? Princesa Nami ? Uma mulher com voz suave sussurrara próximo ao rosto da jovem que dormia tranquilamente sobre uma cama de casal extremamente confortável e apenas dela. A garota não havia sequer se mexido, até a mulher cutucá-la levemente no rosto e chamar pelo seu nome mais uma vez, fazendo-a abrir os olhos lentamente.
A ruiva logo se assustou ao perceber o ambiente onde estava: olhava para todos aqueles móveis luxuosos e não conseguia ter nenhuma lembrança de ter vivido realmente ali. Não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas e nem como havia chegado num lugar tão bonito. Era como se a mente dela lutasse para descobrir algo sobre o seu passado e também sobre o seu presente. Ou seja, sobre toda a sua vida. E aquilo estava a assustando. Além de causar fortes dores de cabeça.
? O café da manhã está pronto e o Rei está a sua espera... ? A mulher sorriu e acariciou os cabelos da Nami ? Coloque o vestido mais bonito e desça, está bem? ? A faxineira finalmente se levantou e saiu, seguida por mais duas pessoas, também empregados da casa.
Ainda confusa, a ruiva finalmente conseguiu acordar e começar a se arrumar. Ela havia demorado um bocado para achar a porta do guarda-roupa, afinal, seu quarto tinha tantas portas e armários que era até difícil conseguir localizar tudo adequadamente, parecia um labirinto. E aquilo era somente o quarto dela! Imagina o resto da casa... Mansão... Palácio. Só de pensar nisso, seus olhos brilhavam.
Riqueza sempre fora tudo para ela e de alguma forma, conseguia se lembrar disso perfeitamente bem, só não sabia a razão, o motivo para amar tanto o dinheiro. Mas, ela pensou que deveria ser o óbvio: ter tudo o que quisesse. O dinheiro era capaz de garantir isso, não era?!
? Hm... O vestido mais bonito... ? Após passar os olhos sobre todas as roupas penduradas e apreciar devidamente, finalmente escolhera a peça ?ideal? e tirou do cabide, levando-a consigo até o banheiro e tomando um delicioso banho. É verdade, ela não sabia nada sobre esse lugar e muito menos sobre as pessoas que a acordaram hoje. No entanto, estava à vontade ali. E estava fazendo apenas o que mandaram: se arrumando. Portanto, não havia o que temer ou se envergonhar.
Ela fechou o chuveiro e retirou a touca da cabeça após se secar com uma toalha pendurada atrás da porta, fazendo seus cabelos cacheados cair perfeitamente sob seus ombros, ficando ainda mais encantadora.
Nami segurou o vestido e passou a observá-lo: era rosa claro, volumoso, comprido e com mangas longas. Parecia ser justo no busto, além de ter um pequeno decote e vir acompanhado com um corpete simples, com a função de manter o corpo esguio e a postura. Havia também um colar perolado junto dele, dando um toque a mais no conjunto, assim como os brincos e o lindo anel. Realmente não era fácil usar uma roupa como aquela logo de manhã. Mas, estava satisfeita com o resultado ? ela havia ficado maravilhosa, não tinha como negar.
E continuava se perguntando como não conseguia se lembrar de ter tido aquele tipo de vida. Até porque, todas as roupas cabiam perfeitamente nela, tornando tudo ainda mais estranho. E todos sabiam seu nome. Onde diabos ela estava, afinal?!
Com esses pensamentos incomodando sua mente, ela abriu a porta do quarto e estava prestes a se juntar com o Rei, até avistar duas passagens ? uma para o lado direito e outra para o esquerdo. Ela fechou os olhos e respirou fundo... Tudo em vão, pois estava prestes a se desesperar e arrancar seus cabelos. O lugar era realmente como ela imaginara: um maldito labirinto.
? Por favor, me acompanhe ? Um homem educado apareceu de repente ao seu lado, dando um pequeno susto nela, que se recompôs logo e aceitou o braço oferecido pelo rapaz, sendo guiada por ele até a mesa onde o Rei se encontrava de costas e admirando a bela paisagem da enorme janela localizada na sala de jantar.
A ruiva sentou-se silenciosamente e esperou o homem decidir se virar. Não queria interromper o momento dele e imaginou que não poderia começar a comer sem a presença de todos à mesa. Por isso, ficou ali, no canto dela, somente observando a comida sendo colocada e a linda manhã que estava tendo.
