Sobrado Azul

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    Capítulos:

    Capítulo 11

    Capítulo XI

    Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

    SOBRADO AZUL

    Chiisana Hana

    Beta-reader: Nina Neviani

    Capítulo XI

    ? Então acha que eu sou seu pai? ? o homem pergunta, sentando-se outra vez em sua poltrona.

    ? É ? Hyoga responde com convicção. ? Encontrei um processo onde o senhor procurava um menino. Um menino filho de uma mulher chamada Natássia. E esse era o nome da minha mãe.

    ? Hum... ? ele retruca com desconfiança, esfregando uma mão na outra. ? Sabe, a única vez em que vi meu filho foi quando ele acabou de completar um mês de vida. Natássia e eu já estávamos separados e eu tinha voltado ao Japão. Só retornei à Rússia anos mais tarde, quando ela já tinha morrido. Foi quando eu comecei a empresa de pescado, que prosperou e me fez ter dinheiro.

    ? Você fala tão friamente na minha mãe.

    ? Nós não nos entendíamos muito bem.

    ? E por que não me procurou antes?

    ? Ainda não sei se você é meu filho ? ele retruca, cético.

    Hyoga então tira uma foto da carteira e entrega ao homem.

    ? Esta é a minha mãe. O bebê no colo dela sou eu.

    O homem observa a foto atentamente, sem demonstrar qualquer emoção.

    ? Então? ? Hyoga pergunta, impaciente com a demora do homem em lhe dar alguma resposta.

    ? É ela. Essa era a mãe do meu filho ? ele diz.

    ? Então eu sou seu filho ? o rapaz diz pausadamente, com os olhos marejados.

    ? Parece que sim ? ele concorda.

    Então, Hyoga se aproxima dele e o abraça com força. Desajeitado, o homem levanta-se da poltrona e tenta corresponder ao abraço. O rapaz prossegue:

    ? Poucas foram as ocasiões em que pensei em ter um pai. Minha vida sempre girou em torno da minha mãe e depois, da memória dela. Agora é tudo novo. Eu tenho um pai!

    ? Sim. É tudo novo ? o homem diz, desvencilhando-se do abraço e tornando a sentar-se na poltrona. ? Também é novo para mim. Quando você nasceu e eu vim visitar sua mãe, eu me senti... estranho. E acabei me afastando. Aí veio o naufrágio e a notícia de que tinham morrido.

    ? Íamos para o Japão porque ela queria que eu o conhecesse ? Hyoga interrompe.

    ? É, eu soube. Mas como eu dizia, disseram que tanto ela quanto você tinham morrido no naufrágio. Só voltei a procurá-lo anos depois, na época desse processo do qual você falou, porque acabou chegando aos meus ouvidos a história de um garotinho que sobrevivera ao acidente. Disseram que tinha sido levado para um orfanato no Japão. Como você já sabe, o garoto que encontrei não era meu filho.

    ? Seu filho sou eu.

    ? Está tão convencido disso, garoto. O que o faz ter tanta certeza?

    ? Eu sinto que sou seu filho. Isso me dá a certeza. E o senhor viu a foto da minha mãe!

    ? Certo, certo. Eu vi. Era ela.

    ? Por que desistiu de procurar?

    ? Na verdade, nem sei por que comecei a procurar. Então, quando deu errado, eu simplesmente deixei de lado. Mas então, conte-me da sua vida ? diz o homem, inutilmente tentando parecer menos frio. Hyoga começa a falar dos anos no orfanato, da casa onde mora, dos amigos, da faculdade e, principalmente, da namorada. O homem ouve tudo e às vezes tece algum comentário superficial. Depois, começa a falar essencialmente de seu trabalho, da empresa de beneficiamento de pescado que possui, e da vontade de expandi-la.

    As horas passam rapidamente e o velho criado pergunta ao patrão se deve arrumar o quarto de hóspedes para o garoto. O homem responde afirmativamente, e então o velho some pelas entranhas da casa, levando a pequena mala que Hyoga trouxera e que deixara no hall de entrada. Minutos depois o velho passa pela sala e, antes de falar qualquer coisa, o patrão diz que ele já pode se recolher.

    ? Bom, é tarde ? o homem diz a Hyoga, levantando-se da poltrona. ? Seu quarto está pronto. Suba a escada. É a primeira porta. Amanhã iremos ao hospital fazer um exame de DNA.

