Todo meu odio

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Uma Musica!

    Álcool, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    Capítulo três[/center]

    15 de maio de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 11:30 pm.

    Rick ainda segurava a maçaneta da porta, completamente paralisado. Eu precisava agir antes que Martins tivesse um infarto e Carlos saísse por aí contando o que não deveria.

    - Villa... ? Soltei seu nome, com desprezo.

    - Se eu fosse você, começaria a me tratar melhor, já que ouvi e vi coisas bem interessantes. ? Seu rosto, que antes não continha expressão alguma, passou a demonstrar o quanto ele estava satisfeito por ter algo que pudesse usar contra mim.

    - Pode contar isso a quem você quiser, ninguém acreditaria. Você me odeia, eu te odeio, tudo o que é fruto do nosso ódio é algo desconfiável. Carlos caminhou lentamente até a porta do banheiro e encostou-se no batente ? Rick, pode ir que eu resolvo. ? Martins pareceu cair em si e finalmente me olhou.

    - Tem certeza? ? Na verdade eu não tinha.

    - Sim, daqui a pouco eu desço. ? Ele semicerrou os olhos, sorri demonstrando confiança e então Henrique saiu do cômodo, tomando o cuidado de esbarrar em Villa assim que passou por ele. Quando ouvi a porta do quarto se fechando, voltei meu olhar para Carlos, que ainda estava encostado no batente.

    - Minha querida Katrielly, você achou mesmo que se eu ouvisse ou visse algo deixaria de gravar? ? Ele sorriu, ainda mais satisfeito que antes ? Sinto em lhe informar, mas achou errado. ? Ele levou a mão até o bolso da calça social e tirou seu celular, procurou algo entre os arquivos e então o ambiente foi preenchido por vozes, vozes que eu conhecia muito bem. ?Acho que a hora da recompensa chegou. E vou querer uma recompensa dupla já que, por sua causa, perdi a chance de comer a loira gostosa.? Primeiro pude ouvir a voz de Rick, depois só gemidos. ?Onde tem camisinha?? Rick disse e depois mais gemidos. ?O que você aprontou com o Villa?? Rick falou e finalmente ouvi minha própria voz ?Te conto depois, precisamos voltar pra aquela merda de recepção?. Se isso vazasse, iria ser um escândalo, podia até prever as manchetes dos jornais londrinos ?Herdeiros da Família Martins mantêm relações sexuais?.

    - Você é muito baixo, Villa. Estava tão desesperado que precisava de algo extremamente sujo pra usar contra mim. ? Ri sarcasticamente ? Você sabe que se você fizer alguma coisa com essa gravação, eu vou acabar com a sua vida, não sabe?

    - Katrielly, uma coisa da qual eu não tenho medo são suas ameaças. ? Villa se desencostou do batente da porta, caminhou em minha direção e então parou a meio metro de mim. Em seu rosto brilhava um sorrisinho de vitória. O que ele não sabia é que, enquanto ele tinha uma carta na manga, eu tinha várias.

    - Medo das minhas ameaças talvez você não tenha, mas aposto que tem medo das sensações que eu causo em você. ? Foi a vez dele rir sarcasticamente.

    - Posso saber quais sensações? ? Engoli o ódio, sorri de canto e andei até ele, diminuindo a distância entre nós para milímetros. O perfume levemente amadeirado de Villa invadiu meu sistema respiratório e eu lutei comigo mesma para não sorrir abertamente.

    - Não me diga que você já se esqueceu. Faz tanto tempo assim desde a última vez em que te mostrei do que era capaz de causar em você? ? O sorriso pretensioso de Carlos foi substituído por uma expressão desconhecida. O silêncio se instalou no quarto por alguns segundos e então continuei, com um sorriso satisfeito ? Foi o que eu pensei. Agora some daqui e não ouse mostrar essas gravações pra ninguém se não quiser se arrepender amargamente. - Ele deu dois passos pra trás e abriu a boca em sinal de que iria dizer algo, mas não disse, e segundos depois a porta já estava fechada e eu me encontrava sozinha.

    Carlos?s P.O.V[/center]

    Saí do quarto totalmente atordoado. Como Katrielly conseguia me deixar tão desestabilizado com apenas algumas palavras? Eu precisava me controlar. Controle-se, Villa, controle-se. Desci as escadas o mais rápido que pude, trombei com algumas pessoas, desviei de outras e até xinguei algumas para que saíssem da minha frente. Foda-se, eu precisava ir embora daquele lugar. Procurei meu carro e, assim que o encontrei, peguei as chaves e acionei o alarme.