? Logo a Rainha estará aqui ? Ela o ouviu dizer e percebeu que ele sorria largamente ? E poderemos comer como uma família ? A cadeira foi girando aos poucos e eu estava prestes a visualizar a aparência do Rei. Só de pensar nisso, começou a suar frio e não sabia se era por ele emanar algum tipo de energia negativa, misteriosa ou pelo fato de ser ?o Rei?.
Finalmente conseguira vê-lo. E com isso, seus olhos se arregalaram, um sentimento denominado raiva começou a dominá-la e tudo isso só aumentou ao ver quem era a rainha. Desespero, dor e incredulidade. Tudo isso se passava pela cabeça da ruiva e as fortes dores de cabeça só aumentavam, assim como lembranças surgiam desesperadamente e sem uma ordem exata. Mas, aquelas duas pessoas... Ela não tinha como esquecê-las!
Nojiko! Nami! Amo vocês!
Arlong! Arlong! Arlong! Arlong!
Bellemere-san!
? Bellemere ? A garota murmurou entre lágrimas, não conseguia entender como... Como ela estava ali, viva?! E ao lado dele? De um ser tão imprestável e nojento como ele?! ? Vo-você está viva... ? Ela balançou a cabeça, ainda sem acreditar. Era impossível! Ela havia visto Bellemere morrer, e não importava o quanto ela desejasse, o quanto ela tivesse pedido: a mulher de cabelos rosados nunca havia voltado. E agora, ela estava bem ali na sua frente.
A mulher apenas assentiu e ocupou o seu lugar, esboçando um leve sorriso e a encarando nos olhos, com uma expressão de compreensão e alívio.
? É tão bom vê-la novamente! ? Bellemere começou a preparar o seu prato: a mesa estava recheada de comida e bebida ? panqueca, pão, suco, iogurte, leite, bolo, ovos, bacon e tudo que fosse possível comer logo pela manhã. E enquanto ela se servia calmamente, Nami continuava em pânico, levantando-se bruscamente da cadeira e batendo fortemente na mão da mulher, derrubando o prato e fazendo todos ao redor ficarem atônitos.
? Não... Você não é ela! Bellemere nunca seria tão fria assim! ? Aos berros, Nami deixou a sala e falou com o primeiro mordomo que encontrou:
? Onde fica a saída? ? Ele apontou para o fim do corredor e a ?princesa? agradeceu. Com as duas mãos segurando o vestido e o coração assustado, ela se pôs a correr com toda a sua força e fôlego. Precisava encontrar uma maneira de descobrir o que estava acontecendo. E com certeza, naquele palácio, não encontraria nada.
Conseguiu ouvir a risada que tanto a perturbou e passou a correr ainda mais. Estava com nojo daquela cena ridícula. Daquele choro desnecessário. Ela não havia reencontrado Bellemere... Deveria ser algum tipo de visão, miragem. Ou alguém se passando por ela. Alguém extremamente infeliz e aprontando uma peça dessas.
Finalmente ela havia se distanciado o suficiente, não ouvindo mais aquelas gargalhadas insuportáveis e podendo se recuperar um pouco do cansaço: bastou encostar-se a uma árvore qualquer para conseguir perceber a presença dos guardas reais, voltando a fugir e ficar ofegante mais uma vez.
? Princesa! O Rei está preocupado com você! ? Gritavam, tentando fazê-la voltar. Mas, aquelas palavras... Pareciam tão falsas quanto a própria existência da Bellemere.
?E agora, como faço?? era tudo o que Nami conseguia pensar. Uma hora, eles logo a alcançariam e a cidade estava extremamente longe. Talvez se conseguisse se esconder numa mata... Porém, se eles a encontrassem... Seria simplesmente o fim: ela voltaria ao castelo e aconteceria como nos contos de fadas ? ficaria presa para sempre numa masmorra qualquer.
? Socorro! ? Ela gritava a plenos pulmões, implorando que alguém a ouvisse. E como se um anjo tivesse caído do céu, alguém envolveu um dos braços ao redor da barriga dela e o outro tampou a sua boca, evitando que ela berrasse e denunciasse seu mais novo esconderijo ? os galhos de uma enorme árvore.
Enquanto ela retomava o fôlego, o homem observava os perseguidores e esperava silenciosamente que partissem. Demorou um pouco, mas finalmente eles desistiram e os dois puderam conversar entre si.