    ? Claro ? Hyoga responde, um tanto decepcionado. ? Boa noite.

    ? Boa noite.

    Hyoga sobe a escada devagar e assim que se instala no quarto, um cômodo amplo, voltado para a frente da casa, ele pega o celular e liga para a namorada. Apenas um toque e ela já atende.

    ? Oi, meu amor ? ele diz.

    ? Oi! Estava esperando você ligar! Demorou um século ? ela diz falando tão rápido que ele mal compreende.

    ? Percebi que esperava. O telefone nem tocou direito.

    ? Pois é. Estava grudada nele. Como está?

    ? Estou bem ? ele responde, menos empolgado do que pretende.

    ? E ele é seu pai?

    ? Acho que sim.

    ? Acha? Mas você não foi aí para confirmar isso?

    ? Sim, mas ele me recebeu friamente. Vamos fazer um exame de DNA amanhã.

    ? Meu lindo, não é normal? Você chegou aí do nada, dizendo ser filho do homem. Lógico que ele ia querer provas.

    ? Eu esperava que acreditasse em mim, sabe? Que a intuição dele dissesse que eu sou o filho que ele pensava ter morrido.

    ? Meu anjinho, nem todo mundo tem essa sensibilidade.

    ? É. Deixa. Amanhã faço o exame e pronto. Domingo volto para casa. Passo aí para vê-la assim que chegar.

    ? Tá, vou esperar. Se cuida, meu bem. E vá com calma, por favor. Não fique criando grandes expectativas.

    ? Não se preocupe. Até domingo, meu amor.

    ? Até. Te amo.

    ? Também te amo.

    Ele encerra a ligação e desliga o aparelho, pois não deseja falar com mais ninguém. Depois, deita-se na enorme cama e pensa em tudo que acabara de acontecer. Sente que o homem lá embaixo é mesmo seu pai, mas não compreende como ele pode encarar sua chegada de maneira tão indiferente.

    No orfanato, Minu espera ao lado de Eiri para saber as novidades.

    ? E então? ? ela pergunta ansiosa.

    ? Ele disse que o sujeito o recebeu friamente ? Eiri responde.

    ? Mas também, né? O Hyoga é maluco!

    ? É, eu também achei maluquice. Mas sabe como ele é com negócio de família, não é? Vão fazer exame de DNA.

    ? Claro! Só na cabeça do Hyoga é que o homem não ia querer!

    ? Agora é esperar até domingo, que é quando ele volta.

    ? É, isso se o velho não botar ele para fora antes!

    ? Ai, Minu, não exagera! E depois esse exame não sai na hora. Demora um tempão. Bom, vamos lá, que ainda temos que colocar as crianças na cama!

    ? É! Vamos lá com nossos adoráveis pestinhas!

    ? Por falar em peste, tem visto o Ikki?

    ? De novo essa pergunta? Não tem outra, não?

    ? Eu gosto de fazer essa! ? Eiri diz, rindo muito.

    ? Você saber que eu não tenho visto aquele... aquele... aquele peste! Não tem outra palavra!

    ? Ah, acho que você devia ir mais vezes lá no sobrado, sabe? Para ele ver você! Como é que ele vai gostar de você se ele nunca lhe vê?

    ? Eiri, eu não vou ficar indo lá pra me iludir. Eu não sou o tipo de garota que ele gosta.

    ? Que tipo o quê, Minu? Quando o amor vem, essa coisa de tipo não tem a menor importância.

    ? Pode ser, mas eu sei que ele nunca vai me amar.

    ? Que dramático! Já disse que o namoro com aquela Pandora não dura!

    ? Já chega! Vamos cuidar das crianças!

    ? Vamos, srta. Dramática!

    -S -A -

    Sobrado.

    Shiryu acaba de chegar do trabalho. Depois de um bom banho, ele se senta no sofá e começa a estudar um pouco. O celular está a sua frente, para o caso de Shunrei pedir que ele vá buscá-la no trabalho, apesar de intuir que ela não o faria. De fato, minutos depois, ela chega em casa.

    ? Oiiiii! ? ela surpreende o namorado com um beijo.

    ? Ah! Oi! Já veio!

