Ouro Branco

  • Caah F
  • Capitulos 5
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 2 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Raramente

    Álcool, Bissexualidade, Heterossexualidade, Homossexualidade, Nudez, Sexo, Suicídio, Violência

    O moreno mudou de posição na poltrona, remexendo-se de forma inquieta. Mudou a posição das pernas observando sua túnica vermelha se dobrando em um ângulo estranho. Apoiou o cotovelo no braço da poltrona de seu quarto, apoiando o queixo na palma da mão.

    Olhou impaciente para a porta do aposento, não suportando a ansiedade. Suspirou profundamente tentando manter a calma. Desviou os olhos da entrada e visualizou seu quarto, de sua poltrona podia ver sua cama com dosséis de madeira escura, lençóis brancos e arrumados. Perto da cama, havia uma escrivaninha com o mesmo tipo de madeira, com alguns livros, papéis, tintas e penas em cima. Tentou pensar em algo que pudesse preencher a sua mente, já estava à espera há muito tempo. Ouviu, então, alguém bater na porta.

    - Pode entrar. ? Disse, enquanto se levantava para ver quem entrava. A figura de um homem, que reconheceu como um dos ajudantes importantes do rei.

    - Jovem príncipe ? Fez uma reverência. ? Vossa majestade deseja ver o filho. ? Disse no tom profissional, sério e contido. Em uma postura ereta, com os braços juntos nas laterais do corpo.

    - Neste instante? ? Perguntou olhando para trás do homem.

    - Vossa majestade, disse, imediatamente... Jovem príncipe.

    - Ele está na sala de audiências?

    - Sim, jovem príncipe.

    - Irei então. ? Andou em direção à porta, passando ao lado do homem, que fazia outra reverência educada. Saiu de seu quarto e andou pelo corredor, ouvindo os passos do outro ecoando atrás de si.

    Desceu as escadas devagar, esperando, intimamente, o esperado aparecer de súbito. Andou em direção a um grande salão, onde seu pai concedia audiências e ministrava reuniões para resolver problemas pertinentes ao reino. Sterling entrou no salão, o grande recinto ostentava muito luxo com os demais cômodos. O tapete vermelho se entendia por todo o caminho até o trono, onde se encontrava o rei: Godric.

    - O senhor me chamava, meu pai? ? Perguntou se aproximando a passos lentos do trono. Olhou para os lados, vendo dois conselheiros sentados em uma mesa longa.

    Sorriu para Godric. Fazia algum tempo que não o via, e mesmo temendo algum sermão, ficava feliz em poder ver os orbes negros do homem ao qual chamava de pai.

    - Vós podeis se retirar. ? O homem que estava sentado disse em um tom rouco. Ele estava com uma túnica preta, com bordados em alto relevo da mesma cor. Alguns detalhes em seus ombros eram vermelhos. O semblante dele possuía um ar superior e entediado com a situação, havia um objeto metálico nos lábios, símbolo da família. Seus cabelos negros lisíssimos caíam sobre um dos seus olhos e ambos os membros superiores apoiavam-se nos braços do suntuoso trono.

    Os dois conselheiros se levantaram fazendo uma breve reverência, logo saindo. Sterling observou o homem sentado no trono retirar a coroa presente sobre a cabeça - acessório de ouro incrustado com rubis - e colocar sobre uma pequena almofada ao lado, de veludo vermelho e pomposo.

    - Soube que tu estás a andar por aí, com uma boneca... Sterling, meu filho, porque tenho que saber tudo pelos outros, e nunca por ti? ? Ainda sentado, encarou o filho, falando em tom sereno e um olhar que parecia penetrar a alma de quem observava.

    - Eu iria falar contigo hoje sobre isso, meu pai. ? Respondeu tentando não demonstrar sua mentira. ? A boneca... Chegou ontem. Não quis lhe incomodar tão tarde da noite. ? Sorriu envergonhado esperando que o homem mais velho ali, acreditasse em suas palavras.

    - Tu a encomendaste? ? Perguntou afastando a mecha de seus olhos.

    - Sim, meu pai. ? A mentira saía com certa dificuldade de sua boca, mas prosseguiu. ? Disseram-me que o senhor estava demasiadamente cansado, resolvi não lhe incomodar. ? Argumentou enquanto deixava suas mãos se entrelaçarem em frente ao seu corpo.

    - Fez bem... Tu sabes como fico caso me incomodam. Agora, onde ela está...? ? Cruzou as pernas e deixou o olhar passear por todo o salão, como se houvesse alguém ali, que ele ainda não houvesse percebido.

    - Eu esperava que a vestissem de forma apropriada ? Lembrou-se que Sweetz apenas vestia um roupão de seda - quando vieram me dar o aviso de seu chamado. ? Disse o que realmente acontecia, não queria se perder em suas mentiras.

