Mit Dir

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 18

    Capítulo XVII Corra, Grethe, Corra

    Linguagem Imprópria, Nudez, Violência

    Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

    MIT DIR

    Chiisana Hana

    Beta-reader: Nina Neviani

    Capítulo 17 ? Corra, Grethe, corra!

    Ao ouvirem o estampido, Ann, Alberich e Bado, que seguiam a primeira-dama no carro da médica, apressam-se e invadem a casa. Os três deparam-se com uma inusitada cena: Grethe de arma na mão, Hilda assustada, encolhida no canto do cômodo, e o corpo de Linus caído de lado. Ao redor da cabeça formou-se uma poça de sangue. Ann se aproxima do prefeito e verifica o pulso. Nada.

    ? Você matou o Linus ? Ann afirma atônita. ? Não foi isso que combinamos!

    ? Eu tive de fazer isso ? Grethe diz, exibindo seu indefectível sorriso, que agora faz Ann ter calafrios. ? Pergunte à princesa se não foi necessário. Ele teria matado nós duas. A única coisa que lamento é não ter dito a ele que morreu corno. Além do mais, não foi você quem andou me aconselhando a colocar veneno na comida dele? Não foi uma ideia ruim, sabe, Ann? Seria interessante fazer como em alguns romances da Agatha Christie.

    Ann fita a primeira-dama quase sem compreender o que ela diz. Antes de saírem, tinham combinado que Grethe distrairia o marido para que os dois guerreiros-deuses invadissem a casa e retirassem Hilda de lá. Agora a médica simplesmente não sabe o que fazer. Bado se aproxima de Hilda e, ignorando as formalidades exigidas pela posição dela, abraça a princesa.

    ? A senhorita está bem? ? ele pergunta.

    ? Estou ? ela responde trêmula e com a voz embargada. Pensa em tudo que tinha acontecido em Asgard durante a guerra contra os cavaleiros de Athena e pede aos deuses que protejam o povo de Asgard. Pensa também em Siegfried e só então se dá conta do abraço de Bado, mas não o refuta. Pelo contrário, aprecia a proteção oferecida e sente que o guerreiro-deus de Alcor jamais teria segundas intenções.

    ? E agora, o que vamos fazer com ela? ? Ann pergunta, apontando diretamente para Grethe. A primeira-dama parece inacreditavelmente satisfeita com seu ato e responde com desdém:

    ? Comigo nada, é claro, mas temos de esconder o corpo.

    ? Grethe, eu estou realmente assustada com a sua frieza ? Ann se pronuncia. Ultimamente tinha mesmo pensado em acabar com Linus, mas sabia que não teria coragem de tirar uma vida dessa forma. ? E outra, "precisamos" não, você o matou. Você precisa.

    ? Matei. Pronto. Agora preciso dar um jeito de esconder o corpo e vocês vão me ajudar.

    ? Não conte com isso ? nega-se Ann. Bado, Alberich e Hilda não dizem nada.

    ? Vocês já estão envolvidos de qualquer jeito só por estarem aqui. Além do mais, por que tanta lamentação? Ninguém aqui gostava do Linus, nem eu mesma. Ele era um tirano. E quer saber? Alguém já devia ter feito isso há muito tempo. E você, Ann, não venha me censurar porque você não é nenhuma santa e eu sei muito bem que era uma das muitas amantes dele.

    ? Era, mas já não estava com ele, como você também sabe.

    ? Sei ? diz irônica e volta o olhar para Bado. ? Você está investindo em outros terrenos, assim como eu decidi fazer também. Mas e aí, como vamos fazer para escondê-lo?

    ? Nós vamos embora! ? Ann exclama. ? Você resolve seu problema!

    ? Esperem aí! Eu mato o canalha do meu marido pra salvar a princesinha de vocês e vocês me deixam na mão? Nada disso. Vão me ajudar, sim! Já estão envolvidos até os dentes, ouviram? Não vou entrar nessa sozinha de jeito nenhum.

    ? Você o matou porque quis! ? Ann protesta. ? Podia ter dado, sei lá, um tiro na perna.

    ? Até parece que você não conhece o Linus. Se o tiro não fosse fatal, ele arrancaria a arma de mim e mataria nós duas. Ok, vamos falar sério agora. A situação é a seguinte: se não me ajudarem eu me entrego à polícia e digo que vocês me forçaram a atirar no meu estimado marido. Quem é que não vai acreditar na pobre e ingênua primeira-dama da cidade?