    ? Sim! Vim de metrô! Não vou ficar fazendo você de meu motorista, não é?

    ? Pode fazer. Eu não me incomodo.

    ? Imagina! Nem é tão longe.

    ? Então, como foi? ? ele pergunta.

    ? Tudo ótimo! Emme não para um segundo, mas é uma fofa. Dei banho nela quando chegou da escola, depois dei o almoço e ela dormiu um pouco. Enquanto ela dormia, arrumei o quarto dela, lavei o uniforme. Aí ela acordou e fomos fazer a lição. Quando eu estava saindo de lá, ela perguntou se eu voltava amanhã e eu disse que só na segunda-feira. Então ela disse que ia ficar com saudade.

    ? Você está tão radiante!

    ? Estou mesmo!

    ? E... está cansada?

    ? Hum... um pouco. Por quê?

    ? Hoje faz uma semana que nos conhecemos.

    ? Uau! ? ela exclama, perplexa. ? Uma semana! É como se tivesse sido há meses! Meu Deus! Sabe o que parece? Aqueles reality shows. Duas pessoas se conhecem num dia, no outro já estão namorando, e no seguinte já é como se estivessem juntos há muito tempo.

    ? Mas é quase isso, não é? Afinal, acabamos moramos juntos de cara também.

    ? Verdade.

    ? Só que não seremos volúveis como esses casais. Nosso namoro é pra casar!

    Shunrei dá uma risada gostosa e diz:

    ? Para, Shi!

    ? Estou falando sério! Não é pra rir, não!

    ? Assim espero! Tomara que a gente se case mesmo algum dia. Mas me diga, quando perguntou se eu estava cansada, estava pensando em alguma coisa?

    ? É, pensei em sairmos com a galera. Eles sempre reclamam que eu nunca saio. Então dessa vez eu pensei em ir. Eu e você, claro. Mas só se você quiser. Senão, ficamos em casa. Ou podemos fazer algum programinha só nosso. Você decide.

    ? Eu acho que quero ir com a galera! ? ela diz rindo muito, e depois beija o namorado. ? Vai ser divertido.

    ? Ótimo! A probabilidade de acontecer alguma coisa bizarra é bem grande.

    ? Coisas como você socar um cara no meio do restaurante?

    ? É, coisas como essa. Se alguém se meter com você...

    ? Milagre! Milagre! ? Seiya interrompe ao entrar em casa batendo palmas irônicas. Ouvira o que o casal dissera e agora comemora. ? Você vai sair de casa na sexta-feira? Inacreditável. Pena que o Hyoga não está aqui para ver isso.

    ? Pois é ? Shiryu diz e logo procura mudar de assunto. ? Aliás, já que falou nele, como será que foi lá na Rússia? Será que o tal homem é pai dele mesmo?

    ? Quem sabe? Eu só sei que ele vai pirar se o velho for mesmo pai dele.

    ? Acho que não. Ele é equilibrado.

    ? Equilibrado? Sei... Mas esqueça isso. Eu preciso tanto falar com você.

    ? Se for sobre o assunto S.M. nem venha ? Shiryu diz, muito sério.

    ? S.M.?

    ? Você sabe.

    ? Sei não.

    ? Shaina Meneghetti ? Shiryu diz num sussurro, depois de uma careta impaciente.

    ? Ahhh! Sim! É sobre ela.

    ? Então estou fora!

    ? Deixa de ser mala, seu virgem! Eu preciso conversar.

    Diante do comentário, Shunrei cora, mas ri.

    ? Rapazes, vou tomar um banho enquanto vocês conversam sobre esse assunto! ? ela diz.

    ? Vai, meu amor. Melhor não ouvir as coisas que o Seiya fala.

    Ela deixa a sala e Seiya pula no sofá.

    ? Qual é a bobagem de hoje? ? Shiryu pergunta.

    ? Fiquei embriagado.

    ? No serviço? ? Shiryu arregala os olhos.

    ? É. Mas embriagado pelo perfume dela.

    ? Ah, Seiya, me poupe! Você tem namorada!

    ? Eu sei. Eu não quero namorar a Shaina. Eu quero transar com ela.

    ? Tá, Seiya, tá ? impacienta-se Shiryu.

    ? Ultimamente não paro de pensar nisso.