    O rei fez menção de comentar algo, quando ouviu um dos dois guardas que ficavam dentre do salão, perto das portas, porém suficientemente afastado do rei e de seu filho se pronunciar.

    - Vossa majestade, Sweetz está aqui. ? Anunciou naquele tom profissional e sério.

    - Sweetz...? ? Godric repetiu o nome com estranheza, arqueando uma sobrancelha perfeitamente.

    - Esse é o nome da minha boneca. ? Disse Sterling ao pai.

    - Que nome mais incomum... Meu filho. ? Voltou os olhos ao guarda. ? Mande entrar.

    - Com licença Sterling. ? A voz da boneca ecoou, e logo sua presença foi vista. Primeiro, pelos guardas, e logo depois, para o rei e o segundo príncipe.

    - Sweetz... ? Sterling piscou algumas vezes até entender que o ser ali, era mesmo o garoto artificial do dia anterior. Ele trajava um vestido justo no tronco, e que se abria na altura da cintura, formando um sino. Era branco, mas adornado com rosas amarelas opacas.

    - Vossa majestade. ? A boneca fez uma reverência educada quando se aproximou, puxando de leve o vestido e projetando as costas e a cabeça, para frente com leveza. Sterling pensou que ele aprendia rápido.

    - Ah... É mesmo linda... Fizeram-na com uma beleza extremamente delicada. ? O rei disse observando, soando mais ameno e lisonjeiro. ? Agora porque andava com ela até a biblioteca?

    - Queria lhe ensinar sobre a história do nosso reino. ? Balbuciou, pensando sobre o pai também chegar à conclusão que Sweetz era uma mulher. Depois, não se importou. Aquilo não tinha muita relevância para o rei. ? É uma coisa importante. ? Disse se referindo ao estudo, mas também pensou que poderia ser aplicado ao seu pensamento sobre o sexo da boneca.

    - Entendo. ? Continuava a olhar para a boneca. ? Sterling, não lhe chamei somente por isso. Há algo que quero lhe contar, seu primo do outro reino chega hoje.

    - Do outro reino? Quem seria? ? Perguntou curioso.

    - Da família Duncan, Blaise. ? Respondeu passando os dedos longos pelo queixo, fazendo seu olhar ser ainda mais altivo.

    - O Duncan? ? Perguntou incrédulo com uma ponta de histeria na voz.

    - Sim. Ele está chegando para passar uma temporada conosco.

    - Algum motivo especial que eu deva saber? ? Questionou, pois era estranho o seu extravagante primo vir visitar o reino sem algum motivo. Aliás, a maioria dos parentes distantes não vinha ao reino. Talvez pelo fato de o rei Godric se transformar em uma pessoa severa depois de sua mulher ter falecido.

    - Não. ? Disse ríspido. ? Agora vá, não tenho mais a nada a lhe falar. Apenas seja um bom anfitrião ao Duncan. ? Olhou para sua coroa em uma almofada no lado ponderando mudamente. ? Agora... ? pegou a coroa e colocou sobre sua cabeça ?... Devo continuar os meus deveres de rei.

    - Sim, meu pai. ? Fez uma leve reverência e olhou para a boneca imitando o gesto.

    Virou-se e andou a passos lentos até a saída do salão. Assim como havia começado, acabava. As conversas com seu pai eram sempre assim. Quando Godric o desejava, quando Godric estava disponível, quando Godric chamava. Sentia-se em uma relação sempre unilateral, ao qual não tinha o poder de se pronunciar. Só podia acatar as ordens do seu pai e sorrir, mesmo não querendo. Ficava feliz por vê-lo de vez em quando, nos súbitos momentos em que o pai lembrava-se que tinha um filho mais novo. A felicidade ingênua vinha e se dissipava, à medida que sua mente recordava da rispidez de seu pai.

    No entanto, mesmo a rispidez sendo frequente depois da tragédia com a rainha, parecia que Godric escondia alguma coisa sobre o fato de Duncan vir ao reino, e hospedar-se no castelo da dinastia Wincler. Não notou seus passos inconscientes, saindo do salão e se afastando do governante do reino, e o levavam para seu quarto em um estado de quase transe. Sabia de sua tendência a refletir muito sobre as ações de seu pai, já que ele nunca revelava suas verdadeiras intenções claramente.

    - Mestre? Mestre? ? Sweetz chamou na voz sem emoção, repetidas vezes. ? O senhor deseja ir para o quarto já? Sente-se bem? ? Já estavam no corredor do quarto de Sterling, cujos olhos dividiram a atenção entre Sweetz e o corredor, não sabendo como responder. Continuou a andar em direção à porta de madeira, mesmo desconhecendo um motivo certo para fazer aquilo.

