Por um minuto, seu cérebro congelou. Lúcia sentiu uma raiva tão grande ao ver Unic ali parada, com a mão ensopada de sangue, que achou que fosse explodir. Cerrou os dentes, e apertou os punhos com força.
- Unic... ? ela rosnou. Ukyo e Zidane, pressentindo o perigo, seguraram cada um um braço da menina. Mas só de ter contato com os músculos dos dois, Lúcia podia sentir a fúria dos rapazes emanando.
Nathan parecia divido entre o terror e a raiva: o pulso e os punhos tremiam, mas, a expressão era violenta. Se decidiu pela fúria, porque logo em seguida sacou a espada e correu para cima de Unic.
- Nathan! ? Zidane gritou, erguendo o braço livre no ar. ? Cuidad...!
Não teve tempo de terminar a frase: Nathan decapitara a menina com um único golpe. Não teve tempo de processar o que fez, porque quase que automaticamente depois de assassinar a jovem, sua reação foi se ajoelhar ao lado do irmão.
-Lia... Lia, responda. ? o rapaz virara o corpo do irmão de uma forma para que ficasse de barriga para cima. ? Ei...Ei...
Lia gemeu, a mão ainda por cima do lugar da barriga de onde mais saía sangue. Nathan suspirou com alívio.
-T... Tire a mão daí, eu preciso ver a gravidade do machucado... ? o tom era preocupado e sério.
Enquanto isso, as outras cinco pessoas do grupo contemplavam pasmos o cadáver de Unic. Os rapazes já não seguravam Lúcia, e esta andou com as mãos tremendo até o local onde a cabeça residia. Inesperadamente, pegou-a com os dedos nus, e a ergueu do chão. Encarou o rosto petrificado por alguns segundos, antes de declarar:
- Falsa.
C...Como?! ? Nilo disse ainda se recuperando do vômito.
- É falsa. Não é a Unic. ? retrucou, arrastando as palavras. ? Mas isso era basicamente uma marionete que só pode ser controlada pela pessoa representada nela. Por isso... A verdadeira deve estar por perto. Se corrermos, poderemos...
- NÃO! ? o grito de Lia interrompera Lúcia. Nathan tentava fazer o rapaz mostrar a ferida, mas, este se recusava.
- Lia... Isso não é como antigamente. Eu sou seu irmão, por favor, deixe-me ver o machucado. ? Nathan dizia sério. Era notável que ele não queria ter que fazer força contra o garoto.
- As... As tripas... Não são mi...Nhas... Essa...Garota já chegou com elas... E você... Não é meu irmão! - Lia retruco meio ofegante, meio falando com dificuldade. A parte final foi dita com raiva.
- Ei, Lia... Mesmo que essas tripas não sejam suas, é claro que você foi ferido. E não seja tão duro com o Nathan, ele está mesmo preocupado com você. ? Ukyo disse devagar, finalmente falando.
- É... Eu... Posso fazer alguma coisa com a minha mágica... Lúcia disse, aparentemente tendo se conformado com a idéia de que a verdadeira Unic teria que ser deixada de lado.
- Sem...Chance... ? Lia disse ferozmente.
Zidane encarou o rapaz no chão e o irmão ao lado. Com certeza havia acontecido alguma coisa entre eles, a qual nenhum dos dois contara para o grupo. O ladino pegou no ombro da maga, e chamou- a por um momento, para trás de uma árvore.
- O que foi, Zid?
- Paralise o Lia. ? ele sussurrou. ? Dá pra ver só pelos olhos dele que ele não vai nos deixar tocar nele. E além do mais, o Nathan não quer forçá-lo a obedecer, e isso vai matá-lo.
Lúcia suspirou, e mesmo que com um pouco de hesitação, concordou. Voltarem silenciosamente para perto do ferido, e num movimento rápido a garota atingiu-o na testa. Por cinco segundos, nada aconteceu. Até que enfim, os músculos de Lia pareceram perder forças, e logo o único sinal de ele estar consciente, era sua expressão facial: aterrorizada.
- Lia?! O que você... ? Nathan começou.
- Eu paralisei-o, Nate. Por favor, todos nós sabemos que ele não ia nos deixar tocar o machucado dele, então... Cuide dele. ? Lúcia disse em tom triste, como quem sentia por Lia.
Nathan ficou quieto por um momento, até que finalmente assentiu.
- Me perdoe, Li... Pequeno irmão. Mais uma vez. ? e tirou a mão do rapaz do local tão guardado.
O rosto do menino era comovente. Se antes ele era um tigre feroz, agora ele era uma presa sendo pega. O buraco na barriga não era profundo, mas, estava em carne viva. Por muitas vezes, ele gritou. Embora não pudesse se mover, berrava tão alto que Lúcia fez uma barreira de isolação ao redor do grupo, e mais uma para os irmãos, que proporcionava um ambiente limpo para que a ferida fosse cuidada, como também exalava uma fumaça analgésica. Infelizmente, a maga só se lembrou de usá-la quando Nathan estava perto do final. Depois de uma hora de tratamento, Lia finalmente havia parado de gritar. O mais velho deu o sinal para que Lúcia acabasse com a barreira que fizera para os dois, e ela assim fez.
Alguns minutos depois, com Lia demasiadamente fraco, deitado entre a sua capa e a do irmão (embora não soubesse que descansava sobre o parente), os outros conversavam.
- Então, Nathan, o efeito paralisante durou o bastante? ? Lúcia perguntou, quebrando o gelo.
- Sim...Obrigado.
- Mas, vocês tiveram alguma briga feia ou algo do tipo? Não que eu queria te deixar pra baixo, mas, o Lia parece estar sempre bravo com você... ? Ukyo disparou.
Nathan demorou alguns segundos para voltar a falar.
- É que... Sobre nossa mãe e irmã... Não era bem...Verdade... ? ele começou, timidamente.
- A verdade, que ele carinhosamente esqueceu de comentar, é que nós também somos irmãos do Lia. ? duas vozes masculinas disseram em uníssono, surgindo de repente.
Lia gemeu.