    ? Já deu, Seiya. Vou tomar banho logo, antes que você se enfie no banheiro e não saia mais...

    ? Bem que eu queria, mas nem posso. Vou lá na mansão buscar a Saori. E depois vamos sair todos, inclusive você, por obra da santa Shunrei! Milagreeeee!

    ? Tonto ? ri Shiryu. ? A que horas vamos?

    ? Umas dez, né?

    ? Certo.

    Pouco depois, quando Ikki chega em casa, encontra Shiryu estudando no sofá.

    ? E aí?

    ? Oi, Ikki.

    ? Está arrumado... ? intriga-se o rapaz de cabelos azuis.

    ? É. Shunrei e eu vamos sair com vocês.

    ? Está de brincadeira?

    ? Não.

    ? Olha, nunca pensei que um dia esse milagre fosse acontecer, mas já que os pombinhos vão sair conosco, vamos para um lugarzinho comportado hoje!

    ? Acho bom! Não vou levar minha namorada para os lugares cafonas que você frequenta!

    ? Cafona? Você nunca foi! Como pode chamá-los assim?

    ? Pelo estado que você chega!

    ? Ah, mas o estado que eu chego depende das mulheres que eu encontrar pelo caminho, não dos lugares propriamente ditos.

    ? Sei... sempre aqueles perfumes baratos.

    ? Mentira! Só pego mulher de nível, rapaz! E já que está reclamando é você quem vai pagar a conta hoje.

    ? Eu?

    ? Exato.

    ? Tá, eu pago, explorador.

    ? Ótimo!

    Os dois riem juntos. Shunrei entra na sala. Veste uma blusa branca com listras horizontais azuis e uma calça jeans simples. Arrumara o cabelo num coque propositalmente desalinhado e pusera nas orelhas um par de brincos de bolinha que, de tão pequenos, parecem infantis.

    ? Estou pronta.

    ? Uau! Linda ? Shiryu volta-se para ela e sussurra.

    ? Obrigada. Foi o que deu para arranjar. Não sou muito de sair.

    ? Como é que foi no trampo? ? Ikki pergunta a ela.

    ? Foi ótimo!

    ? Que bom. Então, vamos. Você vai no seu carro, Shiryu?

    ? Claro.

    ? Ótimo. Então passa na June e pega o Shun.

    ? Opa, dando ordem? Custa dizer "por favor"?

    ? Shiryu, só não vou dizer uns desaforos porque a sua namorada está aqui.

    ? Você é sempre muito gentil ? Shiryu ironiza. ? Eu pego o Shun.

    -S -A -

    Mais tarde.

    Todos já estão no barzinho, escolhido a dedo: um cantinho aberto há pouco tempo, notadamente caro, e frequentado somente por ricos.

    ? Cada uma que você me arranja, hein, Ikki? ? Shiryu sussurra no ouvido do amigo.

    ? Relaxa. Divido a conta com você ? o outro sussurra de volta. ? Mas não espalha.

    ? Certo.

    ? Sozinho, Ikki? Não vai convidar a Pand? ? June provoca.

    ? Você sabe muito bem que nós brigamos.

    ? Tão rápido, né?

    ? Pois é. E isso não é da sua conta.

    ? Só comentei.

    ? Pois não devia se meter em assuntos que não lhe dizem respeito!

    ? Ela é minha amiga! ? June diz, em tom ameaçador.

    ? E eu com isso?

    ? Vamos parar com as farpas? ? Shun intervém.

    ? Sua querida namorada foi quem começou.

    ? Não importa quem começou. Só quero que parem!

    ? Nossa, que estresse. Está nervosinho.

    ? Quero um pouco de sossego, posso? Isso devia ser um agradável momento de descontração, mas ao invés disso vocês ficam se provocando.

    ? O Shun tem razão, Ikki ? Shiryu afirma. ? Vamos tentar ser um grupo de pessoas civilizadas.

    ? Você também? Ah, eu vou cair fora.

    ? Já vai tarde ? June não se contém e diz.

    ? Ah, é? Só por causa disso eu vou ficar ? Ikki retruca.

    ? Relaxa, Ikki ? Shiryu tenta amenizar.

    ? É, ainda mais que hoje é do bom e do melhor por conta do Shiryu! ? Seiya completa. ? Essa parte é boa!

