"Aquilo a que chamamos acaso não é, não pode deixar de ser, senão a causa ignorada de um efeito conhecido." Voltaire.
Estava encantada com o lugar. Logo que chegara, a jovem Yamanaka correu até seu quarto no qual ficara hospedada. O lugar possuía um tamanho mediano. As paredes de um tom rosado dava uma aparência romântica ao quarto de casal. Ino sempre fora acostumada a dormir sozinha, seu quarto possuía uma cama de casal além de um enorme closet do qual insistira a seu amado pai que cedera, afinal conhecia a filha que tinha. Ino era muito determinada e era de conseguir o que desejava; seu closet, e agora aquela viagem maravilhosa ao Hawaii. E estava agora ali, em um quarto menor que o seu, porém com uma aparência semelhante. A diferença, além do tamanho, dava-se pelo pequeno freezer e uma enorme TV de LCD instalada no quarto. Achou a TV desnecessária, não ficaria perdendo suas poucas semanas no Hawaii assistindo televisão. Deitou-se na cama sentindo o aroma floral contido nos lençóis e olhava em direção a uma porta de madeira que dava acesso ao banheiro do qual ainda não havia notado. Suspirou um pouco cansada pela viagem longa que tivera. Fechou os olhos, ainda estava se questionando se aquela viagem estava realmente acontecendo. E um sorriso se fez presente, estava acontecendo.
? Ino! ? uma voz um pouco aborrecida seguida de três batidas na porta a despertara.
Ino levantou-se e foi em direção à porta dando de cara com uma rosada enfurecida.
? Não acredito que me colocou em um quarto de casal! ? exclamou passando pela loira feito um furacão. ? Por que não pediu um quarto pra nós duas?
? Você sabe muito bem que eu não gosto de dividir quartos. ? respondeu indiferente a todo aquele alarde da amiga.
? Nem com sua melhor amiga?
? Não dividiria nem com a Madona. ? arqueou a sobrancelha, não estava entendendo o drama da Haruno.
? Por que não me colocou com outra pessoa então? ? questionou sentando-se na cama.
? A única garota além de mim é a Konan. E ela também preferiu ficar sozinha. E vocês nem são intimas, seria estranho. ? justificou sentando-se ao lado da amiga e ao pegar em uma das mãos da rosada, prosseguiu. ? O que foi? Não sabia desse seu pavor em dormir sozinha.
? Não, não é isso. É que... ? sua face corara só de lembrar o motivo. ? A ideia de eu dormir sozinha em um quarto de casal agradara bastante o Sasuke.
O sorriso malicioso de Ino só transparecia o que a jovem Haruno estava tentando lhe dizer, e após leves cutucadas que recebeu da Yamanaka, ouviu a mesma insinuar em voz sapeca.
? Não vai me dizer que a ideia não lhe agradou...
? Ino! ? repreendeu, envergonhada. ? Você sabe que eu ainda sou... Você sabe.
? Virgem, Sakura. A palavra é VIRGEM. ? soletrou para a amiga, um tanto irritada. Nunca ia se acostumar com aquele acanhamento de Sakura quando o assunto era sexo. Após um breve suspiro, a loira indagou. ? E pretende ser virgem pelo resto da vida?
? Claro que não, Ino. Acontece que eu não estou preparada. E ainda tem... ? arfou pesarosa. ? O Naruto.
? E o que o meu primo tem a ver com sua relação sexual?
? Você sabe o que estou tentando lhe dizer. Eu ainda tenho que resolver essa situação. Não posso continuar enganando o meu amigo.
Ino bufou. Encarava a amiga, e o que percebia era uma pequena expressão de culpa em seus olhos. Aquela situação a estava irritando. Sim, estava a irritando. Simplesmente por que pela primeira vez parecia que não ia conseguir o que desejava. Desejava, naquele momento, que seu primo não se magoasse. Mas como não ficar magoado ao se sentir traído. E por tanto tempo. Não conseguia uma forma de fazer com que ficasse tudo bem para o Naruto e para a Sakura. Ela estava se sentindo mal com aquilo, Ino enxergava isso em seus olhos. Oh céus! Isso tudo não estaria acontecendo se Sakura já tivesse contado ao Naruto...
