Todo meu odio

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 6

    Lembranças...

    Álcool, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    01 de junho de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 4:30 am.

    Quatro e meia da manhã, definitivamente, não era o melhor horário para se acordar. Ainda mais quando se tratava de uma segunda-feira, mas devido às circunstâncias em que me encontrava, não reclamei. Pelo contrário, eu mesma decidi acordar neste horário para poder arrumar minhas malas e os últimos preparativos da minha viagem com Cristiane sem pressa. Nosso vôo saia para Paris às 08:00 em ponto e eu não pretendia me atrasar. Levantei preguiçosamente e fiz minha higiene matinal, segui para cozinha logo em seguida e ataquei a primeira coisa comestível que encontrei. Qual o problema de assaltar a geladeira durante a madrugada? Fazia isso com o maior gosto.

    Assim que terminei meu lanchinho, fiz o caminho de volta para meu quarto. Ia tomar meu banho tranquilamente, revisar as malas e começar a me arrumar. Ia. Não sei se já mencionei, mas para chegar ao meu quarto eu tinha que passar pelo quarto de Rick. Vi a porta de seu quarto entreaberta e não pude deixar de reparar que ele fazia flexões com uma concentração imensa. Dei de ombros, intrigada pelo motivo pelo qual ele estava acordado a essa hora, e quando decidi seguir meu caminho e não fazer qualquer intervenção que fosse no meu cronograma, já era tarde demais; Henrique havia me notado. Ele começou a caminhar lentamente até a porta, abrindo-a por completo com um sorriso extremamente convidativo, vestindo apenas uma boxer cinza, que o deixava ainda mais gostoso. Merda.

    - Pretendia ficar me olhando por quanto tempo? ? Ele perguntou, encostando-se ao batente.

    - Por tempo nenhum. ? Cruzei os braços na altura do peito ? Já estava indo pro meu quarto, só dei uma olhada pela fresta da porta por curiosidade... Queria saber que barulho era esse vindo daí. ? Dei de ombros.

    - Ah, minha respiração estava tão alta assim? ? Ele começou a andar até mim e só notei o quanto estávamos próximos quando o senti envolvendo minha cintura com um braço ? Acho que precisamos nos despedir antes de você viajar... ? Henrique soprou suas palavras colocando uma mecha teimosa do meu cabelo atrás da minha orelha e eu senti sua respiração bater contra meu rosto - Como vou ficar sem você durante esses quase três meses? ? Ele falou, puxando-me ainda mais para perto à medida que seus olhos encaravam meus lábios - Preciso de algo que me faça lembrar você.

    - Eu tenho várias fotos minhas... ? Passei o dedo indicador desde sua barriga até seu queixo, levantando seu rosto em minha direção, fazendo-o me olhar nos olhos - Me avise se quiser uma delas. ? Terminei minhas palavras piscando de leve. Ah, provocá-lo é sempre tão revigorante.

    - Quando eu falo de algo que me faça lembrar você, ? Ele falou, vencendo por completo a distância entre nós, terminando sua frase com os lábios roçando nos meus ? eu falo de algo tão bom ao ponto de refrescar minha memória durante essa sua viagem sem que eu precise me esforçar... Você me entende? ? Ele forçou uma cara de cachorro sem dono e eu continuei a brincadeira.

    - Não muito... ? Fingi uma expressão pensativa - Você poderia ser mais claro, por favor? ? Sorri de canto. E esse foi, provavelmente, o sorriso mais perverso que eu já dei em toda minha vida.

    - Eu quero a mesma coisa que você, Katrielly, e você com certeza sabe o que é - Henrique pronunciou a última palavra e me beijou ali mesmo, no corredor, sem sequer se importar com o fato de que eu tinha horários a serem cumpridos e de que poderíamos ser pegos a qualquer instante. Incapaz de resistir ou romper o beijo, só pude concedê-lo. Travamos uma verdadeira guerra entre nossas línguas e quando estava quase sem ar, Rick mordeu meu lábio inferior, puxando-o de leve e sussurrando em meu ouvido - Vamos para o meu quarto.

    - Sem chance. Eu preciso tomar banho e começar a me ar... ? Enxerguei seu tão conhecido sorriso malicioso brotar em seus lábios e não foram precisas nem duas palavras para que eu entendesse o que aquele sorriso indicava. Como num flash, Rick segurou em minhas coxas com força e as puxou na altura de sua cintura, começando a caminhar ao mesmo tempo em que me carregava, não tive outra alternativa a não ser entrelaçar seu corpo com as pernas. Senti minhas costas batendo contra uma superfície sólida e me dei conta de que ele usava meu corpo pra abrir a porta do meu quarto. Entramos no mesmo e o movimento que havia acabado de ser realizado se repetiu, mas dessa vez a porta aberta foi a do meu banheiro. Henrique me colocou no chão e trancou a porta do meu quarto, tirando a boxer enquanto voltava até o banheiro e fechava a porta atrás de si.

    - Tá esperando o que pra tirar essas roupas? ? Ele me disse, abrindo as torneiras da banheira e voltou seu olhar para mim um segundo depois ? Precisa de alguma ajuda? ? Seu sorriso se alargou mais ainda e eu comecei a tirar minhas poucas peças de roupa.