    - Onde você pensa que vai? ? Adeline apareceu do nada e perguntou com sua voz extremamente irritante. Por que mesmo eu a chamei para vir comigo?

    - Não que seja do seu interesse, mas estou indo embora. ? Seu rosto adquiriu um tom avermelhado e achei que ela fosse me bater.

    - Você me convidou, tem a obrigação de me levar pra casa. ? Ri, sarcástico. Que garota mais petulante. Peguei minha carteira no bolso de trás da calça, tirei três notas de vinte libras e a entreguei.

    - Eu vou embora agora e não vou te deixar em casa, sinto muito. Use esse dinheiro para pegar um táxi. ? Eu disse. Ela semicerrou os olhos e arrancou as notas da minha mão.

    - Você é um idiota, Villa. ? Adeline me deu as costas e caminhou com passos firmes até a mansão dos Martins. Finalmente eu poderia ir embora. Sentei-me no banco do motorista, coloquei a chave na ignição e respirei fundo.

    Flashback On[/center]

    18 de fevereiro de 2006. Londres, Notting Hill Gate. Residência dos Campbell 9:30 pm.

    Kate Campbell, a garota mais rodada e mais irritante do Aiglon College, que namorava meu amigo Rick Martins, estava fazendo uma festa de dezesseis anos. Meu objetivo em todas as festas era encher a cara e pegar meninas; hoje não seria diferente. Assim que eu e Rick chegamos na casa dela, fomos procurar por bebidas. Caminhamos até a cozinha, abri a geladeira e encontrei centenas de garrafas de Stella.

    - Dude, as festas da Kate nunca me decepcionam. ? Sorri enquanto pegava uma garrafa e a abria.

    - Villa bêbado como sempre. ? Rick riu e pegou uma cerveja pra ele também.

    - Martins idiota como sempre. ? Rimos juntos e fomos até a sala da mansão que estava lotada. Encostei-me em uma das paredes do local e dei um gole no conteúdo da garrafa que segurava ao mesmo tempo em que meus olhos procuravam por alguém interessante.

    ? Quem é aquela? ? Apontei com a cabeça para uma garota que ria e conversava com alguns garotos.

    - A Katrielly, lembra que te contei sobre ela? Meu pai vai se casar com a mãe dela mês que vem. ? Levantei uma sobrancelha e um sorriso malicioso apareceu em meu rosto ? Ela vai se mudar pro Aiglon College nesse mês e meu pai me pediu pra trazê-la, quem sabe ela já vai se enturmando.

    - Então quer dizer que Henrique Martins vai ter uma meia irmã extremamente gostosa? ? Ele deu um soco no meu ombro e franziu a testa.

    - Villa, seu safado. Tira os olhos dela porque ela não é pro seu bico. ? Dei de ombros e bebi um pouco de cerveja. Como se eu ligasse pra opinião dele.

    - Pelo jeito você já tá afim dela. ? O que era uma pena, já que pegar mulher de melhor amigo é sacanagem.

    - Tanto faz se eu estiver afim dela ou não, não posso me envolver com ela, já que em breve vamos ser irmãos e morar na mesma casa. ? Como esse meu amigo é idiota.

    - O fator família nunca te impediu de ficar com alguém, não sei o porquê dessa boiolice agora. ? Lembrei-me de todas as primas que ele tinha comido e soltei o ar pelo nariz, em uma risada fraca.

    - Mas é diferente, imagina só se meu pai descobre que eu fiquei com a Katrielly. Ele me corta em pedacinhos, começando pelo Rickzinho aqui. ? Gargalhei extremamente alto, chamando a atenção de algumas pessoas que estavam ali perto.

    - Não quero nem imaginar. ? Disse, ainda rindo.

    - Vamos lá falar com ela, te apresento. ? Ótimo, pelo menos ele iria facilitar o meu trabalho.

    Ao mesmo tempo em que caminhávamos até Katrielly, eu terminava de beber minha Stella e colocava a garrafa já vazia em qualquer lugar.

    - Hey, pode vir aqui um segundo? - Rick chamou pela garota que usava um vestido florido e tinha os cabelos soltos. Katrielly disse algo para os garotos que estavam com ela e então veio até nós. Além de gostosa ela era bonita. Carlos, seu sortudo! - Esse é o Carlos, ele também estuda lá no Aiglon, está no terceiro ano, como eu.

    - Prazer. - Ela sorriu de maneira simpática - Meu nome é Katrielly.

    - O prazer é meu. - Tentei retribuir o sorriso ? Pode me chamar de Carlito.

