Lentamente ajoelha-se e coloca a mão sobre o sexo.
AGAMENON (agressivo) ? Eu não sou BICHA! (voz de choro) ? Mentira! Tudo mentira! Eu não sou bicha... (desafiador) ? Bicha é a mãe de quem me chama assim! (com sofrimento) ? Estão todos lá fora... (corre para uma das extremidades do palco) -...querendo me queimar, como se eu fosse uma dessas bruxas malévolas das histórias que mamãe contava. (sofrimento, melífluo) ? A coitadinha gemeu muito antes de morrer. Eu era pequeno demais pra entender aquele sangue derramado no chão. Mamãe caiu dura. Hemorragia! A hemorragia matou mamãe. Hemorragia de uma gravidez mal resolvida. Eu estava lá; vi quando o médico disse... (exasperado) ? Mas foi ele quem matou mamãe. Doutor Tarses, o namorado da mamãe. (numa revolta) ? Eu vi... Juro que vi! Ele pulou em cima dela, arrancou a roupa e galopou como se estivesse nas costas de um cavalo. Mamãe gritava e ele bufava como um touro. (numa revolta) ? Comeu a minha mãe! Estuprou a coitada! (assustado) ? Mamãe, que sangue é esse? (melífluo) ? Mamãe não me respondia. Estava suada. Estava quieta. Estava dormindo... (pavor) ? Estava MORTA! Mataram mamãe! (agressivo) ? Foi ele! (cai de joelhos) ? O meu padrasto. O desgraçado. O advogado... O doutor Tarses! (imitando o padrasto) ? Vem cá meu filho... (cordial) ? Vem cá... (sarcasmo) ? Senta no colo do papai. (numa revolta) ? O doutor Tarses não era o meu pai! (volta-se ao padrasto) ? Vem cá meu filho... (cordial) ? Vem cá... (sarcasmo) ? Senta no colo do papai. (ar de inocência) ? Sentei várias vezes no colo do doutor Tarses que dizia ser o meu pai. (volúpia) ? Não vou negar... Era gostoso o colo do doutor Tarses. (rompante de inocência) ? Ele me fazia carinhos. Passava a mão na minha cabeça. (deita-se no próprio ombro) ? Me colocava em seu ombro... (passando a mão pelo corpo) ? Descia aquela mão grande e quente por todo o meu corpo. (voluptuoso e insinuante com as mãos) ? Que sensação deliciosa aquela mão acariciando minha barriga e depois descia até as pernas. (em êxtase) ? Colocava a mão por dentro do meu calção e tocava a minha delícia. Voltava para as coxas e me penetrava com seus imensos dedos. Como era gostoso sentir o coração acelerar e a respiração ficar difícil. (breve pausa, imita o padrasto) ? Vem cá meu filho... Venha tomar banho com o papai. (bruscamente doce) - Calma pai... (amedrontado) ? O que é isso? Tão enorme! (olhando para o próprio sexo) - O meu é pequeno. O seu é grande! (ordenando) ? Vem cá meu filho! (numa candura) ? As pessoas que se gostam, fazem isso. (desesperado) ? Desgraçado! Me agarrou! (voz de choro) ? Não quero mais; vai doer, vai me machucar! (apreensivo) ? Bateram na porta! (imita sons de batidas na porta) - Tok, tok, tok. Era mamãe chegando das compras. (hipocrisia do padrasto) ? Sou eu querida, tentando dar banho neste moleque teimoso. (num berro) ? Mamãe me tira daqui! (imitando a mãe) ? Obedeça a seu pai! Banho é saudável. Você está grande demais pra fazer cena... (volta-se ao garoto, num alívio senta-se e abraça os joelhos) ? Ainda bem... (atônito) - O doutor Tarses chegou até a me agarrar. (amedrontado) ? Senti aquela coisa grande tentando invadir o meio das minhas pernas. Mas mamãe me salvou. (ajoelha-se na boca de cena) ? Mas a coitadinha está morta. (súplice) ? O doutor Tarses a matou. (exasperado) ? Estava bêbado. (inconformado) ? O advogado bêbado... (numa fúria) ? Assassino. Assassino! ASSASSINO! (breve pausa, numa tristeza) ? Me entregou ao Juizado de Menores... (outra pausa breve, suplicante) ? E me chamam de BICHA!? (aos berros) ? Já disse, não sou BICHA! (introspectivo) ? Mamãe, ?tô com saudades... (com inocência) ? O doutor Tarses me entregou pra Febem (levanta-se).