    Dois minutos depois eu e Rick nos encontrávamos nus, dentro da banheira e nos beijando com avidez. Ele puxava os cabelos da minha nuca e eu estava sentada em seu colo, distribuindo arranhões pelos seus ombros largos e roçando meus seios já rígidos em seu peitoral definido. Sua ereção já era mais que evidente e o fato de não haver peça de roupa alguma entre nós só me deixava ainda mais louca. Desci uma de minhas mãos pela extensão de seu tórax, arranhando levemente o local, e envolvi seu membro com força. Assim que comecei a masturbá-lo ele rompeu o beijo, mordendo meu lábio ao ponto de fazê-lo sangrar, e isso só me estimulou mais ainda. Deslizava minha mão por ele com firmeza, apertando de leve e alternando a velocidade dos movimentos só para não terminar com a festa antes da hora. Não demorou muito e Martins já estava com a cabeça tombada pra trás, gemendo entre os dentes na tentativa de conter qualquer barulho que acordasse pessoas indesejáveis. Procurei por seus lábios com urgência e ele tirou minhas mãos de seu corpo, prendendo meus braços atrás de mim como se estivesse me algemando. Ele começou uma trilha de beijos pelo meu pescoço e logo ela havia atingido meu colo e seios, local que ele fazia questão de massagear com a língua. Passei a gemer baixinho enquanto ele envolvia meu mamilo com os lábios e podia jurar que aquilo era como música para os ouvidos dele, pois assim que meus gemidos ganharam intensidade ele abriu um sorriso satisfeito.

    Senti meus punhos sendo soltos e suas mãos firmes se direcionaram para minhas coxas. Ele as apertou com força e subiu uma das mãos pelo meu corpo, passando pela minha cintura e segurando um dos meus seios com possessividade assim que o atingiu. Sua mão livre foi até meu clitóris, massageando-o com uma calma agonizante, fazendo-me gemer cada vez mais alto, forçando Henrique a colar nossas bocas em beijos cada vez mais calorosos à medida que intensificava os gemidos. Ele continuou me estimulando e grunhidos escaparam pelos meus lábios. Segurei-o pelos ombros e cravei minhas unhas no local, trazendo-o pra mais perto durante o beijo. Percebendo que eu não aguentaria por muito tempo, Henrique interrompeu o beijo e me puxou pela cintura para que eu me sentasse em seu colo.

    Em um movimento rápido ele me invadiu e eu comecei a mexer o quadril na intenção de intensificar nossos movimentos, mas a água só conseguia deixá-los mais lentos e torturantes. Envolvi sua cintura com as pernas e ele se levantou, segurando-me pelas coxas, e logo senti uma superfície gélida contra minhas costas. O contato das minhas costas quentes com a parede gelada me causaram arrepios pelo corpo todo e Henrique continuou movimentando seu quadril com mais agilidade que antes enquanto eu segurava seus cabelos da nuca com força. Suas mãos não conseguiam se decidir entre minhas coxas, bunda ou cintura e após uma última estocada de Martins, cheguei ao orgasmo. Desci do colo dele, preocupando-me em fazer com que ele atingisse o clímax, e assim o fiz. Depositei um breve selinho na glande de seu membro e comecei a lambê-lo de baixo a cima, repetindo o movimento diversas vezes e masturbando-o de leve em alguns momentos. Vi Rick tombar a cabeça pra trás e gemer alto, murmurando entre os dentes algo que me incentivasse a continuar. Ele me segurou pelos cabelos e começou a guiar minha cabeça até que seu membro estivesse todo dentro da minha boca e quando ele já não conseguia mais ter controle sobre suas próprias ações, apoiou uma mão na parede ao seu lado e a outra no box de vidro, deixando-me assumir o controle. Depois de poucos segundos ele finalmente atingiu seu ápice e caiu exausto na banheira ao meu lado.

    - Ei, gostosa. ? Ouvi Rick sussurrar após alguns minutos deitados na banheira e contive a risada por ouvi-lo se referir a mim de uma maneira tão promíscua. De certa forma, eu não me incomodava, porque sabia que entre nós nada além de sexo seria estabelecido. ? Você não precisa se arrumar? Eu levo você e a Cristiane até o aeroporto. ? Assenti com a cabeça e me levantei. Enrolei-me na primeira toalha que encontrei e olhei em sua direção antes de sair do banheiro.

    - Vá se arrumar também, já já precisamos ir. ? Dei as costas a ele e sai do banheiro, vendo-o passar por mim e seguir para seu quarto para fazer o que eu havia pedido.

    01 de junho de 2011. Londres, Middlesex. Aeroporto de Heathrow 7:25 am.

    Passamos pela casa de Cristiane e em pouco tempo já estávamos no Aeroporto de Heathrow. Fizemos o check in e esperamos alguns minutos, conversando animadamente sobre como seria bom passar um tempo viajando. Henrique me fez prometer que lhe mandaria e-mails toda semana.

    - Atenção senhores passageiros, primeira chamada para o vôo 303 com destino à Paris. ? Assim que ouvimos a voz da mulher anunciar nos despedimos de Rick e nos dirigimos para o saguão de embarque, mal nos contendo de ansiedade para chegar ao nosso destino. Paris sempre foi uma de minhas cidades favoritas, e não a visitava há no mínimo três anos - Última chamada para o vôo 303 com destino à Paris. ? Mais uma vez, ouvimos a voz da mulher anunciar. Embarcamos em nosso avião às 07:50 e após apertarmos os cintos e recebermos as recomendações da aeromoça, levantamos vôo.

    01 de junho de 2011. Paris, Rue de Berri. Hotel Champs Elysées Plaza 10:34 am (horário de Londres) 11:34 am (horário de Paris).

    Tínhamos chegado a Paris há quase duas horas e eu já nem me recordava do quanto as ruas parisienses eram movimentadas. E eu que ainda achava o trânsito londrino cansativo.

