Zero

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    Capítulo 4

    Nauseantes feridas

    Eu e Zero estávamos de vigia à noite na grande sacada. Estava apoiada na parede e Zero olhando para as árvores que ficavam lá em baixo. Aquele momento estava super chato, Zero não falava (fato), nenhum assunto surgia em minha cabeça (milagre) e o céu continuava sem graça. Suspirei.

    - O que foi? - perguntou Zero.

    - Isso aqui está muito chato.

    Zero não respondeu, apenas voltou a olhar para o horizonte, como sempre fazia .

    Então tomei uma decisão: Andei até a beirada da sacada e pulei. Amorteci a queda pendurando numa árvore e cheguei ao chão. Quando minhas mãos tocaram o solo, senti algo perfurar a palma de minha mão e gritei. Alguns segundos depois de meu grito Zero apareceu em minha frente.

    - O que houve? - Zero perguntou calmo.

    Me levantei lentamente, olhei para a palma de minha mão, só vi a ferida, olhei para o chão e descobri que o que me machucara foi um pedaço de madeira de árvore, uma lasca.

    - Acho que me machuquei. - Respondi calmamente.

    Olhei para Zero e ele estava olhando para meu machucado de uma maneira estranha, ele parecia pertubado com algo.

    - Zero... Tudo bem? - Perguntei preocupada, me aproximando.

    Zero colocou o braço em seu rosto, tampando o nariz e a boca e começou a se afastar de mim.

    - Acho melhor... Você ir à enfermaria. - Ele disse.

    Zero saiu correndo e eu corri atrás dele. Senti alguém segurar em meu ombro e me virei. Era meu irmão, Kaname.

    - Deixe-o ir Yuuki.

    - Mas... Mas...

    - Parece que ele se sente enjoado com o cheiro de sangue.

    Olhei para a direção em que Zero fora, fiquei ainda mais preocupada. Kaname me pegou e me acompanhou até a enfermaria. Chegando lá, ele colocou um curativo em minha mão, olhou para mim e me deu um sorriso doce.

    - Fique afastada de Zero hoje. - Ele faz carinho em meu rosto. - Descanse.

    - Mas Kaname, foi apenas um corte e...

    - Yuuki, - Ele me interrompeu - Descanse, será melhor para os dois.

    Não consegui discordar de Kaname, ele tinha razão, era melhor principalmente para Zero.

    Na manhã seguinte, enquanto ia para a sala de aula, não encontrei Zero onde costumava encontrar todas as manhãs. Fiquei preocupada e decidi ir até seu quarto para ter certeza de que estava bem.

    Chegando em seu quarto, bati à porta.

    - Zero?

    Ele abriu um pouco a porta e me olhou.

    - Sim?

    - Tudo bem?

    - Acho que sim. Não era pra você estar na aula?

    - Fiquei preocupada com você.

    - Yuuki matando aula?!

    - Parece que sim... - Dei uma risadinha envergonhada.

    Ele deu aquele minúsculo e insignificante sorriso torto maravilhoso.

    - Bem... Já que está matando aula, gostaria de matá-la aqui ou lá fora? - Perguntou Zero.

    - Onde você quiser. - Respondi.

    - Yuuki...

    - Tudo bem, de verdade. Qualquer lugar está bom pra mim.

    Zero abriu a porta do quarto para que eu pudesse entrar. Entrei e me sentei em sua cama, ele trocou de roupa e se sentou ao meu lado, ficamos horas e horas conversando e por incrível que pareça, Zero também falou, desta vez ele não foi apenas um ouvinte. Tudo estava indo muito bem, até que eu olhei para o relógio espantada.

    - O que foi? - Zero perguntou.

    - Estamos atrasados. As meninas vão atacar os meninos da Turma da Noite!

    Eu saí correndo pela porta e consegui chegar até elas antes dos portões se abrirem. Kaname passou e sorriu para mim, Aidou passou e me assustou, depois me puxou pelo braço e viu meu curativo.

    - Machucou? - Perguntou Aidou com um sorriso galante.

    Tentei puxar minha mão mas meus esforços eram em vão.

    - Solte-me Aidou.

    - O corte foi fundo... - Ele chegou perto de meus ouvidos - Ainda consigo sentir o cheiro de longe.

    Ele aliviou minhas mãos e eu as puxei para mim esfregando meu pulsos. Quando todos os alunos da noite passaram, falei para as garotas irem para os dormitórios e elas foram bem tristes, como sempre acontecia.

    - Yuuki. - Zero me chamou e olhei para ele - Você deixou cair o laço do seu uniforme quando saiu correndo.

    Ele mostrou o laço para mim e eu o peguei rapidamente um pouco envergonhada.

    - Obrigada. - Sorri.

    Mais tarde, fui até o quarto de Zero e bati à porta.

    - Zero?

    - Sim? - Ele respondeu lá de dentro.

    - Eu... Queria saber se... Gostaria de jantar comigo e com meu pai.

    Zero abriu a porta e disse:

    - Claro, por que não?

    Ele não disse de forma muito animada, mas isso é natural de Zero. Sorri.

    - Então vamos!

    Peguei a mão de Zero e comecei a andar com ele em direção à sala de jantar de meu pai. Senti Zero apertar levemente minha mão e percebi que minha mão machucada estava à mostra para ele, retirei-a devagar de onde estava e a coloquei em minha frente.

    Quando chegamos à sala de jantar de meu pai, o cumprimentamos e o ajudei a arrumar a mesa, quando nos sentamos, meu pai começou a dizer:

    - Que bom que se juntou à nós Zero.

