Mesma ambientação. Agamenon retorna para a plateia.
AGAMENON (enfático) ? U.E. 4! Unidade Educacional 4 de Batatais... Um monte de adolescentes... (num espanto feliz) ? Mas e as garotas? (numa procura) ? Onde estão as meninas? (pausa) ? Estão no depósito! (corre para a boca de cena, parada brusca) ? Mas no depósito estão as enxadas; todas amontoadas. (contando nos dedos) ? A enxada do Curú, a do Cavalo, do Deraldo, do Daniel, a enxada do Gustim, a do Eugênio, do Césinha, do Rubinho, a do Zóio-de-Gato, do Hércules... (rouquidão, voz altiva do vigilante) ? Atenção, ?formar?! (inocência) ? Formar?! Formar o quê? (agressivo) ? Ô filho da puta, entra na fila moleque do caralho! (com ironia) ? Aqui não é a U.E. 14? Aqui é lugar pra macho honrar esta merda que se tem no meio das pernas. (cai de joelhos) ? Ele me bateu... Murro na cabeça. Que culpa tinha de não saber que ?formar? era pra fazer fila. (volta-se vigilante) ? Menores na frente e maiores atrás... Todos enfileirados. Rogério! (levanta a mão) ? Aqui senhor! (novamente vigilante) ? Eugênio! (levanta a mão) ? Aqui senhor! (vigilante) ? Gustim! (levanta a mão) ? Aqui senhor! (vigilante) ? Agamenon! (levanta a mão) ? Presente... (vigilante, súbita violência) ? Presente é o caralho. Me respeita seu pivete. Sempre que ouvir o seu nome, levante o braço e me chame de senhor. (segurando o próprio queixo sacudindo-o) - Tens medo de mostrar os cabelos do sovaco, hein marafoninha? (vigilante, com cinismo) ? Agamenon! (esboça medo) ? Aqui... (levanta a mão) ? ...Senhor! (vigilante) ? Hércules! (levanta a mão) ? Aqui senhor! (melífluo) ? Ah, o Hércules... Alto, forte. A turma o chama de Negão. É um pouquinho mais alto que eu, por isso estava sempre à sua frente nas filas. (pausa) ? Final de mais um dia cansativo na roça. (vigilante, altivo) ? Vamos ?formar?! (volta-se Agamenon) ? Lar, doce lar... (narrativo) - Lar é o nome desta merda. São onze pavilhões chamados de lares. Cada lar tem um vigilante carrasco que é pago pra espancar e a mulher dele que cuida de olhar quem faz ?gavete? na cueca. Um casal de filhos da puta... (voz altiva do vigilante) ? Lar 2 vai para o milharal, lar 3 pocilga, lar 4 jardim do diretor, lar 5 estábulo, lar 6 também para o milharal... É! Amanhã vocês vão se foder de novo no milharal. (volta-se narrativo) ? Na saída do milharal, a fila andava em direção ao lar 6. Percebia que Hércules se aproximava e me encoxava sem que o vigilante percebesse. (inocente) ? Nunca reclamava das encostadas do Hércules. No início até e achava que eram sem maldades. E todos os dias aquele gesto d Hércules era repetido. (volúpia de Hércules depois de suposta encoxada) ? Gostosa... (volta-se Agamenon) ? Seu filho da puta, encosta na sua mãe! (voluptuoso) ? No fundo aquele contato era gostoso, mas ele tinha de disfarçar porra! Morria de medo que descobrissem o meu passado de fêmea na U.E. 14. (volta-se Hércules com volúpia) ? Eu sei que você gosta. Responda! Você gosta, não é mesmo? Desde o dia que você chegou eu notei este seu jeitinho. Você não nega... Fala a verdade você é bichinha... (agressivo) - Confessa vai! (volta-se Agamenon numa fúria) ? Você está louco! Bicha é a sua mãe! (volta-se voluptuoso) ? Sua voz rouca trepidando no lóbulo de minha orelha, me arrepiou. (amedrontado) ? Mas não podia me entregar. Lembrei no que os gêmeos Mauro e Maurício fizeram depois que me usaram pra matar o tesão deles. Mas Hércules continuava... (Hércules sardônico) ? Gostosinha... Bichinha, bichinha gostosa... (Hercules cantando) ? ?Quero te pegar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher...? (volta-se Agamenon) ? Aquelas palavras eram como elogios. (sensualidade) ? Sentia um enorme desejo. (mórbida volúpia) ? Sentia saudades das carícias atrevidas do doutor Tarses e das noitadas carinhosas dos irmãos Mauro e Maurício. (caindo na real) ? Mas e o medo? Não queria que me descobrissem com desejos de fêmea. (Hércules obsceno) - Você deve ter uma bundinha branquinha, lisinha, bem durinha... (Hércules intimidando) ? Eu sei que você é bichinha... Vem cá minha menina! Eu tenho um pau gostoso, grosso. Você vai adorar. (volta-se Agamenon num gesto agressivo) ? Filho da puta! (melancólico) ? Coitado! Levou um soco no nariz, sangrou! (vozes) ? Acertaram o Negão. Foi o Agamenon. (volta-se Agamenon desolado) ? Coitadinho. Hércules, que parecia ser tão forte, ficou paralisado no chão. Me senti um vitorioso, mas ao mesmo tempo morri de pena. (melífluo) ? ?Tadinho! (voluptuoso) ? Morria mesmo de vontades de me deitar e servir aquele negrão. (enfático) ? Percebi lágrimas nos olhos de Hércules, mas ele tentou disfarçar. (exasperado) ? Apanhei como se fosse um cachorro. O vigilante me bateu com um pedaço de cabo de enxada na parte da pele fina na sola dos pés. Hércules passou a me respeitar. Nas filas, com medo de uma reação, ele ficava