    - Erm, enquanto conversam eu vou pegar mais uma cerveja e ir atrás da aniversariante! - Rick exclamou e sumiu no meio das pessoas. Ótimo.

    - Então, como estão as coisas? Cidade nova, colégio novo, vida nova... - Tentei não parecer tão apressado assim. Uma conversa civilizada é sempre fundamental antes das coisas realmente acontecerem.

    - Como você disse, é uma vida nova... Mas Rick tem sido ótimo, tem me apresentado as pessoas, ajudado a me enturmar, essas coisas. - Pensei em falar algo, mas fui interrompido antes que pudesse abrir a boca. ?Gimme More? da Britney Spears começou a tocar e Katrielly disse que adorava aquela música enquanto já me puxava pro meio da sala, onde todos dançavam ? I see you and I just wanna dance with you. ? Ela sussurrou em meu ouvido cantando junto com a música e pousou as mãos sobre meus ombros, puxando-me para mais perto, começando a dançar comigo.

    Flashback Off[/center]

    Lembranças. Não sei por que insistia em guardá-las. Não seria mais fácil simplesmente ignorá-las? Seria.

    Dei partida no carro e fui logo para casa, precisava tomar um bom banho e dormir. Precisava de qualquer coisinha que me distraísse... Uma festa realmente animada não me cairia nada mal. Liguei o rádio a fim de ouvir algo produtivo e tive sorte.

    ?Grande inauguração do Pub "The Red Lion", neste sábado, dia 16, às 22 horas. Exclusiva presença da banda Muse. Endereço: Rua Duke Of York, número 42. Não percam.?[/center]

    Ouvi a notícia que poderia salvar minha noite de sábado e um sorriso brotou em meus lábios. Essa festa me ajudaria a esquecer de coisas que, de uma hora para outra, graças a Katrielly e suas palavras, voltaram a me atormentar. Nem que fosse só por uma noite.

    Carlos?s P.O.V Off[/center]

    Ajeitei o que precisava ajeitar, me certifiquei de que nenhuma ?lembrancinha? de Rick havia sido deixada em meu banheiro e voltei para a festa. Logo encontrei meu maninho virando uma taça de champanhe enquanto afrouxava o colarinho da gravata. Típico de um homem aflito. Ri comigo mesma e ele me encontrou com os olhos, então fui até onde ele estava discretamente.

    - E ai? O que o Villa disse? ? Rick me olhou nervoso. Ri novamente.

    - Pare de ser frouxo, parece uma criancinha assustada. Você sabe que o Villa não faria nada, ele só estava tentando se divertir nos botando medo de alguma forma... E você parece ter caído direitinho.

    - Eu tô falando sério, Katrielly, mas que porra! Um cara que nos odeia acabou de nos ver transando, e somos irmãos, VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO? ? Ele alterou o tom de sua voz e fui obrigada a fazer um ?Shhh? para que ele se contivesse. Acho melhor nem contar que Carlos também fez o favor de gravar nossas vozes.

    - Fala baixo, Henrique! Ele não vai fazer nada, já cuidei disso. E se ele ousar fazer algo, irá se arrepender. Agora pare de se comportar igual um babaca, está tudo sob controle. ? Terminei de falar e dei as costas a Rick, indo para o meu quarto sem ânimo algum pra continuar naquela recepção.

    16 de maio de 2011. Londres, Chelsea. Residência dos Martins 11:24 am.

    Acordei com o celular tocando ?Spiralling? do Keane. Bufei. Procurei o aparelho na cômoda com as mãos e quando vi o nome ?Cristiane? no visor, bufei novamente. Nota mental: proibir minha melhor amiga de me acordar antes do meio-dia durante o fim de semana. Isso inclui as ligações e as mensagens.

    - Alô, sua chata. ? Falei com minha maior voz de ?Você me acordou e eu tô puta?.

    - Bom dia pra você também, lindinha do meu coração. ? Ela disse, sarcástica.

    - Fala logo o que você quer, vai. ? Ri e rolei os olhos. Não conseguia ficar realmente brava com aquela criatura.

    - Temos uma inauguração para ir hoje à noite, um pub chamado The Red Lion. Sabe quem vai tocar? ? Ela falou e eu murmurei algo a incentivando a continuar ? Muse.

    - Muse? SÉRIO?! ? Sou fã de Muse há uns dois anos e nunca tinha ido a um show deles. Essa era a hora.

    - Sim, mas por favor, controle-se. Esteja pronta às 22:30, eu passo aí pra te buscar e não vou tolerar atrasos.