    ? Grethe, você é louca ? Ann diz.

    ? Devo ser, devo ser. Depois procuramos uns psiquiatras e estudamos meu caso. Agora vamos lá, doutora, como é que vamos esconder o corpo? Eu sei que essa sua mente ágil já deve ter alguma ideia.

    ? Está bem, Grethe ? a médica anui. ? Vamos ajudar. Mas antes, Tigre, pegue o meu carro e leve a princesa embora daqui.

    ? Ann, eu não sei dirigir...

    ? Droga. Então pelo menos fique lá fora com ela. Rosinha, você vem nos ajudar.

    Enquanto Bado leva Hilda para o carro, Alberich protesta.

    ? Era só o que me faltava! A médica psicótica que me chama por esse apelido idiota quer me dar ordens? Que engraçado!

    ? Deixe pra ficar ofendido depois, ok?

    Alberich responde com um resmungão.

    ? O que vamos fazer, afinal? ? Grethe pergunta. ? Esquartejá-lo?

    Alberich dá uma gargalhada.

    ? Vocês vão fazer o quê depois? ? ele pergunta, em tom sarcástico.

    ? Que tal colocar ele no assoalho? ? Grethe sugere. ? A gente arranca umas tábuas, coloca, joga cimento e pronto.

    ? Vai acabar tendo cheiro e atraindo animais ? Ann diz.

    ? Bom, eu tenho uma sugestão melhor... ? Alberich diz. ? E totalmente sem cheiro.

    As duas mulheres olham intrigadas para o guerreiro-deus.

    ? Coloco o corpo num esquife de ametista ? ele diz, como se a frase soasse corriqueira.

    ? Hein? ? questiona Ann. ? Seja lá qual for a droga que você está usando, acho bom parar.

    Alberich dá outra gargalhada que provoca em Ann o mesmo arrepio provocado pelo sorriso alucinado de Grethe.

    ? Vocês só acreditam nas coisas que conhecem, não é? Você mesmo, Dra. Doida, duvidava que Asgard existia, não é mesmo?

    ? É, duvidava ? ela assente, sem sequer protestar pelo apelido. ? Mas que história é essa de ametista?

    ? Tecnicamente envolvo o corpo dele com a pedra. O ideal seria levá-lo para a minha floresta de ametistas...

    ? Floresta? ? Ann interrompe. ? Existem outros corpos lá?

    ? Alguns. Bom, continuando, gostaria de levá-lo, mas obviamente por questões de logística não será possível. Então creio que o melhor é deixá-lo aqui mesmo, escondido em algum lugar.

    ? Podíamos colocar no sótão ? Grethe sugere.

    ? É uma boa ideia ? concorda Alberich.

    ? Bom, se é assim, então que seja como você diz ? Grethe fala. ? Vamos, faça sua mágica, meu querido Albie.

    ? Pois se afastem e olhem, senhoritas ? ele anuncia em tom solene, e as duas obedecem. Alberich abre os braços e ergue-os. Uma luz rósea emana de seu corpo e, estranhamente, o ar se move, mesmo não havendo janela ou porta abertas na casa. Uma poeira lilás muito fina e de intenso brilho materializa-se, partindo dos braços erguidos de Alberich, e vai formando cristais maiores que se depositam sobre o corpo de Linus, envolvendo-o completamente. Ao final, resta uma enorme pedra lisa, brilhante, como se tivesse sido lapidada e polida, um invólucro mórbido que deixa seu conteúdo à mostra como numa vitrine.

    Boquiaberta, Ann se aproxima da pedra e bate com os nós dos dedos, conferindo a firmeza da superfície. Grethe também se aproxima e faz o mesmo.

    ? Parece uma obra de arte! ? exclama a primeira-dama. Alberich exibe um sorriso superior e satisfeito pelo reconhecimento. Gosta de pensar isso de suas vítimas e o agrada muito que Grethe pense o mesmo.

    ? Não sei qual de vocês dois é pior... ? Ann murmura aterrorizada.

    ? Problema do corpo parcialmente resolvido ? Grethe diz, ignorando o comentário de Ann. ? Agora se o senhor artista permitir, vamos limpar esse sangue, e depois você chama seu amiguinho para colocarmos o presunto no sótão. Você tem certeza de que não vai ter cheiro, Albie?

