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Era essa a consequência? Vê-lo morrer em meus braços assim como morri nos dele? Meus pés começaram a desaparecer. Meus 5 minutos havia chegado ao fim. Coloquei a mão em seu coração, como minha última ação. O coração de Dan não mais batia. Ele se foi.
Como eu viveria agora? Pra onde eu iria? Eu não queria mais viver...
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Cap 14
Meu corpo ia desaparecendo cada vez mais. Então, a última imagem que pude ver, foram os paramédicos tentando fazer algo por Dan. Mas já era tarde demais. Meus olhos ficaram cada vez mais embaçados, até que eu não vi mais nada.
Quando pude ver novamente, já estava no céu. Sentada num canto qualquer, meus braços envolviam os joelhos, em sinal ao meu desespero. Eu estava em choque. Em nada mais pensava, nada mais sentia. Levantei meus olhos, as lágrimas pareciam não ter fim. Os outros anjos me olhavam de longe, como se eu tivesse uma doença. Vi Pedro se aproximar de mim. Ele me abraçou e sentou-se ao meu lado. Pôs-se a me observar.
- Lucy, você sabe por que isso aconteceu, não sabe? Diego te disse, não foi? Porque você não o escutou?
Abri minha boca pra falar. Mas um nó na garganta não me permitiu. Fiz sinal de ?não? com a cabeça, respirei fundo e engoli seco.
- Eu não... não sabia... que a consequência... seria essa. ? falei ainda soluçando.
- Ah, Lucy... ? Pedro me olhou com cara de tristeza. Depois fez um sinal com a mão para que os outros anjos se dissipassem, e nos deixassem em paz.
- Lucy, eu... eu não queria te dar essa notícia assim, mas não tem outro jeito... Você terá que ir daqui à uma hora ao templo. Os arcanjos... eles vão te dar uma sentença. Eles vão te punir, Lucy.
Mas que maravilha! Eles não podiam esperar por amanhã? O que eles querem? Matar-me? Ah, é, eu já estou morta. Sabe, eu não tô nem aí. Tô torcendo pra eles me mandarem de volta pra Terra. Só assim eu poderei esquecer meu sofrimento. Afinal de contas, tudo isso pode piorar?
No horário marcado, Pedro me levou até o templo. Ele me deu algumas instruções, mas a única em que prestei atenção foi quando ele disse que os arcanjos são muito poderosos, e são os únicos que podem falar com Deus diretamente. A 10 metros do templo, nós paramos e Pedro me abraçou. Ele não poderia entrar comigo. Então dali em diante seria só eu.
Logo na porta de entrada, um homem alto, forte e com uma expressão séria me barrou e perguntou:
- Lucy Renée?
- Eu mesma. ? fiz uma cara mais feia que a dele, e parece que ele não gostou muito.
- Pode entrar.
Que lugar lindo era aquele templo! Se eu não quisesse tanto voltar à Terra pra esquecer todo esse drama, eu gostaria de passar toda a minha vida lá. Três homens me esperavam lá dentro. Eles tinham praticamente o mesmo físico do ?porteiro? e eram muito parecidos entre si. Dois estavam sentados, com uma expressão de curiosidade. Mas o que estava no meio deles, em pé atrás da mesa, me olhava de um jeito que dava medo. Como se eu tivesse matado alguém... ahm, é, eu ?matei? alguém.
- Lucy Renée Ferreira Williams. Eu sou Klaus. Estes são meus irmãos Kale e Kaleb. Nós iremos fazer agora o seu julgamento.
Engoli a saliva que me restava. Assenti com a cabeça e Klaus começou a falar tudo o que eu havia feito de errado durante todo esse tempo que estava lá. Enquanto Klaus falava de Dan, das minhas crises de ciúmes, da tentativa de falar com ele e desse último episódio, Kaleb me olhava nos olhos, de um jeito triste. Não parecia demostrar pena, mas era como se ele me entendesse.
- Portanto, Lucy Renée, eu, arcanjo Klaus sentencio-lhe sua pena: por um ano, ficará sem nenhum protegido, Deus lhe deu esse tempo para pensar em não cometer os mesmos erros. Depois desse ano, passará a ser anjo de uma criança recém-nascida, até que ela complete os seus 7 anos de idade. Depois sua alma irá para o descanso, onde esquecerá tudo o que viveu nesta vida e finalmente voltará à Terra.
Como assim? Eu não ia voltar? Eu não posso acreditar que vou passar mais 8 anos aqui sofrendo!!! Meus olhos começaram a lacrimejar novamente.
- Isso é tudo, senhorita. Está dispensada. ? Klaus saiu e Kale o acompanhou. Kaleb permaneceu no mesmo lugar.
Eu me ajoelhei no chão chorando. Kaleb se levantou, e se ajoelhou ao meu lado, olhando-me.
- Ainda não acredito que fez tudo isso. ? ?lá vem mais bronca?, pensei. ? Você é incrível, Lucy. Como eu queria ser como você! ? ?hã, como assim??.
- O que você disse? ? perguntei, incrédula.
- Que você é incrível e que queria ser como você. ? disse ele, limpando minhas lágrimas com os dedos. ? Sabe, Lucy, eu passei pela mesma coisa que você passou. Bem, não foi a mesma, mas... foi quase tudo. Eu também era apaixonado por uma pessoa na Terra. E depois que morri junto com meus irmãos, fui o anjo dela. Ela era tão linda... e a cada dia que passava mais eu a amava. Kale é o mais velho de nós. Ele foi o 1º a se tornar arcanjo, e isso deu a ele a permissão de olhar o livro. Ele viu que eu era a alma gêmea dela e acabou me contando por acaso. E ao invés de eu fazer tudo o que você fez, segui Klaus e desisti dela. Hoje eu ainda a vejo, está casada, tem um filho. Você não tem ideia de quanto vê-la assim me deixa triste. E com raiva de mim mesmo.
- Nossa, então eu não fui a primeira. ? eu estava abismada com o que ele acabara de me contar. ? Mas não aconteceu nada com o Kale, que disse que ela era sua alma gêmea?
- Aconteceu. Ele ainda está aqui. Já era pra ele ter ido de volta à Terra há 1 ano. Terá que ficar mais um.
Suspirei. Eram tantas coisas na cabeça... Eu não sabia mais o que fazer... A morte de Dan... era minha maior sentença. As lágrimas começaram a rolar novamente.
- Ei, não chore. ? disse Kaleb, me levantando do chão. ? Eu tenho uma coisa a lhe dizer.
Olhei pra ele e esperei.
- Eu posso até ser punido por isso, mas, ah, nem me importo mais, já que não tenho mais ela. Lucy, pelo que eu ouvi de Deus, você vai ter ainda mais surpresas daqui pra frente. Não desiste não Lucy. Não importa onde ou quando, mas um dia nós vamos poder ficar juntos com nossas almas gêmeas. Está escrito, e ninguém pode apagar. Você sabe.
Olhei pra ele e tentei esboçar um sorriso. Sussurrei um ?obrigada? e ele me deu a mão para cumprimentar-me.
- Conta comigo pra tudo. Eu vivo ocupado, mas sempre que eu tiver um minutinho sequer, pode me chamar.
Consegui sorrir. Meio de canto, meio torto, mas é um avanço. Agora eu tinha mais um amigo. Saí de lá e fiquei vagando pelos bosques do céu. Eu tinha que chorar sozinha, eu tinha que pensar o que eu iria fazer longe de Dan durante esses 8 próximos anos.