    Sterling abriu a porta pesada com uma mão e encarou o quarto. Andou automaticamente para sua poltrona cor de vinho e deixou seu corpo cair. Fechou os olhos e apoiou os braços no encosto. Depois de alguns minutos, lembrou-se de seu acompanhante. Abriu os olhos e aprumou-se no assento. O garoto artificial estava sentado na escrivaninha lendo. Suspirou observando. Sterling começava a relembrar das horas passadas na biblioteca e consequentemente no seu sono. Havia decido por ir descansar e havia trazido a boneca, que não precisava dormir e os livros.

    Ainda fizera um questionário sobre como as bonecas funcionavam, e o modo como deveria tratar alguns aspectos. Havia adormecido com muitas dúvidas, entretanto, já não conseguia mais ficar acordado. A última imagem vista antes de dormir, era Sweetz sentando-se em uma cadeira da escrivaninha e lendo. Quando acordara, a boneca continuava ali, na mesma posição, a mesma expressão, só o livro havia mudado.

    Enquanto fazia seu desjejum, ainda sem seu irmão e seu pai, havia solicitado às servas para arrumarem Sweetz, porém não havia mencionado o possível sexo dele. Esquecera-se que aquilo, só era óbvio para si, que sabia de antemão. Por acaso, tenha sido essa a razão pelas camareiras terem o trajado com um vestido. Será que elas não haviam visto o...? Envergonhou-se com o pensamento olhando para o outro concentrado.

    - Elas trajaram-te como uma mulher, em um vestido. ? Comentou levantando-se.

    - Há problemas com isso, mestre? ? Perguntou virando o rosto ainda sentado em uma cadeira perto da escrivaninha.

    - Não, mas não te incomoda com isso? ? Aproximou-se até tocar o encosto da cadeira.

    - Não. Deveria me incomodar, mestre? - Pendeu a cabeça de um jeito mecânico.

    - É um vestido feminino, não condiz contigo. ? Tentou explicar.

    - Se irrita o mestre, talvez... ? olhou para o vestido enquanto falava.

    - Pare de me chamar assim. ? Chateou-se, afastando-se de Sweetz e da escrivaninha, e indo em direção às grandes janelas de seu quarto, apoiou-se no parapeito de pedra polida, olhando para o jardim presente na frente do castelo.

    Não era de irritar-se facilmente, porém, estava cansado de sempre ser chamado de algo respeitoso e superior. Não desdenhava de sua posição, apenas não queria ser tratado como se fosse excepcional, na verdade, achava não ser merecedor de tudo que possuía.

    - Desculpe. A intenção não era aborrecê-lo. Como devo chamá-lo? ? Há pouco havia saído de perto de Sweetz, e logo já estava ali, ao seu lado.

    - Chamar-me...? ? Se virou encarando o outro. Refletiu sobre isso um minuto, depois, voltou a olhar o jardim. Havia acostumado, mesmo que não gostasse, a ser chamado de príncipe, ou de jovem amo, e ninguém nunca havia parado para perguntar se ele gostava ou não.

    E naquele momento, com a perspectiva de poder ser chamado de qualquer coisa, sentia-se indeciso. Não sabia o que escolher. Olhou para o jardim cheio de flores cultivadas minuciosamente, e uma brisa levou seus cabelos aos olhos. Lembrou-se então, de algo que seu pai havia falado, quando era bem pequeno.

    - Me chame apenas de Sterling... ? falou em tom baixo.

    - Apenas Sterling? ? Perguntou olhando o moreno.

    - Sim. ? Respondeu ainda não olhando para a boneca.

    - Há algum significado especial?

    - Sim... Há. ? Acenou vagarosamente de forma positiva.

    - Posso saber qual o significado?

    - Esse foi o nome que minha mãe escolheu para batizar-me. Eu gosto do meu nome... Mesmo que não me chamem com frequência assim. ? Respondeu simples.

    A paisagem logo lhe deu uma ideia de que fazer para livrar-se da irritação com a rispidez e falta de resposta de seu pai. Virou-se para a boneca.

    ? Quero lhe mostrar o meu lugar favorito depois da biblioteca. Leve os livros que poderemos ler por lá. ? Disse com um começo de sorriso.

    - Está bem, irei pegar alguns não lidos ainda e o que estou no meio. ? A boneca andou até a escrivaninha empilhando cinco livros sobre seus braços. O segundo príncipe saiu de perto da janela, e vendo tal cena, sorriu.

    - Só dois está bom... Depois faremos outra atividade. ? Aproximou-se de Sweetz e tirou três dos livros presentes em seus braços. ? Pronto, venha. ? Indicou a porta.

    - Sim, Sterling. ? Disse, e o segundo príncipe sorriu largo ao ouvir aquilo.

