomada pela maravilhosa sensação de ser amada.
Abracei-a e ela acariciava minhas costas, meus cabelos e beijou o topo da minha cabeça enquanto cantava uma musica de ninar.
Neste momento uma imagem de uma mulher loira e olhos cor de mel, fazendo a mesma coisa que a senhora fazia comigo, mas com uma garotinha pequena loira, e ela cantava e eu ouvia as 2 vozes e eram idênticas, eu fiquei atordoada e chorei mais.
?Querida, lembrei-me que nem falei meu nome, que falta de educação a minha! Eu me chamo Layla, Layla Heartphilia, mas apenas Layla ou vovó já esta ótimo. - sorriu, e me abraçou forte, sequei as lágrimas e sorriu torto.
Layla......... Esse nome........