Prayer

Tempo estimado de leitura: 20 minutos

    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Prólogo

    Bissexualidade, Homossexualidade, Nudez, Sexo, Violência

    Foi conveniente que o mundo estivesse dormindo quando Takanori Matsumoto adentrou o dormitório em completo silêncio.

    Ninguém teria notado sua presença taciturna se não estivessem esperando pelo garoto. O novo aspirante a padre. Não que todos os meninos que estivessem estudando pra isso quisessem realmente se tornar padres. Na verdade, aquela diocese era ?acolhedora? por assim dizer. Havia os meninos que queriam virar padres, os que eram largados pelos pais, muitas vezes sem um porque, e eram acolhidos e obrigados a fazer o que os superiores exigiam, sob a pena de sofrer castigos físicos, e depois vinha Kouyou Takashima, vulgo Uruha. Não era diferente do segundo exemplo, mas era um caso à parte.

    Este não se importava com a chegada de um novo hóspede, mas depois que fecharam as portas do dormitório, os garotos começaram a se remexer inquietos e impacientes para verem a chegada de Takanori. Isso não deixava Kouyou em paz, e nem a mim. Não que eu fosse uma pessoa completa, mas isto será esclarecido aos poucos.

    - Shhh, ouçam! ? Alguém sussurrou alto, e todos ficaram imóveis, ouvindo o plural de passos percorrendo o corredor até a porta gigante. Houve silêncio por alguns segundos e depois um tintilar de chaves, seguidos por um clarão que vinha de fora do quarto, definindo, em preto, a silhueta dos dois corpos, e por fim a escuridão que se ouvia admoestar outra vez. Todos apertavam os olhos para enxergar o vulto de sua presença. Ninguém conseguiu até o som de sua respiração lhes mostrar a direção em que ele se encontrava.

    Uruha, vou chamar assim, como era muito educado, falando ironicamente, puxou bruscamente a cortina escura para ver melhor já que ninguém se animou a fazê-lo.

    Ruki, vou chamar assim também, começou a andar devagar agradecendo mentalmente pelo favor que o outro tinha feito. Seus olhos passavam de cama em cama, procurando uma vazia.

    - Aqui. Sua cama está do lado de Akira. ? Uruha se pronunciou com tom de voz exigente apontando pra mim que olhei para o lado e só assim percebi a cama arrumada. O pequeno agradeceu mentalmente mais uma vez e acenou com a cabeça, Uruha acenou de volta.

    Colocou o pouco de coisas que pôde trazer ao seu lado, no chão, e deitou no colchão fino se cobrindo até o pescoço.

    O maior fechou as cortinas depois do outro já ter se arrumado. O silêncio ficou tão absurdamente mudo que todos escutaram quando ele finalmente se deitou.

    Ao contrário de todos, eu podia enxergar seus movimentos no escuro. Óbvio que não como se a luz estivesse ligada, vocês pensam que eu sou o quê? Deus? Eu apenas enxergava seus olhos brilhantes em azul e a forma de suas almas. Ou melhor, a cor de suas almas. Não tinham almas de cores diferentes, eram todas iguais, só o que mudava eram os olhos. Tão calados e calmos quanto um gato, diferente de Kouyou. Ele se deixava vagar em pensamentos durante a noite. Eu sentia uma atração diferente cada vez que o olhava. Seus olhos entravam em chamas. Não... seus olhos ERAM em chamas. Ele nascera em chamas, queimando em brasa pacata enquanto sua alma se machucava no frio, presa à pedra fria de frente ao sol que se negava a esquentá-lo.

    Diferente de Takanori que tinha a alma queimando sob a chuva rasa que não desejava tocá-lo. A esfria-lo. Olhos brilhantes em azul, e foscos, tão fracos que o som da cor era quase inaudível.

    Ele queimava. E queimaria até que libertasse Kouyou do frio.

    Sem mais. Continuemos com a história.