    ? Boa para vocês. Andei olhando o cardápio. Tudo caro. Mas a ocasião merece. Fiquem à vontade.

    ? Oba! Só não pensei que o fato de você sair de casa era tão importante assim.

    Shiryu e Shunrei olham-se cúmplices e sorriem.

    ? É, é importante ? ele diz, deixando transparecer que há algo a mais.

    ? Então vamos aproveitar! ? Seiya diz e ergue a mão, chamando o garçom e ao fazê-lo, vê quem acabara de chegar ao bar: Shaina Meneghetti. Acompanhada de um rapaz alto, muito bonito e vestido com extremo bom gosto, ela se aproxima da mesa para cumprimentar Saori.

    ? Boa noite, senhorita Kido ? ela cumprimenta sorridente.

    ? Boa noite, Shaina.

    ? Não quer sentar com a gente? ? Seiya convida.

    ? Não, obrigada. Só parei para cumprimentá-los. Com licença.

    ? À vontade ? Saori diz e se volta para o namorado com cara de poucos amigos. ? Mas será possível que você babe descaradamente por ela? Não se dá nem ao trabalho de disfarçar.

    ? Não sei do que você está falando.

    ? Sabe, sim. Em casa conversaremos mais sobre isso.

    Na mesa de Shaina...

    ? Minha patroa ? ela diz ao rapaz que a acompanha, apontando discretamente para a mesa de Saori.

    ? Aquela garota?

    ? É.

    ? Mentira.

    ? Não, não, é verdade.

    ? Ela não deve ter nem vinte anos.

    ? Tem dezenove.

    ? Inacreditável!

    ? Ela herdou a empresa e começou a comandá-la, sempre com auxílio de excelentes consultores, claro, incluindo euzinha aqui.

    ? Interessante. Uma garota que comanda um império.

    ? O sujeito ao lado dela é o namorado.

    ? Aquele magricela que não tira os olhos de cima de você?

    ? É ? ela responde e dá uma gostosa risada. ? Não tira os olhos dos meus seios, você quer dizer.

    ? Ele é uma criança.

    ? Não é tão criança assim, Afrodite.

    ? Você sairia com esse carinha?

    ? Por que não? Se ele fosse solteiro eu até dava uma chance para ele me mostrar o que sabe.

    ? Você é doida.

    ? É, eu sou. Mas ninguém pode saber disso.

    ? Juro que vou manter segredo! ? o rapaz promete rindo.

    Com Saori e Seiya em pé de guerra, June e Ikki se estranhando e, consequentemente deixando Shun mais estressado a cada minuto, todos acham por bem terminar o passeio cedo. Shiryu e Shunrei voltam para o sobrado com Shun, depois de deixarem June em casa. Seiya e Saori vão para a mansão. Ikki disse que esticaria a noite em outro lugar, mas também acaba voltando logo para casa.

    ? Foi legal, não foi? Apesar das farpas entre os outros ? Shiryu pergunta à namorada assim que a deixa no quarto.

    ? Foi! ? ela responde, abraçando-o.

    ? De vez em quando podemos fazer algo assim.

    ? Eu vou gostar. Bom, então boa noite.

    ? Boa noite, meu amor.

    E os dois beijam-se. A cada dia que passa os beijos ficam mais intensos e o calor que os toma nessas horas cresce igualmente. Ele a aperta forte contra o corpo. Gosta de sentir o coração dela batendo rapidamente, tal qual o seu próprio. O calor torna-se quase palpável quando ele beija a nuca dela. A respiração de ambos começa a ficar mais ofegante. As mãos brancas dela passeiam pelo torso definido e bronzeado do rapaz. Ele volta a beijá-la na boca de um jeito ainda mais sensual, tão sensual que ele para bruscamente ao sentir que seu corpo reagira às carícia. O rosto, que já estava afogueado pela excitação, fica ainda mais vermelho pela vergonha.

    ? Desculpa... ? ele murmura, respirando fundo.

    ? Tudo bem ? ela responde sussurrando, também com a face extremamente corada. ? Ia acabar acontecendo, não é?

    ? É... ? ele respira fundo outra vez e completa, meio desajeitado: ? Eu... eu vou dormir. Boa noite.

    ? Boa noite, meu amor.

