O moreno, ainda um tanto quanto desacordado, apontara vagarosamente para o lado direito e tentava arduamente esboçar um sorriso. No entanto, sua cabeça latejava fortemente e tudo que ele conseguiu fazer foi voltar a fechar os olhos e deixar seu rosto cair com tudo sobre a pequena parte de areia entre toda aquela mata.
A ?princesa? olhara para o local indicado e sua boca logo formou um perfeito ?O?, deixando um pequeno ruído escapar: a carroça estava indo para longe, juntamente com o cavalo do rapaz que acabara de conhecer. Na verdade, quando olhou para aquele chapéu, certas imagens apareceram em sua mente e segundo elas, os dois pareciam ter se falado, visto há muito tempo. Afinal, agora ela possuía cabelos longos e não curtos.
A mulher se pôs a correr, disposta a ter o cavalo dele de volta. Era o mínimo a se fazer por alguém que salvou sua vida. E por mais que ela colocasse suas pernas para funcionar, o cavalo estava muito assustado e partia a toda velocidade, deixando-a um tanto quanto desapontada.
? Quando ele acordar... Provavelmente ficará uma fera ? Ela olhou para o chão e viu que ainda estava com seu sapato desconfortável e vestido incrivelmente lindo, porém incômodo: trazia lembranças ruins e não era mais adequado para um momento como o que ela estava vivendo, tomando uma decisão enfim: ela se abaixou e com as duas mãos segurando a barra do vestido firmemente, o rasgou com tudo. Fazendo o mesmo logo em seguida com as mangas, ganhando uma aparência selvagem e atraente, já que agora suas belas pernas torneadas estavam à mostra. Por último, tirou os sapatos e manteve-se descalça, olhando determinada para o homem deitado uns cinco metros à frente dela.
? Luffy... ? Sussurrara ela. Por alguma razão, pronunciar aquele nome a trazia confiança e tranquilidade, mesmo a aparência dele demonstrando o oposto ? não possuía muito músculos e aparentemente, pouco ligava para os problemas, parecia realmente ser um inútil e mesmo assim, algo a alertava, algo dizia para não julgá-lo dessa forma.
A ruiva aproximou-se a passos firmes e ajoelhou-se ao lado da cabeça dele, o encarava fixamente, procurava obter mais memórias, mais momentos passados com ele, qualquer coisa! E por mais que tentasse... nada surgia. Nami deitou-se ao lado do mesmo e ficou a observar o céu, desejando que ele acordasse logo: definitivamente não era seguro ficar ali.
? O céu... Ele está claro. E ainda sim, parece que uma chuva pouco duradoura está para vir... ? Após algum tempo, ela sentiu uma pequena gota cair sobre sua face, deixando-a surpresa por estar correta.
Com esse clima agradável e o ronco suave do rapaz ao seu lado, acabara dormindo, ignorando os chuviscos. E enquanto ela descansava, o lugar onde havia abandonado com toda a sua força, planejava algo terrível para tê-la de volta.
***
? Vossa alteza ? Dissera calmamente um dos serviçais ? Ele chegou ? O Rei olhara para o relógio e rira:
? Um homem pontual. Gosto disso ? Eles haviam combinado de se encontrarem 15 horas e por incrível que pareça, a pessoa tanto esperada pelo Rei não havia atrasado nem adiantado sequer um minuto ? Apenas deixe-o entrar.
O assistente curvara-se e deixara a sala, indo atrás do convidado.
? Senh... ? Os olhos do mesmo se arregalaram ao notar que o homem não estava mais na porta de entrada ? E agora, como faço? Arlong irá me matar! ? O serviçal começara a correr e a comunicar todos os trabalhadores encontrados no corredor sobre o sumiço do convidado do Rei ? e todos tiveram a mesma reação: correr como se suas vidas dependessem disso.
Todos naquele castelo encontravam-se desesperados, exceto um homem de cabelos verdes, que caminhava com toda a calma entre as portas e caminhos existentes dentro daquele local:
? Hmm... Acho que já passei por aqui ? Coçava a cabeça e observava atentamente os detalhes do quarto ? Não pode ser... Eles devem ter dois quartos iguais. Tsc... Mania estranha de rico ? Voltou a caminhar enquanto dava pequenos goles no sakê que trouxera consigo e que no momento, era a única coisa boa. Além de amenizar suas constantes e irritantes dores de cabeça.
Roronoa Zoro havia acordado faz bastante tempo. E havia ficado surpreso ao ser sacudido por uma velhinha desesperada, gritando algo como: por favor, nos ajude! Meu filho... Ela não conseguira terminar a frase: muitas lágrimas lhe invadiram o rosto e soluços exagerados saíam pela sua boca. Entretanto, não era preciso terminá-la, Zoro sabia do que se tratava.
