Cântico dos mortos

Philip era um amigo de Nina, ele morava no vilarejo também, mas ao contrário de Haldis, ele não falava muito com a menina, sempre estava sentado em seu canto, menino com os olhos amedrontados, quieto, tímido talvez, mas o que ele temia era os mensageiros do Diabo, Philip não sabia por que, mas ele podia ver os mensageiros falando ao pé do ouvido das pessoas, ele os via influenciando as pessoas a cometerem o mau, mas o menino permanecia calado, ninguém acreditava em suas palavras.

Uma bela tarde Philip e Nina estavam juntos em uma fruteira do vilarejo, ela estava sempre falando, maravilhada com as coisas, ele permanecia em silêncio, olhando ao redor e vendo a quantidade de mensageiros naquele local, pessoas mentiam, roubavam, omitiam, tudo acontecia em um pequeno espaço de tempo, ele não acreditava como as pessoas eram tão fracas em caírem em tentação.

- Está me ouvindo Philip?

Perguntou a garota.

- O que?

- Você parece que nem esta prestando atenção no que eu falo.

- Claro que estou.

E após isso permaneceram em silêncio, os dois procuravam algum doce para comerem, mas de repente um homem cai no chão, ele estava engasgado, Philip já sabia que a gula era o problema daquela pessoa, sempre ouvindo as palavras do núncio ao seu lado, só podia resultar em morte, a multidão logo entupiu o local, espremendo Philip e Nina.

- O que esta acontecendo Philip?

- Vamos sair daqui Nina.

Pego na mão da menina, juntos, Philip e Nina saíram da fruteira, mas mesmo assim, o menino pôde ver a alma do guloso sendo tragada por algum tipo de demônio, não era como os núncios, talvez fosse um colhedor de almas desvirtuadas, ele sabia que aquela criatura seria destinada ao inferno, seguido de uma trilha sonora de arrepiar, Philip tapou os ouvidos, nunca ouvira aquela música antes, e nunca mais queria ouvir, o cântico dos mortos.

- O que aconteceu Philip?

Perguntava Nina assustada.

- Nada.

Nina mesmo sendo cega percebia que algo não estava certo, e Philip estava escondendo algo dela, o menino calava-se, deixara a menina em casa e logo corria para o seu quarto chorar, o mundo era desprezível, com tanta maldade, injustiça, doenças, misérias... E demônios.

- Por que isso esta acontecendo comigo?

Sozinho em seu quarto o menino o viu entrar, a face desfigurada e o corpo deformado, Philip desviou o olhar, arrepiou lhe a espinha, quando aquele núncio entrou, o menino pensou em gritar para sua mãe, mas não adiantaria, pois ninguém acreditaria nele, então arriscou falar com o mensageiro:

- O que você quer?

O núncio se aproximou de Philip, e começou a sussurrar no ouvido do menino:

- Tenho uma mensagem do seu pai.

- Você mente, pois meu pai está morto.

- Eu sei.

Dizendo isso o núncio solta um sorriso diabólico.