"Essa história é bem trágica. Sim, essa é a minha história. Minhas características físicas? Tinha cabelos bem longos e loiros com uma franja meio que repicada, olhos azuis, não era tão alta, mas poderia ser considerada como uma menina de altura mediana, eu era meio corada, isso deveria ocorrer pelo fato de eu passear no sol nos fins de semana e meu corpo era normal de uma menina de 16 anos. Eu era uma aluna dedicada, estava no 2° ano do ensino médio, tinha uma vida mais ou menos, era a solista do coral da minha escola, tinha poucos amigos porém verdadeiros, nunca fui de querer me achar, eu nunca fiz algo de errado ou pelo menos não tão grave a ponto de ser cruelmente castigada. O mais triste disso tudo é que eu não sabia qual era o motivo e nem quem era o assassino... Mas isso não importa porque mesmo após a morte eu tinha jurado vingança e minha alma atormentada precisava disso para sair do purgatório. Eu não quero contar-lhes toda a minha vida, então vou passar para o meu último dia."
- 1979... O ano está quase acabando e daqui a um ano eu posso finalmente me formar e ir para faculdade. Eu só preciso continuar estudando bastante ao mesmo tempo que me concentro no coral, talvez após ganhar tantas competições isso possa garantir uma vaga no mercado musical e seguirei carreira solo como cantora de uma banda de pop. - Pensava sentada na cadeira, com uma mão eu mexia o lápis e com a outra apoiava meu rosto enquanto olhava pro alto com aquele olhar distante.
- Senhorita Tomura, se concentre na aula! Está voando! - Yuki-sensei chamava minha atenção, ele já estava bem estressado, com o livro de química em uma mão e o giz na outra.
- Desculpe Yuki-sensei. Vou me concentrar mais na aula de química - Desculpei-me apesar de não estar precisando de nota em nenhuma matéria pois já havia passado em tudo
"Então o último tempo de aula bateu e eu já estava cansada, estava chovendo e aquela chuva me dava sono. Eu peguei minhas coisas da cadeira, soquei tudo na minha pasta e fui para o pátio central para ver se encontrava alguém que me acompanhasse até em casa. Chegando lá não vi ninguém conhecido e ia embora sozinha quando ouvi alguém me chamando"
- Naoko, bom feriado! Vê se não some como sempre e me liga para irmos no karaokê. Sabe como é né... Me ajudar a encontrar caras legais... Com uma voz dessa e eu dizer que sou sua amiga... Enfim, até depois. - Saya gritava para mim ao mesmo tempo que já acenava para mim, em um gesto que parecia querer livrar-se de mim enquanto com a outra mão segurava sua pasta azul.
- Ah Saya, não sei se vai dar para sair... Nesse feriado eu vou tentar me concentrar nas minhas próprias composições. Afinal, quero ser uma cantora e compositora de grande renome. - Eu percebi que Saya não queria me acompanhar naquele momento e fui arranjando logo uma desculpa, mas mesmo assim perguntei à ela - Escuta... Saya... Não gostaria de me acompanhar até em casa? - Eu sentia-me envergonhada pois nos duas estávamos nos evitando. Eu estava com a cabeça virada e olhando para o chão. Em um braço segurava a minha pasta e o outro estava para trás pois disfarçava coçando a minha cabeça.
- Tudo bem então sobre o assunto do karaokê... E aliás, desculpa não poder te acompanhar até sua casa hoje... É que tenho muito o que fazer em casa e preciso chegar cedo. - Saya dizia já indo embora
- Tudo bem, tô indo. - Eu também saia meio irritada com ela
"No caminho de casa eu estava meio estressada com a Saya e nem me preocupei em arranjar algum guarda-chuva para me cobrir naquele momento. Eu reclamava, estava andando com passos rápidos, afobada e com as mãos fechadas em punho, uma segurando a pasta e outra sem nada."
- Odeio voltar para casa sozinha... É a parte que mais odeio no dia. Nunca dá para ninguém me deixar em casa, tudo bem que eu moro longe mas...
"Eu já estava perto de casa quando alguns gritos e barulhos estranhos me chamaram a atenção e interromperam a minha reclamação, o meu monólogo. Os gritos eram de pavor e os barulhos estranhos era de coisas quebrando, objetos de vidro caindo no chão e outras coisas aleatórias. Virei-me rapidamente para ver de onde esses barulhos viam e avistei minha casa."
- Que barulho foi esse? E parece vir da minha casa! - Eu dizia nervosa enquanto começava a correr em direção à minha casa.
"Ao chegar em casa, imediatamente percebi que tinha algo de errado. Minha mãe tinha o costume de arrumar a casa antes dos feriados, mas ao contrário disso, a casa estava toda bagunçada, nem sei descrever a bagunça toda, só lembro das luzes apagadas e um cheiro horrível que parecia ser de carne crua."
- Nossa, o que passou por aqui? Um furacão?... Mãe? Pai? Tem alguém em casa? Voltei da escola! - Eu gritava para ver se alguém respondia-me
"Chegando na cozinha, eu liguei a luz pois era de lá que vinha aquele cheiro horrível e obviamente eu fiquei curiosa para saber do que se tratava. Eu me assustei na hora que vi sangue na pia e em vários outros móveis da cozinha... Isso porque eu só estava olhando para cima. Para minha infelicidade, quando olhei para o chão, vi meu pai... Ele estava lá, jogado, sua língua havia sido cortada e seu tronco estava aberto, seus órgãos internos estavam expostos e tinham sido espalhados perto de suas pernas. Aquilo foi uma cena chocante para mim, nunca tinha visto algo tão horrível e tão de perto. Fiquei com vontade de vomitar, mas não sabia se era o nervosismo ou se era o cheiro, meu coração estava disparado e logo em seguida comecei a chorar."
