De Amêndoas e Rosas

Tempo estimado de leitura: 12 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 2

    II

    Spoiler

    Os personagens de Saint Seiya e Saint Seiya Omega pertencem ao tio Kurumada, à Toei e aos japas lá. Os demais personagens são meus, meus, meus!

    DE AMÊNDOAS E ROSAS

    Chiisana Hana

    Beta-reader: Nina Neviani

    Capítulo II

    Depois de uma breve passagem pela mansão Kido, Shunrei e Shiryu voltaram para Rozan. Ela se desdobrava entre os cuidados com o filho e com o marido e procurava levar uma vida normal com eles, na medida do possível. Apesar de privado dos sentidos, Shiryu continuava teimoso e em diversas ocasiões ela o encontrou tentando tatear pela casa. Temendo que ele sofresse algum acidente, especialmente com o fogão, ela passou a fechar a porta que separava a cozinha do resto da casa, além de tirar da sala e do quarto todos os objetos que pudessem machucá-lo, deixando que ele circulasse livremente por esses cômodos. Shiryu andava vacilante, uma vez que mesmo descalço não conseguia sentir direito o chão onde pisava, mas insistia em andar sozinho.

    Durante o tempo que passou em Tóquio, Shunrei comprou todos os livros que julgou serem úteis para o caso de Shiryu e neles descobriu que massagens diárias com óleos aromáticos mornos, especialmente o de canela, podiam ajudar a estimular o tato. Associava essas massagens com a moxabustão e em pouco tempo notou alguma melhora no tato de Shiryu, pois algumas vezes ele parecia sentir o calor do óleo e da moxa.

    Com o tempo, passou a levar Shiryu para breves passeios ao redor da casa, estimulando-o a andar sobre as diferentes texturas do solo: pedra, areia, grama. Esses pequenos passeios eram bons também para Ryuhou, que estava aprendendo a caminhar.

    Apenas algumas semanas mais tarde, Shunrei sentiu-se segura para começar a levar Shiryu até a cachoeira, pois tinha lido em um dos livros que a força da água também poderia ajudar. Deixava que o marido ficasse por vários minutos embaixo da cachoeira, enquanto ela ficava por perto, brincando na água com Ryuhou. O menino gostava de água desde que nasceu e adorava quando a mãe o levava para a cachoeira. Numa dessas brincadeiras na cachoeira, Shunrei pensou ter ouvido a risada de Shiryu e sobressaltou-se. Tinha sido só impressão ou ela tinha mesmo ouvido? Continuou banhando o bebê, que dava risadinhas gostosas quando ela lhe molhava o cabelo. Outra vez teve a sensação de ouvir a risada de Shiryu. Apurou os ouvidos e escutou:

    "Shunrei, você pode me ouvir?"

    Olhou para ele fixamente e ouviu de novo:

    "Shunrei, você pode me ouvir?"

    Ela tinha ouvido a voz de Shiryu alta e clara, embora ele não tivesse sequer mexido os lábios. Shunrei alegrou-se, mas não soube como responder. Não adiantaria falar, nem assentir com um gesto, porque ele não podia ver ou ouvir, então se concentrou. Tinha de haver um jeito de responder através da mente. Pensou na fé que tinha quando orava e em como Shiryu contou que com essa fé ela conseguira desconcentrar Máscara da Morte, e procurou focar-se.

    "Sim, eu ouço", respondeu em pensamento.

    Shiryu não pareceu reagir. Ela tentou de novo.

    "Eu posso ouvi-lo, meu amor".

    Agora Shiryu sorriu.

    "Acho que encontramos um jeito", ele pensou e ela imediatamente captou o pensamento dele.

    "Parece que sim, meu amor!" ela respondeu com a mente, sentindo uma alegria difícil de mensurar. Agora poderia conversar novamente com Shiryu e saber a opinião dele quando precisasse tomar decisões que envolvessem o filho.

    "Você pode sentir o Ryuhou também?", ela concentrou-se e perguntou a ele.

    "Posso sentir que ele está aqui e está feliz. Não é uma sensação física, é espiritual, mas eu posso".

    Shunrei conduziu Shiryu até a beirinha do lago e sentou-o, colocando Ryuhou no colo dele.

    "Eu te amo tanto, Shiryu", ela disse em pensamento e beijou-o. Ele não podia sentir o beijo fisicamente, não sentia o toque, o gosto ou o calor dos lábios dela, mas repetiu para si mesmo que era só uma questão de tempo.

    "Eu também te amo. Eu amo vocês dois", ele respondeu. "E eu vou lutar para voltar a ser o que eu era. Não quero que o meu filho cresça com o pai desse jeito".

