Zero

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    Capítulo 3

    Tentativas de um sorriso - parte 2

    -Eu...preciso ir almoçar.

    Foi a fria resposta de Zero ao meu convite. Meu sorriso se desfez novamente, ele passou por mim e foi embora. Fiquei olhando-o, tentando entender, como sempre, esse sentimento ruim que há em Zero.

    Fui almoçar com meu pai, o ajudei a arrumar a mesa e enquanto arrumávamos eu o perguntei:

    -Pai, por que Zero é tão estranho?

    -Como assim querida?

    -Ele só fica de cara fechada, fugindo dos assuntos, matando aula, não fala...

    -Eu não sei Yuuki.

    -Mas...

    -Yuuki, se ele tiver realmente algum problema e quiser compartilhar com você... ele irá.

    Meu pai sorriu para mim e eu correspondi assentindo. Sentamos na mesa e comemos.

    A noite chegou. Na hora de começar a vigia, encontrei Zero encostado na beirada da grande varanda do colégio, ele olhava fixamente para o céu. Cheguei perto dele e suspirei.

    -Por onde andou a tarde toda? Você me abandonou... tive dificuldade para segurar as meninas hoje, elas estavam super agitadas - olhei para o rosto de Zero e dei uma risadinha, não adiantou nada. - O pior foi que eu tive que segurá-las sozinha, não foi nada fácil - suspirei e voltei a olhar para o céu. - Elas me derrubaram e Aidou-senpai teve que me segurar, fiquei super envergonhada e as meninas me olharam morrendo de ciúmes.

    Dei risinhos ao lembrar da cena. Zero continuava a olhar as estrelas.

    -Algum problema? - perguntei a Zero.

    Ele me olhou como se tivesse acabado de voltar de sua viagem mental.

    -Não... nenhum - respondeu.

    -Tem certeza?

    Zero assentiu e voltou a olhar para o céu. O céu não estava nada bonito, nada simpático, haviam apenas duas estrelas e a Lua brilhante. Não achei motivo nenhum para ficar olhando aquele céu feio, sem emoção. Eu me cansei daquele silêncio que estava entre nós, então pulei da varanda, me aponhando numa árvore para amortecer a queda. Comecei a andar por entre as árvores do jardim da escola, que parecia mais uma floresta. Me encostei numa árvore e suspirei. Vi que qualquer coisa que eu fizesse seria em vão.

    -Olá - disse uma voz suavemente.

    Me assustei.

    -Me assustou Kaname.

    -Desculpe. Não tive a intenção.

    Sorri para ele e ele me retribuiu.

    -No que está pensando?

    -Que Zero não confia em mim para falar de seus problemas. Ele não me deixa ajudá-lo.

    -E como pretende ajudá-lo?

    -Fazendo o que for preciso.

    -Isso pode ser arriscado Yuuki - ele fez carinho em meu rosto.

    -Eu sei - coloquei minha mão por cima da de Kaname. - Eu só quero ver o Zero feliz.

    -Vai desistir?

    -Acho que sim - suspirei.

    -Yuuki - olhei para ele - ainda não é o fim, o mundo não acabará esta noite, você ainda pode conseguir o sorriso dele amanhã.

    -Tem razão - sorri e abracei Kaname. - Obrigada. Você sempre faz eu me sentir melhor.

    -Estarei sempre do seu lado, para o que precisar.

    Parei de abraçar Kaname, ele me beijou na testa, sorrimos para o outro e depois ele foi para a aula. Me virei e comecei a andar novamente, olhei para cima, suspirei e quando olhei para frente encontrei Zero, parado como uma estátua.

    -O que está fazendo aqui? - perguntei.

    -Vigiando com você.

    -Vigiando comigo ou me vigiando?

    Zero não respondeu.

    -É verdade o que disse?

    -Você ouviu minha conversa?

    Zero assentiu. Suspirei e fiquei corada de vergonha .

    -Sim, é verdade.

    -Por que quer tanto me ver sorrir?

    -Quero te ver feliz, só isso. Eu me preocupo com a felicidade das pessoas que são importantes pra mim.

    Zero não disse nada. Se virou e começou a andar.

    Na manhã seguinte, no caminho para a sala de aula, encontro Zero e desejamos 'bom dia' para o outro.

    -Aonde vai? - perguntei.

    -Eu...

    -Não, - peguei o braço de Zero e comecei a puxá-lo para a sala de aula - hoje você não vai matar aula.

    Entramos na sala e coloquei Zero sentado ao meu lado, a maioria dos alunos começaram a cochichar, pois era rara a presença de Zero naquele lugar.