    - Certo, às 22:30 eu estarei pronta. Tchau. - Desliguei o celular, espreguicei-me e criei coragem para levantar e tomar um banho rápido. Quando saí do chuveiro, enrolei-me numa toalha qualquer e me deparei com Henrique sentado na minha cama. Pelo menos dessa vez ele não tinha entrado no banheiro e interrompido meu banho.

    - Até que enfim, pensei que não fosse sair do banho nunca. ? Ele disse, levantando, e então reparei que ele usava apenas uma boxer vermelha.

    - Você entra no meu quarto sem permissão e ainda quer reclamar do tempo que fico no banho? ? Disse, sem humor algum ? Desembucha.

    - Em primeiro lugar, eu quero saber aonde a senhorita vai às 22:30, com quem, e fazer o quê. ? Gargalhei alto.

    - Vou à inauguração de um pub com a Cristiane, senhor amo-ouvir-conversas-alheias. ? Foi a sua vez de gargalhar.

    - Hm, entendi. Em segundo, vim perguntar se você tem certeza de que o Villa não irá falar nada a ninguém. ? Bufei alto, rolei os olhos e quase dei um soco na cara de Rick.

    - Caralho, Henrique! Qual seu problema? Já falei que tá tudo resolvido, tudo sob controle. Relaxa, que coisa. Esse babaca não vai fazer nada.

    - Mas eu... ? Interrompi, sem cerimônia alguma.

    - Mas eu nada! Que mania chata de ficar martelando as coisas, eu hein. Fica tranquilo, Villa não vai fazer nada. Era só isso?

    - Sim, só isso. Ah, e sua mãe mandou você se preparar pro almoço.

    - Ok, agora dá licença, vou me trocar e já desço. Obrigada por avisar. ? Dizendo isso, empurrei-o pra fora do quarto e fui me vestir para o almoço.

    Olhei no relógio e o mesmo marcava 20:45h. Passei praticamente o dia todo assistindo aos episódios de Gossip Girl, então desliguei a TV e decidi ir me arrumar para a inauguração. Escolhi uma roupasimples, nada chamativo demais. Fiz uma maquiagem um pouco mais pesada e deixei os cabelos soltos. Quando o relógio marcava 22:25h, ouvi um carro buzinar. Peguei minha bolsa e desci as escadas correndo; avisei a minha mãe que estava saindo e não tinha horário para voltar, abri a porta e fui direto ao carro.

    16 de maio de 2011. Londres, Duke of York. The Red Lion 11:30 pm.

    Depois de mais ou menos uma hora dirigindo, Cristiane estacionou o New Beetle vermelho dela em uma das poucas vagas disponíveis em frente ao pub. Descemos do carro, ela acionou o alarme e depois de arrumar seu vestido, nós caminhamos juntas até a fila, que estava enorme. Eu já podia até ouvir a voz de Matt [n/a: pra quem não sabe, Matt é o vocalista do Muse] e a ansiedade só me preencheu ainda mais.

    - Cristiane, você tá ouvindo isso? ? Empurrei-a de leve e ela me olhou com cara feia ? É o Matt! ? Minha voz saiu mais alta do que eu esperava e sorri sem graça enquanto algumas pessoas me olhavam.

    - Não me empurra e não grita, tá ficando louca? ? Ela sempre conseguia acabar com a minha alegria.

    - Desculpa, só não consigo acreditar que em poucos minutos vou ver e ouvir Muse ao vivo. ? A fila começou a andar e eu dei graças a Deus.

    - Eu sei que você é fã, Lil, mas você precisa se controlar. ? Minha amiga falou e me lançou um olhar que continha certa dose de censura.

    - Você tá certa, já parei. ? Acalmei-me e esperamos alguns minutos na fila ao mesmo tempo em que jogávamos conversa fora, até que a nossa vez de entrar chegou.

    - Convites, por favor. ? O segurança pediu e eu gelei. Como assim convites? Olhei desesperada pra Cristiane enquanto ela tirava dois convites de dentro da sua bolsa e entregava ao homem.

    - Você achou o quê? Que eu fosse tão burra quanto você? ? Franzi o cenho e então sorri agradecida.

    - Tudo bem, estou te devendo essa então. ? Cris deu de ombros e o segurança nos deu passagem.

    - Você já me deve muitas, Katrielly. ? Ela riu e eu a acompanhei. Assim que passamos pela porta de ferro, ?Starlight? invadiu meus ouvidos e meus olhos seguiram direto para o palco que estava em um lugar relativamente longe de onde eu estava.