    Andou pelo corredor até chegar às escadas e as desceu, rumando em direção a um corredor que terminava na parte de trás do castelo. Logo, estavam andando fora da imensa construção, e o jardim de trás, em formato de labirinto, ao qual o moreno mais apreciava, tomou a vista de ambos. Seguindo por uma das entradas do labirinto baixo, se perderam entre os arbustos baixos, sempre podendo ver a mansão distante. Andaram um pouco, até que resolveram parar, avistando um dos bancos de madeira ornamentados por rosas.

    - Esse aqui é o labirinto dos Wincler. ? Sorriu. ? Gosto de vir aqui... ? sentou-se.

    - É um lugar agradável. ? Disse observando o local.

    - Sim... O labirinto é. Quando penso nisso, concluo que tenho que levá-lo para conhecer tudo... Parece que ainda não apresentei nada do castelo.

    - Apenas as partes que Sterling acha interessante. ? Olhou para o moreno.

    - Não tinha parado para pensar sobre isso. ? Refletiu, não havia mesmo percebido que só havia mostrado as partes que lhe interessavam. ? É verdade. Irei te mostrar tudo.

    - Faça simplesmente o que desejar, Sterling. ? Olhou para o livro em suas mãos. ? Além do mais, tu és meu mestre apenas há poucas horas.

    - Sim... Mas sinto um progresso. ? Indicou os livros.

    - Os livros são muito interessantes.

    - Sempre amei lê-los, e vir aqui.

    - Parece que é algo que gostas mesmo de fazer.

    - Sim, estou fazendo algo que aprecio de verdade... ? observou a paisagem.

    - Deveria vir mais vezes, se o deixa feliz.

    - Há sempre muitas coisas a que se fazer, e assim, eles não me deixam ficar sentado... Apenas contemplado. ? Disse imaginando como seria se pudesse mesmo escolher por si.

    - Mas tu não és o príncipe? Não podes decidir o que fazer? ? Questionou.

    - Pelo contrário, as coisas são sempre decididas pelo meu pai, pelo meu irmão mais velho, pelos meus tutores... Eu sempre tenho que respondeu apenas ?sim?. ? Desabafou.

    - Não entendo o motivo.

    - Eu também não... Acho que ninguém sabe, parece que vivemos desse jeito há tanto tempo que acabamos por viver no que achamos cômodo ou banal, no que já estamos acostumados, no que alguém decidiu há muito tempo. Ninguém se pergunta se isso é certo. Somente aceitamos e fazemos.

    - Entendo seu raciocínio. No entanto, não tenho muita experiência com humanos para saber a verdadeira essência deles.

    - Tu conseguirás fazer isso. ? Falou animado.

    - O meu objetivo é simplesmente ser útil. Se compreender a essência dos humanos não cruzar com meu objetivo, fazer isso é inútil. Sterling posso fazer uma pergunta?

    - Está livre para fazer perguntas, sempre que quiser. ? Encarou Sweetz.

    - Estou sendo útil, Sterling? - A boneca olhou com os olhos negros.

    - Claro que está. ? O moreno sorriu.

    - Eu não o entendo. ? Pendeu a cabeça. ? Não faz nada comigo como o outro...

    - Eu não... ? balançou a cabeça negativamente.

    - Apenas me mostra livros e me leva ao jardim. ? Continuou o que estava dizendo.

    - Tu estás me fazendo companhia. ? Explicou.

    - Como assim? ? Indagou em sua voz sem emoção, era quase como se fosse uma afirmação, pelo tom automático que usava. Encarou os olhos do segundo príncipe.

    - Um amigo Sweetz, seja meu amigo. ? Respondeu em tom calmo, observando Sweetz.

    Nem notou quando a frase saiu de seus lábios, ainda mais em um tom tão calmo e convicto. Até aquele momento, pelo menos que se lembrava, não havia tido tal pensamento, porém, ao pronunciar tais palavras, tudo se encaixou de uma forma harmoniosamente perfeita.

    - Jovem amo! ? Uma voz foi ouvida ao longe, e os dois viraram os rostos à procura de quem pronunciava o nome do moreno. ? Estás aí? ? Era Chermont.

    - Sim! ? Respondeu deixando sua voz se elevar. Acenou com uma das mãos, fazendo sinal. ? Estou aqui!

    Chermont olhou para a figura do príncipe e sorriu, entrando no labirinto logo em seguida, andou pelos corredores de arbustos baixos, sempre se guiando pela figura do moreno sentando no banco.

    No entanto, mesmo que os corredores verdes fossem visíveis, teve certa dificuldade para encontrar o trajeto certo. De longe, só podia se ver a túnica azul escura simples do tutor de artes, um borrão entre o vasto verde presente ali.

    - Dificuldades, professor...? ? Perguntou em tom divertido para o mais velho que ainda não havia conseguido chegar, mas que já estava próximo.

