O dia de aula havia sido rotineiro para André, mas felizmente ele não encontrou seu irmão pelos corredores do colégio e isso já era algo que o deixava satisfeito. Pela tarde o jovem foi até o mercado perto de sua casa para fazer as compras da semana, a dispensa estava ficando vazia e felizmente dessa vez seu pai não havia se esquecido de lhe enviar dinheiro através de algum dos empregados como costumava fazer quase todo o domingo, pelo menos quando se lembrava da existência do filho bastardo.
-- Give me hope, Joanna. Hope, Joanna... -- André cantava em tom baixo acompanhando a música pelo fone de ouvido do celular.
Tudo parecia tranquilo e André colocava os itens que precisava no cesto até que um barulho incomum chamou a atenção de todos no mercado. A porta era empurrada com certa violência e uma mulher vestindo trajes incomuns adentrou o recinto, ela levou a mão direita até o chapéu de couro e puxou levemente a borda para frente de modo que ocultava seus olhos. A figura incomum chamava a atenção de funcionário e fregueses, André tirou os fones de ouvido por um momento e ficou a acompanhar a mulher com os olhos.
-- Velho, eu quero uma cerveja.
O senhor atrás do balcão o qual a mulher se referia parecia intimidado com a moça e apenas apontou para o freezer contendo algumas garrafas de cerveja. A mulher fez um leve aceno com o rosto e se dirigiu até o freezer tomando em mãos três garrafinhas, em seguida dando as costas e saindo pela porta.
-- Espere, você tem que pagar por isso!
O protesto do idoso foi em vão, antes que ele pudesse terminar a frase a mulher já havia deixado o ambiente. André apenas observou a estranha situação sem entender ao certo a cena que acabara de ocorrer.
Enquanto isso, em uma casa na zona de Miyamachou, uma jovem ruiva tinha uma conversa com um homem que fumava cachimbo observando a rua tranquila sentado na poltrona da espaçosa sala de estar.
-- Você está me dizendo que a Guerra do Santo Graal já está decidida? Mas como você pode ter tanta certeza de que iremos superar todos os outros mestres e servos?
-- Minha cara Yani, eu sei que a senhorita é uma jovenzinha inteligente, do contrário não teria a aceitado como minha mestra. A guerra pelo Santo Graal é uma guerra onde os magos invocam heróis de todas as épocas para se enfrentarem em uma batalha sangrenta onde o último servo que restar e seu mestre conseguem o cobiçado tesouro que realiza desejos.
O homem fitou os olhos castanhos na estudante que se encontrava de pé ao lado da poltrona, de braços cruzados ela percebeu que o adulto aguardava uma resposta, mas não sabia o que dizer.
-- Prossiga...
Os dizeres da garota fizeram o homem suspirar e desviar os olhos de volta para a janela decepcionado, ele parecia esperançoso de que a jovem concluísse seu raciocínio. Novamente, ele deu algumas baforadas no cachimbo antes de responder.
-- Os mestres com certeza escolherão brutamontes históricos, a maioria não percebe que o maior poder é a inteligência, é essa a força que move o mundo. -- Novamente ele voltou seu olhar para a estudante -- E eu sou a mente mais brilhante desse mundo.
O sorriso confiante nos lábios do sujeito fez com que a ruiva sorrisse naturalmente, ao perceber o sorriso da garota o homem se lembrava da única mulher que amou: Irene. Naquele momento ele percebeu o quanto Yani se parecia com Irene, se não fossem os cabelos ruivos e a aparência relaxada. Ah, Irene... Como seria bom tê-la novamente em seus braços, poder sentir seu perfume e tocar sua pele macia, mas infelizmente o destino foi cruel para ambos. Ao perceber que o servo se distanciava em pensamentos, Yani chamou sua atenção.
-- Rider?
A voz doce da garota entrava pelos ouvidos do homem e distanciava os pensamentos do mesmo. Ao voltar sua atenção para a ruiva, ele se levantou e aproximou o rosto ao da jovem que corava instantaneamente e afastava o rosto, desviando o olhar.
-- Você é uma mocinha muito bonita, sabia? Por que faz tanto esforço para esconder isso?
-- Eu, bonita? Não sou bonita, pare de falar bobagens.
-- Como não? Seu rosto é oval e seus olhos verdes, combinados com seus cabelos ruivos, fazem uma combinação divina. Talvez se você tirar os cabelos da frente do rosto...