    Assim que chegamos ao nosso hotel, decidimos comer algo antes de fazer qualquer coisa. Preciso mencionar que o hotel era espetacular? Os detalhes, a decoração, as pessoas que o frequentavam... Tudo. Extremamente perfeito. Comemos, guardamos nossas malas em nosso quarto e fomos passear por Paris. Hoje teria o tão esperado desfile da grife de Giorgio Armani e eu e Cris passamos boa parte do dia nos preparando para isso. Como já havíamos comprado nossos vestidos em Londres, aproveitamos a tarde para escolhermos os sapatos perfeitos. O dia passou voando e logo estávamos nos arrumando, empolgadas como nunca estivemos. Liguei para um táxi que nos levasse ao Carrousel du Louvre, lugar da primeira noite de desfiles, e não demorou nada para que chegássemos ao nosso destino.

    01 de junho de 2011. Paris, Rue de Rivoli. Carrousel du Louvre 4:48 pm (horário de Londres) 5:48 pm (horário de Paris).

    Lá estávamos nós, sentadas em nossos lugares apenas esperando para que o ?show? começasse. A pontualidade londrina parecia ter contagiado Paris, pois às 18h em ponto começou o desfile. Vestidos lindos e modelos que transpiravam elegância passavam pela passarela e eu mal conseguia desgrudar meus olhos daquilo. Realmente, eu havia nascido pra moda. Vinte minutos de desfile haviam se passado e senti Cristiane me cutucar, virei minha cabeça em sua direção quase a matando por me fazer perder qualquer detalhe que fosse e soltei minhas palavras num sussurro ríspido e quase inaudível:

    - Que foi, porra?

    - Preciso ir ao banheiro. ? Ela disse, forçando uma expressão de quem realmente precisava se aliviar.

    - Tá, vai logo, e vê se não some. ? Falei e antes de voltar minha atenção ao desfile pude vê-la desaparecer entre as pessoas.

    O som dos aplausos invadiram meus ouvidos e a única coisa que pude fazer foi me levantar e aplaudir tanto quanto as pessoas ao meu redor. O desfile havia terminado e Cristiane não tinha voltado, então decidi ligar para ela.

    - Onde você se meteu? O desfile já acabou! ? Falei mais alto do que o normal assim que o celular foi atendido e isso foi o suficiente para que ela percebesse o quanto estava irritada.

    - Calma, Lil, eu conheci um cara e começamos a conversar, perdi a noção do tempo e quando dei por mim você já estava me ligando. ? Rolei os olhos.

    - Um cara? Certo, onde você está?

    - Sim, um cara, e você deveria me agradecer por ter encontrado uma festa para irmos! ? Ela disse e soltou uma risada baixa.

    - Festa? Festa de quem? ? Falei, não entendendo coisa alguma.

    - Do cara que eu conheci, oras. Encontre-me na saída, ele vai nos levar até lá. ? Dito isso ela desligou o celular e então fiz o que ela me disse. É, talvez não fosse uma má ideia.

    01 de junho de 2011. Paris, Rue de Broglie. Residência de Pierre. 7:14 pm (horário de Londres) 8:14 pm (horário de Paris).

    Chegamos a uma casa cheia de gente, muito iluminada e com bebidas por todo canto. A tal festa de Pierre, o francês que Cristiane conheceu, estava realmente ótima. Assim que colocamos nossos pés na casa, ele encontrou alguns amigos e fez questão de apresentá-los a nós; Bertrand, Eric e Mathias. Era só nessa festa ou todos os franceses do mundo eram extremamente atraentes? Após alguns minutos de conversa, Bert me ofereceu uma bebida qualquer e os outros dois foram para outro cômodo da casa, deixando-me sozinha com meu mais novo amiguinho. Bebemos e conversamos por um bom tempo, dançando algumas vezes e rindo do nada como dois bêbados. Bêbados sóbrios, se é que isso é possível. Pude notar que além de muito bonito, ele também era inteligente. E preciso realmente comentar que sotaque francês (em homens) é algo sexy até demais. Percebi que Cris e Pierre haviam sumido há algum tempo, e não foram necessários mais que dois segundos para que eu me tocasse do que estava acontecendo. ?Espertinha?, eu pensei comigo mesma. Mas se ela pensava que ia se divertir enquanto eu chupava dedo, estava enganada. Lancei um último olhar ao homem parado a minha frente e as palavras ?por que não?? passaram pela minha mente antes de eu beijá-lo.

    02 de junho de 2011. Paris, Rue de Berri. Hotel Champs Elysées Plaza 11:22 am (horário de Londres) 12:22 pm (horário de Paris).

    Ressaca, ressaca, ressaca... Existe coisa pior?! Bom, talvez exista, mas eu não estava nem um pouco disposta a descobrir o que seria. Levantei, tomei um banho rápido e acordei Cristiane da maneira que eu mais amava: aos berros.

    - Idiota! Qual é o seu problema, afinal? Dá pra calar a porra da boca? ? Ela disparou suas palavras ao mesmo tempo em que me tacava seu travesseiro e se levantava emburrada.

    - Já tava na hora da bela adormecida acordar, né. Precisamos almoçar e nos programar para hoje. Além de também precisamos compartilhar os detalhes sórdidos da noite passada, claro.

    - Me poupe disso, Katrielly, querida. ? Cris me mandou um olhar censurado como ela sempre fazia e eu não pude evitar o riso.