? Eu sei, Ino. Você está certa. Eu devia ter contado tudo. ? disse cabisbaixa fazendo sua amiga dar um leve salto assustada, havia falado em voz alta.
? E o que vai fazer? ? perguntou já imaginando a resposta.
? Vou atrás do Naruto e contar tudo pra ele. ? levantou decidida.
? Boa sorte... ? sussurrou dando um leve aceno, se encontrando sozinha em seu quarto.
...
Aqueles olhos... Naruto esfregava os cabelos molhados impetuosamente. Como se este ato fizesse com que ele esquecesse aquele sonho, aquela imensa coincidência. Estava ficando louco. Era sua única justificativa; louco. Como podia sonhar com uma pessoa antes de conhecê-la? Mas aqueles olhos... Lembrava-se muito bem dos olhos, eram diferentes. Aquele lilás fraco, quase um branco. No sonho possuía uma expressão mais amena, graciosa até. Já na realidade continham uma expressão surpresa, confusa. Também não era para menos, julgando pelo fato que pela sua falta de atenção acabara se desequilibrando e a levando junto. Os dois estavam tão próximos, como no sonho. Não, não... Definitivamente elas não são a mesma pessoa. A moça do seu sonho parecia confiante, já aquela garota não parava de encara-lo envergonhada e assim que ajudara a levantar, saíra correndo sem ao menos dizer o nome. Era tímida demais. Desligou o chuveiro e suspirou pesadamente ao sair do Box. Levou a toalha até a cintura cobrindo as partes intimas. Andou pensativo até a porta e ao abrir deparou-se com seu amigo que estranhamente parecia estar tendo algum pensamento erótico. Estava parecendo seu padrinho.
? Pensei que havia parado de assistir esses filmes nojentos, teme. ? disse em um tom de desagrado.
? Está falando que nem uma garotinha. ? comentou ainda deitado em uma das quatro camas do quarto. ? Mas o que o faz pensar que eu assisti a um filme pornô?
? Essa sua cara de tarado.
? Hum...
Naruto arqueou a sobrancelha intrigado. Sabia que Sasuke estava escondendo algo. Deu de ombros, não devia ser nada importante. Não ia se intrometer na vida do amigo. Abaixou-se de frente da cama onde estava o Uchiha e puxou uma mala preta. Abriu-a e sorriu de canto. Por um momento lembrou-se de sua mãe. As roupas estavam extremamente organizadas. Estavam separadas por tipos de peças de roupas. No lado esquerdo estavam às blusas de manga, todas bem dobradas. Ao lado tinha uma fileira de camisetas e abaixo estavam as bermudas. Em um dos bolsos da frente da mala continha uma escova de dente, um pente largo além de outros objetos de higiene. Sabia que aquela organização não ia durar algumas horas. E quando fosse ir embora, a mala nem ia fechar. Queria saber qual era a magica que sua mãe fazia pra caber todas aquelas peças de roupa em apenas uma mala. Tirou uma camiseta e uma bermuda, além da cueca e fechou a mala. Levantou-se e percebeu que ainda não havia ligado para sua mãe avisando que chegara.
? Você ainda não me disse. ? se pronunciou Sasuke encarando o amigo que se encontrava em pé a sua frente.
? O quê?
? Sobre a garota que você estava agarrando. Seu tarado.
Naruto revirou os olhos. Choji, pensou. Choji foi o único que vira aquele desastre. Ele foi o próprio causador do desastre ao ter despertado o Naruto de seus devaneios. Imaginou o quanto o amigo aumentara a estória. ?A garota que eu estava agarrando?? riu-se. Não era do tipo que agarrava as mulheres. Apesar de ter convivido com seu padrinho do qual considerava o homem mais pervertido do mundo, não havia herdado a safadice do velho. E Sasuke o conhecia muito bem para saber que a estória não era bem assim.
? Não foi nada. ? disse coçando os cabelos o que demonstrava seu constrangimento. ? Eu só me desiquilibrei com o empurrão que ela me deu e acabei a levando junto.
