Ouro Branco

  • Caah F
  • Capitulos 5
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 2 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Sutilmente

    Álcool, Bissexualidade, Heterossexualidade, Homossexualidade, Nudez, Sexo, Suicídio, Violência

    Andou a passos lentos pelo jardim em formato de labirinto, somente ouvia o barulho ritmado de suas botas pretas contra o chão de pedra. Os arbustos ali eram baixos, então sempre conseguia se guiar, mesmo quando a noite caía. Sentiu a brisa noturna tocar sua pele de leve, enquanto deixava suas passadas o guiarem em direção ao grande castelo a sua frente.

    Na verdade, o jovem não queria realmente voltar, porém achava necessário pela hora demasiada. Não apreciava ouvir sermões, mesmo esses sendo constantes em sua vida de segundo príncipe. Pelo caminho, ficou tentado a sentar-se em um dos muitos bancos distribuídos uniformemente pelo jardim, até ser vencido pelo desejo de permanecer um pouco mais ali. Sentou-se em um dos bancos de madeira, já próximo a saída, adornados por rosas da base ao encosto.

    Observou a lua completamente cheia, e num tom branco pálido. Sorriu pequeno e passou a mão por seus cabelos preto, liso e escorrido, cujo cumprimento chegava perto de seus ombros. Suspirou, virando seu rosto para olhar o grande castelo em que vivia, com seu pai e seu irmão mais velho.

    Era certo que, o jovem rapaz de olhos negros, era o filho legítimo. No entanto, quando sua mãe morreu, seu pai, o grande rei, havia trazido seu filho fora do casamento para morar no castelo. Naquela época, se lembrava de ter ficado feliz por poder ter um irmão mais velho, mas a felicidade nunca era plena. Mordeu o lábio inferior com aquela lembrança, sentindo o acessório que tinha em seu lábio inferior, símbolo de sua família.

    Percebeu uma diferença muito grande entre si, e o mais velho, chamado Cliff. O mais velho, tinha um ambição nata, ao qual, o moreno sentado no banco não conseguia compreender. Além disso, Cliff era muito melhor em todas as atividades propostas para ser o rei, enquanto o moreno que não queria voltar para o castelo, não se interessava pelas dinâmicas. Não que seu meio-irmão mais velho fosse uma má pessoa, ele tinha alguns estranhos surtos de egoísmo, porém na maioria das vezes tinha um sorriso gentil na face. Ser uma pessoa agradável era um dos requisitos para ser um bom governante.

    - Jovem amo! ? Sterling assustou-se, quase pulando. Virou sua cabeça, para a direção da onde provinha um chamado, acompanhado de uma voz reconhecível.

    - Estou aqui! ? Exclamou em voz alta. Levantou-se e saiu do labirinto.

    - Ainda estás aí, jovem amo? ? Viu a figura, de um de seus tutores, aparecer na sua frente. Charles Chermont possuía porte alto, os cabelos curtos e negros revoltos, seus olhos cor de chocolate transpareciam. Naquele dia, estava com vestimentas em um tom verde escuro, quase se misturando com os arbustos ali.

    - Sim... Ainda não queria voltar para o castelo, professor Chermont. ? Respondeu sereno.

    - Mas já está tarde. O teu pai ficará preocupado. ? Argumentou.

    - Se não contares nada, ele não saberá. ? Sorriu, maneando a cabeça e passando o peso de seu corpo para a outra perna.

    - Jovem amo. ? Negou suavemente com a cabeça, contendo um riso.

    - Eu já estava indo, senhor Chermont. ? Colocou as mãos para cima em um ato de rendição.

    - Achas engraçado quando me chamam pelo sobrenome certo? ? Riu suavemente. -Daqui a alguns minutos o jantar estará pronto. ? Sorriu gentil, mostrando as covinhas que as pessoas sempre admiravam no tutor.

    O segundo príncipe sorriu em resposta fazendo o trajeto rumo ao castelo conversando com seu tutor. Ele era o professor de vários assuntos, principalmente de artes, e sua paixão era a literatura, que Sterling sempre havia apreciado. Podia passar horas na enorme biblioteca do castelo, lendo a lista infindável de livros que havia lá, alheio ao mundo ao seu redor. E Chermont sempre incentivava essa prática, sempre falando de livros e antigos pergaminhos encontrados no mais fundo do local onde os livros ficavam. Ele sorria estendo o livro, ou seu objeto encontrado em uma enorme mesa de nogueira que tinha séculos, e mostrava a Sterling.

