Esta é a história da Dama Vermelha:
A Dama Vermelha amava a cor vermelha, amava tudo que continha tal cor, amava o vermelho em seus curtos cabelos, o vermelho em seus olhos, o vermelho em seu vestido, o vermelho em tudo. Quando criança, tudo em seu quarto era vermelho, não havia um único objeto que não tinha tal cor e, se havia, logo não havia mais. Quando adulta, pintara toda sua mansão com a cor vermelha, não deixara um único canto sem esta cor, até seus pequenos animais de estimação eram pintados de vermelho.
A Dama Vermelha era uma mulher muito rica, herdara todo seu dinheiro de seus falecidos pais, a mansão em que vivia era a maior da cidade, localizava-se no alto de uma montanha, cuja vista, a partir do portão, podia-se ver todo o horizonte. Todos queriam o dinheiro e pertences da Dama Vermelha, porém nenhum se atrevia a ir a casa da Dama e conhecê-la. Na cidade, apelidaram-na de Maluca Vermelha. Mas Dama Vermelha não se importava com o que diziam dela fora daquele grande portão vermelho, para esta Dama, tudo que importava era sua cor vermelha.
A Dama Vermelha nunca se aventurou através da porta de sua casa, ela possuía um grande medo do mundo lá fora, no vermelho ela se sentia segura, confiante e poderosa, mas sob o azul do céu, o verde da grama, o cinza dos prédios, sentia desespero e pânico. Um dia, a Dama Vermelha enlouqueceu. Seus olhos começaram a enganá-la, a parede que antes era vermelha, agora é amarela, o móvel que antes era vermelho, agora é azul, o chão que antes que era vermelho, agora é preto. Desesperada, a Dama Vermelha correu até o seu armazém, onde guardara um grande estoque de tinta vermelha, abriu a pequena caxa que vira, porém a tinta vermelha agora é verde.
"Não existe mais vermelho", foi seu pensamento, seu cabelo agora é loiro, seu olhos, azuis e seu vestido rosa. Nada era mais vermelho... Não. A Dama Vermelha, num último ato de desespero correra a cozinha, pegara a maior faca que vira e cortara-se no braço... Seu sangue estava roxo. Gritou e gritou, não pela dor que sentia, mas pelo fato de não existir mais vermelho. Continuou a se cortar na esperança de que saísse sangue vermelho, mas sem sucesso.
Uma hora, a Dama Vermelha caiu no chão, desamparada e quase inconsciente, mas ainda respirando e agoniando pela falta de sua cor tão amada. Começou a se arrastar ao seu grande portão laranja, seu sangue colorido fazia um rastro pelo chão. Em seus últimos suspiros de vida, a Dama Vermelha chegou até a sua grande janela ao lado do portão, vendo o mundo lá fora que evitara por toda a sua vida. Neste momento, a Dama Vermelha se odiou por ter se exilado do grande mundo, por quê? Porque o mundo estava todo vermelho.
A Dama Vermelha morreu e ninguém nunca soube.