Eu, Pirata?!

  • Mannu
  • Capitulos 3
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 12 minutos

    12
    Capítulos:

    Capítulo 2

    Capítulo 1

    Álcool, Violência

    ?Ande logo, sua imprestável - gritou certo homem.

    ?S-sim se-senhor. -falei enquanto tentava lavar a louça com mais rapidez. Não queria apanhar novamente, ainda tinha as marcas de ontem. Quase sempre me batia com o que quer que encontrasse, às vezes era a mangueira, outras a corrente e até teve um dia que usou um arame da cerca que tinha sobrado. Quando não era ele, sua mulher tentava me fazer sofrer ou arrumava mais serviço pra mim. Só descansava pra almoçar, jantar e dormir.

    Pois é... minha vida se resumia a trabalho. Eu era o que eles chamavam de escrava. Na verdade não eram meus pais biológicos, mas pelo menos eu tinha um local pra dormir. Ah... por que eu tive que falar isso.

    Pude sentir novamente o cansaço açoitar meu corpo.

    Suspirei baixinho.

    Quando consegui terminar fui até a sala onde eles estavam conversando.

    ?Com licença - disse com a cabeça abaixada.

    ?O que você quer sua chata? - perguntou a mulher num tom amargo - Por acaso já terminou?

    Anui.

    ?Pode pegar sua comida na mesa. - ela afirmou.

    ?Obrigada. Com licença. - falei enquanto saía. Eu tinha muito cuidado ao escolher minhas palavras com eles, pois caso não tivesse eu ia pagar com minhas lágrimas. Tive que aprender isso a marra.

    Chegando lá encontrei o meu jantar. Era o mesmo de sempre: restos do arroz de ontem e uma fatia de tomate que estava quase totalmente preto, num pedaço de metal que eu usava como prato. Peguei e fui para o quintal.

    "Finalmente vou poder descansar."

    Sentei no meu pedaço de pano rasgado, que era meu colchão, e comecei a comer com a mão, eles não me deixavam por a boca em nenhum talher ou copo deles. Ao engolir a primeira porção, percebi que o arroz estava estragado.

    Prendi a respiração e devorei tudo de uma vez só. Se descobrissem que eu havia desperdiçado algo... estaria numa enrascada.

    "Calma Sakura. Hoje é o seu último dia aqui."

    Coloquei o pedaço de metal arredondado de lado e deitei sob o tecido, que pelo menos era bem melhor do que o chão frio. Meus olhos avistaram o lindo céu estrelado.

    Sorri.

    As estrelas eram minhas únicas amigas. Elas estavam sempre naquela imensa abóboda celeste e me confortavam com seu brilho nas vezes em que eu chorava. E a lua... era a mãe de todas e estava disposta a iluminar a noite... a não deixar que a escuridão me envolvesse por completo.

    Eu só teria que esperar. Esperar eles dormirem para eu fugir. Havia planejado isso durante anos a fio, não iria passar a eternidade como uma condenada. Eu queria ser mais do que uma reles serva. E hoje iria botar em prática meu plano, só esperaria eles dormirem.

    Ergui meu braço direito até os olhos. A minha marca de nascença ainda estava lá. Era negra como as sombras, e ia fazendo uma espiral desde à costa de minha mão até pouco menos da metade do ante-braço, o mais estranho é que me lembrava um dragão. Eles me disseram que desde que eu era gente tinha essa marca e que nunca saiu.

    ?Será que meu irmão também tem uma igual a minha? - sussurrei pra mim mesma.

    Levei a mão até o peito.

    Meu irmão... ele era meu único parente vivo. Uma de minhas poucas memórias do tempo em que eu ainda não tinha vindo pra cá, era a de um garoto me dizendo: 'Vai ficar tudo bem, minha irmãzinha. Você vai ficar bem.'. Não lembro de seu rosto, nem do que aconteceu depois. Mas era ele o que sabia do meu passado, de meus verdadeiros pais, de quem eu era. E eu o encontraria.

    Fechei os olhos tentando imaginar como ele seria.

    "Talvez ele também tenha cabelo rosa."

    Ri.

    Depois de um tempo, vi que as luzes da casa tinham sido apagadas e resolvi esperar mais um pouco. Quando achei que já haviam adormecido levantei-me. Fui à porta que dava para a casa e abri lentamente procurando não fazer barulho. Atravessei os corredores e caminhei até o portão que seria a saída para a minha liberdade. A chave estava na fechadura, eles nem sequer imaginavam que eu iria fugir um dia. Destranquei e saí.

    Respirei fundo.

    "Se eu soubesse que seria tão fácil assim teria escapado antes."

    Comecei a correr desesperadamente. Queria estar o mais longe dali o possível. Se me pegassem seria o meu fim.

    Nem olhei pra onde estava indo, não importava, só queria sair dali e encontrar meu irmão.

    As lágrimas banharam minha face.

    O que eu iria fazer? Como encontraria meu irmão se nem sequer eu lembrava como ele era?! Como o acharia nesse mundo enorme? Deveriam existir centenas de milhares de homens por aí... como saberia que ele era ELE?

    De repente trombei com algo duro. Foi tão forte que caí no chão.

    Escutei o som de alguma coisa se quebrando... acho que era vidro.

    ?Ai seu idiota - falou uma voz rouca masculina. - Olha por onde anda babaca.

    Pisquei os olhos para tentar vê-lo.

    ?D-des-desculpa, não te vi. - disse, limpando as lágrimas.

    ?Desculpa? Desculpa o caramba, olha o que você fez - continuou.

    Pude ver melhor. Um homem se levantando e vindo em minha direção. Usava uma calça preta amarrotada, botas marrons que iam até a metade da canela, uma camisa branca desabotoada que deixava a mostra seu peitoral escultural. Ele tinha um corpo bem musculoso. Os cabelos negros e sedosos, que faziam meus dedos estremecerem de vontade de tocá-los, estavam sob um chapéu triangular negro. Seu rosto contornado pela pele alva como a neve contornava os lábios rosados e o que me parecia um pouco inchados, o nariz que me lembrava as mais altas montanhas, e os olhos. Ah... os olhos eram como a escuridão da noite. Em suas mãos ele carregava uma longa espada prateada, que apontava para mim à medida que se aproximava.

    ?Sabe quem eu sou? - perguntou-me, colocando o gume da espada em minha garganta.

    Balancei a cabeça, negando.

    Gargalhou.

    ?Se soubesse quem sou jamais teria encostado em mim. - falou, analisando meu corpo. - Mas você deve ser apenas um ladrãozinho barato que estava fugindo, não é?

    ladrão?

    Não respondi. Ele pensava que eu era um homem?

    ?Hoje é o seu dia de sorte... - afirmou - Como não estou de mau humor vou deixar você vivo. Só precisa pagar outra bebida pra mim.

    Engoli seco.

    ?Eu não... não tenho dinheiro. - disse, temerosa.

    As linhas de seu rosto desenharam na sua face uma expressão que me deu medo.

    ?Não me interessa. Ou paga ou morre.

    Meu coração acelerou.


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