? Chorar não adiantará nada ? Ele abriu espaço entre ele e aquela idosa e se levantou ? Você... Eu não sei quem você é, muito menos o seu filho. Mas, mulheres chorando me irritam. Então, fale logo do que você precisa e eu trarei ? Ela passou a enxugar as lágrimas e respirou calmamente, conseguindo ficar um pouco tranquila.
? Preciso de muito dinheiro para comprar os medicamentos. E o único que possui riquezas por aqui... é o Rei! ? Ela pareceu decepcionada. E era impossível não ficar: a cidade estava um caos, pessoas morrendo por falta de comida ou cuidados médicos, crianças vivendo uma complicada infância e os pais delas, nada podem fazer para mudar a situação, deixando tudo ainda mais difícil.
? Entendo... ? Zoro ficou pensativo e logo perguntou:
? E onde esse Rei está? ? A senhora apontara para o lado direito e ele agradecera confiante ? Ótimo, é para lá que vou ? A idosa soltara um breve riso e balançara a cabeça de um lado para o outro, como se não houvesse maneira alguma de chegar lá.
? Não é bem assim, meu jovem ? Ela olhara com profunda tristeza para a direção do palácio ? Ele não aceita a entrada de qualquer um ? Um sorriso sarcástico tomou conta do Zoro:
? Acontece, minha senhora, que eu não sou qualquer um ? Ele colocou a mão sobre suas espadas e com um orgulho profundo, disse:
? Eu sou Roronoa Zoro, o caçador de piratas! ? Ela apenas arqueou uma das sobrancelhas e o encarou:
? Acontece, meu jovem ? ela fez questão de enfatizar o jovem, demonstrando que não havia gostado de ser chamada de senhora ? que não é um pirata que você irá caçar. E sim um Rei. Um poderoso Rei ? Ele passou a pensar se realmente deveria ajudar alguém tão estraga prazeres como ela ? De qualquer forma, você precisa combinar um horário para entrar lá. Nem sempre Arlong está presente. Para isso, basta chegar até o palácio e falar com um dos guardas da porta da frente. Eles irão comunicar o Rei e te passar o horário do encontro ? Zoro não sabia por quais razões a estava ajudando. Não a conhecia e nem era um problema dele. Mas, parecia tão desesperada. E também, ele não possuía nada para fazer, mesmo achando muito estranho o fato de não se lembrar de ter estado num lugar como esse.
Essa conversa e essa senhora, elas pareciam as suas primeiras lembranças do local e praticamente da vida toda dele. E por alguma razão, ele se lembrava claramente de alguém o chamando de caçador de piratas. E nessa época, ele estava bem diferente de agora: menos musculoso e pelo visto, menos forte. De qualquer maneira, iria ajudá-la e esperava conseguir se lembrar das coisas aos poucos. Talvez ele tivesse bebido muito no dia anterior. Ou talvez tenha batido a cabeça em algum lugar. Mas, ele sabia: as lembranças ainda estavam lá, perambulando em algum lugar da sua mente.
? Não sabia disso... Bom, certo! Logo estarei de volta! ? A idosa acenou e o desejou boa sorte. E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, lá estava ele, errando o caminho, fazendo a velha colocar a mão sobre a testa e pensar se ela havia feito o pedido para a pessoa certa e berrando logo em seguida:
? O castelo fica para o outro lado! ? O rosto do homem adquiriu um tom vermelho e ele passou a andar pela direção correta ? Sabe, acho que é melhor eu acompanhá-lo! ? Ele não admitiria que realmente parecia ser ruim com aquela coisa de seguir o caminho, então apenas assentiu e continuou andando, sem olhar para trás.
? Sabe, você é um bom rapaz ? Dissera calmamente a senhora, sem perceber que ele tampara os ouvidos, sem querer ouvir tais elogios.
E foi assim que ele parara num lugar tão elegante e grandioso como aquele. Infelizmente, a velha idiota que o perturbara durante todo o caminho não pode entrar. Dessa forma, ele acabara se perdendo dentro do castelo, o que não era muito complicado de acontecer. E sim, ele deveria ter ficado apenas parado na sala de entrada. Contudo, os objetos valiosos chamaram a atenção do espadachim e antes que pudesse perceber, lá estava ele... Se perdendo em linha reta.
? Encontrei! ? Gritara um dos empregados ? Senhor, por favor, me acompanhe! O Rei está a sua espera! ? Antes que pudesse responder, o trabalhador o agarrou pelo braço e o levara até a sala do Rei, deixando-o ali apenas.