    A época não era a das mais propícias à leitura, uma vez que poucos tinham acesso a ela. Os livros também não eram fáceis, copiados a mão, dificultava o acesso há muitas obras. No entanto, poder partilhar seu gosto pelos livros com alguém, era algo animador para o segundo príncipe. Seu irmão mais velho, sempre estava praticando alguma atividade física, e mais recentemente, entrava em grandes missões para selar acordos com outras nações e impérios. Seu pai, quando não embarcava com Cliff, estava trancado em seu quarto, ou resolvendo problemas, o que era sua função. Era certo que o monarca nunca havia se recuperado totalmente da perda de sua esposa, todavia Sterling nunca conseguiu conversar sobre o assunto com seu pai. Aliás, ele próprio não lembrava muito da mãe, pois ela havia falecido quatro anos depois de dar a luz a ele.

    O jovem príncipe entrou no castelo de luxo, ainda acompanhado de Chermont e se encaminhou para a sala de jantar. Pelo caminho, entre a conversa amena que compartilhava com seu tutor, olhava a mobília luxuosamente excessiva como eram nos modelos de palácios reais. Chegou à sala de jantar, um ambiente amplo com uma extensa mesa de nogueira no centro. Os empregados andavam de um lado para outro, e na mesa um único prato posto. Sterling, mesmo acostumado com seu pai não estar presente, estranhou o fato de Cliff também não estar. Olhou para a criada que passava, perguntando em uma voz gentil:

    - O rei e meu irmão não irão jantar? ? Perguntou a mulher.

    - Não, jovem amo. O rei disse que está exausto pelas atividades do dia, e o senhor seu irmão disse que não tem fome. ? A mulher o olhou com uma mistura de pena e compreensão. Já estava ali há bastante tempo para ver a cena do segundo príncipe comendo sem companhia, se repetir diversas vezes.

    - Então, por favor, coloquem mais um prato para o professor. ? Indicou Chermont.

    - Sim, jovem amo. ? A mulher se curvou em uma pequena reverência, levantando-se e olhando com um sorriso agradável para ambos, logo saindo.

    - Irás jantar comigo, certo? ? Perguntou o jovem príncipe esperançoso, já havia pedido que colocassem um prato a mais, porém, se esquecia de convidar o mais velho a sua frente.

    - Se tu desejas, será um prazer. ? Ele disse, sorrindo pequeno. Sterling sabia que o outro se sentia intimado ali dentro, mas ficou feliz por tê-lo como convidado.

    - Não gosto de jantar sozinho. ? Murmurou, sentando-se em uma das cadeiras.

    - Também não. - Chermont sentou ao lado do mais novo.

    - Mas meu pai não costuma jantar comigo... E hoje, até Cliff não apareceu.

    - Eles estão ocupados, tu deves entender...

    - Eu entendo... Mas é que me sinto solitário de vez em quando... Ainda mais agora, com as grandes excursões de Cliff.

    Sentia-se estranho verbalizando aqueles pensamentos, pois os julgava muito egoístas. No entanto, não podia refrear sua tristeza em relação a ficar só naquele imenso castelo. Mesmo sendo criado sem mãe e com seu pai pouco presente, nunca havia acostumado a estar sozinho. Os pratos não demoraram a serem servidos, e cada um saciava sua respectiva fome.

    - Eles estão em busca de alianças importantes para o reino, mas sabe o que consegui com um bom amigo que foi nessa última excursão? ? Perguntou com um sorriso animado.

    - O que...? ? Olhou em expectativa para o tutor.

    - A última obra do seu escritor favorito. ? Sorriu mostrando as covinhas.

    - O senhor Hayashi?

    - Sim... Parece que é algo recente dele, que havia trabalhando há meses e que divulgou no reino em que está vivendo momentaneamente.

    - Como não me disse antes? Preciso ler a última obra dele!

    - Estão a falar que é a sua obra prima, que está no seu melhor momento. ? Falou entusiasmado.

    - Gosto de como ele escreve... É tão real e profundo, o pergaminho está aqui? ? Perguntou, pensando sobre ler naquele exato instante.

    - Sim, guardei junto aos meus pertences. Irei te mostrar amanhã. ? Encarou sua comida.

    - Amanhã? Não posso esperar até lá. ? Olhou descrente para o seu professor.

    - Não se altere jovem amo. Tenho certeza que amanhã, depois de descansares, poderá apreciar melhor o livro do senhor Hayashi. ? Ignorou o olhar do príncipe.