O homem levou a mão esquerda aos cabelos da jovem ruiva tentando descobrir o rosto da estudante, mas a garota pareceu ofender-se com as ações do maior. Em resposta, ela deu um tapa na mão do sujeito e afastou-se imediatamente.
-- Eu não sou bonita! Não diga mais isso, Rider!
Depois dos dizeres, Yani correu para o quarto e trancou a porta, deixando para trás o servo que parecia confuso com a situação.
-- Acho que toquei em algum ponto fraco... Doutor Watson tinha razão, eu não levo jeito com as mulheres.
No quarto, Yani estava sentada encostada na porta olhando para o céu através da janela que, aberta, deixava entrar uma brisa fresca pelo ambiente lotado de prateleiras com livros e poucos pertences que faziam aquilo parecer um quarto. Ela estava perdida em seus pensamentos, se lembrando das vezes em que discutiu com uma pessoa que, apesar de desprezá-la, para ela era muito querida. ?A mamãe e o papai só sabem me comparar com você, a senhorita perfeição!?, dizia a irmã, ?Você é bonita, inteligente, e ainda tem bastante talento para a magia. O problema é que você é perfeita até demais, eu queria que você sumisse!?. Os olhos de Yani se encharcavam com as lembranças, deixando algumas lágrimas escorrerem discretamente pela face branca da jovem.
-- Será que você me odiava tanto assim, Anna? -- Foi o que a ruiva se perguntou.
Longe dali uma mulher de cabelos negros conversava com um idoso, eles se encontravam em um espaçoso salão. O senhor se dirigia à moça com uma expressão séria, olhando para aquela que sentava em outra poltrona a sua frente com uma pequena mesinha redonda de madeira antiga separando ambos.
-- O Monster, o servo de classe desconhecida, precisa ser eliminado. -- Disse o idoso de voz rouca.
-- Sim, esse servo, se é que podemos chamar um lendário sem mestre assim, é um elemento estranho na guerra pelo Santo Graal que pode pôr tudo a perder.
-- Nesse caso, seria bom você mandar seu servo cuidar dela. Ou teria eu que mandar ?aquela pessoa??
-- Não é necessário, acho que o Ruler Rider pode cuidar perfeitamente disso.
Ao terminar a frase, a mulher estalou os dedos e imediatamente um sujeito de cabelos e barbas longas e negras surgiu ao lado dela como se estivesse lá o tempo todo. Ele tinha uma aparência intimidadora por ser alto e bastante forte.
-- Você nos ouviu? Preciso que você dê conta do intruso. Podemos contar com você?
O servo acenou com a cabeça dando uma resposta positiva à mestra e aos poucos desapareceu da vista dos magos ali presentes. O velho questionou:
-- Será que ele realmente pode com o intruso? O Cristal da Verdade não conseguiu revelar o verdadeiro poder do Monster, isso não me cheira bem.
-- Não se preocupe, tenho certeza que o Rei dos Sete Mares não irá nos decepcionar, mesmo caso necessite lutar em terra.
-- Espero que você esteja certa, realmente espero.
André voltava para a casa com as compras, quando de longe avistou a estranha mulher que havia invadido o mercado, ela estava bebendo a última garrafinha de cerveja tranquilamente sentada no banco da praça. Não eram apenas as roupas da mulher, que parecia que ela fazia parte do elenco de algum filme de Bangue-Bangue, que despertava a curiosidade do estudante. Algo nela era extremamente atrativo para o jovem, talvez o olhar confiante que a moça tinha.
-- O que será que há com aquela mulher? -- Se perguntou o rapaz.
De repente André precisou forçar a vista para ter certeza que seus olhos não haviam pregado uma peça nele: Um brutamonte barbudo acabava de se materializar na frente da mulher e a tomava pelo pescoço com sua mão enorme, arremessando-a no chão em seguida.
-- Tenho ordens para mata-la.
-- Me matar? Você realmente acha que pode me matar?
A mulher se levantava do chão com um sorriso irônico nos lábios e fixava o olhar no grandalhão que se admirava com a atitude da moça.
-- Você não pode me matar, se um dia eu morrer, será pelas mãos de outro Cowboy.
Observando de longe, André estava nervoso e seu corpo tremia. Ele sabia que não tinha nenhuma obrigação de defender aquela pessoa, e realmente não queria ter que lidar com um sujeito daquele tamanho. Por outro lado, André sabia que ele não seria capaz de dar as costas para uma mulher. Será que ele deveria chamar um guarda? Melhor mesmo era esperar para ver se a moça não estava blefando e se ela realmente podia dar conta de um cara assim.