Subsistência

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    Capítulo 5

    Sob as asas do amanhã...

    A verdade veio como um raio. De algum modo eu soube no mesmo instante.

    Assim como os ferimentos eram inexistentes em meu corpo, embora tivessem causado dor intensa mesmo quando despertara de meu sonho; aquele grito era tão real quanto poderia ser, tão real quanto minha própria existência, ou a existência daquela coisa.

    Mas eu não havia gritado. Ao menos neste mundo não.

    Havia gritado apenas com meu espírito. Assim como havia sido ferido por uma criatura demoníaca, que causara danos apenas em meu espírito. Tanto em sonho quanto fora dele, o confronto havia sido travado num plano paralelo à este, e agora eu estava livre.

    Agora sabia o que levara a vida de meu pai.

    Um homem como ele não tiraria a própria vida, talvez eu o fizesse, mas não meu pai. Alguma coisa muito forte havia feito ele pular daquele prédio, algo como aquela criatura que instantes antes parecia lutar para assumir o meu controle.

    De alguma forma, pude resistir àquela coisa, o que significava que não era impossível revidar. E mesmo sabendo que mais deles poderiam voltar, não tive qualquer medo. Apenas o desejo de enfrentá-los um a um. De algum modo sabia, que eram eles, que com sua influência, traziam dor e ódio ao mundo inteiro. Sua maldade levaria os homens ao caos.

    - A vocês dirijo meu ódio agora e enquanto viver... - sussurrei, e naquela noite, não mais dormi. Vigiei durante toda a madrugada. Mas noites melhores viriam com o tempo.

    Passei a me acostumar quando algo me incomodava, tornara-se simples identificar aqueles seres, perceber sua presença. No frio repentino, no silêncio da madrugada, no qual os sussurros pareciam me provocar. Não podiam se aproximar de mim sem que eu notasse.

    Certa vez, vi um deles saltar do alto e abrir suas asas majestosas, planando imponente em plena cidade, numa noite em que a lua cheia parecia assumir uma estranha tonalidade vermelha. Embora hoje, nada disso me traga qualquer medo.

    Sempre que o ar gélido do submundo me envolve, logo me sinto protegido, como se asas quentes e macias me acolhessem. Asas brancas, de um ser cheio de calor e paz, que parece estar sempre por perto.

    Apenas uma vez, acho que pude vê-lo.

    Mesmo que por um único e insignificante instante.

    Antes de desaparecer em luz, estava ao meu lado e sorria.


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