    - Eu estava brincando, ok? Você sabe melhor do que ninguém que odeio saber os detalhes sórdidos dos outros. Então pra resumir, eu transei com o Bert. ? Vi os olhos da minha amiga se arregalarem e continuei ? Ah, qual é? Vai dizer que você não fez o mesmo com o Pierre? ? Caímos na risada e ela assentiu de leve.

    - Sim, e se você me permite dizer... Que delícia. ? Gargalhamos alto e eu lhe joguei o travesseiro que antes ela tinha jogado em mim, mal crendo no quanto aquela garota era descarada.

    Henrique?s P.O.V

    06 de junho de 2011. Londres, Knightsbridge. Apartamento desconhecido, 11:56 am.

    Abri os olhos e logo tratei de fechá-los. Que porra estava acontecendo? Tudo o que conseguia sentir era minha cabeça latejando. Passaram-se alguns segundos e eu os abri novamente, esfregando-os rapidamente e já não sentindo a claridade como algo tão incomodo.

    Levantei-me preguiçosamente e enfim percebi que não fazia ideia de onde estava... E como mesmo que eu havia chegado ali?! Olhei ao redor ao mesmo tempo em que forçava a memória na tentativa de me recordar da noite passada. Boate, bebidas... E foi então que notei uma mulher completamente nua deitada na cama. Pelo menos ela era bem gostosa. Perco a memória, mas não perco o bom gosto. Era realmente uma pena não me lembrar de tudo, pois a julgar pelas roupas jogadas por todos os cantos, a coisa devia ter sido muito boa. Ri comigo mesmo e sai pelo apartamento procurando minhas roupas, sapatos e celular e fui embora de lá assim que me vesti, torcendo para não ter passado o meu número para gostosa da cama enquanto estava bêbado, não queria mulher nenhuma pegando no meu pé.

    06 de junho de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 13:28 pm.

    Assim que passei pela porta de casa, meu pai me chamou de seu escritório. Bufei alto e caminhei com passos lentos até ele, esperando para ouvi-lo e então poder finalmente ir para meu quarto.

    - Hoje à noite você já tem um compromisso. ? Franzi o cenho e ele continuou ? Não sei se você se lembra, mas te avisei sobre isso há cerca de duas semanas. ? Continuei sem entender e ele revirou os olhos ? Henrique, você precisa prestar mais atenção no mundo a sua volta.

    - Por favor, só me diz o que vou ter que fazer. ? Já não basta estar de ressaca, ainda teria que aguentar sermão?

    - Terá que ir à festa de comemoração dos 15 anos da Davenport Lyons, sem falta. ? Era só o que me faltava.

    - Ok, que horas? ? Perguntei, impaciente com a ideia de perder um sábado à noite em um evento com milhares de advogados, promotores, juízes e todas essas pessoas do trabalho do meu pai.

    - Às dez horas, sem falta, já disse. ? Ele falou em um tom de voz calmo e eu assenti, indo para o meu quarto.

    Depois de tomar banho e comer, liguei meu notebook só para checar se Katrielly havia deixado alguma mensagem. Por enquanto, nada. Paris devia estar boa demais então.

    06 de junho de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 15:41 pm.

    Estava quase pegando no sono quando ouvi meu celular tocar. Levantei da cama e procurei pelo aparelho na cabeceira, olhando no visor e identificando que quem me ligava era justamente a última pessoa no mundo da qual desejaria receber uma ligação. Kate.

    Hesitei por alguns segundos antes de atendê-la, mas me lembrei do nosso trato e achei melhor não ignorá-la.

    - Hey. ? Disse, sem ânimo algum ? Não pensei que fosse ligar tão cedo.

    - Tão cedo? ? Ela riu sarcástica - Lhe dei exatamente duas semanas para que começasse a cumprir sua promessa, Henrique. Muitas pessoas no meu lugar já haveriam começado com as cobranças há tempos, dê-se por satisfeito. ? Bufei.

    - Eu disse que não poderia fazer milagres, Kate. Não se faça de babaca. Você sabe o quão complexo é isso, não aja como se estivesse me pedindo a coisa mais simples do mundo. ? Disse, seco.

    - Foda-se. Eu quero saber como vão as coisas... Você falou com ela sobre o assunto?

    - Sim... ? Disse me sentando na cama ? E nossa conversa só me fez ter mais convicção de que isso não será nem um pouco fácil.

    - O que exatamente vocês conversaram?

    - Nada demais. Perguntei à Katrielly o que ela faria se você surgisse novamente em nossas vidas e isso bastou para que ela tivesse um surto. Ela te xingou, exigiu que eu nunca mais tocasse no seu nome e como se isso já não fosse ruim o bastante, ela passou a semana toda intrigada com isso.

    - Intrigada? ? Ela perguntou, demonstrando curiosidade.

    - Bastante. Só faltou me revistar para ver se eu não tinha uma escuta ou coisa do tipo... Ela enfiou na cabeça que tinha um motivo para eu fazer essa pergunta e queria saber qual era a todo custo. Por sorte consegui disfarçar, disse que era uma pergunta comum. Mas agora preciso dar um tempo, precisamos bolar algo pra que você se aproxime sem causar confusão.

    - Entendi, entendi... Podemos nos encontrar na terça, para almoçarmos? ? Abri a boca para dizer que talvez não conseguiria ir ao ?encontro? e antes mesmo de proferir qualquer palavra, Campbell continuou ? Terça ao meio dia no Skylon, não se atrase. ? E tudo o que ouvi depois foi o som da ligação sendo finalizada.

    06 de junho de 2011. Londres, Chiswell Street. The Brewery 10:13 pm.