    - Mas é cedo ainda! - Tentou, em tom pedinte, em um último esforço.

    - Sabes que não... ? negou com a cabeça, fazendo os cabelos negros e escuros balançarem suavemente.

    - Mas... ? Começou, mas foi interrompido.

    - Amanhã, jovem amo. ? Olhou-o. ? O pergaminho está guardado, nada acontecerá a ele. ? Sorriu.

    - Como podes saber? ? Perguntou em tom emburrado, olhando o tutor.

    - Os guardas não deixariam ninguém invadir o castelo. ? Balançou a cabeça negativamente.

    - Sim. ? Lembrou-se do fato, e voltou a encarar a comida.

    - É uma das melhores guardas reais e... ? foi interrompido.

    - Mas amanhã, não retornarias para casa?

    - Não ire mais, como regressei a minha casa na semana passada, irei daqui a mais umas semanas, ou no próximo mês.

    - Então, é melhor terminamos nossa refeição. Quero dormir para ler a obra do senhor Hayashi, pela manhã.

    O assunto da conversa ainda perdurou sobre livros, e assim, o tutor sentiu-se cada vez mais relaxado e sorria entusiasmado com suas novas descobertas. A aura pesada que recaía antes sobre o salão, se dissipou dando lugar a uma aura leve e agradável. Ao final do jantar, o príncipe virou-se para o outro presente na mesa, sorrindo.

    - Foi um prazer tê-lo como companhia para o jantar. ? Levantou-se, tirando o guardanapo de pano de seu colo.

    - Disponha sempre príncipe.

    - Boa noite, professor Chermont.

    - Boa noite, jovem amo. Com sua licença. ? Ele disse e fez uma reverência, logo se virando e andando; o segundo príncipe andou em direção contrária até chegar ao salão principal. Este tinha uma grande escada com um corrimão dourado, que bifurcava em duas direções opostas.

    O moreno subiu as escadas, virando para o lado direito, onde ficava seu quarto. No longo corredor que se seguiu, viu os retratos da família o olharem da parede. Por isso voltou seus olhos ao tapete vermelho que revestia o chão.

    Chegou à porta de seu quarto, entretanto antes de tocar na maçaneta, virou seu rosto ao final do corredor, onde havia o quarto de seu irmão. Decidiu-se que antes de ir dormir, asseguraria que o outro estava bem. Andou a passos lentos, no entanto, começou a ouvir o som de gritos descontrolados provenientes, estranhamente, de seu meio-irmão. Por mais anormais os ataques dele, não era comum ouvi-lo descontrolado.

    Abriu a porta do quarto de Cliff, surpreendendo-se ao ver a figura do moreno mais alto que si, gritando a plenos pulmões.

    - Não serves para nada! Para nada! Por que me mandaram algo quebrado? ? Gritava o moreno cujos lábios eram também adornados pelo símbolo da família Wincler. Os cabelos dele eram parecidos com o de Sterling, negros e lisos, e o comprimento variava de tempos em tempos. Sendo que naquele dia, estavam quase do mesmo tamanho de seu meio-irmão mais novo.

    - O que aconteceu? ? Perguntou olhando atônito para o irmão.

    - Me mandaram uma boneca quebrada! ? Gritou como se fosse óbvio. Cliff andou e, foi só então que o segundo príncipe percebeu o assunto da confusão.

    Essa era uma particularidade de seu mundo, de sua dimensão. Havia ali, marceneiros que construíam bonecas do tamanho humano, com aparência humana. Com a ajuda do poder dos magos, as bonecas ganhavam vida e auxiliavam seus mestres em seus respectivos trabalhos. Esta havia sido a solução encontrada para quem precisasse de uma ajuda instantânea. As bonecas além de possuir a aparência humana, tinham algo de mágico, pois se adequavam em força ou maneira ao desejo de seu mestre, transformando-se em ajudantes perfeitas.

    Em seu reino, as bonecas eram comuns e Sterling sabia a fixação da busca incessante de seu irmão pelo o que ele havia descrito como ?Boneca Perfeita?. O que mais o assustou, foi ver a tal boneca, sendo erguida no ar, pelos braços fortes de seu irmão e ser estapeada na face. Cliff jogou a boneca que não reagia, e o segundo príncipe a olhou. Em tamanho natural de um humano não muito alto, vestia um roupão de seda, vermelho com linhas douradas. Possuía cabelos em tom bem claro de loiro, uma franja caía sobre os olhos dela. A face estava cheio de manchas roxas e vermelhas, junto com os braços finos e delicados.

