Melhor amigo
Capítulo único
? Ei, o que foi Kanata? ? perguntou Suzuya sentando na minha cama, me encarando preocupado.
? Nada ? respondi indiferente, com os braços cruzados atrás da cabeça, deitado na cama, encarando o teto.
? E essa sua cara de preocupação? ? questionou calmamente, me desarmando.
Era por essas e outras que Suzuya era o meu melhor amigo. Eu não precisava falar para que ele soubesse que eu não estava bem, e nunca me forçava a nada. Por isso agora ele fitava a janela, apenas lá, esperando. Eu sabia que ele estava esperando, conhecia-o tão bem quanto ele mesmo, assim com ele me conhecia bem demais.
? Eu não sei mais quanto tempo eu tenho? ? sussurrei fechando os olhos, tentando afastar aqueles pensamentos inoportunos da mente, mas era difícil.
? Você tem todo o tempo de que precisa para aproveitar enquanto ainda vive ? murmurou firme, sabendo o quão abalado por causa disso eu ficava.
Eu nunca escondi dele o incômodo por ser doente, por ter um corpo fraco. Ele sabia da minha insegurança, mas, como sempre, não invadia o meu espaço, o que era bom de certo modo, mas não vê-lo reagir àquilo me deixava um pouco frustrado.
? Eu temo que não dê tempo de fazer o que eu quero ? murmurei vagamente, abrindo os olhos.
Retirando uma de minhas mãos de trás da cabeça, ergui-a na altura dos meus olhos, fitando-a. Minha pele clara e frágil era o que mais me denunciava, na minha opinião. Logo as mãos morenas tomavam a minha entre as suas, e apertando-as levemente, Suzuya atraiu a minha atenção, me olhando como aquele ar gentil dele.
? Apenas faça o que conseguir no tempo que conseguir. Não tente ser um super-herói, até eles têm suas limitações. ? tá, agora eu precisei franzir o cenho. Ele sorriu, entendendo. ? Ok, você entendeu. Só pare de pensar em coisas depressivas, deixe que a vida faça seu caminho. Estamos aqui agora, é só o que importa.
? Você tem razão ? murmurei pensando que realmente não havia motivos para ficar tão para baixo.
? Eu sempre tenho razão ? comentou convicto, levantando da cama. Ah, é? Peguei um travesseiro e joguei nele, que, surpreendido, teve seu rosto acertado. Rolei pela cama de tanto rir, segurando a barriga.
? Seu? ? ele iria dizer algo, mas parou quando notou que eu o fitava. ? O quê?
? Obrigado ? murmurei corado, desviando os olhos.
? Ah? ? perguntou Suzuya.
? Obrigado por tudo. Eu não sei o que faria sem você comigo? ? disse agora olhando-o, meus agradecimentos eram os mais sinceros possíveis.
? Não há de que ? comentou sorrindo suavemente.
Tê-lo comigo foi a maior bênção que Deus me deu.