- PAI! NÃO! O que fizeram com você? - Eu gritava, sabia que era inútil, mas eu fiquei tão traumatizada que não sabia mais o que fazer... Meu pai foi tirado de mim e eu já não podia fazer nada.
"Eu estava muito nervosa, mas era um pouco fria. Claro que eu amava meu pai, mas não queria ser a próxima e talvez minha mãe ainda estivesse viva... Eu queria salvar a única pessoa que me restava e logo comecei a analisar o caso mesmo tremendo bastante ainda."
- Bom, vamos nos acalmar e pensar. Parece que foi há pouco tempo... Os órgãos ainda estão quentes e a língua deve ter sido cortada para ele não alertar minha mãe. - Comecei a pensar enquanto pegava naquelas coisas nojentas e com a outra mão tampava o nariz.
"Após àquela rápida análise da situação, eu pensei bem e fui procurar minha mãe na suíte dela. Eu logo corri, subi as escadas e quando cheguei no quarto empurrei a porta com força não me importando se estava aberta ou trancada, eu estava desesperada. Entrei no quarto e só via sangue, mesmo com a luz desligada eu podia perceber por causa da claridade que vinha da janela. Eu estava olhando para o chão. Fui passando meus olhos lentamente para a lateral e vi uma quantidade maior de sangue e avistei a cabeça da minha mãe. Fui olhando de cima para baixo e minha mãe estava pendurada na parede em forma de crucifixo e de cabeça para baixo, seu rosto estava roxo e caído, estava com marcas de luta e havia levado uma facada na barriga."
- NÃO! Eu cheguei tarde demais! - Eu chorava e gritava loucamente enquanto caía de joelhos no chão, já estava sem esperanças... Tinha perdido minha mãe, meu pai, as pessoas que eu mais valorizava e parecia ter sido o fim pra mim. Mas então eu tirei as duas mãos do rosto e vi um recado do filho da puta. Estava escrito com sangue no pescoço de minha mãe. Passei a mão no rosto, enxuguei os olhos e li: "Você será a próxima Naoko Tomura, não espere até às 18h45" - Eu não entendi bem, mas eu fiquei revoltada na hora e olhei o relógio - Quem é essa pessoa? Como ela pode tirar o sangue da minha mãe e escrever isso... Mas, que horas são? São 18h40... Esse desgraçado não vai me pegar! Esse filho da puta! Eu vou me vingar! - Eu dizia com ódio.
"Eu tinha esquecido de ligar a luz e enquanto eu gritava alguém chegou por trás de mim e colocou um pano na minha boca com alguma droga que me fez desmaiar. Eu não consegui lutar..."
- Eu avisei para não esperar até às 18h45... - O assassino dizia dando aquela risada sarcástica e isso foi a última coisa que eu ouvi.
"No outro dia de manhã, a Saya resolveu ir na minha casa pois ela tinha ligado para mim várias vezes e eu não atendi. Então chegou na minha casa e cansou-se de apertar a campainha, abriu a porta e achou estranho ela estar aberta."
- Olá? Naoko? Senhor e Senhora Tomura? Alguém em casa? - Saya entrava devagar na casa e olhava para todos os lados - Nossa, aqui tá meio bagunçado...
"Pobre Saya, não sabia que desde aquele dia sua vida nunca mais seria a mesma... Ela adentrou à cozinha e viu meu pai ainda no mesmo estado e então..."
- Aaaah! - Saya deu um grito de susto - Naoko? Naoko? - Saya me chamava desesperada
"Saya subiu as escadas e viu minha mãe também no mesmo estado que eu havia encontrado"
- Meu Deus! Que merda é essa? Naoko? Naoko? - Saya chorava e gritava com uma mão na boca para evitar gritos e com a outra enxugava as lágrimas.
"Então Saya abriu o banheiro da suíte e lá estava eu... Eu estava jogada na banheira cheia de sangue, estava toda mutilada, como se tivesse pegado pequenas facadas em todo o meu corpo, meu rosto estava desfigurado, tanto ele como meu corpo pareciam ter sido jogados em ácido sulfúrico e em volta do meu corpo todo... Correntes me prediam e me apertavam. Então esse foi o estado em que minha amiga havia me encontrado."
- NAOKO?! NÃO! Meu Deus, já chega, vou ligar para polícia. - Saya dizia assustada e estava com o coração a mil.
"Então ela ligou para polícia."
- Alô? Polícia? A minha amiga foi assassinada e os pais dela também, eu estou muito assustada... - Saya clamava
- Tudo bem, estamos indo! Calma! - O policial dizia
"Chegando lá os policiais investigaram o local e viram as vítimas e tudo aquilo que eu já disse..."
- Nossa, que porra aconteceu aqui? Moça, vamos cuidar do caso... Não se preocupe. - Policial dizia à Saya.
- Tudo bem, eu vou para casa, obrigada - Saya mal falava de tanto tremer e estava passando mal.
"Após o feriado todos os alunos foram comunicados sobre a minha morte, por Saya(antes de ser internada) e os policiais que confirmaram o que a mesma disse. O diretor fez uma reunião para dizer algumas palavras sobre mim."
- Queridos alunos, essa reunião foi feita para comunicarmos aos senhores que uma de nossas alunas mais queridas, foi morta... Naoko Tomura, nossa principal cantora. Vamos fazer um minuto de silêncio [...] Declaro luto por 1 semana pela aluna. - Parte resumida do discurso do diretor.
"O meu querido Colégio Nakao era famoso pelo coral e graças a mim nunca perdia uma competição. Após à minha morte, ele nunca mais foi o mesmo, o grupo do coral perdeu a motivação e nunca mais ganharam uma competição. Mas isso foi apenas o começo... Eu me vingarei."