    ? Eu garanto.

    Enquanto os outros resolvem o que fazer com Linus, Bado e Hilda esperam no lado de fora da casa. Só depois de alguns minutos Hilda começa a falar.

    ? Eu tive medo ? ela diz, tentando retomar o autocontrole.

    ? É normal, senhorita. A situação não era nada fácil.

    Hilda deseja perguntar sobre Siegfried, mas teme que Linus tenha cumprido sua promessa. Felizmente, Bado toma a iniciativa de tocar no assunto.

    ? Siegfried está bem ? ele diz, e Hilda solta um suspiro de alívio. ? Uma enfermeira tentou matá-lo, mas inacreditavelmente a criada da senhorita impediu.

    ? Judith? Como?

    ? Não sei bem os detalhes, mas me parece que ela lutou com a moça e acabou matando-a com a seringa que ela usaria para matar Siegfried.

    ? Meu Deus... Já são duas mortes... Que Odin tenha piedade de nós ? ela diz, e completa em pensamento: "Estou profundamente grata por não ter acontecido nada com Siegfried. Sei que não devia sentir isso, pois duas pessoas morreram, mas é difícil não olhar a situação de uma perspectiva pessoal. Depois de tudo que aconteceu lá em Asgard, ainda temos que enfrentar esses problemas aqui... E tudo sempre por minha culpa. Sempre minha. Senhor Odin, meu fardo é pesado demais... Não sei se ainda sou digna da minha missão."

    ? Quando eu cheguei lá, Shido estava com ela ? Bado continua, mas Hilda quase não ouve, absorta em seus pensamentos. ? Ficaram de resolver o que fariam com a moça morta. A senhorita já se deu conta de que talvez tenhamos de ir embora antes do previsto?

    Hilda balança a cabeça, tentando afastar os pensamentos.

    ? Fala de termos de fugir por conta dessas mortes? ? pergunta.

    ? Sim. Mais cedo ou mais tarde as pessoas saberão o que houve... Alguém vai notar o sumiço do prefeito...

    ? Temos de fazer o que é certo. Tanto Judith quanto a esposa daquele... daquele homem terão de assumir seus atos.

    ? Eu sei, mas se isso vier à tona, no mínimo ocorrerão prisões, processos criminais e sei lá mais o quê. Aqui não é Asgard, onde normalmente a senhorita resolveria o caso junto com o conselho dos nobres. E Ann está lá, ajudando a esconder o corpo. Me preocupo com ela também.

    ? Eu não sei direito o que pensar, estou tão confusa... ? justifica-se a princesa. Depois dos acontecimentos dos últimos meses, Hilda sente-se debilitada demais para pensar direito. Ela procura dentro de si algo da antiga Hilda, forte, decidida, governante e sacerdotisa de seu povo, mas não encontra mais nada.

    ? O melhor, creio eu, é voltar para Asgard o mais rápido possível ? Bado conclui, incluindo Ann em seus planos.

    No hospital, Judith tenta explicar a Shido o que houve.

    ? Ela tentou atacar o senhor Siegfried ? ela começa a falar, nervosa, atropelando as palavras ?, mas eu cheguei bem na hora e não deixei, nós brigamos, ela tentou aplicar a injeção em mim, eu tentei tirar da mão dela, mas... deu no que no que deu. Não era minha intenção, não era, eu juro. Só não queria que acontecesse nada com o senhor Siegfried.

    ? Calma, Judith! Fale devagar ? Shido tenta acalmá-la.

    ? Eu juro, eu juro que ela tentou atacar o senhor Siegfried. Eu tinha de impedir. Era o meu dever. E agora, senhor Shido? Eu vou ser presa?

    ? Não sei, Judith. Sinceramente, não sei.

    A criada olha fixamente para o corpo da enfermeira no chão.

    ? Estou acabada. Estou acabada. Estou acabada.

    ? Calma, Judith.

    Shido se aproxima da moça e ensaia um abraço colocando os braços frouxamente ao redor dela. Tensa, Judith o envolve com força e ele não tem alternativa a não ser retribuir o abraço, ainda que com alguma reserva. A moça treme em seus braços e só então ele percebe o quão nervosa realmente ela está.