? Soube que ela era bonita. E tinha um corpão.
? Não reparei no corpo dela, mas ela tinha um rosto bonito. E aqueles olhos... ? o sonho rondou novamente seus pensamentos.
? Está interessado nela. ? disse soando mais como uma afirmativa do que uma pergunta.
? Bem, não do jeito que você está pensando. ? respondeu pensativo, queria encontrar a palavra certa. ? Curioso. ? estalou os dedos. ? Isso. Só estou curioso.
? Curioso?
? Coisa minha.
Não queria dizer ao Sasuke sobre o sonho que tivera. Ainda se via muito confuso com toda aquela situação. Precisava entender a ligação entre essa moça e seu sonho. Será que era alguma mensagem? Sinal? Mas que tipo de sinal? Suspirou pesadamente. Algo dizia que aquilo ia o deixar maluco. Se já não estivesse. Precisava conhecer essa garota. Talvez ela também tenha sonhado com ele. Por isso a surpresa dela, e talvez seja por isso que ela correu dele sem dizer nada. Estava assustada. Revirou os olhos. Não, não... Ele estava ficando maluco. Vestiu sua camiseta branca que possuía um pequeno desenho de uma ilha e seus coqueiros. Encarou o desenho da camisa e lembrou-se: estava no Hawaii. Sorriu lembrando-se da prima. Ino devia estar nas nuvens nesse momento.
? Você pretende passar o dia nessa cama? ? questionou ao ver que Sasuke continuava deitado.
? Tem algum plano melhor?
? Estamos no Hawaii, vamos à praia!
...
Itachi descia as escadas lentamente. Com os olhos fechados, pensativo, caminhava em direção ao aposento onde se faziam as refeições e lá encontrou a jovem Inuzuka pondo a mesa do café da manhã. Ele agora a encarava. Hana era bastante atraente aos olhos do Uchiha. Seus longos cabelos castanhos estavam presos em um rabo de cavalo deixando apenas duas mechas soltas que moldavam seu rosto alvo. Seus olhos grandes e negros olhavam fixamente para a mesa, estava bastante concentrada na sua tarefa. O Uchiha agora contemplava os lábios finos de tom rosado que se encontravam entre abertos. De repente percebera que eles pareciam se voltar em sua direção formando um largo sorriso.
? Aloha! Você não devia estar descansando agora? ? questionou após perceber a presença do Uchiha.
? Descansei bastante durante a viagem.
? Eu não diria que ficar sentada durante sete horas em um avião fosse algum tipo de descanso. Ainda são seis horas da manhã. ? disse apontando ao relógio de parede. ? Descanse um pouco e depois venha tomar um belo café ao estilo havaiano.
? Agradeço o convite, mas eu aceitaria apenas um café puro agora. ? disse sentando-se a mesa.
? Hum... Ok. ? retirou-se meio desconfortada pela recusa.
Encontrando-se sozinho no local. Itachi riu. Olhava para a direção onde a Inuzuka havia partido. Era realmente encantadora, havia uma beleza exótica que o atraia. Estava interessado e por uma momento se questionou se ela seria fácil como a maioria ou bancaria a difícil. Ele esperava muito a segunda opção. Queria se divertir durante essas duas semanas.
...
Seus olhos caiam sobre as mãos e pareciam hipnotizados pelas mesmas. Essas que balançavam pelo ar com os braços que sacudiam elevando os cotovelos. As pernas eram mantidas um pouco dobradas. A jovem balançava levemente o quadril. Estava bastante focada no que fazia. Seus orbes oculares seguiam as mãos que pareciam contar histórias a cada gesto que fazia. Seu corpo estava leve transparecendo toda a sensualidade daquela dança de tamanha tradição nacional. Sua saia feita de ráfia agitava de acordo com o movimento de seus quadris. Vestia por cima um top de cor clara deixando sua barriga exposta. A jovem estava tão concentrada ensaiando sua dança que nem notara a presença de uma mulher que a observava calorosamente.
? Se preparando pra receber os novos hóspedes, Hinata?
