O último suspiro de um soldado do III reich

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Divagações de um Heer em seu leito de morte

    Violência

    Temos agora mais uma missão difícil: retomar uma antiga fábrica de armamentos em frente a uma ferrovia. Era uma posição estratégica da cidade, Hitler não se daria por vencido. Não sei quantas vezes por lá russos e alemães alternadamente comemoraram a vitória, regando a felicidade de estar vivo mais um dia com garrafas de conhaques e vodkas.

    Missão começaria em 15 minutos, avanço rápido e maciço. Arma e a pouca munição checados. Adrenalina. Tremedeira. Falta pouco.Eu olhava o semblante aflito, abatido e esquelético dos meus companheiros: todos sabiam que era uma missão quase suicida, novamente. Do nada o trem começa a freiar. Ouvimos o som estridente das rodas de metal desgatando-se com o trilho. Como já dito a nós, esse era o sinal para a abertura da porta do inferno, e de fato, poderia-se confundir com o rangido de uma porta, similar aquelas na entrada de um cemitério. Assim que abriu-se a porta do vagão, imediatamente uma chuva de balas nos recepcionara[...] euforia, desorganização, e muito sangue. Os poucos metros que começamos a correr contra as linhas inimigas já estiravam ao chão os primeiros corpos. Continuo avançando, ficar ali naquele lugar não era uma opção. Então que uma explosão ocorre perto de mim. Meu ouvido começa a zunir e a visão fica turva. O tempo naquele instante parecia passar devagar, as batidas do coração eram mais altos que a artilharia. Meio que cambaleando retomo a corrida contra o relógio, contra a morte, e continuo em direção para a trincheira montada em frente ao local. Tão breve sinto um solavanco e caio logo em frente, em um buraco causado por um bombardeio. Eu Tropecei?

    [...]Naquele momento minha adrenalina baixou bruscamente, sintia-me mais devagar e cansado. Caido quase como desmaiado naquele lugar, quase imóvel, minha mente estava tão clara e limpa quanto o céu azul que agora via. Eu parado olhava o céu, e o silêncio pairava pela minha mente. Vinha-me lembranças de meus tempos antigos[...] ah, era o mesmo céu de quando o avanço ao território russo começara. Eu era um soldado confiante, animado, era indestrutível. Naquela época o Blitzkrieg funcionava. Então que entramos nessa cidade, Stalingrado, me recordo bem, 157 dias contando hoje. Lá as nossas forças pararam, o Blitzkrieg não funcionara mais, mas tínhamos espírito de luta. Mesmo cercados sabíamos que o Füher nos salvaria. Cerca de dois meses após o inicio do ataque a Stalingrado, a nossa esperança voltara a bater na nossa porta: aliados, sob o comando de Rommel, investiram sobre o cerco russo para nos resgatar. Nosso aliados se aproximavam, a chance de sair de lá vivo aumentava a cada dia. Conseguiamos ouvir, dia a dia, o aumento no barulho dos canhões e armas sendo disparado. Naquele frio gélido e aquele silêncio quase fúnebre, ouvia-se muito bem. Pelo barulho estimavamos a distância que a Wehrmacht estava de nós: 12km, agora 8km, depois cerca de 6km, 5km, 5km, 8km, 10km... e chegando a um momento que nem precisavamos mais de ordens oficiais, sabiamos que não tinham conseguido vencer o cerco. As tropas aliadas afastavam-se, levando embora, junto a elas as nossas últimas esperanças. Nossos reforços agora apareciam pelos corredores, pelo becos, com medo. Goering logo trouxe a mídia que a Luftwaffe conseguiria suprir suficiente nossas tropas mesmo sob efeito do cerco. Era o que o nosso radinho de pilha captara. Nosso General sorrira como a muito tempo não fazia: era a grande possibilidade de sairmos daquele gigantesto cemitério... se não tivesse sido uma grande mentira os ânimos da população germânica, centenas de kilometros de distância. Os alimentos eram raros, chegavam semanalmente, jogado sob os nossos bolsões de resistência próximos ao Volga. A roupa era imprópria para os climas congelantes que estavamos. Não era comum a amputação de membros devido ao congelamento, ou a morte por desnutrição. Economizavamos munição, grandes epidemias de diarréia tomavam as tropas, e não havia medicamentos. Ao começo os cavalos que estavam na região começaram a sumir, depois os cachorros e por fim, comia-se a carne de cadaver. Éramos soldados com olhos cabisbaixos de cólera, fome e frio. Aquele bigodinho cabo da Baviera nos largou para lutarmos sozinhos até a última gota de sangue.[...]

    Um soldado jovem entra no mesma cratera que eu. Ofegante, mas com olhos fortes, pulsantes. Aquele jovem tinha futuro, ele deveria ser de alguma tropa paraquedista recém-chegado a cidade. Acho que já tive olhos assim[...]. Eis que ele pega meu rifle, caido a poucos metros. Pega-o sem nem ligar, como se eu estivesse morto. Nem olha na minha cara, mas me sinto sem forças para me levantar, sequer virar os olhos parecia penoso. Ele então posiciona o rifle em posição de tiro, com a base da arma posicionada próximo ao ombro, e os olhos próximo a lente, tentando revidar contra os russos. Um estouro. Sangue. Parte de sua cabeça havia sido levado por um projétil, e ele, caído diante de mim jazia com lágrimas nos olhos, trêmulo, e com uma das mãos erguidas ao alto, como se tentasse alcançar o céu azul. Seria muito triste se a família ver como ele acabou, talvez o caçula da família, sem uma parte da cabeça. Seus olhos agora frios, molhados, talvez fosse o resquício de alguém que sentirá sua falta, mais uma esposa alemã que não verá mais o marido. O fato de estar tremendo imagino que seja o medo da morte ou o frio. Fazia muito frio. O inverno russo chegara. -50°C fazia qualquer um desanimar. Há muito tempo, durante as batalhas, queriamos apenas que esta acabasse rapidamente, que os soviéticos se matassem para podermos tirar nosso capacete frio e tomarmos algo quente em frente a uma fogueira, aquela maldita sopa rala, a única de todo o dia, isso nos dias que recebiamos nossa ração diária. Na verdade não tínhamos nada contra os soviéticos, era somente um soldado qualquer seguindo sua pátria. Não queria guerra. A guerra é estúpida, só traz mortes, tristeza e pobreza, é um cabo de guerra para ver quem consegue fazer o outro sofrer mais, simplesmente[...]

    Quanto tempo passou desde que estou aqui? Parecia uma eternidade. Passo a mão pelo pulso, procurando o relógio. Não o encontro, penso que deve estar no bolso próximo ao peito. Não sentia quase mais minha mão, ela trêmula e lenta consegue chegar ao bolso, não conseguindo achá-la. Contudo noto algo estranho em meu bolso e retiro-o. Encontro só uma foto da minha amada, fotografia agora totalmente empapada de sangue, assim como toda a minha farda naquela região. Minha visão estava escurecendo cada vez mais e o cansaço, aliado ao frio, fez com que eu me encolhesse ali mesmo na terra e pudesse descansar naquele frio[...]pelo menos os russos não me pegariam vivo.

    ?Soldado Luft morreu em 12/01/1943, seus esforços, assim como de quase 1 milhão de alemães, virou estatística?

    ?Stalingrado é uma das batalhas mais sangrentas da história, que definiu o fim do triunfo do III reich?


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