    ? Vamos dar um jeito ? ele diz. ? Foi um acidente... eu direi que ouvi vocês discutindo e vim ver o que estava acontecendo e no momento em que cheguei vi vocês duas.

    ? O senhor faria isso?

    ? É o que vou fazer, Judith. Agora precisamos avisar a alguém sobre o que aconteceu. Fique aqui.

    Shido faz com que ela se solte de seus braços e, amparando-a, ajuda a fazer com que se sente na poltrona. Depois sai do quarto e procura o médico plantonista, para quem simula nervosismo ao descrever os fatos como se realmente os tivesse presenciado.

    Os dois homens entram no quarto e o médico vai direto até a enfermeira. Shido troca um olhar cúmplice com Judith e ela esboça um sorriso aliviado.

    ? Está morta ? ele diz depois de conferir-lhe o pulso, e volta-se para Judith. ? É verdade que ela tentou atacar o paciente com essa seringa?

    ? Sim ? Judith responde com voz trêmula. Depois respira fundo e começa a narrar os fatos para Otto, com as mesmas palavras e na mesma velocidade desenfreada com que os narrou para Shido.

    O doutor Otto não diz nada. Ann já havia lhe dito para ter cuidado com os asgardianos, o que ele não entendera a princípio. Com o atentado ao paciente que Ann chamava de "loiro-que-caiu-do-céu" tudo começara a se esclarecer.

    ? Fique calma ? ele finalmente fala. ? Não vou fazer nada até falar com Ann. Vocês fiquem aqui e não deixem ninguém entrar no quarto até eu voltar.

    Mais tarde...

    Grethe e Alberich seguem para a casa da primeira-dama, enquanto Ann, Shido e Hilda vão para a casa da médica.

    ? Essa história toda me deixou com fome ? Grethe diz ao entrar em casa. ? Você quer comer alguma coisa?

    ?Bom, já que ofereceu, sim ? Alberich responde, ainda surpreso diante da naturalidade com que a mulher lida com os fatos. "É uma mulher bastante perigosa", pensa. "Mas eu gosto disso." Ele senta-se à mesa, observando com seus olhos verdes a mulher que prepara a comida como se não tivesse acabado de matar e esconder o corpo do marido.

    Na casa de Ann, a médica leva Hilda até sua suíte.

    ? Fique à vontade, tome um banho... Eu vou arranjar algo pra você vestir. Depois eu mesma vou ter que tomar um banho também. Estou exausta.

    ? Obrigada ? Hilda murmura. ? Obrigada por tudo que tem feito por nós.

    Ann não responde e desce até a sala onde Bado está.

    ? Como está a senhorita Hilda? ? ele pergunta.

    ? Acho que está bem.

    ? E você, como está? Está bem?

    ? Eu sou dura na queda, tigre, já te falei isso, mas admito que ainda estou chocada com a Grethe... É tudo tão sujo, tão baixo... eu ameacei Linus, eu sugeri que ela o envenenasse, mas foi tudo da boca pra fora, nunca imaginei que ela levasse isso adiante e muito menos que eu estaria envolvida em algo assim.

    Ela não se contém e chora. Bado a abraça.

    ? Você não teve escolha.

    ? Sim, eu tive. O certo era ter saído de lá diretamente para a delegacia. Não devíamos ter ajudado, não devíamos. Agora eu não sei como vou voltar a minha vida normal.

    ? Você vai conseguir.

    ? Não sei se quero, Bado...

    O telefone toca. Ann atende.

    ? Otto? O que foi?

    ? Eu é que pergunto! Onde se meteu? Fui chamado no meu dia de folga porque você sumiu depois de uma cirurgia!

    ? Não estou me sentindo muito bem desde cedo, por isso vim pra casa.

    ? Ann, eu sei que você não é disso, mas não vou questionar seu comportamento. Escuta, aconteceu uma coisa aqui no hospital, uma enfermeira foi morta.

    ? Morta? ? ela pergunta, tentando não demonstrar que já sabia. ? Como?

    Otto narra os fatos.

    ? Caramba! ? Ann afeta surpresa outra vez. ? E o que você fez?

    ? Nada! Corri pra ligar pra você, porque eu lembro que você recomendou ficar de olho neles.

    ? Sim, recomendei.

    ? Você desconfiava de algo?

    ? Sim, Otto. Eu temia que tentassem algo contra ele...

    ? Quem teria interesse nisso?