    - Eu estou servindo bem, mestre? ? A boneca perguntou em uma voz quase humana, porém mecânica, sem entonação.

    - O que ela tem de errado? ? Perguntou num sussurro, encarando sobre quem falava. Estava assustado pela situação, além de ver o primeiro príncipe naquele estado, ainda observava aquilo.

    - Eu sempre peço por bonecas com a aparência física de meninas. ? Disse irônico. ? O mago fez com a aparência feminina aproximada, mas algo trocado.

    - O que? ? Perguntou inocente, desviando seus olhos escuros do corpo jogado no chão para os orbes de ônix de seu irmão.

    - Por baixo desse roupão de seda, isto é um garoto. ? Disse com repugnância, chegando um pouco mais perto sobre o que falava. ? Defeito. ? Desferiu um chute sobre a barriga da boneca, que mesmo dizendo ele ter a aparência feminina, era um garoto.

    - Pare com isso! ? Exclamou correndo em direção à boneca em um impulso.

    - Por quê? A boneca é minha. ? Sorriu com escárnio. ? Ela tem que servir pra algo. ? Desferiu mais um chute e quando seu pé mirou a face afeminada, Sterling se jogou contra a boneca. Abraçou, e sentiu o pé de seu irmão mais velho atingir suas costas com força.

    - Pare com isso! As bonecas não foram feitas para serem machucadas! ? Disse, sentindo o corpo artificial sob o seu tentar dizer algo.

    - Eu quero ser útil. ? Disse no mesmo tom de antes.

    - Está vendo? Ele quer isso. ? Falou o primeiro príncipe em um tom arrogante. ? Agora saia da frente e vá para seu quarto.

    - Não! Não vou deixar-te fazer isso! ? Exclamou abraçando o corpo com mais força, não sabia o motivo de estar praticando tal ato. De estar tentando proteger algo que nem era apegado, e que, mal julgava ter uma vida. Só tinha em mente protegê-lo.

    - O que tu pensas que está fazendo? Largue-o e vá para o seu quarto, Sterling. ?Cliff declarou em tom ameaçador.

    - O que tu pensas que está fazendo? ? Repetiu a pergunta, se pondo de pé, sentindo o garoto artificial ficar deitado contra o chão, mas com a expressão sem emoção. ? As bonecas não são feitas para serem quebradas desse jeito, e ainda mais sem sentido algum. ? Argumentou.

    - Tu estás desafiando teu irmão, Sterling? ? Estreitou os olhos, encarando com seriedade o segundo príncipe.

    - Não! Só acho que estás fazendo algo que contradiz seus próprios princípios. ? Explicou não querendo que seu irmão ficasse irritado, mas não deixando a questão de lado. ? Olhe. ? Indicou a boneca. ? Ainda está querendo agradá-lo.

    - Eu tenho que ser útil. ? A boneca sentou-se, com os cabelos loiros caindo sobre os olhos.

    - Só que fazer algo por ti. ? Continuou Sterling.

    - Faça assim. ? Sentou-se na grande cama que tinha lençóis em tom de vermelho, que estavam estranhamente bagunçados. ? Fique com ele, o leve daqui... Não sei o que farei se ele continuar por aqui. ? Desviou os olhos para o lado oposto ao qual seu meio irmão e a boneca estavam.

    - Está bem, ele será meu agora. ? Disse em um tom convicto, que nem ele mesmo sabia da onde havia vindo. ? Vem cá. ? Debruçou-se sobre o garoto artificial, segurando com um dos braços as pernas; e com a outra, a coluna. O Aninhou em seus braços e levantou-o, saindo do quarto. ? Boa noite, Cliff. ? Disse frio.

    - Sim. ? Murmurou ainda com um olhar perdido para a sacada.

    O jovem príncipe andou, com o corpo pequeno em seus braços, a passos devagar, e à medida que a porta do seu quarto aproximava-se ele olhou para a face do garoto, que era de fato andrógena, e achou-o muito fofo. Estranhou o seu pensamento depois, porém continuando a observar a face, percebeu manchas pelo rosto.

    Em contraposição com as marcas em sua face, a boneca tinha uma expressão serena, e parecia estar alheia aquela situação. O segundo príncipe encarou os olhos negros por muito tempo, constatando que talvez o conhecimento do que estava em seus braços era pequeno para entender a situação no qual se encontrava.

