The Game

Tempo estimado de leitura: 2 horas

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    Capítulos:

    Capítulo 17

    Controle

    A profunda escuridão havia tomado por completo seu coração, o negro dos olhos foi refletido por tudo ao redor. A falta de respostas ou o simples saber que elas estavam lá, precisavam apenas ser resgatadas na memória confusa. O completo caos do mundo a fora, a ignorância da sociedade manchada, tudo estava corrompido. Uma forma de vida perdida em pensamentos sem fundamento, uma vida sem motivos, uma coisa descartável. Era apenas nisso que El pensava naquele momento de agonia.

    Estava caída no chão olhando com o cenho franzido a boneca a sua frente. Não queria mais tentar escapar, estava desistindo de tudo. Para ela que estava acostumada a ser salva, não ver a figura de Hiver vindo resgata-la alimentava mais a ideia de abandono. Suplicava mentalmente para que seu corpo, sua mente, seu Id para que eles descem forças para ela levantar e sair dali. Procurar uma saída, destruir tudo em seu caminho. Matar Elyse. Seu coração batia rápido, com passadas fora de ordem. Ela tinha coração? Nunca tinha o sentido ali, essa era a primeira vez. Seu sangue fervia, a adrenalina sobia, a respiração estava ofegante, seu corpo estava dando o sinal positivo para ela levantar.

    El passou a língua no lábio ferido, como era bom o gosto de seu sangue. Virou o corpo ficando com a barriga virada para baixo, colocou as palmas das mãos no chão áspero e levantou o tronco. Os cabelos molhados de suor caíram na frente do rosto, o olhar de fúria estava mais sombrio. Os lábios se contrariam em uma linha reta. Ficou de quatro se arrastando em zig zag na direção de Elyse. Esta, estava sentada em uma rocha ao longe observando com curiosidade a atitude de El.

    - Vou acabar... Acabar... ? a voz de El estava estranha, era uma voz sombria e grave, muito diferente do costumeiro. O preto de seus olhos estava fosco. ? Acabar com a indagação sombria em meu coração... ? completou.

    Um sorriso de satisfação brotou no rosto de Elyse, mas seus olhos estavam mostrando a confusão. Ela colocou a mão direita sobre a rocha úmida e apertou, querendo fechar a mão mesmo tendo o impedimento da pedra. Não gostou da ideia da outra estar vencendo o medo, queria tê-la na palma das suas mãos, mandar em seus movimentos como uma marionete. Estava quase conseguindo, porém via que esse controle estava esvaindo. Via a aura sombria que se formava em volta da boneca, via a determinação e a coisa interna que tomava a mente e seus movimentos. Seu lado mais animal estava tomando o controle, agora ela não respondia por seus atos, era tudo controlado por ele. Pela segunda vez em sua misera vida Elyse estava sentindo medo.

    El exalava um odor aterrorizante, estava coberta de suor e terra. Mostrava os dentes como um animal faminto, os dedos pareciam garras e as pontas estavam dobradas para dentro. Levantou e encarou de frente a outra. Não sentia mais medo, não sentia mais a sensação de perigo daquela caverna.

    - Huhuhu vejo que deixou Id tomar o controle, escolheu deixar o animal interior tomar controle para escapar? ? indagou Elyse provocando, queria plantar novamente a duvida no coração de El. Isso iria dar tempo para poder pensar e escapar.

    Nenhuma resposta veio, apesar o grunhido que a pequena produzia entre dos dentes. Não era mais El que estava ali parada esperando por algo que nem ela sabia o que era, ele não sabia por que estava perdendo tempo parado ali. Sem nenhum aviso, abaixou-se pegando algumas pedras soltas e tacou em Elyse. Uma das pedras acertou o olho esquerdo da outra, fazendo-o trincar. Ela gritou demonstrando a dor que sentia, seus olhos eram a fonte de toda a vida ali, quebrar um deles era o começo da destruição. Não esperando a inimiga se recompor o animal correu em sua direção dando um pulo e derrubando ela da pedra. Elyse caiu como uma boneca de pano no chão e ficou lá. Era frágil e fraca fisicamente.

    Sua testa estava machucada, igualmente como seu olho e seu braço. Nunca tinha sentido dor na vida, a única dor que sentia era a da solidão. Observou assustada a outra rondar seu corpo ferido. Estava esperando seu fim, porém El nada fez. Com Elyse ferida e exposta, a magia controladora daquela caverna foi desfeita e a rachadura no céu aumentou.

    Ainda tomada por Id El deu as costas para a boneca ferida e correu pelo mesmo túnel que entrou. Correu muito mais rápido que antes, seu instinto animal estava a flor da pele e isso a deu uma velocidade fora do normal. Não demorou muito e sentiu o vento sereno do lado de fora, a claridade ofuscar a visão e o ar puro.

    Ela estava fora.

    Agora, a batalha era interna. Ego estava disposto a tomar o controle que era seu por direito e mandar Id para as profundezas da mente. Era um elemento da personalidade muito ocupado, controlar Id e Superego era uma tarefa difícil. Por fim logo tomou o controle. Os olhos pretos de El voltaram a refletir a luz do sol e o ar sombrio em volta dela foi embora. Ela estava de volta.

    Olhou ao redor procurando por alguém, mas sua atenção foi desviada para o céu rachado. Aquelas rachaduras a lembrava de Hiver, seria ele que teria feito aquilo? Onde ele estaria agora? Estava disposta a andar todo o jardim a procura do peculiar amigo. Mas antes queria descobrir quanto tempo passou dentro da caverna, já que estava sobre a forte magia do jardim ela não sabia. Poderia ter sido um minuto, uma hora, um dia, uma semana, um ano ou muito mais tempo. Outra coisa que queria descobrir era onde estavam as ilusões, poderiam ter ido embora ou morrido?

    Enquanto andava ela cantarolava uma canção que veio a mente, tinha letra confusa.

    O brilho ofuscado, nada a sua volta. Óh o pequeno servo vai ser caçado novamente pelo caçador. Vire o sacrifício. A flor irá ter um lindo desabrochar, o céu será azul novamente. A neve cai, os dias de escuridão vão embora. Pequena dama da noite...Aquilo que não era humano torna-se aos poucos de carne e osso, onde estaria a realidade?

    As palavras não saiam, apenas o ritmo estranho e engraçado. Estaria ficando louca?

    Seu vestido branco estava rasgado nas mangas e na barra, sujo e gasto. Seus cabelos pretos estavam embaraçados e a pele suja. A pequena boneca estava quebrando pouco a pouco, tornando-se cada vez mais humana.


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