    ? Otto, eu não posso falar sobre isso agora, mas explicarei assim que puder. Por favor, dê um jeito nesse problema.

    ? O que é que eu vou fazer, mulher? Tem uma enfermeira morta num quarto!

    ? Dá um jeito, Otto! Faz o seguinte: finge que não a encontrou morta, tenta reanimação, leva pra sala de cirurgia e aí você diz que ela morreu lá.

    ? Ah, sim, e o que eu digo para os assistentes que, claro, vão ver que a mulher já estava morta? E depois, quando fizerem a necropsia?

    ? Otto, por favor, segure as pontas por aí. Peça ajuda ao outro asgardiano, o Shido. Assim que eu puder, apareço para terminarmos de resolver esse problema.

    O rapaz concorda e a médica desliga o telefone. Enquanto Hilda se banha na suíte, Bado e Ann banham-se demoradamente no outro banheiro da casa. Depois os três seguem para o hospital e a doutora procura Otto para saber o que afinal ele resolvera fazer com a enfermeira.

    ? Fiz o que você disse ? ele começa a explicar. ? Simulei um ataque cardíaco. Até desfibrilador eu usei na morta! Ann, no que você se meteu? Assinar declaração de óbito com causa mortis falsa, Ann? Pelo amor de Deus! Já que estou envolvido, quero saber o que é que está havendo.

    ? Otto, só te digo uma coisa: a situação é pior do que parece e sinta-se feliz por não estar engolfado até o pescoço como eu estou. Não assine nada, eu vou assinar a declaração de óbito dela. Para todos os efeitos, terei sido eu a constatar a morte.

    ? Melhor assim ? ele admite aliviado. ? Mas Ann, quem poderia ter interesse na morte do asgardiano?

    ? Não queira saber, Otto. Não queira.

    ? A coisa é tão séria assim?

    ? Mais do que você imagina. Sinceramente, eu estou perdida.

    Ann se afasta rapidamente, para que Otto não perceba o choro que ela não consegue conter.

    Enquanto isso, Hilda e Bado vão até o quarto de Siegfried, onde Judith e Shido ainda estão. Do lado de fora, os gêmeos se abraçam e depois, juntos, tentam consolar a criada. Dentro do quarto, Hilda se debruça sobre o guerreiro-deus de Dubhe e faz uma prece em silêncio:

    "Obrigada, Senhor Odin, por ter salvo a vida de Siegfried, embora tenham sido tomadas outras duas vidas. Sinto-me profundamente grata por isso, ao mesmo tempo em que sei que teremos de pagar por essas duas mortes."

    ? Hilda... ? ele murmura, para surpresa da princesa. ? Perdão, alteza. Não deveria chamá-la pelo nome.

    ? Ora, não me venha com formalidades nessa hora ? ela diz, comovida por vê-lo acordado e falando. ? Você sabe que pode me chamar de Hilda.

    ? Princesa Hilda Josephine Alexandra Kaare Nielssen Odegaard ? ele pronuncia pomposo e, em pensamento, acrescenta seu Bendiksen ao sobrenome dela.

    Hilda sorri ternamente. Há tempos não escutava seu imenso nome que, para os padrões reais, nem era tão grande assim, visto que tinha antepassados com dez, até doze prenomes.

    ? Só Hilda, Siegfried, por favor. Como se sente?

    ? Eu vou ficar bem.

    Hilda nota que ele olha fixamente seu rosto sempre que ela fala.

    ? Consegue me ouvir bem? ? pergunta.

    ? Pouco. Completo o que não ouço lendo seus lábios ? ele diz e cora. Olhar diretamente para o rosto da sua amada princesa o fazia pensar em quanto gostaria de beijar aquela boca. Amara a princesa desde o primeiro olhar e já então sentia que estava perdido. Ela jamais se casaria com um plebeu, de família camponesa, sem nome e sem berço. Obstinou-se a ser da guarda-real, pois assim poderia protegê-la e estar perto dela, ainda que sem tocá-la. Na batalha contra Athena, quase morrera por ela e faria tudo de novo caso fosse necessário.

    ? A senhorita está mesmo bem? ? indaga.

    ? Sim, estou ? ela diz, omitindo os últimos fatos. De nada adiantaria preocupar Siegfried com um assunto temporariamente resolvido.