    Com certa dificuldade alcançou a maçaneta do quarto, e a abriu. Olhou para a grande cama como a de seu irmão, aproximou-se da mesma e deixou a boneca suavemente lá, retirando seus braços e sentando-se perto com as pernas para fora da cama. Viu o garoto loiro sentar e encará-lo.

    - Tu estás bem? ? Sterling perguntou. Naquele momento, questionou a si mesmo o que estava fazendo trazendo a boneca para lá, não é como se conhecesse muito sobre elas. Só entendia o básico, pois nunca havia tido curiosidade e nem vontade de ter uma. Agora, encontrava-se ali, com uma boneca, com um rosto angelical marcado por roxos e vermelhos, e que segundo seu irmão era um garoto.

    - Sim, estou bem. ? Disse na voz automática, sentando sobre seus joelhos. ? Não sofri nenhum dano.

    - Hmm. ? Pensou em uma maneira de dizer o que estava o incomodando. ? As tuas marcas doem?

    - Se tu não gostas delas, elas desaparecerão. ? Ao dizer aquilo, as manchas começaram a se dissolver, voltando ao tom alvo de pele que recobria o corpo do outro, até não haver vestígios delas. ? Tu és meu mestre, devo agradá-lo.

    - Como assim? ? Perguntou em uma curiosidade legítima.

    - Eu me adéquo ao meu mestre, ao seu desejo. ? Respondeu simples, pendendo a cabeça de leve para o lado direito, continuando a encarar o segundo príncipe.

    - Entendo. ? Murmurou.

    - És meu novo mestre, certo? ? Questionou.

    - Pode-se dizer que sim. ? Falou sem a convicção com que falara quando estava no quarto de Cliff. Observou os braços magros do outro, aos quais, também já não havia mais marcas.

    - Como posso ser útil? Da mesma forma que fui para o outro? ? Antes que Sterling pudesse raciocinar a cena que se desenrolava, o garoto artificial já tinha desamarrado o laço que prendia o roupão, e o jogado pela cama. Revelou um corpo branco e esbelto, sem músculos definidos e com a cintura delgada.

    - Se vista! ? Disse levantando e afastando-se da boneca, sentando na poltrona que tinha em frente à cama, porém distante da mesma. Virou os olhos para a mesma configuração de sacada que tinha no quarto de seu irmão.

    - Irrita-se com isso, como o outro? ? Perguntou na voz mecânica apontando o membro entre suas pernas.

    - Não é isso. ? Coçou a testa em frustração. ? Somente coloque sua vestimenta... Aliás, mandarei providenciar roupas decentes para ti pela manhã.

    - Certo. ? Disse colocando o roupão de novo, enlaçando a fita.

    - O que tu quiseste dizer naquela hora com ?O mesmo que o outro?? ? Perguntou, voltando a observá-lo em sua cama.

    - Ele me deitou na cama e tirou nossas roupas, e depois ele colocou... ? Foi interrompido pelo outro.

    - Pare! Eu entendi! ? Desviou os olhos, tamborilando os dedos no braço da poltrona, de um tom vermelha vinho, com os fios dourados de sempre. Envergonhou-se pela atitude de seu irmão e estranhou o tom com que o garoto falava daquilo. Esqueceu-se que falava com algo que não tinha sentimentos, nem maturidade para entender algo como aqueles atos.

    - Algo errado mestre? ? Perguntou.

    - Não. ? Respondeu rapidamente.

    - Como posso ser útil? ? Repetiu a pergunta e o segundo príncipe olhou com o cenho franzido para a face sem emoção.

    - Útil...? ? Repetiu pensando sobre o assunto, não precisava de ajuda com nada em especial, tinha as coisas prontas pertos de si, ou pessoas que fariam com sorrisos o que pedisse. De repente teve uma súbita ideia. ? Vem, vou levá-lo a um lugar para ser útil. ? Levantou-se.

    - Sim. ? Fez o mesmo processo que outro.

    - Acompanhe-me. - Andou até a porta e a abriu, deixando a boneca passar primeiro. Isso era um ato de cavalheirismo automático de sua parte, todavia depois refletiu se deveria ser tão gentil com algo que deveria teoricamente ajudá-lo.

    Saiu em direção ao corredor e andou em um profundo silêncio, ouvindo somente seus passos. Sabia que já era excessivamente tarde, mas não queria ignorar a vontade de colocar em prática seu pensamento. Terminou o corredor, chegando à parte em que dava as escadas, desceu-as sentindo o garoto artificial vir em seu encalço.