    - Sim. ? Respondeu. ? Era melhor eu nem ter entrado... ? resmungou olhando para o príncipe.

    - Se entrasse com frequência nele, não teria dificuldade. Devia vir ler comigo aqui com mais vezes, professor. ? Sorriu, observando o homem que se aproximava.

    - Não gosto de labirintos. ? Argumentou chegando perto, e postando-se de pé frente à Sterling. ? Bom dia príncipe, estava o procurando. ? Olhou para Sweetz fazendo outra reverência educada. ? Minha senhora.

    - Sweetz não é uma garota, mesmo que pareça. ? Disse logo. ? Aliás, Sweetz é uma boneca. ? Parecia algo ilógico mentir para Chermont, uma vez que, ele era um homem inteligente, uma hora, suspeitaria que Sweetz não era humano.

    - Uma boneca? ? Encarou perplexo o garoto artificial. ? Ah, não sabia de seu interesse por elas. ? Parecia analisar Sweetz, que se levantava e fazia uma reverência também.

    - Senhor, é um prazer conhecê-lo. ? Pronunciou na voz sem emoção.

    - O mesmo... Como é o seu nome? Sweetz, certo? ? Sorriu mostrando as covinhas.

    - Sim senhor. ? Estava de pé, com os dedos entrelaçados em frente ao vestido. ? Esse foi o nome que meu mestre designou para mim.

    - Belo nome. ? Sorria simpático, virando-se para olhar o segundo príncipe que ainda estava sentado no banco. ? Lhe procurava para mostrar a obra do senhor Casty... ? parecia ainda querer falar algo quando foi interrompido.

    - Sim! ? Levantou-se entusiasmado. ? Havia me esquecido disso, mas podemos ir agora ver... Aliás, deveria ter trazido para cá. ? Olhou para Chermont esperando que o mesmo estivesse com a obra.

    - Eu adoraria lhe mostrar, mas quando estava a caminho desse labirinto, me mandaram avisá-lo de sua cavalgada hoje com o seu primo. Além disso, um tutor de hipismo ainda virá acompanhá-los...

    - Como assim?

    - O rei não lhe contou da programação?

    - Como sempre. ? Revirou os olhos, sua a animação se esvaindo rapidamente. ? Não... Ele não contou. Não quero cavalgar pelas terras com Duncan, muito menos com um instrutor... ? murmurou, depois teve uma ideia. ? cavalgar, até que farei... Professor pegue a obra que mandarei selar os cavalos. ? Sorriu animado com a ideia em sua mente.

    - Príncipe, primeiro: sabes o quanto o senhor, seu pai, é o ocupado... Tente entender. E segundo, - falou em tom de aviso, já prevendo as atitudes de seu pupilo, o conhecia bem para conseguir antecipar seus atos de rebeldia - não faremos isso. Caso formos cavalgar, irás acompanhado da guarda do palácio. ? Disse, olhando de modo firme para Sterling.

    - Por favor, professor Chermont, não tente inventar desculpas para meu pai... Sabe como vivo aqui, nesse castelo. ? Afirmou. ? E não entendo, por que não posso ir?

    - É perigoso! Imagine os ladrões e sequestradores espreitando por aí, há espera de alguém desavisado. Imagine se eles capturam o príncipe!

    - Mas, professo Chermont, venha comigo e com Sweetz!

    - Não posso! Seria negligente de minha parte deixá-lo ir, ou servir de cúmplice. ? Argumentou, seu tom de voz detonava preocupação com aquela ideia descabida. ? Por favor, não pense que sou egoísta, mas se eu fosse nessa excursão, o que adoraria fazer em outra situação, e acontecesse algo, eu seria o único responsável. E assim, me acusariam de atentado a segurança do príncipe, o que levaria a pena de morte.

    - Nada irá acontecer... ? continuou de forma teimosa.

    - E se eu o deixasse ir, eles descobririam e seria, então, o único culpado por não impedi-lo.

    - Entendo. ? Suspirou resignado. A intenção do moreno mais novo não era a de colocar o tutor em uma situação difícil. Só queria mostrar os arredores do castelo para a sua boneca, e ao mesmo tempo, escapar dali e da chegada de Blaise. Então, teve outra ideia. ? Então me traga a obra, ainda resta tempo para a chegada de meu primo. Posso apreciá-la antes de ter que sair. ? Voltou a sentar-se mostrando uma face entediada.

    - Se desejas, trarei jovem amo. ? Olhou para o príncipe, achando estranha a súbita mudança de atitude. Sabia o quanto o rapaz sentado no banco podia ser teimoso, ainda mais em uma situação como aquela. ? Não sairás por aí sem a guarda, certo? ? Questionou.

    - Professor Chermont, eu estou aqui, sentado, esperando pela obra do senhor Casty. ? Sorriu.