    ? Não quer me contar como viemos parar em Narvik? ? ele questiona, mudando rapidamente de assunto. Sabia que acontecera algo com Hilda, mas o que quer que fosse, ela estava obstinada esconder. Ouvir a voz doce e melodiosa da princesa faz Siegfried recordar-se de que, durante os dias em que permanecera inconsciente, ouviu a mesma voz diversas vezes. Ele se alegra ao constatar que a princesa estivera do seu lado todo o tempo e recorda-se especialmente de uma frase que pensa ter ouvido: "Eu o amo desde a primeira vez que você pisou no castelo."

    Dias depois, Grethe recebe a visita de Lars.

    ? Você sabe onde está o Linus? ? ele pergunta assim que ela abre a porta. Lars sorri, mas seu tom deixa transparecer uma leve ameaça.

    ? Bom dia, Lars, meu querido ? ela retruca, sorrindo. ? Ele teve de fazer uma viagem.

    ? Ele não me falou de viagem nenhuma. Muito pelo contrário. Tinha planos de ficar bem quietinho aqui em Narvik.

    ? Pois é, foi uma coisa bem repentina.

    ? E para onde ele foi?

    ? Precisou ver uns negócios em Oslo, mas não me perguntei quais. Você bem sabe que ele não me conta nada mesmo.

    ? Negócios? Em Oslo? Estranho... Nunca soube de negócio nenhum... Onde ele está hospedado? Me dê o número do lugar onde ele está porque eu preciso muito falar com ele.

    ? Só um minutinho, deixe-me ver onde está. Não quer entrar, tomar um café?

    Lars não responde, apenas entra, enquanto Grethe procura algo na gaveta do console. Depois, ela anota um número num bloquinho e entrega ao homem.

    ? Ele sempre fica nesse hotel, o número está aí. Ainda não falei com ele desde que viajou. Quando ele faz essas viagens eu acabo não ligando para... não ter raiva... Você bem sabe o porquê...

    ? Sei, sei ? ele diz impaciente e deixa a casa sem se despedir. Grethe solta um suspiro de alívio por ele ter ido embora.

    ? Está começando ? ela diz. ? Ele já deve saber da morte da enfermeira amante do Linus e não vai sossegar enquanto não falar com o irmão.

    Ela liga para Ann e conta sobre a visita de Lars.

    ? No dia do acontecido, liguei para esse hotel e fiz uma reserva em nome do Linus. Mas é claro que o Lars vai acabar descobrindo que o irmão nunca chegou lá. Ele é um vagabundo, mas não é bobo. Quando ele souber, vou fingir que estou preocupada, sugerir que Linus tenha sofrido algum acidente, mas e depois?

    ? E o que você quer que eu faça, Grethe?

    ? Não sei! Só estou avisando pra você ficar alerta. Certamente Lars vai acabar procurando você também.

    ? Grethe, eu acho que só há uma solução para nós.

    ? Se está pensando em procurar a polícia isso está fora de cogitação.

    ? Ok, Grethe. Vou inventar algo para dizer ao Lars, digo que sabia da viagem, algo assim. Depois falo com você.

    Assim que desliga o telefone, Ann caminha resoluta até o quarto de Siegfried. Hilda estava com ele.

    ? Hilda, prepare tudo para voltar para sua terra ? Ann anuncia em tom autoritário.

    ? Tão cedo assim? Siegfried e Fenrir ainda não estão completamente curados.

    ? Eles vão ficar bem. Darei todas as orientações para que cuidem deles lá. Vocês precisam ir antes embora daqui antes da bomba estourar.

    ? Acha que vão descobrir tudo? ? a princesa pergunta.

    ? Eu vou fazer a coisa certa, Hilda. Depois que vocês se forem, vou esperar um tempo e irei à polícia.

    ? Você não pode assumir a culpa sozinha. Foi por minha causa que tudo aconteceu.

    ? Já não importa mais. Só quero que vocês partam o mais rápido possível.

    ? Por que está fazendo isso por nós?

    ? Não é por vocês... eu... eu... ? Ann hesita. Quer dizer que não suporta mais manter o crime em segredo e que deseja proteger Bado, mas não consegue. ? Vou preparar a liberação dos pacientes ? ela diz. ? Enquanto isso você e sua irmã vão para o hotel, arrumem tudo, falem com o piloto que os trouxe para cá. Amanhã quero todos vocês bem longe daqui.

    Continua...


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