    -Por que me trouxe Yuuki?

    -Porque você é meu amigo e estou cansada de assistir à aula sozinha.

    -Não tem suas amigas?

    -Tenho, mas você é meu melhor amigo. Não posso assistir a aula com meu melhor amigo?

    Zero ficou alguns seguindos me olhando e depois voltou seus olhares para o caderno, onde começou a desenhar e fazer alguns rabiscos sem sentido. No final da aula, saímos e começamos a andar em direção aos dormitórios para guardar os cadernos.

    -A aula nem foi tão chata hoje - eu disse.

    Olhei para Zero e pensei o quanto eu fui egoísta. Eu o empurrará para a aula e o obrigara a assistir a aula para minha própria felicidade. Eu era uma idiota .

    -Por que foi comigo se não queria ir? - perguntei meio triste.

    -Porque para mim, o que importa é ver o seu sorriso - ele disse sério.

    Naquele momento eu me senti mais egoísta ainda, mais idiota, mais terrível, enfim... me senti um monstro destruidor de sentimentos. Enquanto ele fez uma coisa que não gostava para me fazer sorrir, o que eu fiz para colocar um sorriso no rosto dele? NADA! Fiquei afastada de Zero o resto do dia, eu não conseguia parar de pensar em como fui ridícula para ele. Mas agora eu já sabia como fazê-lo sorrir, iria fazer o possível para ganhar seu sorriso.

    Na manhã seguinte, encontrei com Zero indo para a sala de aula, como sempre acontecia, lhe dei um breve 'bom dia' e ele me retribuiu. Lhe dei um breve sorriso e fui para a sala de aula, sem mais comentários, pois se a alegria de Zero era não ir à aula, eu não o faria infeliz.

    A aula havia acabado, recolhi meus materiais devagar e fui a última a sair de sala. Enquanto eu passava pelos corredores, alguém me chamou, era a voz de Zero, olhei para trás.

    -Tudo bem com você? - Zero perguntou.

    -Sim - respondi.

    -Não parece.

    -Por que?

    -Bem... não me puxou para a aula e não me xingou por ter matado aula.

    -Não vou fazer coisas que não te agradam, pois tudo o que me importa é ver o seu sorriso.

    Eu sorri para ele, me virei e prossegui. Depois do almoço, fui até a portaria da Turma da Noite para segurar as meninas da Turma do Dia, para não atacarem os belos alunos vampiros da Turma da Noite. Elas me empurravam, tentavam passar de qualquer maneira. Quando os portões se abriram, entrei em pânico. sabia que seria esmagada, era meu fim. Fechei os olhos e tentei segurá-las com o máximo de força que conseguia.

    -Fiquem quietas - disse Zero tranquilo.

    Abri os olhos e olhei para trás. As meninas pararam imediatamente de me empurrar. Todos os alunos da Turma da Noite começaram a passar, elas ficaram animadas, Aidou me olhou, revirou os olhos e riu ao ver meu esforço para segurá-las. Apontei língua para ele e ele começou a rir mais ainda e depois começou a mexer com as outras garotas. Kaname olhou para Zero e em seguida olhou para mim e me deu um sorriso junto com uma piscada. Sorri para ele e ele passou.

    Depois que todos os alunos da noite passaram, me virei para as garotas e mandei todas irem para o dormitório. Elas não gostaram da idéia mas foram assim mesmo. Depois que todas se foram, olhei para Zero e suspirei.

    -Que dificuldade. Obrigada por me ajudar - eu disse feliz.

    -Por nada - disse Zero.

    Pude ver o canto esquerdo de sua boca se mover levemente para cima, era um sorriso torto, minúsculo e insignificante para muitos, mas para mim, aquilo foi mágico, foi simplesmente o acontecimento que eu tanto esperara, um sorriso de Zero. Sorri mais ainda e o abracei bem forte. Eu havia ganhado um sorriso de Zero. O meu dia se tornara perfeito.

    -O que foi? - perguntou Zero enquanto eu o abraçava.

    -Você sorriu! Sorriu!

    Ele retribuiu o meu abraço, chegou perto de meus ouvidos e disse:

    -Não se acostume, ainda não se tornou algo natural.

    -Ok - comecei a rir.

    Parei de abraçá-lo.

    -Vamos continuar nosso trabalho então - eu disse animada.

    Comecei a andar e Zero veio ao meu lado. Naquele momento percebi que nem todas as vontades podem se realizar, mas basta você insistir e nunca desistir de lutar pela felicidade do outro. Minhas míseras e idiotas tentativas não foram em vão, o breve e minusculo sorriso de Zero comprovaram isso.


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