    Depois de encontrar um lugar pra estacionar, desci do carro e ajeitei meu terno. Só espero sinceramente que Katrielly não me mate por usar a BMW dela, afinal, não podia vir de moto, já que meu pai fez questão de avisar que se eu aparecesse com um fio de cabelo fora do lugar iria me ver com ele depois.

    Assim que passei pela porta do salão, o som de algo como violinos, harpas e flautas invadiu meus ouvidos. Rolei os olhos e bufei. Meu pai conseguia ser um idiota na maioria das vezes, aposto que contratou quase uma orquestra inteira só porque é muito puxa saco. Dei de ombros e comecei a caminhar até o bar, se não podia me divertir, então que pelo menos ficasse bêbado. Assim que parei na frente do barman, já sabia exatamente o que pedir.

    - Uma tequila, por favor. ? Alguns segundos depois ele depositou uma dose no balcão e eu logo tratei de virá-la. Senti o liquido queimar minha garganta e então pedi mais uma. Depois de virar a segunda dose, já estava com álcool no meu sangue o suficiente para aguentar ficar naquela festa por pelo menos uma hora. Uma morena gostosa passou por mim e eu logo estampei um sorriso malicioso nos lábios. Comecei a caminhar lentamente até onde ela estava, mas meus planos foram interrompidos assim que esbarram em mim, quase me fazendo cair no chão. Respirei fundo antes de me virar para ver quem era e dei e cara com Villa sorrindo ironicamente.

    - Ora, ora, ora... Se não é Carlos Villa! ? Abri os braços, demonstrando uma falsa alegria e receptividade - O mesmo babaca de sempre.

    - O único babaca que eu vejo por aqui é você, Martins. Continua falando comigo desta forma mesmo depois de eu ter descoberto seu segredinho... ? Franzi o cenho e ele voltou a falar com um sorriso maligno ? Não sei se você se lembra, mas seu querido papai está aqui hoje.

    - Você não faria isso. ? Tentei demonstrar toda a minha falsa despreocupação, mas isso não pareceu o bastante para acabar com a sua prepotência.

    - Se eu fosse você, não pagaria pra ver. ? Fechei minhas mãos em punhos, pronto pra acertar a cara do ser repugnante a minha frente ao mesmo tempo em que fechava os olhos com força, tentando manter a calma ? Sei de muita coisa sobre você que poderia facilmente acabar com qualquer chance que você tem com a Katrielly. ? Abri os olhos e mal contive a risada por ter ouvido algo tão estúpido.

    - Que chances? Nem nos meus sonhos teríamos algo sério, meu caro Villa. - Ri sarcástico ? Somos praticamente irmãos! Mas já entendi o que esta acontecendo aqui... Seria tudo isso inveja por eu ter a garota que você gostaria de ter só para mim? ? A expressão de Villa mudou completamente para uma expressão séria.

    - ?Nem nos meus sonhos?. ? Ele repetiu minhas palavras e riu sem humor, continuando a falar - Tem certeza de que não sonha com nada disso? Eu e você sabemos muito bem que só nos seus sonhos as coisas que você realmente quer com ela irão acontecer. Sempre foi assim, era assim antigamente, e vai voltar a ser em breve. ? Engoli em seco e fechei os punhos com mais força ainda - Se você espera que ela te ame como me amou, pode esperar pelo resto da sua medíocre vida. ? Ele me deu as costas e saiu andando com passos rápidos, sumindo pela multidão logo depois.

    Carlos?s P.O.V On

    Filho da puta. Que vontade de quebrar aquela cara de cínico que Henrique fazia ao cuspir suas palavras... Só Deus sabe o quanto me forcei a permanecer com os punhos longe daquele maxilar. Sai andando enfurecido após deixá-lo com cara de nada, parado no meio da pista de dança. Eu queria poder socá-lo até a morte, até ver seu sangue em minhas mãos. Mas não, não... Tê-la pra mim depois daquela discussão seria ainda melhor.

    Sem paciência alguma para aquela festa, segui até o primeiro elevador capaz de me tirar dali. Apertei o botão e esperei até que a porta se abrisse, mas o plano ?pegar o elevador, cair fora e não falar com ninguém? foi interrompido quando as portas se abriram revelando Sophie, que me olhou de cima abaixo com um sorrisinho de canto e eu não pude deixar de notar que suas pernas estavam completamente à mostra graças ao vestido curto e justo que ela usava. Azul era minha nova cor favorita.

    - Não vai entrar? ? Ela disse, dando um passo para o lado direito e deixando o espaço esquerdo do elevador para mim.

    - Sim, vou sim. Obrigado. ? Tentei parecer simpático, até porque, as possibilidades de transar com ela naquele elevador me pareciam muito convidativas.

    - Já vai embora? A festa mal começou... ? Ela disse e se virou de frente pra mim, cruzando os braços na altura dos seios, de maneira que os deixava ainda mais chamativos. Como se o decote extremamente grande já não os deixassem chamativos o suficiente.

    - Sim, a dor de cabeça me persegue e essa festa me entediou. ? Falei e dei um passo à frente, percebendo que os andares já estavam chegando ao fim e que seu quisesse dar uma rapidinha com uma das secretárias gostosas do escritório, era preciso me apressar.

    - Bom... ? Sophie falou e se aproximou ainda mais, ajeitando meu colarinho ? Vejamos o que eu posso fazer para tirar seu tédio. Quem sabe você não acaba ficando um pouco mais e... ? Sem vontade alguma de conversar, beijei-a de uma vez só.