    - Precisamos chegar mais perto deles. ? Segurei Cristiane pela mão e saí puxando-a por entre as centenas de pessoas. Esbarrei em algumas, xinguei outras, pisei no pé de várias, mas finalmente consegui chegar em um lugar razoável.

    - Querida Lil, se você veio aqui pra ficar no meio desse povo todo suado, eu realmente sinto muito, mas não vou poder ficar contigo. ? Olhei-a de soslaio e ela torceu o nariz.

    - Tudo bem, vou ficar aqui só um pouco e depois te procuro. ? Cris sorriu de canto e então balançou a cabeça em sinal positivo.

    - Só, por favor, não apareça grávida amanhã. ? Gargalhei e ela saiu andando enquanto eu a acompanhava com os olhos até perdê-la de vista. Os últimos acordes de ?Starlight? soaram e então ?Resistance? preencheu as caixas de som.

    Depois de quase uma hora, o show terminou e eu saí do meio daquele povo todo o mais rápido que pude. Precisava dar um jeito na minha aparência, então caminhei vagarosamente até o banheiro e, assim que consegui chegar na frente do espelho, encarei-me. Certo, não estava tão ruim. Arrumei meu cabelo, limpei a maquiagem que havia borrado e passei um pouco de gloss. Ao sair do banheiro, encontrei um casal se agarrando. Analisei bem a fisionomia do homem que pressionava a mulher contra a parede e reconheci aquele corpo na hora; Henrique.

    Dei de ombros e caminhei até a pista de dança. Fiquei lá parada sem saber o que fazer, já que estava sozinha, e então me lembrei de avisar Cristiane que estava lá. Tirei meu celular da bolsa e mandei uma mensagem falando que estava tudo bem e que se ela quisesse me procurar iria estar na pista de dança.

    ?Touchin On My? do 3OH!3 começou a tocar e eu olhei pros lados tentando achar alguém interessante. Villa entrou no pub vestindo um blazer bege e nossos olhares se encontraram.

    Henrique?s P.O.V[/center]

    O dia tinha sido um tédio. Um completo tédio. Liguei para um amigo meu, produtor de eventos da cidade, e perguntei qual o endereço desse tal pub que iria inaugurar. Ele pesquisou por alguns lugares e me passou o que pedi, então comecei a me arrumar para a inauguração. Escolhi uma roupa e dei os toques finais em menos de 30 minutos, mas só sai de casa às 22:50h.

    Assim que entrei no pub, (com certa dificuldade, pois alguns seguranças me barraram por eu não ter convite e eu tive que convencê-los para que me deixassem entrar) fui ao bar e pedi um copo de vodka com gelo. Fiquei alguns minutos sentado e uma loira gostosa que usava um vestido justo, um rosa ?tomara-que-caia?, sentou-se do meu lado e pediu um ?sex on the beach?. Olhei-a de cima a baixo ao mesmo tempo em que ela se acomodava e, assim que ela me olhou com interesse, senti liberdade para puxar assunto.

    - Casa cheia, não é mesmo? ? Sorri de canto.

    - Sim, bastante. ? Ela retribuiu o sorriso.

    - Está sozinha? ? Falei como quem não quer nada e dei um gole na minha bebida.

    - Estou com umas amigas, mas elas querem curtir o show... São fãs da banda. ? Olhei para o palco e vi que uma banda tocava animadamente. Como não a vi ali antes?

    - Ah, entendi. ? Dei mais um gole no conteúdo do copo. ? E qual é seu nome?

    - Lucy, e o seu?

    - Henrique. ? Outro sorriso brotou nos meus lábios ? Então, Lucy, quer fazer alguma coisa enquanto suas amigas curtem o show? ? Olhei-a com malícia e ela entendeu o que eu queria, mas sugeriu que fossemos para um lugar menos cheio. Assenti e a acompanhei até pararmos em frente ao banheiro feminino. Realmente, não tinha quase ninguém lá. Era a minha deixa. Encostei-a em uma das paredes e segurei em sua cintura enquanto beijava seu pescoço e alternava com mordidas. Suas mãos, que antes me seguravam pelos ombros, subiram até meu pescoço e começaram a puxar meu cabelo de leve. Depois de deixar algumas marcas em seu pescoço, dei-me por satisfeito e colei nossos lábios, iniciando um beijo intenso. Uma das minhas mãos, que estava em sua cintura, escorregou pelo seu quadril, bunda e coxas. Lily, Lauren, Leah... Qual era o nome dela mesmo? Ah, Lucy! Lucy mordeu meu lábio inferior e separou nossas bocas só o suficiente para puxarmos oxigênio e voltarmos a nos beijar.