? Muito obrigada! ? Ela o abraçou e enxugou as lágrimas restantes ? Se não fosse você... Eu... Eu estou confusa! ? O homem apenas assentiu e sorriu para ela:
? Para dizer a verdade, eu também estou! Hoje eu acordei e... Era como se eu não fizesse parte disso, sabe? ? A ruiva ficou espantada ao ouvir tais palavras ? era exatamente como ela estava se sentindo pela manhã - e ao olhar para baixo e notar o imenso tamanho da árvore, se perguntara pela primeira vez como ele havia conseguido puxá-la para cima com seus braços.
? Como você conseg... ? Ela foi interrompida por ele, que esticou o seu braço como borracha e a fez se calar, extremamente espantada. O moreno jogou sua cabeça para trás e começou a rir alto, com as duas mãos na barriga.
? Você precisava ver seu rosto! Foi tão engraçado! ? Nami mirou o rapaz por alguns segundos e ao perceber que ele estava rindo dela, não pode evitar que seu rosto adquirisse um tom mais vermelho.
? Não é nada engraçado! ? Ela berrara ? E como você consegue fazer isso? ? O garoto se recompôs e conseguiu dizer:
? Não sei exatamente... Sei que comi alguma fruta e fiquei assim. Sei também que... ? Ele suspirou e apontou para o chapéu de palha da sua cabeça - Quando olho para o meu chapéu, lembro de um homem muito importante para mim. Eu consigo ver claramente a aparência dele. Mas, sempre quando estou prestes a ouvir o nome dele... As lembranças se vão... ? A voz dele adquiriu um tom melancólico e a ruiva conseguiu compreender: deve ser doloroso conhecer alguém importante e não conseguir sequer lembrar seu nome. Nami se aproximou do rapaz e dessa vez fitou intensamente o chapéu, conseguindo obter mais memórias. Dessa vez, felizes.
Eu sou Monkey D. Luffy! E vou ser o Rei dos Piratas!
Luffy... Me ajude! Mas é CLARO QUE SIM!
Nami... Você é minha Nakama!
O caminho de um pirata é estar preparado para arriscar a própria vida!
? Monkey D. Luffy ? Ela sussurrou e o moreno, perplexo por ela saber o nome dele, olhava confuso para aquele rosto abalado, que parecia ter se desligado do mundo ? Rei... Rei dos piratas? ? Os dois permaneceram calados e se estranhando por algum tempo. Não estavam compreendendo aquela situação. Tudo parecia sem conexão alguma. E estranho demais. Os dois pareciam estar pensando em algo, em alguma solução.
? Os encontrei! ? Gritou alguém lá de baixo, determinado a derrubar a árvore e antes que a ruiva pudesse ter qualquer reação, o garoto a segurou pela cintura e foi pulando de árvore em árvore, até alcançar finalmente a sua carroça e jogar a jovem donzela de qualquer jeito na parte de trás, gritando um pedido de desculpas que mal foi ouvido por ela, que encontrava os melhores xingamentos possíveis dentro da sua cabeça:
? Quando chegarmos sabe-se lá onde, você vai ver! ? O moreno achava tudo aquilo muito engraçado e mal ligava para as palavras rudes da sua nova companheira. Muito pelo contrário... Considerava ela incrivelmente divertida e não se importava de tê-la como acompanhante por alguns dias. Com certeza eles viveriam uma jornada incrível. Mas, ele não achava que ela fosse aceitar aquilo facilmente.
Enquanto o cavalo puxava a carroça numa velocidade adequada ? capaz de fugir dos guardas e incapaz de machucar a mulher lá atrás ? Nami tentava puxar conversa com o seu ?salvador?:
? Você é da cidade? ? Ele confirmou e fez o cavalo mudar de direção:
? Estava procurando por comida... Para mim e para todos lá da cidade ? Ela não pode evitar de sorrir e finalmente se lembrou:
? Aé, eu me esqueci de se apresentar! Meu nome é Nami e... ? Antes que ela pudesse terminar, o rapaz pareceu entrar em algum tipo de transe e o cavalo perdeu a direção, fazendo Nami pensar rápido e segurar o braço do moreno, jogando-o para o chão, junto com ela.
? Tsc... Você é muito pesado! ? Ela sabia que ele não estava ouvindo e por isso, complementou com um sorriso bobo no rosto:
? E muito idiota também... ? Dessa vez, quem ria sozinha era ela. E antes que pudesse aproveitar esse momento, o garoto resmungou algo:
? Na... mi...? ? Ela o jogou para longe e sentou-se rapidamente:
? Si... Sim?