    Segundos depois ela separou nossos lábios e se desvencilhou de meus braços, caminhando até o painel do elevador e apertou um botão qualquer, fazendo com que o mesmo parasse. Ri sozinho enquanto ela sorria esperta. Dei dois passos na sua direção e puxei-a pela cintura, juntando nossos corpos, uma de minhas mãos permaneceu nas suas costas e a outra segurou seus cabelos de leve trazendo seu rosto para perto do meu. Colei nossas bocas, dando início a mais um beijo e Sophie me empurrou até a parede do elevador. Alguns minutos depois troquei de posição com ela, deixando-a com as costas coladas do espelho, parei de beijá-la e desci minha cabeça até seu pescoço, dando mordidas leves que logo evoluíram para chupões. Comecei a sentir as unhas dela machucando meus ombros, mas não liguei. Continuei meu caminho até seu colo e dei graças à Deus por ela estar usando um vestido tão decotado. Minhas mãos, que antes seguravam sua cintura com uma força extrema, desceram até sua bunda, apertando de leve o local. Sophie começou a desabotoar minha camisa com pressa e pouco tempo depois jogou a peça de roupa em um canto qualquer enquanto eu me preocupava em abrir o zíper lateral de seu vestido. Voltei a distribuir beijos pelo seu pescoço e abaixei um pouco seu vestido, mudando o foco dos meus lábios para seus seios. Vagarosamente, comecei a lamber seu mamilo esquerdo com movimentos circulares e ela passou a puxar meu cabelo com uma mão, arranhando minhas costas com a outra e soltando um leve gemido de aprovação. Parei imediatamente o que fazia e me afastei dela. Ela havia reagido igual à Katrielly em meu sonho... Mas que maldição!

    - O que foi? ? Ela me olhou sem entender o motivo pelo qual parei e tudo o que pude fazer foi pegar minha blusa. Se ela não estava entendendo o que se passava comigo, estávamos na mesma.

    - Desculpe, Sophie, mas não estou no clima. Quero ir embora, mas não quero que você se sinta ofendida, é só que eu não posso fazer isso. Não agora, não aqui. ? E não com você agindo igual a ela, pensei comigo mesmo.

    - Certo, vamos embora então. Se você não estiver se sentindo muito bem, ou algo do tipo... ? Ela falava ao mesmo tempo que subia o vestido e fechava seu zíper, lançando-me um olhar que continha uma dose de preocupação e outra de dúvida.

    - Não, não é isso, eu só não posso! Não consigo explicar o que tá acontecendo e nesse momento eu me sinto igual a um virgem de 15 anos que não sabe como agir com uma mulher, mas não quero que você fique com essa impressão ? Ri comigo mesmo. Como eu era ridículo. ? Me desculpe, mesmo.

    - Para com isso, Villa! ? Ela riu de leve e apertou o botão no painel que destravava o elevador. Sorri sem graça e aliviado por ela ter entendido e quando os andares se esgotaram ela foi a primeira a passar pela porta. Reparei mais uma vez em seu corpo e só conseguia pensar no quão babaca eu era por deixar uma transa daquelas passar.

    Carlos?s P.O.V Off

    07 de junho de 2011. Atenas, Athanasiou Diakou. Royal Olympic Hotel 1:52 pm (horário de Londres) 3:52 pm (horário de Atenas).

    Cristiane e eu tínhamos chegado em Atenas há mais ou menos duas horas e, depois de termos feito o check in, fomos para nosso quarto. Ajeitamos nossas malas, tomamos banho e então nos jogamos exaustas na cama.

    - O que faremos agora? ? Perguntei, enquanto encarava o teto do quarto.

    - Não sei, só sei que estou morrendo de fome ? Normal. Já havia me acostumado com esse lado extremamente comilão da minha amiga.

    - Ah, mas que novidade! ? Desviei o olhar para seu rosto e soltei uma risada alta quando Cristiane me mostrou seu dedo médio.

    - É sério, Katrielly! O que acha de passarmos em um supermercado, comprarmos umas coisinhas e irmos para uma praia qualquer fazer um piquenique? ? Olhei-a incrédula.

    - Mesmo? Eu não faço um piquenique desde o colegial, e você sabe bem o porquê. ? Suspirei fundo e me odiei por lembrar de uma das coisas que mais me forçava a esquecer só por ouvir a ideia de fazer um piquenique.

    Flashback On

    23 de junho de 2006. Londres, Westminster. Saint James?s Park 4:30 pm.

    Carlito e eu estávamos ficando há mais ou menos três meses. Depois do casamento da minha mãe com Ben, continuamos saindo frequentemente, às vezes com Kate e Rick e às vezes a sós. Nesta manhã Villa havia me ligado dizendo que tinha uma surpresa, insisti para que ele me contasse o que estava aprontando, mas ele disse que não contaria de jeito nenhum e que me buscaria em casa às três e meia da tarde.

    Depois de chegarmos no St. James?s, ele caminhou comigo até um lugar embaixo de uma árvore e tirou de dentro da cesta que carregava uma toalha azul, estendendo-a sobre a grama. Ri comigo mesma.

    - Um piquenique? ? Carlito me olhou cético enquanto terminava de tirar várias coisas de dentro da cesta e as colocava sobre a tolha.

    - Sim, e não quero comentários que façam a minha brilhante ideia parecer ridícula. ? Ele me lançou um olhar falsamente mortífero ? Estamos entendidos, Dona Katrielly?

    - Sim, General Villa! ? Fiz sinal de continência e rimos juntos enquanto ele se sentava.

    - Vai ficar me olhando ao invés de se sentar e desfrutar desta linda tarde com seu lindo namorado? ? Levantei uma sobrancelha em sinal de desconfiança. Namorado? Dei de ombros e me sentei.