    Depois de alguns minutos nos agarrando, pude ouvir a banda se despedir dos fãs. Não demorou muito e o lugar, que antes estava vazio, começou a ficar cheio de gente.

    - Vamos pro meu carro, lá ninguém vai atrapalhar a gente. ? Sussurrei no ouvido dela.

    - Ahn, acho melhor não. Preciso encontrar minhas amigas e, além disso, não tem como eu voltar... ? Então eu estava tomando um fora?

    - Eu te levo pra casa, não tem problema. ? Insisti.

    - Obrigada, mas não vai dar. ? Ela falou e me empurrou pelos ombros, andando em direção à pista de dança como se nada tivesse acontecido.

    Bufei e resolvi sair do meio de toda aquela gente. Caminhei sem paciência alguma na direção da saída ao mesmo tempo em que tentava me desviar das centenas de pessoas e depois de alguns minutos empurrei as portas de ferro do pub. Meus músculos se contraíram automaticamente ao sentirem o ar gélido de Londres.

    Henrique?s P.O.V. Off[/center]

    Sorri maléfica enquanto caminhava me movimentando no ritmo da música e parei a alguns metros de Villa. Mexi os quadris de um lado para o outro ao mesmo tempo em que passava as mãos pela minha cintura devagar e mordi o lábio inferior.

    Girl I gotta know, how you dance like that

    Garota eu preciso saber, como você dança daquele jeito

    Dance like that, you dance like that

    Dança assim, dança daquele jeito

    Cause you're puttin' on a show

    Porque você está fazendo um espetáculo

    Can I take you back? Take you back, take you back

    Posso levá-la de volta? Levá-la de volta, levá-la de volta

    Continuei movimentando os quadris e levei as mãos até o cabelo, depois as escorreguei pelo pescoço, barriga e parei na cintura. Virei de costas pra ele, desci até o chão devagar e subi rapidamente.

    I just gotta ask ?Can you show me yours??

    Eu só tenho que perguntar ?Você pode me mostrar a sua??

    I'll show you mine.

    Eu vou te mostrar o meu

    Don't you worry you're too fine.

    Não se preocupe, você está muito bem

    We got one thing on our mind

    Nós temos uma coisa em nossa mente

    And we got plenty of time!

    E nós temos tempo de sobra!

    Eu tinha atraído a atenção de praticamente toda a platéia masculina, enquanto o resto das pessoas no pub dançavam e me observavam. Sorri satisfeita, uma coisa que eu tinha aprendido com o tempo era como chamar a atenção quando queria.

    Girl I gotta go! I'm finished with the show

    Menina, eu tenho que ir! Eu terminei com o show

    If you wanna fuck with me I won't say no!

    Se você quiser foder comigo eu não vou dizer não!

    Touchin? on my...

    Tocando no meu...

    While I'm touchin? on your...

    Enquanto eu estou tocando sobre a sua...

    You know we are gonna...

    Você sabe que nós vamos...

    Cause I don't give a fuck (2x)

    Porque eu não dou a mínima

    Virei-me de frente pro Villa, que me observava atenciosamente. Parecia não deixar escapar nenhum detalhe. Desci minha mão por meu quadril e coxa, subindo-a em seguida, tomando o cuidado de levantar a barra do vestido só um pouco. Ouvi assovios de incentivo e caminhei até o Villa, parando a alguns centímetros de distância. Espalmei minhas mãos sobre seu peito e ele enrijeceu.

    I can't get you outta my mind

    Eu não consigo tirar você da minha mente

    With the way you walk, the way you walk, the way you walk

    Com o seu jeito de andar, o jeito que você anda, o jeito que você anda

    Baby you should be a sign, the way you make me stop

    Querida, você deveria ser um sinal, o jeito que você me faz parar

    Make me stop, make me stop

    Me faz parar, me faz parar

    Cause some like fast and some like slow

    Porque alguns gostam rápido e alguns gostam lento

    Ladies come and ladies go

    Meninas voltam e meninas vão

    Hit the tell and let's just show

    Bata a dizer e vamos apenas mostrar

    Cause I wan't you to know

    Porque eu quero que você saiba...

    Desci rebolando até o chão, fazendo com que minhas mãos escorregassem pelo seu tórax e parassem no cós da sua calça. Levantei-me e reparei na expressão de Carlos. Ele não sorria, não respirava, não se movia, só me observava com os olhos cheios de desejo.