    Shunrei envolveu os dois com os braços.

    "Nós queremos que você fique bom, mas saiba que te amamos de qualquer forma, meu bem".

    "Eu sei, minha querida. Eu sei. Como ele está agora?".

    "Ele está grande e pesado, já fala papá e mamã, e já está dando os primeiros passinhos", ela disse, orgulhosa, e começou a desembaraçar com os dedos os longos cabelos de Shiryu.

    "Gostaria muito de poder vê-lo outra vez", ele disse.

    "Você vai conseguir. Tenho muita fé que vai."

    "Meu filho querido", Shiryu queria tocar o rostinho do menino, mas com quase nenhuma sensibilidade, tinha medo de machucá-lo.

    "Agora vamos para casa voltar para casa", Shunrei disse. "Se esfriar e ainda estivermos aqui, Ryuhou pode adoecer".

    Os três voltaram para casa. Shiryu e Shunrei sentiam-se plenamente felizes com a descoberta de que agora podiam se comunicar e passaram os dias seguintes procurando aperfeiçoar essa comunicação mental. Shiryu estimulou Shunrei a praticar meditação todos os dias para desenvolver melhor a concentração e isso estava funcionando. Shunrei já conseguia sentir os pensamentos do marido e respondê-los sem dificuldade. Notou também que começava a sentir o filho quando um dia percebeu que ele tinha dificuldade de respirar, antes mesmo de ele começar a chorar. O problema respiratório de Ryuhou de vez em quando atacava e ela precisava estar sempre atenta, mas fora isso, ele era um menino adorável.

    Certa vez, descuidou-se dele por poucos minutos enquanto fazia o almoço e ouviu Shiryu "gritar" o nome do garotinho. Correu até lá e viu Ryu parado, olhando fixamente para o pai.

    "Ele parou, não parou?", Shiryu perguntou. "Senti que ele estava fazendo algo perigoso".

    "Sim, ele está parado, olhando para você", ela disse, intrigada. "Eu acho que ele pode ouvir você... Cantarole a musiquinha do panda. É a preferida dele".

    Mentalmente, Shiryu cantou. E Ryuhou sorriu para o pai, agitando os bracinhos na expectativa de que ele o pegasse no colo.

    "Ele pode ouvir, sim", Shunrei constatou, e pegou o menino, colocando-o nos braços do pai e abraçando ambos.

    A casa no topo da montanha tornou-se um refúgio de tranquilidade e silêncio, com seus três habitantes que se comunicavam através da mente, do cosmo, do amor, de seja lá o que fosse.

    O único problema de Shunrei era se policiar para não falar com Ryuhou sempre com a mente, afinal o garotinho precisava ouvir os sons para aprender a falar. Então ela dedicava parte do seu dia a ele, lendo historinhas, contando lendas chinesas ou falando sobre as batalhas que o pai enfrentara e do avô que ele não conhecera, mas do qual devia se orgulhar.

    No aniversário de um ano de Ryuhou, Shunrei fez um bolinho e os três cantaram "Parabéns" silenciosamente. Shiryu comeu o bolo e, apesar de não sentir o gosto, imaginou-o a partir da descrição de Shunrei que fizera: era de chocolate, com recheio de geleia de amora que ela mesma fizera. Agora ele dependia demais da memória para lembrar-se dos gostos, cheiros e faces. Foi difícil no começo, mas agora, quando Shunrei falava que tinha passado óleo de amêndoas em Ryu, era quase como se ele pudesse sentir a fragrância suave. Acabou por dar-se conta do quanto a mente era poderosa e quase sentia um gosto quando pensava nele, ainda que suas papilas gustativas não pudessem realmente captar os sabores dos alimentos.

    Ao longo de mais alguns anos, melhorou consideravelmente do tato, e podia identificar temperaturas e texturas, ainda que de forma rudimentar. Aprendeu a controlar a intensidade dos movimentos, de forma que já tocava Ryuhou sem medo. E certa vez, notou que seu corpo reagiu às massagens de Shunrei da forma que ele achava que não seria mais capaz de reagir. A partir desse dia a massagem terapêutica transformou-se em algo muito mais interessante...

    Quando Ryuhou completou cinco anos, Shiryu teve uma conversa com Shunrei.

    "Sabe, meu amor, eu acho que o destino dele é ser um cavaleiro como eu e o avô".

    Shunrei deu uma risadinha.

    "Acha que eu não sei disso?", ela retrucou. "Eu tinha essa sensação desde que ele nasceu. E quando ele começou a se comunicar com você, eu tive certeza. Bom, se esse é o destino dele, que se há se fazer? Enquanto Deus me der força, estarei aqui para ele assim como estou para você".

    FIM


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