    - Está bem. ? Olhou ainda desconfiada dos atos do príncipe. ? Irei pegar, e volto aqui.

    - Tome cuidado, professor. ? Continuou sorrindo.

    O moreno mais velho começou a se afastar, e os dois ficaram ali, Sterling sentado, e Sweetz ainda continuou em pé, observando enquanto o outro tentava achar o trajeto para uma das saídas. Demorou um pouco, até que só podia ver a roupa azul-escura perto do castelo.

    - Sweetz, nós vamos sair. ? Levantou-se pegando os livros.

    - Vamos, Sterling? ? Indagou.

    - Sim. ? Começou a tomar um caminho para a saída, um que sabia que seria até mais rápida do que o tutor havia pegado. ? Venha, Sweetz... Não podemos demorar, temos que nos apressar, se não ele irá contar aos guardas...

    - Mas, o senhor Chermont comentou que é perigoso... Não será perigoso para sua segurança, Sterling? ? Perguntou andando no mesmo ritmo de seu mestre, lado a lado.

    - Não... Não será. Até será bom para mim, ver como estão as coisas fora desse lugar que me sufoca, e assim poderei lhe mostrar também. ? Olhou para os olhos negros do outro.

    - Isso, então, o fará feliz, Sterling?

    - Sim... Vai ser ótimo, e até se... ? pensou na possibilidade de algo acontecer, talvez assim seu pai lhe desse alguma atenção, mas não falou isso ? pudéssemos ler... É uma pena que o professor Chermont recuse o convite. ? Completou com algo que lhe veio o mente.

    - Mencionava alguma obra importante?

    - Sim, um autor de belos poemas lançou mais uma obra, e o professor Chermont está com um dos exemplares. ? Explicou. ? Ele havia falado ontem, que iria me mostrar hoje. Não contávamos com esses imprevistos. ? Havia acabado de sair do labirinto e seguia para o castelo.

    - Esse então seria o senhor Casty? E ontem? Foi antes de se tornar meu mestre?

    - Sim, o autor é o senhor Casty. E a resposta para a outra pergunta também é sim, foi no jantar de ontem à noite.

    Depois que respondeu, esperou por mais perguntas. No entanto, a boneca permaneceu calada. Somente observava as coisas que passavam, e logo os empregados que trabalhavam, os soldados parados nas entradas de vigia. Parecia que queria absorver aquela informação toda, e guardar em sua memória. E Sterling se perguntava se podia fazer mesmo isso.

    Entrou no castelo, ainda observando sua boneca. Ainda estava intrigado com aquele ser, e ainda tinha dúvidas. Não quis, pelo menos naquele instante, interrompê-lo em sua contemplação do mundo exterior. Quando pensou nisso, sentiu-se impulsionado a levá-lo para fora e conhecer os arredores e até pudessem chegar à floresta. Na verdade, sentia uma vontade de mostrar todos os domínios conhecido pelo homem, e poder comprar todos os livros lançados. Sorriu com o pensamento.

    Quando entrou no castelo, rumou até a sala de jantar, achando uma das muitas empregadas que havia ali. Pediu a senhora que chamasse uma das camareiras, e que trouxesse roupas de montaria para dois. A mulher fez uma reverência educada, dizendo que iria procurar a pessoa responsável por roupas, saído a passos apressados. Sterling virou-se para Sweetz, querendo começar uma explicação sobre as roupas. No entanto, a pergunta fez com que o que estava em mente parecesse uma resposta.

    - Porque roupa de montaria para dois? - Indagou.

    - Venha. ? Indicou o corredor e começou a andar, sendo seguido sem mais delongas. ? Eu sei que seria incômodo cavalgar com um vestido assim.

    - Ah, parece que Sterling não gosta desses trajes. ? Indicou os babados brancos com flores amarelas opacas.

    - Não é que eu não goste. ? Falava andando em direção ao salão. ? Como eu já disse, seria incômodo para ti. ? Tentou explicar.

    - Como é cavalgar?

    Sterling começou uma conversa sobre cavalos, tentando descrever como era. Porém avisou que faltava pouco para fazerem isso, e que Sweetz iria sentir de verdade como era. Logo já estavam subindo as escadas novamente, pensou em como aquele dia estava sendo movimentado. Bem diferente da monotonia de todos os dias conhecidos de suas lembranças, mesmo que sentia-se irritado ao ter que subir e descer tais escadas repetidas vezes, não se importava se era com o loiro ao seu lado, ainda mais com o plano em sua mente.

    Chegaram ao longo corredor, seguindo a trilha do tapete que encobria o chão, e pelos quadros e vasos ao lado. Chegaram, ainda em silêncio, na porta do quarto, todavia Sterling, antes de alcançar a maçaneta, olhou para a última porta do quarto. Ainda não havia visto Cliff, e um surto de preocupação o inundou. Depois se lembrou do que havia ocorrido na noite passado e o sentimento passou. Só restou um sentimento de nojo pelo que havia feito.

