O alarme tocara, e Maria Thereza levantou devagar e esfregando os olhos. Ainda estava cedo, mas, ela logo foi fazer o café. Desceu as escadas, e quase escorregou no trenzinho de brinquedo de Marco Antônio, seu filho mais novo. Faria ovos naquela manhã. Abriu a geladeira, e retirou-os de lá, juntamente com a manteiga. Pegou o sal da bancada, a frigideira do armário, a colher da gaveta e ligou o forno. Logo, o cheirinho de comida perfumava a casa. Cortou três pães - dois para os filhos e um para o marido - fez o Nescau de Pedro Henrique e enquanto subia a escada de novo, quase pisou no controle remoto da televisão. Resmungou baixo algo sobre desorganização e abriu a porta do quarto devagar, para não acordar o marido. Tomou um banho de chuveiro, e secou com direito a secador os cabelos cacheados. Logo estava vestida, bonita e acima de tudo: simpática. Beijou suavemente o homem e os meninos, todos adormecidos, e foi até o outro lado da rua, onde entrou no carro.
O trânsito estava ótimo, afinal ainda era cedo, mas, podia estar melhor. O seu CD favorito tocava: Beatles... E alguma coisa que ela já não se lembrava. A musica era ?? Strawberry Fields Forever ?? a qual ela achou relaxamente bizarra, embora tenha cantado junto de qualquer forma. A mulher do carro ao lado riu. Quase a convidou pra cantar junto, mas, infelizmente ou felizmente, o sinal abriu, e essa foi a sua deixa para acelerar. A musica recomeçara, e voltara a cantar. Era melhor aproveitar enquanto podia, já que era bibliotecária. Chegou, e foi direto para sua vaga, com direito a nome e tudo. Tirou o cinto de segurança e ??saltou do carro??.
A manhã estava passando rápido, estranhamente. Talvez pelo fato dos adolescentes estarem mais quietos que o normal naquele dia, e ela pudesse trabalhar em seu livro ?? As estrelas de Daniel?? em paz. No máximo precisava pedir silêncio algumas raras vezes, mas, fora isso tudo estava calmo. Hora do almoço! Trocou de turno com Mariana, e foi para o outro lado da rua, comprar um acarajé na mão de sua xará, Dona Terezinha. Estava gostoso. Bebeu um suco de uva, daqueles que ardem à garganta, e entrou na loja de variedades que ficava por perto, afinal ainda tinha alguns minutos de ??pausa??. Andou, andou... Olhou... E quando viu, já precisava voltar de novo.
Trabalhou, escreveu... E quando o relógio bateu as quatro, foi direto para casa. No caminho, ligaram da escola (Os meninos estudavam a tarde) e descobrira que Antônio passara mal. Dera meia volta imediatamente, e fora buscar o menino. Estava febril, mas, assim que chegaram em casa, Thereza tratou de dar remédios e colocá-lo na cama mais cedo. Na manhã seguinte ele estaria bem, ela esperava. Ficou com o menino até que este dormisse, e mesmo quando dormiu, não saiu de lá, mantendo a promessa que havia feito. Beijou-o no bochecha e cochilou ao seu lado. Já havia ligado para o marido e pedido que buscasse Pedro.
Aquele fora um dia um pouco diferente para Maria Thereza. Mas, o que esperar? Era só mais uma trouxa entre tantas e tantos.