? Por favor, sente-se ? Uma voz grossa dissera e Zoro não questionou. Realmente estava cansado de ficar de pé ? E então, o que o trouxe aqui? ? Arlong já sabia a resposta.
? Dinheiro ? Ele suspirou e prosseguiu ? Mas, eu imagino que com alguém como você, tudo tem um preço, não é? ? Finalmente o Rei havia encontrado alguém capaz de falar sobre negócios.
? Certamente, meu caro ? Roronoa não havia visto o rosto dele ainda, o mesmo estava sentado de costas e com as pernas apoiadas sobre um pequeno banco a sua frente. Eram pernas extremamente longas e fortes ? Sabe, sempre considerei os humanos extremamente fracos e sempre pensei: se quer algo bem feito, faça você mesmo ? Havia uma enorme convicção na voz dele ? Contudo, um Rei não pode simplesmente sair do seu aposento e ir praticar crueldades, sabe? Por isso contrato pessoas para trabalharem para mim ? Zoro já havia entendido onde aquela conversa ia chegar, por isso fez questão de acabar com toda aquela enrolação:
? Que tipo de trabalho... Você quer que eu realize para obter o meu prêmio? ? Ele finalmente havia se virado. Porém, estava sentado numa parte escura da sala, podendo ver apenas a silhueta do mesmo, podendo verificar que os braços eram igualmente fortes e seu nariz era pontiagudo.
? Hoje uma princesa fugiu, deixando a Rainha extremamente preocupada, sabe? ? Ele entrelaçara as mãos e apoiara o rosto sobre elas ? E segundo meus guardas, um garoto qualquer a raptou. Gostaria de tê-la de volta, de preferência viva. Mas, se tiver que matar alguém para obtê-la, fique à vontade ? O Rei fitava as espadas do homem à sua frente ? Essas espadas... Já devem ter cortado muita coisa não? ? O Rei se levantou e aproximou-se cada vez mais do espadachim, sua aparência sendo revelada aos poucos.
? Sim, provavelmente muito sangue já deve ter sido derramado por elas ? Zoro sorria, confiante ? Bem, sendo assim ? Ele se levantou e andou até Arlong ? Eu acei... ? Finalmente o rosto dele havia sido revelado e ele se lembrara apenas de ter acertado um homem com aparência esquisita, provavelmente algum parente ? um determinado polvo que como ele, utilizava espadas. Aquilo o fez ficar com o pé atrás. É verdade... Arlong realmente não era gentil. Todavia, a lembrança de ter lutado com um dos dele, mostra claramente que os dois já foram inimigos. E aliar-se a ele, provavelmente seria um erro.
? Você acei...? ? Zoro acordou de seus devaneios e fixou o olhar no mesmo, pensando se seria realmente o ideal a se fazer. Pensou mais um pouco e finalmente estendeu a mão para o homem à sua frente:
? Aceito trabalhar para você. Mas, de quanto exatamente estamos falando? ? Com uma das mãos livres - a outra já fechava o acordo, cumprimentando o mais novo ajudante dele ? mostrou o número cinco e depois o número zero, indicando a quantia de 50.000 bérries, deixando o espadachim impressionado com o valor, não conseguindo conter um sorriso de satisfação.
? Bem-vindo! ? Arlong jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada extremamente alta ? Já pode começar a trabalhar, se assim desejar. E eu diria para ser rápido: meus guardas estão pendurando imagens de procurados por toda a cidade e floresta ? Roronoa não ficou surpreso ao ouvir isso. É claro que um homem como aquele faria algo do tipo. E por mais que houvesse mais pessoas procurando pela princesa, ela agora era sua presa. E somente ele a encontraria. Somente ele.
O espadachim deu de ombros e deixou o recinto, acompanhado por dois seguranças ? eles não eram estranhos como o Rei, eram pessoas normais. Provavelmente ele achava que os seres da sua espécie deveriam ter um trabalho mais digno ? que o mostrou a saída. Ele esperava encontrar a idosa do lado de fora. Não a achou. E isso o preocupou de certa forma. Mas, é verdade, eles não haviam combinado de se verem depois. Enfim, ele cuidaria disso depois. Agora, possuía um trabalho importante para ser realizado e não importava quanto sangue fosse necessário, ele traria a princesa de volta.
? Tsc... Só mesmo uma idiota para fugir de um lugar bom como esse ? Com uma enorme determinação e sede de matar, o homem adentrou a floresta.
Um, dois, três animais... Quantos fossem necessários... Ele abateria todos e alcançaria seu objetivo.
?Bom rapaz??, ele pensara ao se lembrar do que a idosa havia dito, ?isso porque ela nunca me viu utilizando espadas?.