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Consegui sorrir. Meio de canto, meio torto, mas é um avanço. Agora eu tinha mais um amigo. Saí de lá e fiquei vagando pelos bosques do céu. Eu tinha que chorar sozinha, eu tinha que pensar o que eu iria fazer longe de Dan durante esses 8 próximos anos.
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Cap.15
Esse um ano que me deram pra descansar não adiantou de nada. Nos primeiros dias eu continuava a querer ficar só, Pedro vinha falar comigo todos os dias, mas... eu não queria conversar com ninguém.
Das vezes que fui à Terra ver minha família, era inevitável escutar alguém falando sobre a morte de Dan. Principalmente do jeito trágico que foi, logo no dia do seu casamento. Entrei na casa de meus pais e vi na TV Marília dando entrevista, arrasada.
? Meu Deus, que coisa mais louca!! Logo no dia do casamento dele... Coitado do Dan, tinha só 28 anos!!! ? disse minha mãe, que pela primeira vez acertava o nome dele.
Quando as notícias começavam a me fazer chorar novamente, eu voltava ao céu. Já me bastava os olhares confusos dos outros anjos e a mim mesma me culpando pela morte dele. Às vezes eu pensava no dia em que voltaria à Terra. Eu queria que chegasse logo, para que eu pudesse esquecer disso tudo, mas ao mesmo tempo não queria esquecer de Dan.
Kaleb vinha às vezes conversar comigo. Talvez só ele pudesse entender um pouco do que eu estou passando, então eu falava tudo o que estava sentindo, desabafava mesmo. Ele me olhava triste, mas às vezes sorria e tentava me fazer sorrir, tentava fazer com que eu não desistisse de tudo.
Um ano passara. Um ano de reflexão, mas eu ainda não conseguia entender porque havia acontecido tudo isso com nós dois. Eu ainda sofria, mas tentava não transparecer pras pessoas ao meu redor, que já havia meio que ?esquecido? tudo o que eu fiz.
Num dia, à tarde, Kaleb chegou sorrindo pra mim.
? Acabou o seu ano, mocinha!!! Olha o que eu tenho aqui!!! ? tirou a mão de trás das costas, e balançou na minha frente um colar com um novo pingente de cristal.
Dei um grande suspiro. Não aguentava mais ficar ali sem fazer nada.
? Antes tarde do que nunca!! ? falei tomando o colar da mão dele, e colocando rápido no meu pescoço.
? Eu não vou poder ir com você, estou sem tempo, tenho que resolver um monte de coisas, só vim aqui mesmo pra entrega-lo pessoalmente a você. E... o seu protegido... você vai amá-lo.
? É mesmo? Então vamos ver!! ? Kaleb sorriu e se foi. Com o cristal em minhas mãos, me transportei para ver quem seria a criança da qual eu iria proteger durante 7 anos.
Me vi em um hospital, uma maternidade. Muitas mulheres grávidas esperavam com seus maridos na recepção. Fui passando pelos corredores, esperando o sinal do colar. Quando entrei no corredor do berçário, a luz do pingente invadiu uma sala. ?É essa?, pensei. Entrei, e vi tantos bebês lindos!! Um mais fofo que o outro... Mas a luz insista em irradiar um pequeno ser, à direita da porta de entrada, um menino. Na minha primeira observação, ele era tão pequeno que parecia ter acabado de nascer. E tinha, li na sua ficha, lá também tinha seu nome: Alex Connor.
?Alex, você é lindo?, pensei. Como eu não poderia amar um bebê tão lindo como você? Passei levemente a minha mão em seus poucos fios lisos castanhos. Ele abriu os olhos e olhou pra mim. Duas enfermeiras chegaram e uma o pegou no colo enquanto a outra trocava os lençóis. Mesmo assim, ele continuava a me olhar nos olhos, seus olhos castanhos me faziam lembrar alguém.
? O que você está olhando pequeno? Eu estou aqui, não quer olhar pra mim? ? perguntou a enfermeira que o segurava no colo, sem entender o porquê que ele olhava pro ?nada? tão intensamente.
Ela o colocou de volta no berçário e foi embora. Fui para o outro lado, e ele fez força pra virar a cabeça e me acompanhar com o olhar.
? Então você está realmente me vendo, não é? Bem, não é novidade, uma certa pessoa com os seus mesmos olhos também conseguia me ver... Já ouvi milhões de vezes que animais e crianças veem almas ou anjos, então... Olha, vou te avisando logo: sou seu anjo da guarda e vou estar com você até completar 7 anos. Não vai me dar trabalho, viu? ? disse sorrindo, e, se eu não tivesse imaginando coisas, podia jurar ele sorriu levemente também.
Os pais e alguns parentes chegaram para visita-lo, e ficaram discutindo sobre seu nome. Um tio disse que não gostava desse nome ?Alex?, que era pra ter escolhido outro. Dei risada, ele estava louco, esse nome era lindo. Peguei o cristal para ver o nome da alma de Alex. ?Se você não gostou de Alex, deve gostar desse aqui?, pensei, e virei o cristal para ver o nome. Minha boca se abriu diante da surpresa. Eu não estava acreditando naquilo.