    Girl I gotta go! I'm finished with the show

    Menina, eu tenho que ir! Eu terminei com o show

    If you wanna fuck with me I won't say no!

    Se você quiser foder comigo eu não vou dizer não!

    Touchin? on my...

    Tocando no meu...

    While I'm touchin? on your...

    Enquanto eu estou tocando sobre a sua...

    You know we are gonna...

    Você sabe que nós vamos...

    Cause I don't give a fuck (2x)

    Porque eu não dou a mínima

    Virei-me de costas e grudei meu corpo no dele, subi minhas mãos até sua cabeça e segurei em seus cabelos de leve enquanto mexia o quadril. Quase deixei escapar uma gargalhada quando percebi o quanto ele estava animadinho. Villa segurou minha cintura com força e eu me desvencilhei dele.

    Girl you know I want you, want you, want you now

    Garota, você sabe que eu quero você, quero você, quero você agora

    You know you want me, want me, want me now

    Você sabe que você me quer, me quer, me quer agora

    Cause there's not that much to figure out

    Porque não há muito que descobrir

    So baby let's get down

    Então, querida, vamos descer

    Voltei ao meu lugar inicial no meio da pista ao mesmo tempo em que a música terminava.

    Henrique?s P.O.V[/center]

    Acendi um cigarro e comecei a tragá-lo lentamente, até uma mulher sair de dentro do pub e parar ao meu lado. Eu não teria notado se não fosse o fato do seu cabelo ruivo ser extremamente chamativo e dela ter começado a me encarar.

    - Não é engraçado como o tempo passa rápido, meu caro Martins? ? A mulher falou enquanto eu a olhava, curioso.

    - Hã? Tá falando comigo? ? Olhei ao redor e notei que não havia mais ninguém por perto - Você me conhece? ? Perguntei, com mais curiosidade ainda e, sem querer, derrubei o cigarro em mim mesmo. Porra.

    - Te conheço melhor do que você imagina. ? Ela riu debochada ? E é ótimo ver que você não mudou nada. Continua atrapalhado como sempre.

    De repente um turbilhão de coisas vieram a tona e eu me dei conta de quem era a mulher a minha frente.

    Flashback On[/center]

    18 de fevereiro de 2006. Londres, Notting Hill Gate. Residência dos Campbell 9:39 pm.

    Deixei Katrielly e Carlito conversando e fui pegar mais uma cerveja. Assim feito, comecei a procurar por Kate entre todas aquelas pessoas, mas não obtive sucesso. Subi as escadas correndo e, quando ia entrar no quarto da minha namorada, tomei um susto e acabei derrubando toda a cerveja em mim. Quem mandou ela abrir a porta com tudo bem quando eu estava prestes a entrar?

    - Rick, você é atrapalhado demais! ? Kate disse entre risadas enquanto me puxava para dentro do quarto.

    - Você abriu a porta bem quando eu ia fazer isso, o que queria que eu fizesse? ? Odiava parecer idiota.

    - Ok, tira essa camisa ensopada de cerveja. ? Ela disse, cruzando os braços bem na minha frente.

    - Já está querendo tirar proveito da situação, né? ? Rimos juntos e assim que tirei a peça de roupa molhada, começamos a nos beijar.

    Flashback Off[/center]

    - Qual é? Vai ficar parado, olhando pro nada, sem me responder? ? Kate falou, cruzando os braços da mesma forma como fazia antigamente.

    - Kate... ? Falei, sem conseguir proferir mais nenhuma palavra.

    - Eu mesma. ? Ela disse e continuou com a mesma postura.

    - Onde você estava esse tempo todo? Como você sabia que eu estaria aqui? ? Perguntei, quando a ficha finalmente caiu.

    - Depois do que houve, meus pais decidiram se mudar para Califórnia. Eu voltei pra cá há dois meses e durante todo esse tempo longe a única coisa que desejei foi terminar o que começamos no colegial. Temos assuntos pendentes e você sabe muito bem quais são. Você ainda me deve uma coisa e eu vim para cobrá-la. ? Fiz sinal para que ela prosseguisse ? Quero que você me aproxime deKatrielly.

    - Impossível! Você está delirando! Ela te odeia, Kate, e você sabe o quanto! ? Essa mulher só pode ter ficado louca.

    - Nós éramos adolescentes, Henrique, muita coisa mudou de lá pra cá. E acima de qualquer coisa, você me prometeu há cinco anos atrás que ajudaria a me aproximar dela, já que a culpa desse ódio ter surgido não foi inteiramente minha. - Fiquei um tempo em silêncio tentando encontrar uma resposta coerente.