    - Que gay! ? Entortei o nariz e gargalhei alto.

    - Ai, amiga, o que você quer? Um suquinho de maracujá pra acalmar os seus nervos? ? Ele disse com uma voz extremamente fina enquanto fazia gestos afeminados. ? É a TPM, não é? Tenho um remedinho ótimo...

    - Como você é bobo, meu Deus! ? Gargalhei mais alto ainda e Villa sorriu pra mim antes de aproximar seu rosto do meu e começar um beijo calmo. Separamos nossos lábios dois minutos depois e ele começou a fuçar na cesta que provavelmente estava cheia de comida.

    - Pois bem, minha querida Martins, antes que eu te encante de vez com meus beijos maravilhosos, eu quero te encantar com minha maravilhosa culinária! - Carlito me estendeu um cupcake e eu gargalhei mais uma vez de suas idiotices. Não conseguia ficar um momento sequer sem rir quando estava com ele, incrível.

    ? Tá brincando que você mesmo fez isso? - Peguei o bolinho de sua mão e o analisei cautelosamente, totalmente incrédula.

    - Cala essa boca e come! ? Ele empurrou a mão que segurava o cupcake na direção da minha boca e tratei de mordê-lo, pronta para forçar uma falsa expressão de ?que coisa ruim!? só para poder verCarlito sem graça, e assim o fiz.

    - Ta tão ruim assim? ? Ele fez uma cara tão fofa que a única coisa que consegui fazer foi soltar um riso.

    - Claro que não, nunca comi nada melhor. ? Dei mais uma mordida no bolinho.

    - Que ótimo, porque se não eu seria obrigado a ir na Starbucks pedir meu dinheiro de volta. ? Quase acreditei que ele mesmo tinha feito aquele cupcake. Doce ilusão.

    - Seu idiota, já estava imaginando o que poderíamos fazer com seus dotes culinários! ? Fingi estar chateada e Carlito deu de ombros antes de gargalhar.

    - Deixando minha culinária à parte, eu preciso te pedir uma coisa. ? Ele mexeu em seus cabelos da nuca enquanto respirava fundo, e eu sabia exatamente que ele só fazia isso quando estava muito nervoso. Franzi o cenho tentando entender o porquê de seu nervosismo.

    - Pode falar, Carlito. ? Ele respirou fundo novamente enquanto parecia estar criando coragem.

    - Quero que você ouça e depois responda, ok? ? Assenti e esperei até que ele voltasse a falar ? Bom, Lil, estamos ficando há quase três meses e eu não quero mais ficar contigo. ? Gelei ? Eu não quero mais ter que dizer pra todos que você é só uma garota com quem eu saio de vez em quando, você entende? Quero te chamar de minha, quero poder te abraçar forte e dizer que tudo vai ficar bem quando tudo estiver dando errado, quero estar ao seu lado, quero te chamar de minha namorada, depois de minha noiva e por fim de minha esposa! ? Carlito falou rápido e com um tom de voz sereno. Fiquei olhando-o enquanto ele tirava uma caixinha preta de veludo de dentro da cesta, abrindo-a e revelando uma corrente prata com dois pingentes de coração. ? Esse coração é o seu. ?Carlito apontou um dos pingentes que provavelmente era de diamantes ? E esse é o meu. ? Ele apontou o outro pingente e eu continuei sem reação por alguns segundos. ? Agora você pode me responder. ? Ele disse e me olhou apreensivo, apreensivo como eu nunca o havia visto antes.

    - Se o que eu entendi está certo... ? Fiz uma pausa e sorri abertamente logo em seguida ? Sim, eu aceito ser sua namorada! ? Villa sorriu para mim e colocou o colar no meu pescoço, aproximando seu rosto do meu e dando inicio a mais um beijo.

    Flashback Off

    Não gostava de me lembrar disso. Esse foi um dos meus melhores momentos por muito tempo, mas havia se tornado algo doloroso de se lembrar há alguns anos. Cristiane se levantou de sua cama e sentou-se do meu lado com um ar extremamente maternal em seu olhar.

    - Você precisa superar isso, Lil. ? Coloquei minha cabeça em seu colo e ela ficou mexendo no meu cabelo. Depois de alguns minutos ainda pensando no que tinha acontecido, resolvi que era melhor mesmo eu superar aquilo.

    - Ótimo, então vamos fazer um piquenique! ? Falei alto demais após alguns minutos em silêncio e Cristiane levou um susto ? Mas dessa vez eu que ligo para o táxi. Se você me aparecer mais uma vez com um motorista velho, louco e tarado tentando me levar pra um motel, eu te mato! ? Caímos na gargalhada antes de escolhermos nossas roupas e começarmos a nos arrumar.

    Henrique?s P.O.V On

    09 de junho de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 7:30 am.

    O despertador tocava insistentemente pela décima vez e eu finalmente desisti de lutar contra ele. Depois de desligá-lo, levantei e me arrastei até o banheiro para tomar um banho. Tirei a boxer e entrei debaixo da água morna, deixando-a cair sem pressa alguma. Meus olhos pousaram sobre a banheira no canto do banheiro e eu sorri, recordando-me de Katrielly.

    Meia hora se passou e eu enfim saí do chuveiro. Caminhei até o closet, escolhi uma roupa qualquer e depois de juntar tudo o que precisava, saí do quarto. Ao passar pela sala de jantar pude ouvir um ?venha comer!? saindo da boca de Ella, mas a ignorei e continuei correndo, tinha apenas uma hora pra comer alguma coisa e chegar na faculdade.