    Seguiu para outro corredor, que tinha a mesma decoração dos de cima, o tapete de vermelho que cobria o chão, os móveis que continham vasos ou esculturas, e casualmente espelhos de diversos tamanhos e formas. Passaram por algumas salas, até chegarem a uma escada que descia. Assim o fez, a escada não muito íngreme, terminou ao seu destino final. Duas portas pesadas de madeiras, aos quais, abriu para entrar em um espaço enorme preenchido de estantes por os todos os lados que a vista alcançasse.

    - Aqui é a biblioteca do castelo. ? Quebrou o silêncio. ? Irei te mostrar os livros que tem que ler, para então saber o significado de todas as coisas. ? Sorriu olhando as estantes.

    - Assim serei útil? ? Perguntou olhando para o príncipe.

    - Sim. ? Disse não sabendo se era mesmo verdade.

    - O que são livros? ? Perguntou.

    - Isso aqui. ? Aproximou-se da estante e retirou de lá um dos livros. ? É um conjunto de páginas que trazem informações diversas, ou somente histórias de grandes feitos ou estórias fictícias.

    - Entendo.

    - Tu sabes ler? ? Perguntou, pensando que em sua inocência ele poderia muito bem ainda não ter aprendido.

    - Sim, um dos requisitos básicos. ? Respondeu automático.

    - Então se sente. ? Indicou uma das cadeiras da grande mesa de nogueira que havia ali. ? Eu vou trazer livros que tu necessitas para saberes o significado, além de os de história geral.

    - Sim, mestre. ? Disse e acatou o pedido, que recebeu como uma ordem.

    O jovem príncipe começou a andar por todos os lados da biblioteca, trazendo grandes e pequenos livros e os levando até a mesa, fazendo uma pilha. Havia com capas de couro avermelhadas e envelhecidas, e outras com folhas e capas mais recentes. Depois de alguns longos minutos de idas e vindas, entre as estantes e a mesa, em um silêncio que só era quebrado pelos seus passos que ecoavam de leve, e pelo som dos livros contra a mesa, Sterling parou e olhou para todos os livros que havia trazido.

    - Apenas para começar. ? Disse e sentou-se na cadeira adjacente.

    - Posso começar a ler, mestre? ? Perguntou na voz mecânica.

    - Claro. ? Disse, e pegou um dos livros velhos. ? Esse é sobre a história do nosso reino.

    - Sim, mestre.

    - E caso precise de ajuda com as palavras... Pergunte-me. ? Entregou o livro à boneca.

    - Sim, mestre.

    - A tua voz não muda? ? Perguntou, mal pensando antes de falar. Sua intenção não era ofender, apenas sua curiosidade de onde saber até onde podiam ir as habilidades do outro, vieram á tona.

    - Como prefere, mestre? ? Perguntou.

    - Não sei. ? Disse, pensando no assunto.

    - Assim está melhor? ? A voz mecânica foi substituída por uma voz de garoto, ao qual Sterling classificou com uma condizente a sua idade.

    - Sim. ? Murmurou encantado. ? Fales algo.

    - Como o que, mestre? ? Perguntou no tom recentemente adquirido.

    - Tu tens um nome? ? Questionou curioso.

    - O mestre designa um nome. ? Falou sério.

    - Hmm... Sweetz. Quero que se chame Sweetz. ? Disse.

    - Sim, mestre. Então esse será meu nome de agora em diante. ? Disse encarando os olhos de Sterling.

    - Tu podes começar a ler. ? Murmurou.

    - Sim, mestre. ? Pegou o livro e o abriu na primeira página. O jovem príncipe observou a boneca ler o livro, alguns minutos depois retirou os olhos do livro com a face sem emoção.

    - O que significa ?depravado?? - Perguntou inocentemente.

    Quando percebeu a imaculada inocência da boneca a sua frente, pensou no que estava fazendo. Aquele ser tinha uma mentalidade infantil, seria como criar um bebê. No entanto, não conseguia ver outras opções. Não levaria de volta ao marceneiro, e nem deixaria aos cuidados de seu irmão muito menos o descartaria.

    A responsabilidade do garoto artificial, de cabelos loiros e lisos, de olhos escuros, e face delicada, era de agora em diante, toda sua. Observou a verdade nas palavras que dissera anteriormente, ao sair do quarto de seu irmão. Piscou os olhos saindo de seus devaneios e olhou para Sweetz. Agora, tinha um grande trabalho a realizar.


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