    O mais alto dormia do meu lado esquerdo e o baixinho no lado direito. Era eu, no meio dos dois. Só pra constar.

    Já era de manhã, todos estavam acordados em cima de suas camas, menos o calouro. Era normal ele não conhecer as normas dos superiores. Ainda dormia como um bebê que acabara de ser posto para dormir. Mesmo com tanto barulho ele não se acordou. Parecia morto, se não fosse pelo peito que chiava. Só podia ser consequência do frio que devia ter passado.

    Eu estava distraído, olhando. Foi quando senti a presença vulgar de Yuu se aproximando de nós. Ele parou nos pés da cama de Ruki e puxou o cobertor revelando as pernas brancas desnudas. Este se acordou em um pulo e parou sentado abraçando os joelhos, puxando a camisa muito maior que ele para se cobrir.

    - Você não está aqui de visita, Takanori Matsumoto. Você vai acordar no mesmo horário dos outros, vai comer o que os outros comem, beber o que os outros bebem, fazer o que os outros fazem ? Olhou para a roupa com a qual o menor passou a noite achando aquilo ultrajante ? e vai vestir o que os outros vestem.

    Então ele já sabia quem o novato era antes de todos. Não era de se surpreender já que era sobrinho do bispo. Ele adorava mostrar que era melhor. Não, não era melhor, era idiota.

    Yuu sorriu debochado depois do sermão e olhou para Kouyou que o fitou de viés e murmurou.

    - Idiota.

    O sorriso debochado se desfez num instante. Bem feito.

    Os dois se odiavam. Não... Uruha o odiava pelo jeito com que tratava os que eram acolhidos. Os que eram pobres.

    Ruki ainda tremia fitando os olhos do outro que pegou o cobertor do menor, enrolou nos braços e foi em direção à porta, saindo. Todos ficaram o olhando, eu e Kouyou olhamos Ruki. Sua expressão estava bem mais calma pelo outro não continuar o olhando.

    Em seguida se ouvia o sino batendo, indicando que era pra irmos trocar de roupa, tomar café e essas coisas. Todos foram menos eu, Uruha e Ruki.

    Uruha foi o primeiro a se pronunciar:

    - Sabe, se ficar dando bola pras animalices que Yuu faz e fala, você vai ficar louco. Ele só quer atenção como uma criança. ? Terminou de dobrar o cobertor colocando em cima da cama e olhou para o menor.

    Ruki assentiu calado.

    - Porque você não fala? Esse negócio de só ficar balançando a cabeça é constrangedor.

    - Perdão. ? aquilo fora um murmúrio.

    - Está pedindo perdão pelo que? ? perguntou, achando aquilo ridiculamente desnecessário.

    O jeito que Uruha falara fora como um soco no rosto de Ruki que chegou a sentir o estômago embrulhar. Ele permaneceu parado com os olhos arregalados, quase como uma estaca, enquanto o outro saía.

    Olhou para mim e abriu a boca para falar, mas logo fechou com medo que eu também fosse estúpido. E foi bom porque eu não ia responder mesmo. Só falo quando realmente quero, e somente respondo se a pergunta for plausível. Senão não.

    Saí dali com uma pontada de culpa e fui andando pelo corredor. Ele queria minha ajuda, e o pior de tudo era eu saber disso.

    Parei. Me vi girando e olhando para a porta aberta do dormitório e comecei a voltar. Quão ridículo eu conseguia ser? Não estava ali para cuidar dele. Fiquei parado o observando. Ruki estava sentado em sua cama, cabisbaixo. Eu quase podia sentir o nó de angústia engolido em sua garganta.

    Ele enxergou meus pés descalços e seu olhar subiu por todo o meu corpo, levantando a cabeça. ?Olhos brilhantes em azul, e foscos.? Me permiti notar isto outra vez.

    Me fitava com pálpebras caídas.

    Ergui meu braço e abri minha mão o convidando a me seguir.

    Seu sorriso gritou perante o silêncio.


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