Memories

Já era noite quando uma ruiva abriu finalmente os olhos, se deparando com um céu completamente estrelado e o sorriso contagiante de um jovem moreno, que a fitava de longe.

? O-onde estamos? ? Ela olhou para o pulso e ao invés de encontrar um relógio, mirava uma bússola estranha. Uma bússola apontando para lugar algum, ficando ainda mais confusa.

? Continuamos no lugar onde caímos ? Ele inflou as bochechas e fez bico, olhando-a desconfiado ? Nami... Preciso te confessar algo! ? O moreno se aproximou com uma expressão séria no rosto, estava tão perto dela, da boca dela... Já imaginava onde aquilo poderia levar. E por mais que desejasse se afastar do homem à sua frente, a vontade de estar perto do mesmo era maior. E ela mal imaginava o por quê.

A mulher fechara os olhos e ao invés de sentir os lábios dele nos dela, ficara arrepiada ao ouvir um sussurro perto dos ouvidos, a voz suave e calma dele despertando uma sensação boa, gostosa de sentir, ainda mais quando o nome da ruiva era pronunciado por ele:

? Nami... ? Ainda de olhos fechados, ela assentira ? Você estava roncando! ? Não demorou muito para o rosto dela ficar um tanto quanto vermelho, e mais rápido ainda que a vergonha fora o aparecimento do olho roxo e do galo que o moreno adquirira, mesmo sem compreender a razão.

? Da próxima vez guarde suas confissões para você, IDIOTA! ? O garoto bufou e virou o rosto para o outro lado enquanto acariciava a cabeça, tentando diminuir a dor ? Garotas não precisam ouvir esse tipo de coisa... ? Luffy deu de ombros e tirou do bolso um pedaço de coxinha:

? Guardei para você... ? Nami ficou meio desconcertada por ter batido nele daquela maneira, pensou em recusar inclusive, ainda mais por estar dentro do bolso do cara que acabara de conhecer, porém, a fome era maior. E morder um pequeno pedaço não faria mal, faria?

Quando notara, antes que pudesse pensar melhor no assunto, já estava mordiscando um pequeno pedaço e agradecendo pela oferta, tentando não observá-lo. Apesar dele fazer muito isso: ficar observando a navegadora com um sorriso enorme na face.

? Eu me lembro de você ? Aquilo a fizera finalmente prestar atenção nele ? Nami, a navegadora... ? Ele puxou o chapéu para baixo, tampando o rosto ? Somos nakamas, não é?

? Luffy... ? Ela o abraçou e foi a primeira vez que se sentiu em casa, como se alguma coisa realmente fizesse sentido naquele lugar onde ela acordara perdida e sem noção de nada ? Sim, nós somos!

? Hãa? ? Luffy e Nami olharam para trás, não conseguindo ver a aparência da pessoa parada atrás deles ? Não me vai dizer que fugiu por causa de um amor platônico! ? Mais uma vez, Nami enrubesceu, desfazendo o abraço rapidamente.

? Não é isso! ? Esbravejou a jovem - Francamente... Só encontro idiotas! ? Ela se levantou com tudo e o encarou furiosa:

? Afinal de contas, quem é você?!

Ninguém falou nada.

Um tilintar de espadas foi escutado, Nami recuara como que por instinto.

? Quem eu sou? ? Uma risada debochada foi ouvida ? Simplesmente o seu maior pesadelo.

***

Em frente à casa onde os mugiwara dormiam profundamente em seus respectivos quartos, uma velha de cabelos brancos preso num coque e vestindo uma blusa de manga e bermuda surrada permanecia de pé, sorrindo vitoriosamente:

? Pensei que seria mais difícil... ? Ela se pôs a andar e após muito caminhar vagarosamente, alcançou o destino desejado: Sunny Go, onde um Ciborgue muito conhecido descansava, entediado.

? Alô? ? A velha gritara a fim de chamar a atenção dele. Nada ? Franky! ? Falara ainda mais alto, dessa vez, obtendo resposta:

? Como sabe o meu nome? ? A miúda senhora deixou um riso escapar.

? Encontrei os seus companheiros! ? Ele abaixara os óculos de sol dele, revelando um olhar desconfiado e fazendo sinal para a velha prosseguir ? Uma garota ruiva e outra morena, as conhece?

? Nami e Robin! ? Ele descera do navio e cumprimentou a mulher ? Desculpe por antes, todo cuidado é pouco para um pirata! - Os dois riram e a desconhecida concordou ? Aé, seu nome é...?

? Verdade! Devo ter deixado os bons modos em casa! Muito prazer, meu nome é Haruka! ? Ela deu às costas e continuou num tom mais sério:

? Poderia me acompanhar?

? Mas e o navio?

? Deixe-o, não existe ninguém nessa ilha. Apenas eu e o seu bando.

? Hm? Assim como nós, alguém pode aparecer a qualquer momento! E foram as ordens do capi... ? A senhora o interrompeu bruscamente:

? Eu os chamei aqui! ? Ela o encarou com um olhar severo - Estava esperando por vocês!

? Do que você está falando? ? A mulher não respondera e os dois permaneceram quietos por algum tempo, até ela oferecer algo:

? Você está com fome? Vamos comer! ? Ele coçara a cabeça, sem compreender o que estava acontecendo ? Preparei um peixe delicioso! ? O ciborgue a olhara de cima abaixo e pensou se a idade estava causando problemas àquela senhora, ficando um tanto constrangido em negar o convite dela. E sinceramente, o lugar realmente estava vazio.