    -S -A -

    Quarto de Shun e Ikki.

    ? Agora vamos falar sério. O que é que você tem? Você é de chiliques, mas não como aquele que deu no bar.

    ? Não gosto de ver discussões ? Shun responde, pouco convincente.

    ? Sim, eu sei, mas não foi só isso. Algum problema entre você e a June?

    ? Não. Está tudo ótimo.

    ? Certeza?

    ? Absoluta.

    ? Então o quê?

    ? Nada.

    ? Tá, não quer contar, não conta. Agora depois não venha choramingar dizendo que eu não me importo com você.

    O irmão mais novo dá de ombros e vira-se para o outro lado.

    "Como é que vou dizer o que é, se nem eu mesmo entendo o que estou sentindo?", pensa.

    -S -A -

    Mansão Kido.

    ? Eu não quis fazer mais confusão lá no bar, mas eu vi como você passou a noite inteira olhando para a Shaina. E não negue! ? Saori diz, andando pela sala.

    ? Bom, eu... eu... eu olhei.

    ? Ainda admite! ? Saori grita.

    ? Você falou para não negar!

    ? Mas era pra você negar até a morte!

    ? Da próxima vez, peça claramente.

    ? Seiya, assim eu não quero mais.

    ? O quê? Vai terminar só porque eu olhei para os peitos da Shaina?

    ? É! Você tem que olhar para os meus!

    ? Tá, eu sei, adoro os seus, adoro você, você é minha vida... mas eu não me controlo diante daquele par de peitos!

    ? Pois acho bom começar a se controlar, senão o namoro acaba mesmo.

    ? Vou me controlar sim, meu amoreco... ? ele diz e a agarra.

    ? Nem vem que não tem! Hoje não tem nada! Você vai para casa com vontade!

    ? Pô! Você é má!

    ? Sou mesmo! Vai, vai! Estou com raiva de você.

    ? Tá, tá, já vou. Até amanhã.

    ? Até. E pense bem no que você quer! Porque se o que você quer são os peitos da Shaina, que fique com eles de vez!

    ? Calma, amoreco!

    ? Se manda!

    -S -A -

    Um mês depois.

    Seis e meia da manhã.

    Todos estão acordando e se preparando para ir à universidade. Ikki, entretanto, já saíra de casa faz tempo. O telefone toca e Shun atende.

    ? Alô ? ele diz, ainda meio sonolento.

    ? Oi, é a Pandora. Eu queria falar com o Ikki.

    ? Ele não está.

    ? Como não está? São seis e meia da manhã! Acorda ele, por favor. É um assunto muito importante.

    ? Desculpa, mas ele realmente não está.

    ? Deve ter dormido com alguma vagabunda ? ela murmura consigo, mas Shun ouve e diz:

    ? Não acho que tenha sido isso. Hoje é um dia peculiar para ele.

    ? Peculiar como?

    ? Coisa dele. Olha, ele só deve aparecer em casa à noite. Então, nem adianta tentar ligar antes disso.

    ? O celular dele?

    ? Você pode tentar, mas deve estar desligado.

    ? Eu preciso falar com ele. Preciso mesmo.

    ? Bom, boa sorte.

    -S -A -

    Cemitério da cidade.

    Ikki está ajoelhado diante de uma lápide branca.

    ? Minha querida ? ele murmura. ? Quanta saudade. Cada dia mais. É como se você tivesse ido embora ontem. A ferida está tão aberta ainda... tão aberta...

    Enquanto fala, ele lembra claramente de como tudo aconteceu...

    ? Ah, amor, para com isso! Daqui a pouco meu pai chega e é aquela confusão por estarmos nos beijando na rua. Você sabe que ele diz que é não coisa de moça decente.

    ? Que nada! Quero mais é beijar você até cansar.

    ? Você nunca se cansa!

    ? Por isso mesmo! Vamos nos beijar eternamente!

    ? Bobo!

    ? Bobo, sim. Mas um bobo que ama você.

    ? Eu sei. Também amo você, seu bobo.

    ? Tem campeonato de boxe amanhã lá no orfanato. Vai ver minha luta?

    ? Vou e não vou.

    ? Como?

    ? Eu vou estar lá, mas vou fechar os olhos na hora. Detesto ver você apanhando.

