Subsistência

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    Capítulos:

    Capítulo 3

    O sonho branco

    - Desce Shinji! - disse ao meu irmão, que logo ameaçou chorar quando tentei fazê-lo caminhar um pouco - Depois sou eu o preguiçoso!

    Não fazia mal. Faltava pouco pra chegar em casa. E apesar dos braços cansados, o que realmente me incomodava, era o tremor que corria por todo o meu corpo desde o incidente no metrô.

    Aquela voz era real. Mesmo que, estivesse naquele momento, lutando com todas as minhas forças para me convencer do contrário. Desde então, meu coração não parava de bater bruscamente, como se fosse a última vez que o faria. Minhas mãos suavam, meus dentes se chocavam em meio aos tremores, e respirava desesperadamente.

    ''Surreal'', era a única coisa que mentalizava.

    Ao chegar em casa, minha mãe já me esperava irritada. Era hora de Shinji almoçar, e minha negligência a deixara furiosa. No entanto, ao pegar o garoto de meus braços sua expressão pareceu desmoronar.

    - O que há com você? - disse com os olhos arregalados e fixos nos meus - Está pálido... E, por quê está tremendo?

    Tocou meu rosto e logo percebeu o quanto estava frio. Me fez repousar o resto do dia, já que recusei ir a um médico. Não queria ver um médico, nem ninguém. Apenas ficar sozinho e raciocinar, me abrigar em algum lugar seguro de minha mente. Sempre fui bom nisso, me esconder dentro de mim mesmo.Se fosse necessário, mergulharia no mais profundo abismo escuro de minha mente, até que não restasse nada para ser encontrado, até que se tornasse impossível até para mim, me encontrar novamente.

    - Estou finalmente enlouquecendo? - sussurrei.

    No final, o cansaço acumulado me venceu, estava há várias noites sem dormir o suficiente, de modo que apaguei, atravessando as horas sem perceber. Dormi o resto da tarde e um pouco daquela noite.

    Sonhei com meu pai. Estava longe, e tentei alcançá-lo. Ao nosso redor, era uma imensidão branca, sem chão, ou céu, tudo branco. Ele estava no alto, corri como nunca, sabia o que estava prestes a fazer. Não cheguei a tempo, não foi o bastante.

    Do alto, ele saltou, de cima do ''nada'', apenas para cair bruscamente no chão branco. Estava perto de mim, e seu sangue começou a transbordar naquele mundo puro, tingindo-o de carmesim. Tornou-se um mar de sangue, que me tragava cada vez mais para o fundo. Nadei tentando chegar à superfície, mas uma estranha e enorme mão me empurrava novamente para baixo.

    A mão tinha garras, como as de uma fera. Seus dedos eram nodosos e longos,cobrindo toda a extensão de meu tórax e apertava minhas costelas.

    ''Preciso de ar, ou vou morrer...'', pensei.


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