? Kurenai-sensei. ? seu coração batia descompassadamente pelo susto. ? Ha-hai! ? a face rubra exclamara seu constrangimento.
Kurenai sorriu. Hinata fora sempre muito tímida. A mulher de orbes de um vermelho tão intenso já estava acostumada com as gagueiras repentinas da jovem dançarina. Lembrava-se da primeira vez que a viu. A jovem Hyuuga possuía apenas seis anos quando chegou naquela cidade. Hinata chegara de uma pequena cidade do Japão chamada Konoha. Apesar da pouca idade, a jovem de madeixas escuras mantivera alguns costumes e vocábulos japoneses. Era uma forma que a pequena achara de ter uma ligação com sua falecida mãe que amava o Japão, apesar da mesma ter nascido no Hawaii.
? Vou apresentar a dança Hula A´uana aos malihinis. São japoneses como eu. ? disse se referindo aos visitantes.
? Já os conheceu?
? Na verdade não, só... Só esbarrei em um deles, eu acho. ? fitara os pés.
Esbarrou... Na verdade não fora bem isso, mas Kurenai não precisava saber maiores detalhes. Sua face voltara a ficar rubra. Foi vergonhoso o que aconteceu. Descia as escadas após uma conversa com a dona da pousada. Faziam os preparativos para dar as boas vindas aos visitantes ou malihinis como eram chamados. Estava distraída imaginando se conhecia algum deles, já que Tsume havia lhe dito que eles vinham de Konoha, a cidade onde fora criada. Morou no Japão durante seis anos, e apesar de nova lembrava-se claramente dos seus últimos três anos lá. Andava levemente pelas escadas quando de repente esbarrara em alguém e com o susto acabara o assustando e por fim, lembrava-se dessa cena pela milésima vez, acabara no chão em cima daquele garoto de cabelos espetados que lhe encarava surpreso. Aquela feição lhe era tão familiar. Era incapaz de esquecê-lo. Aquele garoto tão escandaloso e com aquele sorriso tão convidativo que lhe estendia a mão ajudando a se levantar... Só podia ser ele. Naruto. O garoto que tanto admirava na infância. Será que ele se lembrara dela? Claro que não. Ele nunca a conheceu. Nunca se encontraram, ela sempre estava escondida o observando de longe. Era a primeira vez que haviam se esbarrado. Seria o destino após tantos anos? Não, devia ser apenas o acaso. Suspirou pesadamente, enquanto recordava do acidente de mais cedo.
...
A tarde estava chegando e o sol ameno da manhã parecia ter despertado pela intensidade que emanava sobre a praia de Honolulu. Mesmo o sol forte não conseguia expulsar os jovens turistas daquele lugar que lhe davam as boas vindas de uma forma tão acolhedora que lhes prendiam feito um imã paradisíaco.
? E aí, como foi? ? perguntou Ino assim que Naruto e Sasuke partiram em direção ao mar. ? Quer dizer... Você não contou né?
? É... ? Ino demonstrou-se irritada. ? Eu ia contar, só que quando fui ao quarto deles Naruto não estava. Ele já estava indo de quarto em quarto chamando o pessoal pra ir à praia. ? justificou-se encarando o mar.
Ino também olhava em direção ao mar. Precisamente ela e sua amiga encaravam os dois amigos que se banhavam em águas salgadas. Sorriu de canto. Estavam em uma espécie de competição. Aqueles dois não tinham jeito. Sempre competindo um com o outro. De repente sentiu um arrepio em seu corpo. E se... E se Naruto visse aquela situação como uma competição. E se realmente Sasuke quisesse competir com o seu primo. Ah! Aquela situação estava deixando-a louca. Encarou por um instante a feição de seu primo, estava branda. Estava feliz. E era assim que deveria permanecer. Ele não poderia se descontrolar, não poderia acontecer aquilo novamente. Ino ainda se lembrava do ocorrido, apesar de já ter se passado cinco anos. Ela não queria ver aquele Naruto novamente, não àquele que lhe dava tanto medo. Mas ainda dava tempo, ele ia entender não ia?
? Sakura, o Naruto precisa saber logo.