Water unceasing
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Capítulo único
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Ele odiava aquela chuva.
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Não que odiasse a chuva em si, mas odiava o que a presença dela lhe causava. A sensação monótona e solitária que aparecia em noites em que não era possível ver o céu.
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Deprimente, não?
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Pior era quando chovia, mas parecia que chovia raios e trovões e não água. Não gostava dos clarões e dos barulhos, eles lhe faziam tremer, e acabava se sentindo ainda mais sozinho naqueles momentos ? mas nunca assumiria isso para ninguém.
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Queria apenas que ele estivesse ali?
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Amaldiçoava sua própria existência, queria ter nascido mulher, uma bela e delicada mulher ? como Felicitá ?, e não um garoto raivoso e fechado como era, assim poderia conversar e conviver com Libertá sem se preocupar com mais nada.
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Não se preocupar com nada?
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Eram pensamentos em demasio presunçosos. Não se preocupar com nada era algo impossível para si. Não era só por causa de sua personalidade, mas também por quem era.
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Tudo bem, assumia que apenas queria poder conviver com ele?
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Não entendia porque aquele sentimento lhe assolava. Desde que Libertá se mudara para a ilha de Regalo, olhava-o, inconscientemente, de um modo diferente. Sentira uma sensação estranha desde a primeira vez que o vira, o que lhe irritava deveras.
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O que realmente sentia pelo loiro idiota e extrovertido, portador da carta il matto?
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Nem ele sabia explicar, só o que poderia dizer era que, na presença do tolo, não conseguia simplesmente se manter calmo ou sano, perdendo sua compostura e paciência, que adquirira depois de tanto treinamento ? um fato que lhe irritava demais.
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Aquilo lhe irritava demais.
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O que aquele loiro tinha demais?
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? Nova? Você está acordado? ? a voz de Libertá se fez ouvir, baixa, junto de duas leves batidas na porta fechada.
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O rapaz franziu o cenho, o que ele estava fazendo ali àquela hora? Deveria estar dormindo. Olhou o relógio, passava das duas.
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Certo, não deveria acusar Libertá quando ele mesmo ainda estava acordado, mas era por causa da chuva, e não porque queria, que não conseguia dormir.
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Talvez o outro estivesse com medo, seria uma boa oportunidade para zoá-lo.
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Sorrindo maldoso, levantou da cama, caminhando silenciosamente até a porta e parando, tudo estava quieto.
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? O que foi, Libertá? Está com medo e não consegue dormir? ? o riso seco e malvado ecoou levemente pelo quarto, mas ao não receber resposta, corou, talvez estivesse louco.
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Será que não ouvira a voz e achara que era o outro? Sua mente talvez estivesse lhe pregando peças, já que queria tanto ter o loiro ali.
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Suspirou, talvez, no fim, ele quem estivesse com medo de ficar sozinho.
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? Eu? posso ficar aí com você? ? o sussurro com certeza não fora obra de sua mente, e destrancando a porta, abriu-a sem fazer qualquer ruído, seus olhos se arregalando ao ver o outro ali.
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? O-O que está fazendo aqui, Libertá? ? perguntou franzindo o cenho, em sua voz o tom de acusação predominava.
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O loiro riu envergonhado, coçando a cabeça e desviando os olhos para o chão, não parecia muito confortável.
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? Vai me deixar entrar ou não? ? a leve irritação fez Nova sorrir, abrindo espaço para o mais velho entrar, fechou a porta.
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Ficaram se encarando por segundos, sem saber exatamente o que dizer. Era uma situação estranha, de fato, por isso que, sem se importar por aquele não ser seu quarto, Libertá caminhou até a cama e sentou.
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Seus olhos se direcionaram ao céu nublado, de onde a chuva incessante não parava de cair, ficando lá, apenas esperando e esperando, até o movimento ao seu lado tirá-lo de seus pensamentos e trazê-lo à realidade.
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? Feh!, você é patético por estar com medo de uma estúpida chuva ? Nova murmurou, seu tom sarcástico irritando profundamente o loiro.