    - Está certo, vou tentar te ajudar. Irei cumprir com minha promessa, mas na medida do possível. Não posso garantir que consiga o que quer.

    Kate assentiu e pediu meu número de celular, passando-me o dela também. Combinamos que tentaria aproximá-la de Katrielly, mas que isso poderia levar tempo, então manteríamos contato. E todos os problemas antes enterrados haviam sido ressuscitados.

    Henrique?s P.O.V Off[/center]

    Depois de ter deixado Villa com cara de taxo e animadinho, resolvi que estava precisando de algo pra beber. Caminhei até o bar e sentei em um dos banquinhos rotatórios. Ri sozinha me lembrando de como ele tinha babado enquanto eu dançava.

    - O que vai querer? ? O barman que, diga-se de passagem, era muito gostoso, perguntou.

    - Um Martini, por favor. ? Ele fez sinal positivo com a cabeça e saiu.

    - Você não perde uma oportunidade de me provocar, não é? ? O hálito quente de Carlos bateu no meu pescoço, deixando-me levemente arrepiada. Virei-me de frente pra ele e sorri sarcástica.

    - Digo o mesmo, ou você acha que eu não sei o real motivo de você ter levado aquela vadia pra recepção de ontem? ? Villa soltou um risinho fraco, como se estivesse sem resposta. Gimme More da Britney Spears começou a tocar e eu gelei.

    - Olha só... ? Ele me puxou pela cintura, grudando nossos corpos e sussurrou no meu ouvido ? Nossa música.

    - Seu Martini. ? O Barman disse ao mesmo tempo em que depositava a taça sobre o balcão e eu agradeci mentalmente. Desvencilhei-me de Carlos e virei a bebida de uma vez só. Sem tempo de protestar, Villa arrancou a cereja da minha mão e eu franzi o cenho enquanto ele terminava de mastigar e me puxava pela mão até a pista de dança.

    - O que é isso? Não vou dançar com você! ? Disse, ao mesmo tempo em que tentava soltar a minha mão da dele, o que só fez com que ele a apertasse ainda mais. Paramos no meio da pista de dança e ele me segurou forte pela cintura.

    - Pelos velhos tempos? ? Então ele queria jogar? Beleza, eu entraria nos joguinhos dele.

    - Ok, Carlos, pelos velhos tempos! ? Espalmei minhas mãos sobre seu peito e comecei a me movimentar no ritmo da música. A mão de Villa, que segurava minha cintura, puxou-me mais para perto de si e uma de suas pernas se encaixou no meio das minhas. Mexi o quadril de um lado para o outro e desci, só o suficiente pra que o interior das minhas coxas roçasse no joelho dele.

    - We can get down like there's no one around (Nós podemos nos divertir como se não tivesse ninguém por perto). ? Sua voz levemente rouca tão perto do meu ouvido fez todos os meus pêlos se eriçarem.

    - Gimme more (Dê-me mais), Villa. ? Tentei imitar a voz da Britney na música, rouca e meio que gemendo, mas não obtive sucesso. Ele sorriu malicioso e levou sua cabeça até a curva do meu pescoço, dando mordidas leves ali. Automaticamente apertei seus ombros.

    - Me diz, você quer mais? ? Seu rosto estava a milímetros do meu e seu hálito de cereja invadiu minhas narinas. Semicerrei os olhos quando percebi que Carlos encarava descaradamente minha boca, passei a língua pelos meus lábios o mais vagarosamente que consegui e ele apertou minha cintura. Alguns segundos depois, Villa pareceu cair em si e subiu uma de suas mãos pelo meu quadril, cintura, barriga, pescoço e parou segurando os meus cabelos da nuca de leve. Fechei os olhos assim que senti minhas pernas ficarem bambas e dei graças a Deus por Villa estar me segurando tão forte. Ele afastou sua cabeça da minha alguns centímetros e me olhou nos olhos. As órbitas dele pareciam tão escuras e ao mesmo tempo tão chamativas. Carlos respirou fundo uma vez e me soltou. Franzi o cenho tentando entender qual era o seu objetivo, então ele me deu as costas e saiu andando extremamente rápido. Bufei. Villa continuava demasiadamente odiável.

    Sem vontade nenhuma de ficar sozinha naquela festa, resolvi mandar uma mensagem pra Cristiane falando que ia embora e que nos falávamos depois. Caminhei lentamente até o lado de fora do pub e peguei o primeiro táxi que passou.


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