'O Gato apenas sorriu quando viu Alice.
Parecia de boa índole, ela pensou, mas não deixava de ter garras muito longas e um número respeitável de dentes, por isso ela sentiu que devia ser tratado com respeito.
― "Gatinho de Cheshire"... começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome,mas ele abriu mais o sorriso.
A voz parou por um segundo, e folhe-ou o livro.
― "Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para sair daqui?"
― "Isso depende bastante de onde você quer chegar", disse o Gato.
― "O lugar não me importa muito...", disse Alice.
― "Então não importa que caminho você vai tomar", disse o Gato." [...]'
A voz sussurrou, era a terceira ou quarta vez que essa mesma voz, suave e aveludada lia esse livro para o rapaz. Apesar disso, era diferente a cada leitura, como se não fosse algo novo.
― Bem, volto rapido. ― suspirou interrompendo a leitura, a respiração dela batia delicadamente no rosto dele ― Vou trocar as flores. ― acrescentou. Labios quentes tocaram sua testa e num gesto repentino ela saiu da sala.
Não demorou muito para a jovem retornar, o cheiro primaveril das flores invadiu o quarto. Ela colocou as flores proximo a cama.
― Agora o quarto esta bem mais bonito. Queria que tivesse acordado para ver essas lindas flores e o céu, o dia esta lindo. ― houve um breve silencio. ― Ah, esqueci. Espera um pouco.
Ela saiu novamente, Piers sentiu seu corpo mas leve o que possibilitou os movimentos. Abriu lentamente os olhos, acostumando-se com a forte luz do aposento, levantou-se com um pouco de esforço e olhou em volta, ele estava só.
― Quase esqueci dos pires e da agua... ― o barulho alto de coisas quebrando, fez o rapaz virar-se para quem tinha feito o barulho. Ele encontrou uma jovem que o olhava de um modo assustado e surpreso, em passos rapidos a garota chegou até ele.
― Ah, Deus. ― ela disse ainda surpresa. ― Como você se sente ?
― Bem, onde estou ? ― perguntou, massageando a tempora.
― Você esta na minha casa, nós te encontramos muito ferido e te trouxemos pra cá. - ela sorriu. - Me chamo Helen, prazer. Você lembra do seu nome ?
― Argh, sim. Sou Piers.
― Esta tudo bem mesmo ?
― Minha cabeça esta doendo, mas estou bem sim. Ah, quanto tempo...?
― Você ficou em coma ? Por três meses e meio.
'Três...meses ?' pensou, sua cabeça estava dando voltas, era muita coisa para assimilar. Ele lembrou de tudo que ocorreu a três meses atrás, mas o que realmente intrigava...ele não poderia estar vivo...e o virus. Esse pensamento fez sobressaltar, seu corpo não havia força suficiente e com isso quase caiu mas Helen o amparou.
― O que foi, Piers ?
― U...um espelho
― Eu pego, não precisa se esforçava tanto. ― Helen indireitou o corpo, depois o levou novamente para a cama. O suave aroma de lavanda vinda de Helen, chegou aos seus pulmões, enchendo-os.
Helen pegou um espelho no emaranhado de coisas na pequena gaveta do armario, entregou a ele. A principio ele resistiu, tinha receio de olhar-se e ver o que não queria, um monstro.
― Não se preocupe... - Helen sorriu, Piers olhou seu reflexo e diferente do que pensava seu rosto estava normal, sem a minima deformação.
― O que houve...
― Com seu rosto ? Voce deve isso para minha mãe e a Anna, não sei o que fizeram mas salvaram sua vida.
― Mas com...?
― Essa pergunta poderá fazer pessoalmente a elas. Já que acordou trarei algo pra você comer.
― Espere, Helen...
― Ah, sim ?
― Obrigado. ― Os olhos deles se encontraram, ela rapidamente esquivou-se do olhar inquisitivo de Piers, e um rubor leve revestiu sua palidez, Com um misto de alegria e surpresa, Helen saiu do quarto. Piers ficou observando ela se afastar, suas mãos alcançaram um exemplar de 'Alice no pais das maravilhas', pegou-o e começou a folhea-lo, já ouvira a historia tantas vez que podia reconta-la com os mais perfeitos detalhes, não era tão ruim até então, isso o mantinha entretido enquanto estava desacordado. Ele devia muito a Helen de alguma forma sentia-se bem perto dela. Assim que ela voltou, Piers colocou o livro onde o pegara, aproximou-se dele em passos rapidos e graciosos.
― Espero que goste... ― murmurou ela, colocando uma bandeja de frente a ele.
Delicadamente ele cortou um generoso pedaço da panqueca, Helen ajudou-o pacientemente em alguns momentos.
Algum tempo se passara, depois de ter comido, Helen trocou suas ataduras e limpou as feridas quase cicatrizadas. Piers se sentia terrivelmente cansado. Não sabia o porque, passou grande parte do dia numa cama. Suas pálpebras sacuriram-se e abriram.
― Acho que precisa descançar - disse suavemente. ― O remedio deve estar fazendo efeito, por isso senti-se tão cansado. ― respondeu, ele parecia que tinha lido a mente dele.
Helen pegou o cobertor e o cobriu, e hesitante e constragida deu um leve beijo na testa dele, logo depois dele cair totalmente no efeito anestesico do remedio.
― Boa noite, Piers.