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Mas, embora o rapaz estivesse com a língua bastante afiada, sua guarda estava baixa, e foi por isso que, com um único movimento, Libertá conseguiu derrubá-lo na cama, ficando sobre ele e lhe encarando, seus olhos verdes semicerrados.
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Os belos olhos verdes presos furiosamente nos azul da cor do céu noturno.
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? E você, Nova? Por que está acordado? ? a pergunta fez o outro morder os lábios, franzindo o cenho em ódio. ? Não teme nada?
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O que era ódio, ou amor, não se sabe exatamente o que Nova sentia, se transformou em calmaria quando o rosto moreno se contorceu em uma careta de choro.
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? Libertá ? o espadachim sussurrou, encarando firmemente o choroso, que fechara os olhos, tentando conter as lágrimas.
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? Noites assim me fazem lembrar o passado ? o mais velho começou, fungando levemente ?, me lembra o quão sozinho eu estava e como noites assim me amedrontavam?
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Sentindo a dor que as palavras demonstravam, Nova tocou o rosto moreno com seus dedos finos e brancos, deslizando levemente pela bochecha, descendo, com suavidade.
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Libertá descansou sua mão sobre a dele, deslizando-a em seu rosto, incentivando que ele lhe fizesse carinho.
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Era uma cena linda, doce e fofa. O clima entre eles estava tão suave, que, sem pensar, Nova tomou o rosto masculino entre suas mãos e puxou-o levemente para baixo, em sua direção.
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Na direção do seu rosto, dos seus lábios.
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Descendo e descendo, quase se tocando, calmamente. Mas a sanidade voltou, e Nova parou. Notando o que fazia, desviou os olhos, e quando iria soltar o rosto do outro, foi surpreendido.
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Libertá fez o que a muito queria, seu desejo mais íntimo. Com um único movimento beijou os lábios finos que tanto ansiava, juntando-os em um leve roçar.
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É claro que Nova se surpreendeu e não reagiu. Seus olhos azuis fitavam com surpresa o outro, que beijava-o com os olhos fechados. Será que seu desejo se tornara realidade? Ou estava apenas sonhando?
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Sendo realidade ou não, deu de ombros, abraçando o loiro pelo pescoço, deixou tudo de lado para aproveitar aquele momento.
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Notando que Nova lhe aceitava, Libertá sorriu contra a boca do outro, deslizando sua língua pelos lábios deliciosos para si, depois mordendo-os levemente.
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O espadachim suspirou, jamais imaginara que estar com o outro poderia ser tão bom.
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Quando a língua do tolo investiu contra os lábios do morte, recebendo permissão para aprofundar o beijo, o ósculo se tornou intenso, uma longa e profunda briga, de modo diferente do convencional, mas mais um modo deles discutirem: em um beijo profundo, brigando uma língua com a outra.
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Libertá sugou os lábios de seu amado baixinho, não resistindo a rir de sua própria sorte.
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? Do-Do que está rindo? ? perguntou um ofegante e nervoso Nova, ofendido.
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? Quem imaginaria que meu sonho mais íntimo se tornaria realidade? ? brincou sorrindo, aquele sorriso que lhe era tão característico, fazendo o mais novo corar.
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Então Libertá também desejava aquilo? Há quanto tempo? Por que nunca lhe dissera?
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Desviou os olhos, fitando algo fora da janela apenas para não encarar aquele rosto perfeito.
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? Pe-Pervertido ? sussurrou mal-humorado, ouvindo um riso suave do loiro, que abraçou sua cintura com intimidade. Nova iria contestar, mas os lábios mornos lhe beijaram levemente o pescoço, fazendo-o se arrepiar.
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? Eh? Já que eu sou um pervertido, vou aproveitar a situação e lhe beijar até me saciar?
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E quando Nova iria protestar, teve seu rosto virado e seus lábios capturados com doçura e carinho, em um beijo sôfrego e delicioso que o fez se esquecer de tudo o que não envolvia ele, Libertá e aquele ósculo.
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Era uma noite chuvosa, fria e monótona para todos naquela mansão, menos para os dois jovens naquele quarto que aproveitavam cada minuto juntos de um modo especial.