    Entrou pelo quarto, deixando os livros na escrivaninha e esperando a mulher, deixando-se repousar na poltrona vermelho vinho. Sweetz sentou-se na escrivaninha, enunciando sobre o livro que estava lendo. O segundo príncipe esperou com uma calma fingida a entrada de alguém. Mais uma vez se via, ali, no quarto, esperando por alguém sem paciência alguma. Duas vezes no mesmo dia. Deixou sua mente divagar, espreguiçou seu corpo na poltrona, e esticou as pernas.

    Imaginou como o garoto artificial ficaria nas roupas masculinas de montaria, depois, estranhando tais pensamentos, os afastou de sua mente. Olhou para Sweetz, que estava concentrado no livro, sentado em uma posição com a coluna ereta. Parecia tão certa aquela cena em sua mente, mesmo que houvesse acontecido há tão pouco tempo. Sterling sentado em sua poltrona, enquanto observava a boneca estudando.

    - Sterling, o que significa ?Mon Amour?? ? A boneca virou a cabeça para encarar com quem falava. A face sem emoção esperava por uma resposta.

    - Ah, é uma palavra em francês.

    - Francês? É outra língua, certo? ? Perguntou prontamente.

    - Sim, e significa ?Meu amor?. ? Explicou.

    - Amor? É um sentimento...?

    - Amor é um sentimento, sim.

    - Como é...? ? Indagou, e Sterling pensou em como explicaria aquilo.

    No entanto, antes que pudesse raciocinar muito tempo sobre o assunto, ouviu um barulho das janelas se abrindo abruptamente. E então, uma figura excêntrica apareceu perto de lá, olhando para os dois lados rapidamente e andando em direção à boneca, logo depois, sorrindo. Esticou os braços para frente, abrindo e fechando as mãos e seguindo, encaminhando-se para o garoto artificial.

    Tinha os cabelos loiros, todavia, em um tom mais forte do que a boneca que estava presente. Os olhos castanhos estavam meio arregalados, e tinha um sorriso enorme. Trajava uma túnica com várias cores diferentes, mas principalmente rosa e preto. As mangas eram bufantes de forma exagerada, e ele balançava os braços constantemente.

    Sterling olhou para aquela cena, estupefato. O seu quarto agora estava sendo invadido por um desconhecido, e ainda por cima aparecendo de forma misteriosa perto de sua janela. O estranho andou até chegar a Sweetz, que ainda permanecia sentado de forma serena na cadeira.

    - Então és tu... ? o jovem de nome ainda desconhecido, sorriu para a boneca cujas bochechas eram acariciadas pelos seus dedos.

    Enquanto isso, o príncipe já corria, logo afastando as mãos do invasor do rosto de Sweetz, em um ato protetor. Colocou-se então entre os dois, deixando os braços de forma possessiva sobre a forma da boneca.

    - Quem és tu? ? Exclamou o segundo príncipe.

    - Eu? ? Apontou para o próprio rosto fazendo bico, de forma e tom infantil.

    - Sim... E porque estás no quarto do segundo príncipe de Squartland?

    - Para que tantas perguntas. ? Resmungou continuando com o bico. Deixou as mãos coladas ao corpo. As magas bufantes balançavam.

    - Entras no meu quarto sem autorização, e de uma maneira desconhecida, e não queres que eu lhe questione? ? Continuou indignado.

    - Cross. ? Sorriu, pendendo o corpo de lado para observar Sweetz que estava atrás de Sterling.

    - Cross...? De onde vem? O que és?

    - Venho de minha casa, e sou um bruxo. ? Respondeu de forma simples. ? Quero vê-lo, por favor, dê-me passagem. ? Pediu a Sterling.

    - Como ousas dizer que vem de sua casa? Não percebe que perguntei-lhe sobre seu reino? E vê-lo? Sweetz? Qual a razão de seu interesse em minha boneca? ? Perguntou irritado, e falando de uma forma possessiva, sentimento de origem desconhecida a si.

    - Sweetz? Colocastes esse nome? ? Perguntou encarando o moreno.

    - Sim, não vai responder as minhas perguntas?

    - Quero vê-lo, depois lhe contarei a história. ? Suspirou de forma teatral fechando os olhos, depois, os abriu e sorriu.

    - Não, Sweetz é meu. O que queres com ele? ? Indagou no tom ameaçador, e ainda possessivo.

    - Saia da minha frente, agora. ? O sorriso morreu, deixando a face do bruxo sombria. ? Se não sair, farei isso a força.

    - Eu posso chamar pela guarda do castelo... ? ameaçou.

