Lá estava eu... fantasiada de bruxa na noite de Halloween, na frente da casa do meu melhor amigo... sozinha. Estava frio e minha saia não era comprida o suficiente nem para tampar os meus joelhos, apenas uma fina meia-calça preta. Toquei a campainha de sua casa mais uma vez, já estava ficando aflita... Ouvi leves passos se aproximarem da porta e deduzi que era ele. Ajeitei meu cabelo rapidamente com minhas mãos cobertas por luvas pretas e desamarrotei minha saia.
? Já chegou? - ele disse abrindo a porta com um lindo sorriso. Usava uma blusa branca e uma calça social, longa capa preta que cobria toda sua nuca, sapatos pretos e uma maquiagem completamente excêntrica... Deduzi que era um vampiro.
?Você disse nove e meia... - falei tirando meu celular da bolsa e conferindo as horas. - E são nove e meia!
? Desculpe, não sabia que era tão pontual. - ele riu para o chão. - Mas já estou pronto!
? Então, vamos, George! Só falta a gente! - eu disse puxando-o pelo braço para fora de casa.
Saí andando com George até o local da festa. Seria na casa da representante de turma, é claro. Afinal, estávamos no terceiro ano do ensino médio, seria nosso último Halloween juntos. Eu não era uma das mais populares, mas tinha meu grupo de amigos, aliás, o melhor grupo de amigos. George era só um deles, mas era o mais próximo. Conheci ele quando estávamos no primário, desde então, somos inseparáveis.
? É ali, certo? - ele perguntou, tirando-me de meus devaneios.
? Ali mesmo!
Corremos juntos até a casa. Chegamos até a porta já ofegantes e tocamos
a campainha. Eu podia ouvir a música tocando claramente, podia ouvir os gritos de todos os meus amigos e o quanto estavam se divertindo... essa festa vai ser íncrivel!
? George, Cat, vocês vieram! - Lele nos deu um abraço apertado e sorriu. Ela estava fantasiada de Maria Antonieta, uma de minhas personagens favoritas do Halloween. Um lindo vestido branco, uma leve maquiagem, saltos e uma peruca perfeita. - Vão ficar aí parados? Entrem!
Entramos com cuidado na casa de Letícia e procuramos nossos amigos no meio da multidão. Ah, lá estão eles: Julia, Dave, Saymon, Logan e Peter. Me aproximei da mesa na qual estavam sentados e abracei a todos, cumprimentando-os.
? Finalmente! - exclamou Julia vestida de Kayako. Assustadora, como sempre.
? George... - falou Dave em um tom sério. - Eu vou te matar!
? Por que? - perguntou George com os olhos arregalados.
? Você também está fantasiado de vampiro!
Todos rimos. George e Dave estavam vestidos quase que iguais. A única diferença era a maquiagem, Dave não estava tão excêntrico.
Logan estava de Frankstein, nunca vi uma fantasia tão bem trabalhada em toda a minha vida. Saymon estava de zumbi. E Peter... não estava fantasiado, como sempre. Peter é o único de nós que odeia se fantasiar no Halloween, ele acha que é coisa de criança...
? E aí? Gostando da festa? - perguntou Geoge.
? Na verdade, não. - falou Dave ajeitando sua capa. - Está... entediante. No Halloween, tudo tem que ser assustador! Mas essa festa está longe disso...
? E o que você sugere? - disse Julia apoiando a cabeça no ombro de Dave.
? Não sei... algo mais emocionante!
? Que tal um passeio pelo cemitério de Midwitch? - Peter falou animado.
? Nem pensar! Morro de medo daquele lugar! - disse Saymon.
? Vai ser divertido!
? Concordo com o Peter! Vai ser melhor do que ficar aqui! - falou Logan.
? Então, vamos!
? Não, eu fico! - protestou Saymon. - É muito arriscado!
? Saymon tem razão! Vai ser perigoso! - disse George.
? Então, fiquem! - falou Peter já de pé ao meu lado. - Nós vamos!
George e Saymon concordaram e ficaram na festa mesmo, já eu, Julia, Peter, Dave e Logan fomos ao tão temido Cemitério de Midwitch. O nevoeiro era denso, a noite era fria, a lua iluminava as estradas e os morcegos quebravam o silêncio. Esse lugar era, de fato, assustador. Mas eu não perderia a chance de ver os quatro morrendo de medo. Passamos pelo enorme portão de ferro que estava aberto e demos de cara com milhares de tumbas. O vento fazia ruídos estranhos e isso me assustava cada vez mais. Julia se agarrava em Dave enquanto este botava o braço ao redor dela, ela definitivamente estava com mais medo que eu.
Olhei para o lado, e vi Peter sem nenhum sinal de medo, e muito menos de carinho por mim. Peter sabia que eu tinha uma queda por ele desde o ano passado, desde então, nunca mais foi o mesmo comigo. Só ficávamos juntos quando os outros também estavam, ele parecia querer me evitar de todas as formas possíveis.
? Ei, o que é aquilo? - disse Dave apontando para algo que brilhava muito perto de um dos túmulos.
? Não sei, mas quero saber... - falou Peter enquanto corria em direção ao ponto brilhante e todos fizemos o mesmo.
O túmulo tinha uma foto de uma linda garota, loira dos olhos castanho-claro. Corpo esbelto, aparentava ter uns quinze anos e tinha um sorriso de dar inveja de tão lindo. Na lápide, dizia: Aqui jaz Heather Mason; "O tempo passa e os pesadelos continuam"; 18 de junho de 1940 ? 31 de outubro de 1955
Hoje, fazia cinquenta e sete anos que essa Heather havia morrido... estranha coincidência.
? Heather Manson... Quem é ela? - Peter fez a pergunta que todos nós estávamos esperando.
? Não sei... Mas não acham curioso o fato de ela ter morrido em uma noite de Halloween, como... hoje? - assim que Logan pronunciou a última palavra, um alto alarme soou, ensurdecendo os meus ouvidos. Um vento forte começou, balançando as árvores e assustando os animais. Comecei a tremer de medo e involuntariamente agarrei o braço de Peter me sentindo mais segura do que nunca. Ele me olhou assustado, mas por conta do desespero, correspondeu com um abraço. Senti tudo congelar a minha volta, como se estivéssemos no lugar mais frio do mundo.
? O que está acontecendo??!! - ouvi Julia berrar.
E com apenas estas palavras, o alarme parou e o vento também. Ainda estava frio e tudo ainda estava congelado. No denso nevoeiro, nós quatro caminhamos em pleno silêncio. Até que o nevoeiro se abriu dando vista à uma casa. Uma casa velha e extremamente assustadora. Era enorme e parecia estar vazia, nunca a tínhamos visto antes. Olhei para os lados procurando a saída do cemitério, mas eu não via nada além da casa. Tudo havia sumido! Isso estava ficando cada vez pior...
? Que lugar é este? - falou Dave caminhando conosco em direção à casa.