    - Obrigado pelo convite.

    - Por nada. Yuuki cozinhou especialmente pra você hoje.

    - Pai! - Fiquei super envergonhada naquele momento. Olhei para Zero. - Não foi nada demais, mas era a única coisa que eu sabia cozinhar e... Eu queria cozinhar algo pra você esta noite então...

    Zero provou um pouco do meu yakisoba. Você deve estar pensando, grandes coisas, qualquer um é capaz de cozinhar um yakisoba e foi exatamente por esse motivo que eu fiz um yakisoba .

    - Está uma delícia. O melhor yakisoba que já provei. - Disse Zero me olhando nos olhos.

    - Obrigada. - Sorri envergonhada.

    No final do jantar, meu pai pediu para que eu lavasse a louça enquanto ele resolvia assuntos da escola. Peguei os pratos da mesa e os levei para a cozinha. Coloquei-os dentro da pia e comecei a limpar. De repente Zero aparece ao meu lado e pega uma louça para lavar.

    - Posso? - Perguntou Zero.

    Assenti.

    - Obrigada.

    Ficamos alguns minutos em silêncio e limpando a louça.

    - Por que não me conta sobre seus problemas Zero?

    - Quais problemas?

    - Os que você vem passando.

    - Não estou passando por problemas.

    - Tudo bem... - Suspirei e sorri. - Quando chegar a hora de você me contar, você irá.

    - Como tem tanta certeza de que tenho um problema?

    - Porque você não demonstra seus sentimentos e anda sempre distraído. Como se estivesse pensando em algo o tempo todo.

    Ele ficou em silêncio e voltou a se concentrar nos pratos.

    - Saiba que sempre estarei aqui para te ouvir Zero. Não importa o que aconteça, eu sempre te apoiarei.

    Zero me abraçou fortemente. Me assustei de imediato, mas depois apoiei minha cabeça em seu peito, fechei os olhos e sorri. Aquele abraço transmitia confiança, eu senti que naquele momento Zero sentiu de verdade que poderia confiar em mim. Nos afastamos um pouco e ficamos com as faces bem próximas.

    -Yuuki. - Disse meu pai, entrando pela cozinha.

    Zero e eu voltamos a nos concentrar nos pratos rapidamente.

    - Sim pai. - Respondi.

    - Sabe onde deixei meu relógio? Não o encontro em lugar nenhum.

    Olhei pela cozinha e encontrei seu relógio em cima da mesa da cozinha. Peguei e disse:

    - Está aqui.

    - Obrigado minha preciosa filhinha.

    Ele beijou meu rosto e saiu novamente. Comecei a limpar os talheres, peguei uma faca, a que usei para cortar a cebola e o frango e comecei a limpá-la. Graças ao sabão, minha mão escorregou e acabei cortando meu dedo indicador. Fiquei um tempo olhando o corte e então me lembrei de Zero, ele se sentia nauseado à presença de sangue. Então escondi meu dedo atrás das costas. Zero se sentia pior do que na noite passada.

    - Desculpe. Desculpe Zero!

    Ele não falava nada, só parecia controlar seu enjôo. Tentei me aproximar com a outra mão, com a que tinha machucado na lasca.

    - Desculpe-me!

    Ele se afastou e saiu correndo.

    - Zero! - Gritei tentando impedi-lo, mas não adiantou.

    Olhei para o chão e vi que tinha perdido uma grande quantia de sangue. Pensei em ir atrás de Zero, mas lembrei do que Kaname me dissera na enfermaria, que isso poderia piorar a siruação dele. Então, limpei o chão, amarrei uma tira de pano em meu dedo para estacar o sangue e fui para meu dormitório. No caminho, encontrei Aidou.

    - Machucou outra vez? Que garota descuidada.

    Escondi minhas mãos.

    - Apenas me cortei, nada demais.

    - Posso ver?

    - Não.

    Me virei e continuei meu caminho. Aidou me segurou pelo ombro e me fez virar para ele.

    - Me dê um pouco, só um pouco Yuuki!

    - Não! Solte-me Aidou!

    Ele pareceu não ouvir minha ordem, pegou minha mão e tirou o pedaço de pano de meu dedo.

    - O cheiro é realmente muito bom.

    - Aidou...

    Então Aidou mordeu meu dedo e começou a sugar o sangue. Aquilo doeu um pouco, parecia uma agulha.

    - Pare!

    Pude ouvir a voz de Zero dando essa ordem e junto com sua voz ouvi o barulho de uma arma. Zero estava atrás de mim e seu braço estava esticado bem ao meu lado com um revólver na mão mirando a cabeça de Aidou. Aidou deu uma breve risada irônica.

    - Desculpe-me Yuuki. - Ele soltou minha mão. - Acho melhor voltar para a aula, ou Kaname irá me xingar.

    Enrolei novamente meu dedo no pedaço de pano. Olhei para Zero, sua respiração estava rápida, fora de ritmo. Ele parecia tentar se controlar. Devia estar tentando controlar seus enjôos.

    - Obrigada Zero.

    - Por nada. Acho melhor ir para seu quarto.

    - Mas... Eu tenho que ajudar Zero, e...

    - Vá para seu quarto Yuuki, será melhor. Se continuar aqui desse jeito, os vampiros virão até você. Vá.

    Assenti obrigatoriamente e comecei a ir na direção de meu quarto.

    - Yuuki.

    - Sim?

    - Tente não se machucar mais ok?

    Assenti de novo e continuei meu caminho.


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