    - A guarda que é tão fraca que não foi um empecilho muito grande passar por ela? ? Sorria com ironia. ? Acho que não...

    - Isso não vem... ? balançou a cabeça negativamente.

    - Detesto esses teimosos arrogantes... ? colocou a mão no braço direito de Sterling, apertando com os dedos. Deu um leve empurrão, porém, apenas aquilo foi capaz de jogar o príncipe no chão.

    - Tu és tão lindo Sweetz... ? Cross voltava a falar em um tom feliz e doce, passando os dedos pelos fios claríssimos da boneca, que se levantou.

    - Não poderei deixar machucar o meu mestre. ? Afirmou.

    - Sweetz... ? o segundo príncipe erguia-se do chão e observava a cena. ? não precisa me defender...

    Com aquele baque no chão, Sterling, viu o tamanho da força do ser que estava ali, observando encantado o garoto artificial. Temeu pela segurança de sua família e de Sweetz, ainda mais, porque Cross sabia como passar pela guarda real.

    Não queria ser um covarde, pois detestava isso. Covardia não era um valor que era ensinado na dinastia Wincler. Sterling era preparado para ser valente em todas as situações, principalmente caso houvesse uma guerra. No entanto, a razão, ali, prevalecia, e sabia que não deveria irritar Cross.

    - Mas é meu dever. ? Tentou argumentar Sweetz.

    - Tu o viste. O que queres com ele? ? Perguntou ao bruxo, tentando deixar sua voz não parecer arrogante, nem com raiva, enquanto se levantava.

    - Eu só queria conhecer o escolhido. ? Ainda observava a boneca, a presença de Sterling parecia irrelevante.

    - O escolhido? ? Questionou.

    - Sim. ? Voltou-se para a boneca. ? Porque lhe colocaram essas roupas de mulher? ? Tocou no material do vestido, aonde o vestido tornava-se mais volumoso, na cintura.

    - Explique o que estás falando! E como sabes que ele é um garoto?

    - Vós... De mente tão pequena e tão pouco mutável. ? O rosto de Cross se aproximava do rosto do outro, enquanto ainda acariciava seu rosto.

    - Que ofensa! ? Exclamou, andando de um lado para o outro de forma impaciente tentando achar uma solução para o invasor.

    - Não se comparam as bonecas que podem se adaptar a tudo... Sweetz és tão lindo. ? Sussurrou enquanto encontrava os lábios da boneca, em um selo suave.

    Sweetz não reagiu, seus olhos ainda abertos encaravam os de Cross fechados. Sentiu a suave pressão em sua boca, mas não entendia o significado do ato. Sterling demorou alguns segundos até perceber o que acontecia em seu quarto.

    - O que tu pensas que está fazendo? ? Seu punho fechado encontrou a face do bruxo com toda a força e fúria que o dominava. Não se questionou muito sobre o motivo do soco, sabia que Sweetz era seu, e não poderia ser beijado por outro.

    Com o golpe, o beijo foi apartado, pois Cross virava a face para o outro lado. Sterling puxou Sweetz para trás de si, tentando prever qual seria o próximo ato daquele invasor. Talvez, não devesse ter cedido ao seu acesso de fúria.

    No entanto, o bruxo somente mostrou a face sem nenhum arranhão, ainda com o sorriso no rosto. Colocou a mão na cintura, e encarava da mesma forma o segundo príncipe.

    - Tu entendes agora, não é?

    - Entender o que...? Do que estás falando!

    - Como eu disse, mente pequena. ? Suspirou, mais uma vez, de forma teatral, e depois olhou sério o príncipe. Andou a passos lentos até ele, de forma quase faminta e predadora. Sterling temeu por Sweetz e por si, e empurrou a boneca de leve mais para trás, imaginando o que veria a seguir.

    Quando o bruxo chegou próximo de Sterling, colocou as mãos sobre os ombros do mesmo, e aproximou-se de sua orelha. Já esperava pelo pior, porém esse não foi o ocorrido. Sweetz observou Cross pronunciar algumas palavras no ouvido de Sterling de forma lenta, e depois sorrir para o príncipe. De sua posição, não podia ver, porém o segundo príncipe tinha os olhos arregalados. A figura de cabelos loiros amarelados, e de roupas estranhas, retirou as mãos dos ombros do moreno, ainda sorrindo. E continuou com ele, ao olhar para Sweetz e acenar com a mão.

    - Até Sweetz, continue trabalhando sua mente... Porque já lhe fizeram com uma beleza rara. ? Virou-se e andou quase saltitando pelo cômodo, logo sumindo na sacada.

    A boneca aproximou-se de seu mestre. Sterling encarou o loiro, com os olhos ainda arregalados com o que havia ouvido. A visão embaçou-se, e tudo ficou turvo, as cores se misturaram e logo, tudo ficou neg


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