    ? Apanhando, Esmeralda? Eu só bato!

    ? Convencido!

    ? Sou mesmo!

    ? Sabe, eu estava pensando... quando eu for maior de idade o sobrado que a mãe deixou vai ser meu...

    ? Uhum.

    ? Então, eu vou me casar com você e nós vamos morar lá.

    ? Casar, Ikki? Você só tem quinze anos!

    ? Sim, mas não estou falando em casar agora. É quando eu fizer dezoito. Você se casaria comigo?

    ? Claro! Então pronto. Ano que vem já vou poder trabalhar. Aí vou juntar dinheiro e nos casaremos. Um casamento simples, claro. Não vou ter grana para coisas muito cheia de frescura.

    ? Vai ser lindo de qualquer forma.

    ? Vai sim. Agora tenho que ir ? ele disse e os dois levantaram-se do meio-fio. Ela o abraçou fortemente.

    ? Já?

    ? Já. Se eu chego tarde no orfanato ficam me torrando a paciência. Amanhã venho ver você de novo.

    ? Certo.

    Enquanto os dois olhavam-se ternamente, um carro em alta velocidade subiu a calçada e os atingiu. Esmeralda sofreu o maior impacto e bateu violentamente contra o pára-brisa. Ikki foi jogado contra a parede e um corte profundo abriu-se em sua testa. Ainda tonto, esforçou-se para chegar até a namorada.

    ? Esmeralda... ? pronunciou o nome dela dolorosamente. A cabeça latejava e sentia como se alguma costela estivesse quebrada. ? Meu amor!

    ? Ikki ? ela sussurrou. Mal conseguia abrir os olhos e havia sangue por toda a parte. ? Eu não vou aguentar.

    ? Vai sim. Não fala bobagem.

    ? Não é bobagem. Eu te amo muito, Ikki. Eu vou estar com você sempre. E vou cuidar de você.

    ? Eu também te amo. Aguenta mais um pouquinho, meu amor. Só um pouquinho.

    ? Não consigo ? ela disse, num fio de voz. ? Adeus.

    ? Não, não, não. Não vai, não! Esmeralda!

    Os vizinhos que ouviram a batida já começavam a se aproximar. O motorista do carro abriu a porta e, cambaleando, saiu.

    ? Mas que merda que eu fiz! ? disse, com a fala enrolada comum aos embriagados.

    Ikki olhou-o furioso. Era o próprio pai de Esmeralda.

    ? Você a matou ? disse baixo, para logo aumentar o tom e gritar o mais alto que podia: ? Você a matou, seu filho da mãe!

    ? Se ela morreu é porque era o dia dela.

    ? Ela é sua filha! ? Ikki gritou ainda mais alto.

    ? Eu sei. Mas eu preferia que tivesse nascido homem.

    ? Eu vou matar você agora! ? Ikki partiu para cima do homem e socou-o com violência. Bêbado demais, o homem desequilibrou-se com o soco e caiu, batendo a cabeça contra o meio-fio.

    ? Tomara que tenha morrido! ? Ikki disse sem olhar para o sujeito, e voltou para perto de Esmeralda. Abraçou-a com força. Pouco depois as ambulâncias chegaram, mas a única coisa que puderam fazer foi dar alguns pontos no corte que Ikki tinha na testa, pois tanto Esmeralda como o pai já estavam mortos.

    ? Se você não tivesse ido embora, a essa altura estaríamos casados, seríamos pais de muitos filhos. Eu seria feliz... ? ele diz, ainda olhando para o túmulo da namorada, e relembrando o dia em que ela morreu, há exatos sete anos. O celular toca. ? Merda! Esqueci de desligar.

    Ele tira o aparelho do bolso. A vontade é jogá-lo a metros de distância, e ao ver quem está ligando ele se sente tentado a realmente fazê-lo. Ao invés disso, deixa-o tocar. A pessoa liga insistentemente e então ele resolve atender.

    ? Fala, Pandora.

    ? Aleluia!

    ? Fala logo, porque não estou de bom humor.

    ? Eu também não estou. Temos um problema.

    ? Temos? Eu e você? Acho que não.

    ? Acho que sim. Aliás, tenho certeza que sim. Estou grávida.

    ? Como é que é?

    ? Vou ter um filho seu.

    Continua...


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