a mais de metro de distância. Começava sentir a falta daquelas encostadas maravilhosas. Mas cada vez mais Hércules se distanciava. (se movimenta pelo palco, breve pausa) - O banho... Como é gostoso tomar banho. (cantando) ? ?Tomar banho dia, que alegria!? (sarcasmo) ? Pintos de tudo quanto é tipo... (com volúpia) ? Uns pequenos, outros enormes, minúsculos, alguns rendidos, tortos, perfeitos, grossos, finos, com manchinhas bonitinhas, alguns sacos enormes, outros saquinhos, uns bem cabeludos, outros carecas como testas de palhaços... Mil tipos de cacetes maravilhosos. (mais volúpia) ? Eu louco pra ter um daqueles só pra mim! Apalpar, brincar, acariciar os lábios com a cabeça como se fosse batom, colocar no meio das pernas, cavalgar. Outro dia fui parar com Hércules no mesmo chuveiro. Hércules e eu no mesmo Box. Desde o soco no nariz do pobrezinho que a gente não se falava. Nunca tinha visto Hércules pelado, mas sempre tive muita curiosidade. Disfarçadamente espiei Hércules tirando a roupa. Percebi aos poucos um corpo perfeito. O peito nu, forte, me arrepiou. Tirou lentamente o calção e a cueca encardida. Fiquei maravilhado com a grossura do pau mais bonito que já tinha visto. Perfeito, redondo, enorme e com vários fios de cabelos brilhantes que embelezavam aquele monumento negro. (com excitação) - Hércules veio se aproximando, caminhando lentamente. Senti um cheiro de suor que tapou as minhas narinas. Cheiro de homem forte... Homem de verdade. (euforia) ? Derrubei o sabonete no chão de propósito para evitar que vissem a minha excitação... Como era divino olhar o Hércules por baixo. Aquelas pernas fortes cabeludas e eu louco para abraçá-las. Mas me contive apesar daquele cheiro de sexo todo. (melífluo) ? Como tudo era divino! Com sabão nos olhos de Hércules pude apreciar com calma aquele corpo imenso e sedutor. Não demorou muito e Hércules deixou o chuveiro e fiquei por mais alguns instantes tocando discretamente as delícias do meu corpo enquanto me ensaboava. Fiquei pensando que jamais teria aquele Deus negro na minha cama. Precisava fazer alguma coisa para que ele voltasse a me notar. Mas o que fazer. Eu precisava descarregar as delícias dos meus pensamentos no corpo de um macho dominador. (melancólico) ? Já não me importava a ideia do Hércules espalhar para todos os menores que eu o desejava. (libidinoso) - Nas filas, às vezes parava propositadamente pra ver se Hércules ao menos trombasse comigo. (lascivo) ? Hércules nem imaginava o quanto eu precisava dele. (constrangido) ? Ele estava sempre atento mantendo distância. Até nos tornarmos amigos. (pernicioso) ? Mas eu não estava satisfeito. Queria muito mais do que uma amizade idiota. Desde que descobri que bater punheta e acariciar o cuzinho ao mesmo tempo era infinitamente mais gostoso, tentava substituir o pau do Hércules com falsas penetrações. Mas não sei, apesar de tentar me convencer do prazer que sentia, faltava alguma coisa. Um abraço forte, um corpo imenso me dominando e tirando as minhas forças. Um cheiro de macho e sentimento do meu corpo preenchido por uma potência viril. (mais volúpia) ? Enganava o meu desejo substituindo o membro do Hércules por bananas verdes, sabugos de milho que pegava escondido na roça. Cabos de escovão, de enxadas e o bico das ?congas? que a Febem dá pra gente calçar nas missas de domingo. Mas o pau do Hércules parecia ser insubstituível. (breve pausa) ? Não aguentei mais o desassossego, a falta de ar, o calor e o corpo trêmulo e sem juízo e tomei uma iniciativa. (desafiador) ? Dei uma encoxada nele. Percebi na hora que Hércules ficou furioso. (imitando Hércules) ? Seu filho da puta! Se você não gosta, eu detesto este tipo de brincadeira. (volta-se Agamenon) ? Hércules pegou em meu braço e torceu violentamente. (Hércules numa agressividade) ? Deixe descontar, senão quebro o seu braço. (volta-se Agamenon) ? Lágrimas inevitáveis, frutos da dor que subia pelos braços. Hércules continuou torcendo até que me virou de costas e encostou violentamente o seu corpo sobre o meu. Pude sentir a potência do seu pau sobre as minhas coxas. A sensação de dominação, de passividade me excitou loucamente. A dor me embebedava cada vez mais. (libidinoso) ? A sua agressividade era um prazer dolorido e delicioso. Queria mais, muito mais. Minha vontade era me deitar naquela grama úmida, arrancar a minha roupa e me embebedar naquele mar de delícias que nos envolvia num clima intenso de fantasias. (com luxúria) ? Percebi um líquido, uma água que parecia um catarrinho escorrer sobre as minhas pernas. Era Hércules me banhando com o seu desejo. Apesar de estar totalmente submisso e entregue, tentei disfarçar os impulsos de desejo e preenchimento da minha carne. (volta-se Agamenon) ? Virei um brinquedinho dos impulsos de Hércules. Adorava ser dominado e encoxado demoradamente por aquele macho predador.