    09 de junho de 2011. Londres, Exhibition Road. Imperial College, 8:53 am.

    Tinha parado em uma Starbucks, mas a única coisa que consegui ingerir foi o conteúdo amargo de uma xícara de café. Estava completamente nervoso por conta de Kate. Minha única vontade era ligar e cancelar aquele almoço estúpido, ou simplesmente não aparecer, mas como ela tinha coisas para usar contra mim que eram suficientes para acabar de vez com a minha vida, não me restava alternativa a não ser continuar fazendo o que ela me pedisse.

    Caminhei até minha classe de anatomia enquanto pensava em milhares de maneiras para fazer com que Kate saísse do meu pé de uma vez por todas. Oferecer uma boa quantia em dinheiro não é uma opção considerável, já que ela é tão rica quanto eu. Matá-la é tão ruim quanto lhe oferecer dinheiro, já que não quero ser preso... Então continuar fazendo o que ela queria era mais uma vez a minha única alternativa. Bufei assim que passei pela porta da sala de aula e alguém esbarrou em mim. Sinceramente, não sei qual é a dificuldade com o conceito ?Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço?. Continuei caminhando até o final da classe e joguei meu material sem cuidado algum sobre uma das bancadas assim que terminei meu trajeto, vestindo meu jaleco em seguida.

    Imaginei o quanto aquelas aulas de anatomia poderiam ser úteis futuramente e sorri comigo mesmo. E quando digo úteis, eu não me refiro à minha profissão, não mesmo. Comecei a imaginar táticas de tortura que poderia usar contra Kate... Aqueles instrumentos dentro da bandeja prateada à minha frente poderiam me ajudar, e muito! Ri sozinho só de imaginar o quão idiota era e me sentei para esperar que o professor chegasse.

    09 de junho de 2011. Londres, Southbank Centre. Skylon Restaurant, 12:23 pm.

    Empurrei a porta do restaurante e o adentrei, procurando por Kate. Vi-a sentada a alguns metros de mim e me dirigi até a mesa em que ela estava, me sentando na mesma e pronunciando algo como um ?Oi??, que foi friamente cortado pelas suas palavras ríspidas.

    - Eu mandei você não se atrasar, seu babaca. Você acha que tenho todo o tempo do mundo? ? Kate disse, espalmando as duas mãos na mesa enquanto me lançava um olhar mortífero e se inclinava um pouco.

    - Vai se ferrar! Eu não tinha obrigação nenhuma de vir até aqui, cala essa boca, pede minha comida e ouve o que eu tenho pra falar. ? Respondi num tom quase tão ríspido quanto o dela e ela cruzou os braços.

    - Eu já pedi. Aubergine pra mim, Sea Bream pra você.

    - Ótimo. Agora, falando sobre o que realmente interessa, a Katrielly está viajando. Ela e Cristiane... - Fui interrompido pela risada alta dela e revirei os olhos. ? Qual a graça, afinal? ? Perguntei, completamente impaciente.

    - Nada demais, mas o fato da sua irmã ainda andar com aquela esquisita da Valleryos me comove ao ponto de sentir dó dela. Você no papel de irmão mais velho deveria arranjar umas amiguinhas melhores pra ela, hein.

    - Eu não acredito que você me interrompeu por isso. ? Fechei os olhos e balancei a cabeça negativamente, mal acreditando no que estava ouvindo. Deus só podia estar me castigando por algo de muito ruim que fiz - Birrinhas do colegial devem ser o forte das pessoas ao meu redor, incrível! E só quero te informar que de esquisita Cristiane não tem nada, já que esta mais gostosa do que nunca.

    - Ok, ok, me desculpe! Não vou mais abrir a boca! ? Kate proferiu suas palavras e fingiu que fechava a boca com um zíper, como se fosse uma criança, mas não dei atenção a isso.

    - Como eu dizia, Katrielly e Cristiane estão viajando. Foram para Paris, e é provável que depois viagem para Espanha, Grécia, e outros países europeus. Elas voltarão de viagem quando faltarem duas semanas para as férias terminarem, e o aniversário da Katrielly cairá na primeira semana de volta às aulas. Ela vai fazer uma festa enorme, com muitos convidados, e acho que seria uma boa ideia você aparecer por lá. Eu posso tentar deixar vocês duas sozinhas por um momento, mas você terá que ser rápida, porque é quase certeza que o merda do Villa irá a essa festa, e se mais conhecidos te verem pode ser que tudo dê errado. ? Disse, enquanto milhares de possibilidades apavorantes martelavam na minha cabeça.

    - Entendi tudo. E quando ficarmos sozinhas, o que eu devo fazer? ? Kate cruzou as mãos e as apoiou sobre a mesa.

    - Atuar. Atuar como nunca atuou antes!

    - Atuar exatamente em que papel?

    - No papel de vítima, minha querida Kate. Diz que o que aconteceu não foi culpa sua, e sim do Villa. Que você se arrependeu muito depois de ter cedido, e que se arrepende mais ainda por ter destruído o seu lindo namoro. Diz que você voltou só para tirar esse peso da sua consciência, porque ter o ódio dela por todos esses anos te fez um tremendo mal. Que você quer ser perdoada, e que por motivos que não deviam ser revelados agora, você também quer a amizade dela.

    - Boa ideia, Martins. Até que enfim colocou seu cérebro pra funcionar!

    - Engraçadinha. ? Ri sem humor e vi o garçom trazer nossos pratos. Talvez as coisas se resolvessem de forma mais simples a partir daquela festa.


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