Franky deu de ombros e a seguiu, ainda preocupado com o Sunny: prometeu a si mesmo que voltaria logo.

?Tolos... Tão fáceis de serem manipulados?

No momento, os dois se localizavam no local onde antes fora realizado um precioso e delicioso banquete com a tripulação dos chapéu-de-palha. Uma refeição realizada especialmente para eles.

E agora, Haruka procurava por algum petisco interessante para oferecer, enquanto Franky permanecia sentado num banquinho qualquer, não conseguindo disfarçar a tensão e desconfiança existentes.

? Onde estão os outros?

? Estão dormindo naquela pequena casa ? Apontara sem olhar para ele ? Pode verificar se quiser. ? O ciborgue negou com a cabeça (ela não viu o sinal, então ele disse um audível não). Resolvera confiar na idosa, pelo menos por agora.

? Sabe... ? Ela pigarreou ? Eu ia fingir ter um problema sério na mente. Algo capaz de me fazer reagir como naquela hora quando gritei com você. Mas, não será necessário ? Ela voltou com um salgadinho em mãos e um ar de tranquilidade, tornando as suspeitas de Franky reais.

? O que pret... ? O tom de voz do ciborgue aumentara. Contudo, Haruka o interrompera enfiando um punhado de batatas assadas na boca do Franky ? Apenas me escute! Eu revelarei tudo, detalhe por detalhe! ? Ele mastigou as batatinhas gerando um barulho irritante e se aquietou, dando ouvidos a idosa ? Seus amigos... Se eles forem acordados por alguém de fora, morrem!

Franky voltou a se levantar e tirou os óculos do rosto, estava extremamente sério e com raiva:

? HÃ?! Explique isso direito velhota! Já não estou gostando mais das suas brincadeiras e realmente não me importo se você é uma idosa, mexeu com meus amigos, mexeu comigo! EXPLIQUE ISSO AGORA! ? Haruka rira da reação do homem:

? Acalme-se, caso minha intenção fosse matá-los, já teria feito ? Franky arqueou uma das sobrancelhas e esperou por mais explicações ? A questão é: eu odeio piratas! ? Um sorriso vazio e um olhar sombrio apareceram no rosto dela, eriçando os pelos do Franky ? No início, eu os matava. Mas, não tinha graça... Então pensei num jeito de torturá-los!

? Haruka-san ? Ela o mirou, podendo perceber lágrimas escapando dos olhos dele e braços se preparando para um caloroso abraço ? Sei como se sente! Piratas são realmente horríveis! Eu mesmo não os suportava... ? Franky se recompôs e dessa vez um brilhante sorriso surgia, junto com a mão dele mostrando um joinha ? Até conhecer o Luffy! ? As risadas jocosas foram mais altas e mais demoradas dessa vez:

? Piratas são piratas! Eu sinto muito, mas ou você foi enganado ou manipularam você! ? Haruka se afastara do ciborgue, o mirava com uma reprovação enorme ? E também, não preciso da sua compaixão ou pena, sei muito bem me cuidar sozinha, desde aquele dia eu... Aprendi a não confiar em ninguém ? Um vento suave soprara, trazendo a dor daqueles dias à tona, trazendo novamente aquelas malditas lembranças.

Haruka colocou as duas mãos sobre a cabeça e começou a balançá-la com os olhos fechados, como se querendo espantar todas as coisas ruins que a assombravam dia e noite.

? Eu aprendi também ? Ela se ajoelhou e permaneceu ali, sofrendo sozinha ? Que a melhor forma de se vingar é através dos sonhos e lembranças! Demorei para aprender e agora... Agora ninguém pode me parar!

? Tortura psicológica em outras palavras. ? Ela assentiu vagarosamente ? Pensando bem, você me contou tudo isso e nem me fez dormir. Por quê?

? Uma pequena falha. Nada mais do que isso.

***

? Nami! ? O homem borracha se levantou após chamá-la, o rosto virado para o chão e os punhos cerrados ao lado do corpo dele ? Você quer voltar para o castelo? ? A garota negara com todas as suas forças. Definitivamente era tudo o que ela não queria ? Afaste-se então... ? Ela o fitou, ansiosa. E se perguntava da onde vinha toda essa fúria e confiança dele. Porém, não pensou duas vezes: fez o que o moreno pediu e quando olhou para frente, só pode ver uma camisa vermelha e pegar rapidamente o chapéu que ele jogara em sua direção:

? Cuide bem dele! É importante para mim! ? Ele colocou os dois braços na frente do corpo e envolveu a mão que estava fechada com a outra aberta, estalando os dedos e sorrindo ? Pode vir!

? Hm? ? O espadachim colocou as espadas em modo de defesa ? Uma luta? O esmagarei como um inseto! ? ?não?, Nami pensou. A determinação e a confiança vinham dos dois lados, com a mesma medida, deixando-a admirada.

? Veremos! Por enquanto, você só soube falar! ? A cabeça dele se esticou e Zoro levou um susto, sendo pego desprevenido e quase baixando a guarda. Caso não fosse o seu reflexo, já teria levado o primeiro golpe.

? Maldito! Quem é você, afinal? ? Luffy dera uma gargalhada e o olhar dele ganhara um enorme brilho:

? Meu nome é Monkey D. Luffy! E eu serei o rei dos piratas!